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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Alimentação"

Inquérito 0103

Locutor 118
Sexo masculino, 55 anos de idade, pais cariocas
Profissão: administração pública
Zona residencial: Suburbana

Data do registro: 25 de setembro 1972

Duração: 48 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 O senhor vai falar sobre alimentação.
L
 Bom, não se espantem porque estão ao lado de um glutão, viu? (riso) Sou um bom garfo. Agora estou proibido no momento pela doutora M. T., que é a médica da minha família, ela é cardiologista, então ela me proibiu e me obrigou a uma alimentação na base de legumes, sem sal, aquela coisa toda que, para evitar gordura, como vêem. (riso) Eu de quando em vez tenho de fazer um pouco de exercício, flexão, pra poder, hum, não ficar tão deselegante, né? Mas em matéria de alimentação eu sou um bom prato, ouviu? Eu como do jiló ao faisão dourado se houver, né? (riso) De um modo ... Pode fazer a pergunta (sup.)
D
 (sup.) E quan... quantas (sup.) quantas refeições normalmente o senhor faz?
L
 Bom, eu, há tempos diria a você que eu fazia três alim... três refeições. Bom, se contar o café da manhã seriam quatro. Eu tomava café da manhã, almoçava, lanchava às duas horas e jantava muito bem. Hoje, tendo em vista a, a que estou condenado a fazer regime, não é, por causa da pressão, então a minha alimentação são duas alimentações apenas. O café da manhã e o almoço. À noite eu entro no programa dos velhos: é o chá.
D
 E essas duas refeições assim, o café e o almoço, do que que consta?
L
 Ah, bom, normalmente eu, nós, eu no caso meu e da minha senhora, nós comemos mais legumes, né, legumes.
D
 Que tipo de legumes?
L
 Ah, vou te dizer: couve, tipo mineira, eh, aquela verdura que o Pope... o Popeye faz propaganda, espinafre, e às vezes jiló, ervilha. Hoje por exemplo foi arroz e essa vagem, sem sal. A turma lá em casa reclama que quando eles, eh, sentem assim, hum, apetite de participar da nossa alimentação, que é feita separada, reclama, eu digo: bom, então coloquem sal se vocês querem. Agora, eu digo a minha senhora o seguinte: eu aceito esse regime em parte, até aos sábados, entende, domingo eu quero a minha carta de alforria. É, o domingo.
D
 Então domingo como é que é isso (inint./sup.)
L
 (sup.) Ah, domingo (riso) é grão-de-bico com bacalhau. (riso)
D
 E o pessoal (sup.)
L
 (sup.) Ainda ontem, ainda ontem eu entrei no rolê de carne, chamam bife enrolado, não é?
D
 E o que mais? O que que acompanhava?
L
 Ah, rolê de carne, foi arroz de forno, arroz de forno, não me deixaram comer a tal de farofa e sa... uma salada, uma salada mista, né?
D
 Como é que era esse arroz de forno?
L
 Esse arroz de forno preparado com, com presunto, não é? Eu não sei dizer como é que faz, eu sei que vai prum tabuleiro e leva esse queijo parmezon (sic), leva presunto, `petit-pois', é gostoso. (riso)
D
 Por que que não deixaram comer a farofa? De que era a farofa?
L
 É porque a minha senhora diz que a farofa, não é, leva um pouco de sal e para evitar o excesso de sal, e a farofa exige também depois ingerir água em excesso, e quem tem pressão alta não pode estar ingerindo muito líquido, né? Tem que evitar o líquido, evitar o líquido.
D
 O senhor bebe alguma coisa (inint.)
L
 Não, bebida alcoólica nenhuma. E lá em casa nós abolimos até Coca-cola, entende? A nossa bebida é a água, ela fez mate, não é, queimado, e depois preparou duas jarras grandes com dois cubos de gelo. Foi a bebida ontem na hora da janta.
D
 Ninguém bebe mais nada em sua casa?
L
 Bom, se meus filhos bebem alguma coisa, pelo menos o P. que é o mais velho (inint.) bebe na rua, né? Em casa não. Eu não tenho bebida alcoólica em casa.
D
 Mesmo antes do senhor fazer regime o senhor não bebia nada?
L
 Mesmo antes, sim. Porque há um detalhe, eu sou protestante e nós, os protestantes, não fazemos uso de bebida alcoólica, ela sabe, né? Nós não fazemos uso. Também não fumo, quer dizer, não agravo o meu problema, eu não estou sujeito a morrer de enfarte. Se alguém fuma aqui não fique assustado. O enfarte, eh, dizem que é moléstia do, do fumante. Noventa e nove por cento dos que morrem de enfarte são fumantes, porque a nicotina engrossa o sangue, entende, e coagula lá dentro do miocárdio e ... Quer dizer, eu não tenho esse problema. Daí eu já atingi a cinqüenta e cinco anos.
D
 Por que a abolição da Coca-cola?
L
 A Coca-cola nós notamos que, pelo menos lá em casa, tem causado assim um mal-estar a eles lá, aí nós abolimos.
D
 E outro refrigerante?
