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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Meios de Comunicação"

Inquérito 0102

Locutor 117
Sexo masculino, 59 anos de idade, pais cariocas
Profissão: engenheiro
Zona residencial: Sul

Data do registro: 22 de setembro de 1972

Duração: 40 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 Como era que se dizia pra essa, essa sua amiga? Como é? Você se corresponde com ela?
L
 Eu ... É, exato. E sempre insisto muito nesse tema. Em que as pessoas devem se entender sem falar. A perfeita compreensão é silenciosa. Já ela, não. Ela é adepta da comunicação e, e, e acha que as pessoas devem se comunicar o mais amplamente possível. Mas, adepta da comunicação como ela a comunicação é entendida atualmente, eh, eh, o que hoje em dia é chamado diálogo. É chamdo diálogo, que não passa de, ah, uma troca de idéias unilaterais, porque, dentro do meu ponto de vista, provavelmente quadrado, a mocidade quer falar mas não quer ouvir. Não sei se eu estou certo, mas é o que eu vejo. A, o, o, a outra, uma outra grande dúvida minha na comunicação é de que os meios de comunicação, normalmente, ou atualmente, especialmente em países latinos, estão em mãos de pessoas muito pouco habilitadas. Muito pouco habilitadas para lidar com o meio de comunicação. E a comunicação deve ser divulgação e educação. E hoje em dia, os meios de comunicação divulgam uma, uma, uma notícia distorcida e não educam. Deseducam. Isso inclui jornais, rádios, televisão, todos os meios normais de comunicação. Essa é a minha impressão. Evidentemente eu sou minoria.
D
 (risos) O senhor podia falar um pouco mais detalhadamente a respeito de televisão, por exemplo?
L
 Eu acompanhei televisão desde o princípio, porque quando a televisão se tornou pública, eu estava nos Estados Unidos, onde ela surgiu em primeiro lugar. De maneira que o que eu tenho visto de televisão é uma, eh, dentro do meu ponto de vista, até uma degradação do meio. Ela começou num caráter mais adiantado e foi fazendo concessões cada vez maiores ao gosto público, concessões ao, ao, ao nível de audiência, que a mim parece inteiramente errado, porque a, a, o nível de audiência, o Ibope, o, o, os números que exprimem o Ibope, não exprimem de forma nenhuma especialmente o valor comercial da audiência. Porque o que enche o auditório, o que aplaude as chanchadas, em geral, é gente que não tem nenhum poder econômico, nenhum poder de comprar. De maneira que comercialmente é inteiramente errado analisar o sucesso da, da, da televisão, comercialmente, pelo resultado do Ibope. Mas é uma ditadura já estabelecida. E toda ditadura é muito difícil de, de, de vencer.
D
 O senhor costuma ver televisão?
L
 Eventualmente, eu vejo. Normalmente, não por gosto, mais porque ela está ligada em casa.
D
 E, por exemplo, os, os programas que o senhor costuma ver, o senhor poderia me falar de alguns?
L
 Ah, é difícil, porque eu costumo ver muito programa que eu não gosto. Hoje em dia, em televisão, só, só dou atenção mesmo a filmes. E os programas ao vivo são, de fato, fica parecendo esquisito, fica parecendo que eu estou me valorizando, mas são de nível muito baixo. Todos eles. De maneira que, atualmente, eu espero que o acaso me forneça um filme, o, um filme bom, que não é muito constante, mas, em todo caso, sempre aparece. A... ainda ontem à noite, eu fiquei assistindo um filme até as duas da manhã, na televisão. Um bom filme. Um filme sobre a poluição. Muito bom o filme, muito bem feito.
D
 E além de... desses programas de filmes, desses programas ao vivo, outros tipos de programa, eh, que o senhor vê?
L
 Ah, evidentemente, na te... Isso eu ia me esquecendo de falar. Na televisão eu gosto de todo o programa esportivo. Toda transmissão de futebol ou qualquer outro esporte a mim interessa muito. Exatamente por isso, porque é uma transmissão, ah, ah, viva e ao natural, sem nenhuma, nenhuma interferência de direção ou de interesse comercial maior, só interesse comercial indireto, que isso sempre existe. Mas, ah, ah, de início, não há dúvida, e eu tenho a impressão que não sou só eu, que a maioria do público prefere.
D
 Existem uns programas que são muito populares, cada vez mais populares, que têm uma audiência muito grande.
L
 Exato. Há programas desse feitio, eh, que são mais programas de explo... de exploração da popularidade, como é o programa do Chacrinha, do Flávio Cavalcanti, e tudo mais. Sendo que o do Flávio ainda é pior, porque tem uma pretensa, ah, cultura, um pretenso nível mais elevado. Mas é uma exploração tremenda dos sentimentos menos elevados que todos nós temos, mas que não se deve cultivar.