L
 Bom, outro refrigerante usa-se muito limão. A senhora imagina que eu compro em média, ainda no sábado eu comprei dez pacotes de limão. Vem aquele, eu chamo pacote porque são aqueles saquinhos de plástico, e vem não sei se seis ou oito limões ali dentro. Eu compro de preferência aquele Taiti, que é um limão que não tem caroço e eu conheci em São Paulo há dois anos passados. Hoje já existe no Rio, vindo de São Paulo. A tendência vai ser desaparecer do mercado, porque eles vão exportar esse limão pra Europa. Agora mesmo exportaram, eh, me parece que sessenta toneladas a título de, de mostruário lá no mercado europeu. É a primeira investida que o Brasil está dando no mercado europeu na parte de legumes. Então foi pimentão, foi cenoura, foi, foi nabo, foi pepino e mais umas outras coisas. Foi pra França, pra Alemanha, porque nós aqui a nossa safra é, é constante. O Brasil não sabe nem como controlar a safra porque às vezes são três, quatro safras, depende da ... E a Europa só na época da primavera, outono e verão, entrou o inverno, o inverno praticamente são seis meses, eles não têm produção pra atender o consumo interno. Então a tendência é comprar do Brasil. Segundo Stefan Zweig o Brasil é o celeiro do mundo, pra matar a fome do mundo, heim! Vocês que são mais jovens do que eu, se não conheceram devem conhecer, né, Stefan Zweig. Morreu inclusive no Brasil, lá em Petrópolis, e ele tem uma obra que ele fala, "Brasil, país do futuro". E esse futuro já chegou, é o milagre.
D
 Após assim as refeições principais o senhor costuma comer alguma coisa?
L
 Eu abuso um pouco e a minha senhora briga comigo, ouviu? Se eu for numa festa na sua casa e havendo salgados e doces, eu vou para os doces. (riso) De maneira que eu peço permissão pra exibir aqui. (riso) A minha briga é por isso em casa. Brigam comigo por isso (falas e risos) Pode servir. São as balas. Eu estou pro... (risos e falas) Pode deixar, eu estou proibido. Olha aí, passa pra ela. Eu estou proibido do, do, do açúcar, né? Mas eu, eu estou naquela história da novela, né? Aquele velhinho vai correndo escondido roubar o doce. (riso)
D
 (inint.) qualquer tipo de doce que o senhor gosta?
L
 É, gosto. Desde do doce de laranja que muita gente não gosta, eu adoro, acham aquilo amargo, eu acho uma delícia, entende? Qualquer tipo de doce. E a minha senhora faz muito doce em casa, mas ela me proíbe, né?
D
 Que doces (inint.) faz?
L
 Ah, ela é uma excelente doceira. (riso)
D
 (inint.) me dizer todos. (risos)
L
 Ah, ela faz doce de coco, eh, doce de jiló, o doce de jiló inteiro, quando ele está pronto, ele parece figos, doce de abóbora em pedaço ou doce de abóbora em, assim batido com coco, eh, doce de batatas, eh, doce de banana, doce de jaca, doce de carambola, pode ser em calda ou em passas, ela também faz. Em passas é uma delícia. Em passas ele é feito com pouca, com pouca água, é mais, o cozimento é feito mais no açúcar. De maneira que vai indo, vai indo, vai queimando aquele açúcar, vai escurecendo e fica igual a uma ameixa, só que é enorme. Ah! Uma delícia, uma delícia. Bem geladinho com um pouco de creme 'chantilly' é uma delícia. E quem tem família grande, comprar doces assim sai um pouco caro. Então compra, né, doce de banana, mamão, pode ser maduro, em pedaços ou mamão desmanchado assim com coco. Também pode ser mamão verde, em filetes ou passado num ralador, né? Tem lá uma centrífuga, bate tudo, sai raladinho. Quer dizer, ela faz muito doce, aliás fazia, né? Ela fez ontem uma torta de abacaxi, tendo em vista a comemoração do aniversário, e fez um bolo e lá a N. foi que montou. Mas não pude comer muito doce, me deram só um pedacinho com creme de leite, pra não abusar.
D
 O que que levava o bolo? (sup.)
L
 (sup.) Ah, no bolo? Eu não sei. Eu sei que levava abacaxi. É, torta de abacaxi tem aquelas rodas de abacaxi no meio, é gos... Gostoso é. (risos)
D
 E a massa (inint.)
L
 A massa? Eu não sei, não sei não. A composição (sup.)
D
 (sup.) O senhor não sabe cozinhar nada? (sup.)
L
 (sup.) Alguma ... Sei, eu sei cozinhar. Eu sei fazer alguma coisa, né? Sei fazer um arroz, sei fazer, não é? E do jeito que eu faço foi que eu aprendi com a minha mãe. A minha senhora não gosta muito de usar o alho. Eu já gosto de usar o alho. Então eu quando faço arroz por exemplo, eu, eu faço um refogado com bastante alho, queimando, que dá aquele aroma. Eh, eu preparo o refogado com alho, já queimando e (sup.)
D
 (sup.) Só com alho?
L
 Não, leva, leva óleo, né? Eu estou usando óleo de arroz, cebola, tomate, não é? E acho que é só. E aquilo tudo vai faze... vai preparando ali, tal, quando está no ponto, coloca-se o arroz, acrescenta-se a água na quantidade que não dê pro arroz ficar em... embolado e o arroz depois cozinha e fica ótimo, pelo menos (sup.)
D
 (sup.) O senhor não gosta de arroz embolado?
L
 Ah, não gosto de arroz embolado não. Eu gosto dele bem soltinho. Lá em casa também eles não gostam. Ela cozinha direitinho. Feijão também, isso é fácil, né? De vez em quando eu cismo lá e faço, não é? É muita luta, muita gente, então às vezes eu ajudo. Eu sei fazer feijão, o modo de fazer é o mesmo. Preto, manteiga e aquele, como é, chamam mulatinho, qualquer um deles eu sei fazer.
D
 O que mais o senhor sabe fazer?
L
 Sei catar o feijão. (riso) É o que eu sei fazer, o café, diariamente quem faz sou eu, né, a N. não fala nada? Ah, faço cafezinho, levo cafezinho lá no quarto pra ela. Se ela ouvir a gravação ela vai ficar meia zangada comigo. (risos)
D
 (inint.) mais o que (inint.)
L
 Ah, o biscoito, o sanduíche, preparo a merenda quando ela quer levar merenda, né? Preparo pra todas elas, a N., que é a primeira que sai, a N. e a R., diariamente eu faço isso (sup.)
D
 (sup.) O que que o senhor faz pra elas? (sup.)
L
 (sup.) Ah, eu preparo café, boto o leite pra ferver, não é, preparo um pratinho, coloco lá na cama do lado, na mesinha, e sanduíche. Preparo os biscoitos pra merenda. É isso.
D
 Sanduíche de quê?
L
 Ah, depende do que tiver, né? Pode ser presunto, queijo, pode ser de creme, eles gostam muito, eu compro aquele creme de, de queijo de Poços de Caldas, naquele copo. Então eu faço sanduíche do Cream Cracker com aquilo, casadinho, é uma delícia!
D
 Que biscoito (inint.)
L
 Ah, eu compro, eu compro normalmente Água, Cream Cracker, eh, compro salgadinhos pra eles. O Água é pra mim, né, porque não tem sal. Porque eu compro, eu tenho a carteira de servidor, eh, federal, então eu tenho a minha inscrição na, no Reembolsável da Aeronáutica. E compro sempre quatro, cinco caixas fechadas. Eu tenho biscoitos, que eu faço as compras para o mês todo, eu tenho biscoito em casa. À medida que vai terminando, eu vou abrindo as caixas, por isso tem aquela montoeira de caixa lá, de vez em quando vou botando no lixo. Mais alguma coisa?
D
 O senhor podia me dizer por exemplo o que é que o senhor comia antes?
L
 Ah, bom, antes, eu vou lhe dizer, eu não respeitava dieta, não é, eu não respeitava dieta. Eu ... Muita, muitas peixadas. Quando eu viajei para o Nordeste, o meu prato preferido eram as peixadas. Então em Natal, por exemplo, no Rio Grande do Norte, havia lá, eu fui, comecei a procurar onde é que tinha um bom restaurante. Agora eu queria comida diferente dessa comida que se conhece aqui no Rio. Então lá o, o funcionário da agência em que eu estava fazendo a inspeção, ele disse: ô R., eu vou te levar num restaurante lá junto da praia onde chegam as jangadas trazendo peixe. E chamam Restaurante do Português e ele faz peixada diariamente ali. Então ele me levou e eu fiquei freguês e, e ia almoçar e jantar peixada. Era camarão frito, era peixe à escabeche, era peixe frito, era de todo jeito. Lagosta, lagosta à, à americana, lagosta frita. E na Bahia por exemplo não gostei muito daquelas comidas que eu comi lá não, sabe? Por causa do azeite-de-dendê. Tem algum baiano aqui? Ahn, a senhora? (risos) Ah, o azeite-de-dendê. Então a senhora sabe, ali o mercado Modelo, havia ali uma senhora especialista chamada Maria de São Pedro. E o diretor da Escola Normal, lá de Salvador, ele era irmão de um funcionário da agência que eu estava inspecionando. Então o funcionário disse: ô R., eu vou te levar na casa do meu irmão e nós vamos almoçar um escaldado de peru, amanhã que é sábado. É um prato lá da Bahia. É assim um tipo de cozido que se faz aqui com legumes e tal e leva chouriço e uma porção de coisas e, e o ... Aqui o, o chamado cozido é carne de gado, né? Lá o, o, esse tipo de cozido não é carne de gado, é peru em pedaços, então eles chamam escaldado de peru. É gostoso, ouviu? Eu comi e depois fui pra rede dormir. (riso) E então almocei. Mas o, o irmão desse rapaz disse: ô R., você, é a primeira vez que você vem à Bahia, a Salvador? Eu disse: sim. Então você vai almoçar segunda-feira comigo na Maria de São Pedro. Bom, eu não conhecia. Ele me levou. O mercado Modelo eu conhecia porque nas horas de folga à noite, eu saía pela cidade andando, conheci a cidade, entende? E aí fui lá na Maria de São Pedro. Uma escada assim, não é? E lá, então, ele mandou fazer vários pratos e gostei. Mas houve uma coisa muito interessante. Ele disse: ô, ô, dona Maria, ela parece que é falecida essa senhora, era uma senhora de cor, baixinha, o moço aqui é da, é lá do Rio de Janeiro e não carrega muito na pimenta, dá morninho, morninho. Então, primeiro prato, veio moqueca de siri-mole. Aí, eu fui comer a moqueca de siri-mole. Gostei tanto, menina, que caí na moqueca. À medida que eu ia comendo, aquele morninho foi me queimando. A essa altura, eu já estava com os lábios que parecia fogo. Ela disse: pára, ioiô, agora você vai comer, eh, moqueca de peixe. Então lá veio a moqueca de peixe. Era pequenas quantidades, entende, pra poder provar de todos os pratos. Assim foi que veio vatapá, caruru, munguzá e farofa amarela e um pouco de cada coisa. E àquela altura eu estava que eu tinha a impressão que eu era um dragão. (risos) Eu fazia assim, ó, (sopro) eu tinha a impressão que fazia (inint.) língua de fogo. (risos) E essa senhora, chamada Maria de São Pedro, e os dois amigos meus, eles começaram a rir e ela disse: olha, ioiô, não fica espantado, não, eu vou te tirar, eu vou te dar um tira gosto. Então ela ... Eu, eu agradeci, não queria mais, já estava satisfeito. Ela disse: então eu vou trazer um negócio aqui que vai acabar isto num instante. Trouxe um prato com uma tal de cocada-puxa. É uma cocadinha preta, assim, puxa. Então ela disse: olha, não come isso depressa, não. Você vai comendo devagarinho e deixando rolar nos lábios, na boca e tal, que essa cocada-puxa tira todo o efeito da pimenta. E eu assim participei lá de vários pratos, entendeu? Mas foi a única vez. Depois eu fui várias vezes na Bahia e em Salvador principalmente, que aliás da Bahia eu só conheço Salvador, e não fui mais na Maria de São Pedro. Eu, eu comia outros pratos lá. Também tive uma surpresa quando eu passei trinta e seis dias em Salvador e estava ansioso pela nossa feijoada de feijão-preto. Então eu estava na cidade baixa, tinha ido fazer uma verificação na agência do Banco do Brasil e quando eu volto na hora do almoço, passo na porta de um restaurante na cidade baixa, muito bacana o restaurante, e ambiente todo refrigerado, e eu vejo assim numa placa pequenina: feijoada carioca. Eu disse: opa, é nessa que eu vou! Entrei, lavei as mãos, escolhi lá uma cadeira, sentei e tal e fiquei esperando. Aí veio o rapaz, eu disse: feijoada carioca. Que surpresa, a feijoada era de feijão-mulatinho, não era feijão-preto. E era uma feijoada, mas diferente da feijoada que se faz aqui. Eh, continha uns pedaços de coisas e tal assim de gado, né, essa coisa toda que leva feijoada. Mas não era ...
D
 O que que leva a feijoada?
L
 Ah, feijoada leva carne-seca, né, leva lombo, costela, leva paio, leva dobradinha, chamam bucho, né, dobradinha e não sei mais. Há outras coisas lá. A feijoada completa é um prato gostoso e às quartas-feiras em São Paulo, até dois anos passados, os restaurantes nas quartas-feiras dava feijoada. Por sinal eu já estava no período de, de dieta e eu estava em São Paulo. Eu digo: bom, estou sozinho, não tem ninguém me vendo, eu hoje vou entrar, vou comer uma feijoada. Porque eu era freguês dum restaurante vegetariano, pra poder fazer dieta, mas nesse dia me deu vontade de tomar, de comer a feijoada. Olhei assim os restaurantes todos em São Paulo: feijoada. E, olhe, o paulista diz que o carioca é que gosta de feijoada de feijão-preto. E eles comem muito feijão-mulatinho por causa da influência da colônia nordestina, que é grande em São Paulo, entende, mas eles gostam do feijão preto. Os restaurantes estavam cheios e eu passava, aquele aroma de feijoada, eu digo: ah, tem paciência, hoje eu não vou no vegetariano não. Não fui no vegetariano, entrei lá num restaurante, sentei e fiquei esperando. Veio o cardápio e eu digo: é feijoada. Veio a feijoada, o garçom trouxe e colocou assim um cálice com bebida, né? Cachaça com limão. Eu me servi e tal e disse: olha, essa bebida você pode levar. Ele disse: não, isso é acompanhamento, isso acompanha, faz parte. Eu digo: não, mas eu agradeço. Mas ele foi tão gentil, porque ficou insistindo, insistindo, não é? Não, o senhor pode tomar porque é uma cachaça especial. Se o senhor não quiser esta, eu mando preparar com uma Pira,ssununga, mil novecentos e vinte. Eu digo: não, eu dispenso. Quer uma batidinha de maracujá? E ficou nessa coisa. Eu fui obrigado a dizer: olha, eu não bebo bebida alcoólica. (riso) E o senhor faz o seguinte: eu tenho direito a trocar? Bom, se o senhor quiser trocar, pode trocar por outra bebida qualquer. O senhor quer um guaraná? Eu disse: quero. Ele disse: ah, o senhor não é carioca, o carioca não vai co... comer uma feijoada e, e tomar guaraná. Mas de Salvador eu tenho boas recordações, entendeu? Eu à noite quase sempre eu ia lá pro farol da Barra tomar sorvete naquela confeitaria que tinha lá, andar por Salvador.
D
 Sorvete de quê, o senhor tomava?
L
 Ah, o sorvete do nordeste é bom, sabe, porque normalmente no nordeste não se usa esses produtos químicos que se usa no Rio de Janeiro e em São Paulo e até hoje eu devo dizer a vocês que o melhor sorvete que eu já tomei foi no Recife, no Guemba, na rua da Aurora.
D
 (inint.) sorvete de quê, que o senhor tomou?
L
 Ah, no Guemba, eu tomava de açaí, um sorvete de, que eles chamam pinha, que nós aqui chamamos de fruta-de-conde, de frutas em um modo geral, não é? São muito bons, de goiaba muito bom, e mangaba é uma delícia. Tomei muito sorvete de mangaba. Eu sentava no Guemba, tomava dois, três, quatro sorvetes, dali eu ia para o cinema São Luis. (riso) Depois que eu terminava o serviço, entende? Eu, eu estava a serviço, mas eu estava passeando. Isso normalmente depois de seis, sete horas da noite. Eu ia dormir sempre lá pra onze horas, onze e tanta, não é? Comi muita peixada no Recife lá no Pina. Bom lugar pra peixada, boas peixadas eu comi no Pina.
D
 Como é que é feita a peixada (inint.)
L
 Ah, bom. Como fa... fazer? Eu sei que é peixe, eu comia peixe de todo jeito, entendeu? Mas o que eu mais gostava é quando era feito à escabeche e vinha enfeitado com aqueles camarões chamado pitu. Camarão grande, aquilo é uma delícia. Aliás, em Natal uma ocasião eu, eu almocei só aquele tipo de camarão frito, comi tanto daquele camarão! Só que os meus amigos sempre dizem: ah, é um tipo de comida que pede bebida, certas bebidas, entende? E aí eu não bebia. Comi muita lagosta, estive quase um mês também em, em João Pessoa. Conheci alguns lugares fabulosos, como a praia de Tambaú, em João Pessoa, lá perto de Cabedelo. Tem praias bonitas. Ainda, eh, quando foi? Ainda foi na sexta-feira, uma funcionária lá do escritório do, do meu genro me perguntou assim: seu R., ela é pernambucana, o senhor conhece praia mais bonita que Boa Viagem? Eu disse: olha, eu conheço, ô C., o nome dela, eu conheço praias lindas. Eu não diria que Boa Viagem é a mais bonita, mas as praias do Brasil são tal... talvez as mais bonitas que se conhece. Há praias que é uma beleza. Torres, no Rio Grande, é um sonho, é uma beleza, é pouco conhecida.
D
 O senhor conhece o Brasil todo de norte a sul?
L
 Mais ou menos alguma coisa, né, não conheço totalmente. Eu conheço até Fortaleza, de Fortaleza ao Rio Grande.
D
 O senhor nota alguma diferença entre as comidas?
L
 Ah, sim, muita diferença, né, entre as comidas, o modo de preparar. Por exemplo, eu fiquei triste num dia que eu quis comer um bife em João Pessoa. Eh, finalmente veio o bife, o bife era muito magrinho e eu não sabia se era bife ou se era pimenta-do reino. E lá em casa a turma não gosta de pimenta-do-reino nem cominho, entende? É um condimento pra temperar comida, aquilo é um pouco agressivo ao, ao intestino e ao estômago. Não, não deixa de haver dúvidas que o cominho e a pimenta-do-reino dá um, um, um, um toque especial na, na comida, entendeu? Mas eles usam em excesso. E nesse dia eu tive que pedir ao garçom (inint.) quer fazer o favor de lavar esse bife? Ele ficou espantado: por quê? Eu disse: porque aí tem muito cominho, pimenta-do-reino, eu quero só o bife. (riso) Então ele levou e lá dentro não sei o que que fizeram, o bife veio sem o cominho. Mas, eh, de um certo modo há certas comidas típicas do, do, né, dessas regiões que é uma beleza, uma beleza.
D
 No sul?
L
 Ah, no Rio Grande, poxa, no Rio Grande é galeto e churrasco. Eu, eu cometi a maior gafe da minha vida, foi num restaurante na cidade de Blumenau, num restaurante muito bacana chamado Gruta Azul, restau... restaurante chique. E sabem, Blumenau é uma cidade de colonização alemã, e eu entro no restaurante pela primeira vez, eu pego o cardápio e quase tudo em alemão. Bom, eu não conheço alemão, que que eu vou pedir? Eu olho assim, em português: bife à milanesa, bife de vitela à milanesa, macarronada italiana. Eu digo: bom, eu como um bife de vitela e a macarronada e pronto, né? Pelo menos eu vou comer um negócio que eu conheço. Porque eu já entrei aqui no Westfália aqui na, na rua da Assembléia, restaurante alemão, que tem ali, e eu estava com, inclusive com a N., no tempo em que ela ainda, que ainda era aluna do Pedro II. Eu disse: vamos almoçar aqui, ô N.? Ela pediu o célebre prato carioca que é bife e batatas fritas, ouviu? Você quer conhecer o carioca? É isso, bife e batatas fritas, entende? Agora, então a N. pediu bife e batatas fritas, eu pedi lá um, um prato em, em alemão. Você sabe que que veio? Galinha em, em pedacinhos ao molho de pêssego. Eu disse pra N.: olha aí, N., minha filha, olha aí, eu não sei se isso é doce ou se é comida, mas eu vou comer. E sabe que eu gostei, o contraste da, do, do paladar daqueles pedaços de galinha, eu acho que assado, e com um molho de pêssego. Gostoso. Mas na, na Taberna Azul em, em Blumenau eu então pedi esses dois pratos: bife de vitela à milanesa e a ma... o macarrão à italiana. O garçom demorou. Eu estou procurando lá ver o que que está havendo, né? Aí lá vem o garçom muito gentil e ele disse: o senhor, de onde o senhor é? Eu disse: eu sou do Rio de Janeiro. É, eu desconfiei. Com aquele sotaque de teuto-brasileiro. Ele disse: olha, eu já falei lá com o gerente, ele está olhando, o senhor pode, faz favor de olhar. Eu olhei e aí o sujeito de lá se curvou todo, me cumprimentou, eu cumprimentei também. O gerente mandou dizer ao senhor o seguinte: que o seu almoço vai ser uma promoção da casa. Pra mim? Eu disse: a título de quê? Diz ele: porque nós notamos que pela sua pedida o senhor não está acostumado com os hábitos aqui de Blumenau. É pessoa pelo menos que não está acostumado com os hábitos aqui da terra. Eu disse: por quê? Porque bife de vitela à milanesa tem os seguintes acompanhamentos, aí me descreveu mais de cinco pratos diferentes que acompanhava. E a macarronada italiana tem mais os seguintes acompanhamentos. Então nós chegamos à conclusão, eu disse pro meu gerente: ou esse homem é gastrônomo ou ele não sabe o que está pedindo. Então o gerente achou muita graça e disse: não, serve tudo isso a ele, mas obriga ele a comer um pouquinho de cada coisa, pra ele provar a nossa comida. Então ele disse: olha, ele está olhando de lá, e eu olhei, ele me cumprimentou, e disse que o senhor vai provar um pouquinho de cada coisa e não vai pagar coisa alguma, o almoço é oferecido pela gerência da casa, em homenagem a um carioca que está almoçando hoje aqui. E assim eu comi um pouquinho de cada coisa.
D
 E o que, que que veio?
L
 Aí ve... Eu vou te contar, veio um tabuleiro mais ou menos, dois tabuleiros, mais ou menos do tamanho daquilo ali, cheio de pratos. O primeiro: bi... o bife de vitela à milanesa, acompanhava lá um tipo de arroz, hum, salada, hum, batatas fritas, não sei que mais. O, o, a macarronada italiana já vinha com um molho, com um, com um negócio lá feito umas almôndegas, aquele bolinho de carne, e mais umas outras ... É muita comida, é comida pra dez, comida pra dez. Eu fui obrigado a comer um pouquinho de cada coisa, inclusive a água mineral que eu bebi foi promoção da casa também. Eu agradeci e as outras vezes que eu voltei lá já eu pedia sugestão e eu voltei várias vezes.
D
 Tinha alguma coisa assim típica de comida alemã (inint./sup.)
L
 (sup.) Ah, sim. Alemã? Não. Das outras vezes não. Eu passei a comer churrasco, galeto, churrasco, entende? Churrasco no sul é uma beleza. Você pede um churrasco e não come mais nada. No Rio Grande por exemplo, quando eu estava em Porto Alegre, eu ia sempre na churrascaria Urca e enquanto eu esperava eu comia aquela salada de batata. O churrasco, eh, é um bife de, chamam bife de, de, de maminha de alcatra, que é aquela carne mais macia do filé, que é grossa, é um bife grande assim, macio e o modo de fazer era diferente. Lá também eu fui na churrasqueira pra olhar e quando o, o churrasqueiro estava preparando, ele disse: o senhor está gostando? Naquele, naquela linguagem típica do gaúcho. Eu disse: é, estou gostando de, de ver como o senhor trabalha, estou aguardando o meu que deve estar por aí. Ele disse: ah, já vi que você é carioca. Ele pra mim. Eu disse: sou. É isto, e dentro do bairrismo gaúcho, né, isto aqui é diferente, é muito melhor. Lá vocês não comem churrasco, vocês comem, nós chamamos churrasqueto carioca, porque vocês enfiam aqueles pedaços de carne no palito. Aqui é nesta haste enorme de ferro, está vendo e tal, ele falando. E realmente o modo de fazer é diferente, ele disse: olha! Eu disse: por que que o churrasco aqui é mais gostoso do que no Rio? Ele disse: é fácil, vou te explicar. A carne é uma carne descansada. Eu digo: o que é carne descansada? Ele disse: é carne que não vai no gelo. O gado é morto, a carne não vai no gelo, entendeu, porque a, a carne dentro das vinte e quatro horas ela está meia mole, assim meia gelatinosa, entende, então, não é bom, tem que deixar ela descansar. Quando ela começa a enrijecer, ela já está no ponto de preparar para fazer o churrasco. Então ela vai direta no fogo. Não lava nem nada. E à medida que ela vai recebendo o calor do fogo, naquele braseiro de carvão-de-pedra, eles vão tirando e, e enfiando aquela haste de ferro com a carne dentro de uma barrica de madeira onde está o tempero. Então (sup.)
D
 (sup.) E esse tempero, sabe como é?
L
 Eh, esse tempero é vinagre, alho, aquela série de, de, de coisas que preparam para o molho, né? E então ele me explicou: o processo de vocês é fazer o tempero e deixar a carne dentro do tempero. Então quando ela vai ao fogo, ela começa a sorar o tempero no fogo, ela resseca, fica dura e não tem paladar. O nosso processo é diferente, nós pegamos a carne descansada, levamos ela no braseiro, ela começa a receber o calor, então quando eu meto ela, a haste de ferro com a carne, dentro do tonel, ela puxa o molho, entende, ela puxa o molho, eu volto ela pro braseiro, ela recebe mais calor, quando está começando a querer ressecar, eu torno a colocar ela dentro do tonel de molho. E o molho é sempre feito de vinagre de vinho, vinagre de vinho. É gostoso. Ah, o churrasco é uma delícia!
D
 O senhor conhece assim as partes da carne?
L
 Da carne? Conheço, eu conheço.
D
 Quais são, o senhor sabe (sup./inint.)
L
 (sup.) Eh, eu conheço chã, né, chã, alcatra, chamam chã-de dentro, alcatra (sup.)
D
 (sup.) O senhor sabe assim em termos da posição do boi, como é mais ou menos?
L
 Eh, assim eu não sei definir bem ... Não, não, não, no, no, no, no ...
D
 (inint.) anatomia (inint.)
L
 É, exato. Eu não sei, eu não sei. Eu conheço ela pendurada no tendal no açougue, eu conheço. Conheço o que é pá, pra me enrolar o açougueiro tem que enrolar direitinho, porque senão não enrola não. Pá, peito, lagarto, chã, patinho, alcatra, filé, quando a parte é, é a maminha do filé, como eles chamam, que é aquela parte mais, mais alta do filé, hum, aquela parte mais gorda que chamam peito, a capa do filé que eles tiram, não é, o filé-mignon que vem preso por dentro da parte da costela, que é macio, filé mignon é bom.
D
 Hoje em dia o senhor não compra mais carne pra casa?
L
 Ah, compro, compro.
D
 O que que normalmente o senhor compra pra casa?
L
 Pra casa, eu só não compro filé-mignon, não é? Mas com... eu quando compro filé, há coisa de uns oito dias eu comprei um pedaço de filé, eu não posso comprar menos de quatro a cinco quilos, entendeu? Eles comem bem. É uma alegria ver essa, é uma alegria.
D
 O senhor não come mais nada de carne?
L
 Ainda ontem, pra fazer o, o ... Eu não falei que fez rolê de carne? Pra fazer o rolê de carne, foram seis quilos de carne. Agora eu comprei pá, entende? Pra rolê de carne não precisa ser carne de primeira. Você não vai comprar por exemplo filé pra fazer rolê de carne, então você compra, nem alcatra, porque alcatra é uma carne macia também, mas você compra patinho, compra chã ou compra pá, um pedaço inteiro de pá. Eu comprei, então ela ali fez o, os bifes e fez o rolê de, de carne, e gostoso. Mas é isso.
D
 Em termos assim de abastecimento da sua casa? O senhor é que faz as compras?
L
 Ah, sou eu que faço as compras, sim.
D
 Então o senhor pode dizer à gente tudo que o senhor compra assim pra casa, e as quantidades que o senhor compra (sup./inint.)
L
 (sup.) Eh, eu tenho que, eu tenho... Eh, a senhora vai ficar um pouco espantada, mas eu vou lhe dizer. A senhora imagina, eu gasto em média quarenta a quarenta e cinco quilos de arroz. Feijão gasto pouco, ouviu? Uma média de dez quilos, às vezes sobra. Mas por exemplo este mês, hoje foi que ela abriu um pacote de cinco quilos. Durante o mês todo de setembro nós gastamos praticamente, não, hoje é dia vinte e cinco, bom, de primeiro a vinte e cinco, nós gastamos cinco quilos. Hoje ela, nós apanhamos lá no armário o pacote de cinco quilos de feijão preto. Pra fazer, ela faz uma vez por semana, só feijão. Agora gasto muita batata, eh, gasto muita massa, massa engorda, eu estou proibido de comer massas também, e legumes. Eu faço feira.
D
 O que que o senhor compra na feira?
L
 Ah, feira eu compro verduras, eu compro frutas, não é? Por exemplo, tomate, também, pra tempero. Quer ver uma coisa? Por exemplo: arroz, eu gasto uma média de quarenta a quarenta e cinco quilos de arroz, uma média de dez quilos de feijão, açúcar no inverno dá uma média de trinta quilos, é um quilo por dia. O verão que tem o, o refresco e tal, talvez vá a mais uns cinco quilos, dá uma média de quarenta e cinco. Massas não tem mãos a medir. Eu não compro quantidade pra guardar porque, pra evitar de dar aquele gorgulho, que é aquele bichinho que rói a massa. Então eu, à medida que precisa eu vou comprando a massa.
D
 Que que o senhor compra de massa?
L
 Eu, ah, compro aquele fidelino, o, que é um macarrão fininho da, do Adria. Não estou fazendo propaganda, heim, senão teria que pagar a propaganda, eu compro aquele, o talharim do Adria também. Eh, as massas, eu gasto massas Adria, entende? Lá em casa cismaram que a massa é Adria, então não sai de Adria. Se comprar outra eles já cismam com a massa. Eu gasto, eh, doces, eu compro pêssegos em caldas, compro uma média de quatro a cinco latas de pêssego, compro uma média de dez latas de creme de leite. Tem que abrir no mínimo duas a três latas cada vez, senão sai briga, entende? E sal nós gastamos pouco, eles reclamam muito. Mas essa gente toda, em um mês, nós gastamos uma média de dois, dois quilos e meio de sal. Não é muito sal, embora eu reconheça que eles tenham necessidade de sal. Mas aí é melhor comida sem sal, e quem quiser, pega o saleiro e coloca sal, do que salgar a comida, é ou não é? Eu já estou acostumado. Eu por exemplo já estranho a comida com sal. Já estou tão acostumado. E eu gasto uma média de seis latas de óleo. Eu já estou há uns quatro a cinco meses gastando o, o óleo de arroz. Eu compro aquele óleo de arroz Brejeiro, também não é propaganda, ouviu, Óleo de arroz Brejeiro. E gasto em média três latas de azeite. O azeite é mais pra quando faz o bacalhau. Ainda hoje eu disse pra minha senhora: eu vou fazer domingo. Eu falo sempre em domingo pra ela, porque é o dia que eu estou com a carta de alforria na mão e posso comer qualquer coisa. Então eu falei: vamos fazer domingo grão-de-bico com bacalhau. Ela disse: não, não senhor, não fique inventando já, eh, história de, de fazer grão-de-bico com bacalhau (riso) não. Mas eu dou a idéia porque eu, eu estou defendendo o meu lado, entende? E, nós gastamos grão-de-bico, essa ervilha verde pra fazer a sopa.
D
 O senhor faz sopa normalmente em casa?
L
 Ah, ela faz sim, não faz todo dia não, mas tem lá uns dias da semana, ela é que faz o, o 'menu', sabe? Prepara o cardápio, às vezes eu não sei o que é, vou ver, pra mim, pra mim que estou de dieta, é jiló e arroz, quem não gosta de jiló já viu, né? Eu compro na, na feira por exemplo eu faço as compras pra semana, entende? Por exemplo na feira eu compro em média quatro a cinco quilos de tomate, pra semana, e compro em média quatro a cinco dúzias de laranja, também em média três, quatro dúzias de banana, um quilo e meio a dois quilos de maçã, de pera e tal. Quando é época de outras frutas, eu compro também, comprei por exemplo quatro abacaxis porque ela foi fazer a torta. Já gastou dois e tem dois só. E limão eu gasto muito limão por causa do refresco que eles fazem, e eu também gosto. Eu por exemplo eu, eu não uso o vinagre, eu compro o vinagre de vinho pra tempero e compro o vinagre de vinho, mas aquele branco, pra salada. Mas eu não gosto de fazer salada com vinagre, porque eu me habituei por exemplo no vegetariano a comer a salada com o limão. Então o limão substitui o sal e o vinagre, entende? Então dá só uns pingos de óleo, pode ser óleo de arroz ou óleo de, de oliveira, que é o azeite pra salada. Então eu compro verduras, eu comprei por exemplo na feira no sábado, que faço a feira aos sábados, eu comprei cinco molhos de alface, comprei dez molhos de couve. Eh, são seis molhos de salsa e cebolinha, oito molhos de espinafre. Uma semana eu compro espinafre, outra semana eu compro a tal de, não é mostarda não, é uma outra erva aí que amarga também, mas que é bom, viu? A couve contém muito ferro. Pra dar uma comida balanceada você tem que ter todos os minerais na alimentação, não é? Cebola eu gasto uma média de dez quilos de cebola por mês. Não é mole não. Batatas não tem mãos a medir, heim? Eles comem muita batata. Então na época de batata frita, quando faz batata frita, sai até briga, todo mundo gosta (sup.)
D
 (sup.) alimentar nove pessoas (sup.)
L
 (sup.) O carioca de um modo geral gosta de batata frita. Pimentão eu compro uma média de um quilo e meio de pimentão por semana. Então quando ela faz, faz esse, chamam cachorro-quente, né? Porque eu quando faço a compra, as compras na Aeronáutica, eu compro aquela 'hot-dog', que é uma salsicha especial pra cachorro-quente, entendeu? É saborosa. Eu compro dez latas, que são umas latinhas pequenas assim altas. Traz oito salsichas. Então, eu compro, eu comprava aquela tipo viena, da Wilson, mas enjoaram e ess... realmente esta outra da Armour é mais deliciosa. Então de vez em quando ela, pra janta, é cachorro quente que faz, né? Chamam cachorro-quente. Daí gastar muito pimentão. Há ocasiões também que ela faz, eu gasto muita farinha de trigo, não é, porque ela faz pastéis, empadas e, e faz a pizza. Não sei se você já comeu pizza lá em casa. A pizza pode ser com sardinha ou 'mozzarela'. Ela faz também. Então eu gasto muito pimentão. Eh, de feira é só, né? Verdura, repolho e esses negócios todos e batata, aipim, cenoura. Gasto muita cenoura, pra fazer o, o, o suco de cenoura na centrífuga. Mete ela na centrífuga ela já sai até coada, né? Aí é só ado... eh, gasto também beterraba que também é bom pra fazer aquela mistura, né? É beterraba, cenoura, é su... é suco de uva. Dá uma beberragem (sic) fabulosa. (risos)
D
 Acho que está bom, o senhor já falou aí ...
L
 Mais alguma coisa?
D

  Não, está ótimo.