D
 E telejornalismo, o senhor se interessa?
L
 Interesso, interesso bastante. Porque de fato, o, o telejornalismo trasnmite a notícia mais rapidamente do que o jornal. Toda manhã, cedo, eu dispenso pelo menos uma hora lendo jornal. Mas é o único contato que eu tenho com o jornal. Depois são só os noticiários de televisão à hora do jantar e tarde da noite. Isso é muito bom. Não há dúvida alguma.
D
 Agora, também está havendo uma grande dificuldade no Brasil, a respeito de televisão, alguma coisa nova que aconteceu, que está, eh ...
L
 O, o, o, o governo tem boa intenção, minha impressão é essa, de sanear a televisão. Mas a, a adulação e a força, ah, eleitoral real que a televisão tem impede que as autoridades tom...tomem qualquer, qualquer medida útil de saneamento da televisão. Até hoje ninguém teve coragem de fazer coisa alguma com a televisão. A não ser, ah, ah, combater um pouco os travestis e outras coisas nesse sentido. Coitados. Mas, ah (sup.)
D
 (sup.) Até que não são as, as únicas coisas ruins, não é? (sup.)
L
 (sup.) Não são os piores. É, não são os piores. Há coisa pior (sup.)
D
 (sup.) Há tanta coisa também ruim, né? (sup.)
L
 (sup.) É, pelo menos havia certas demonstrações de inteligência, como o costureiro Denner que, não há dúvida nenhuma, era um dos sujeitos mais inteligentes que aparecia na televisão. (telefone) Um momento, por favor. (interrupção)
D
 Bom, agora, eu estava me referindo a essa novidade, é a possibilidade de um novo sistema de transmissão, eh (sup.)
L
 (sup.) Isso (sup.)
D
 (sup.) seria muito caro pra, pra aquisição da classe média, digamos. Mas que ...
L
 Qual seria? O sistema de transmissão por cabos? Por fios?
D
 Não, de televisão colorida, por exemplo.
L
 Ah, televisão colorida. Exato. Isso está, eh, a tele... a televisão, na minha impressão, a televisão nacional continua incipiente financeiramente, economicamente. Nota-se de que, eh, pra que ela possa sobreviver, ela ainda exige um número muito elevado de anúncios por pro... programação. A colorida, a situação é muito pior, porque não há público suficiente. Ela está inteiramente fora do alcance do público. Me parece que foi um pa... um passo somente de prestígio. Não, não, não significou nada pra população a televisão colorida.
D
 O senhor já, já chegou alguma vez a ver alguma ...
L
 Televisão colorida no Brasil eu não vi. Eu vi nos Estados Unidos.
D
 Sim. E o que que o senhor acha? E se lhe perguntarem ... O senhor morou nos Estados Unidos e viu televisão lá nos Estados Unidos. Assim, fazendo uma comparação técnica entre a televisão americana e a televisão brasileira, não só em termos técnicos mas também em termos culturais, o que o senhor pode falar?
L
 Não, ah, ah, primeira, a grande diferença que se nota é a proporção de anúncios por programa. Lá há muito menor número de anúncios e não há uma certa impostura que existe aqui na televisão, e que o sujeito (pigarro) é obrigado a engolir uma porção de coisas desagradáveis. Lá não há essa impostura. Aqui ela é demasiada. Não há dúvida nenhuma. Exagerada. Agora eu estava pensando que a senhora ia se referir à televisão por cabo.
D
 Como é essa? (sup.)
L
 (sup.) A televisão por cabo é uma televisão, ah, que é paga, ela é distribuida por fio pras casas e a pessoa compra os programas que quiser. Assim ela só recebe programas escolhidos, sem, com mínimo de anúncios ou sem anúncio nenhum. E paga mensalmente pela ligação que tem. Isto já está muito difundido nos Estados Unidos. Mas aqui ainda não existe e eu penso que seria im... impossível. Seria, ah, ah, encher a cidade de muito mais buracos. (risos) E já chega os que nós temos.
D
 E a transmissão em cores, o senhor chegou a assistir lá, não é?
L
 É, nos Estados Unidos, assisti e não gostei. Havia uma mistura de cores muito grande e todos me dizem que a atual aqui do Brasil é bem melhor que a de lá.
D
 Também parece que os americanos têm uma possibilidade, eu não sei como, eu não sei os nomes pra essas coisas técnicas lá. Parece que as pessoas podem gravar, não sei se seria certo dizer gravar, certos programas. Por exemplo, se a pessoa tem algum compromisso fora depois ...
L
 Eh, isso pode. Não há dúvida nenhuma. E já existe equipamento comercial pra esse fim. Para quem quiser comprar. Seria uma espécie de um videoteipe tirado direto do, do receptor. Não há dúvida (sup.)
D
 (sup.) Agora, passando pra, pra, pra outra coisa dentro desse assunto. O senhor disse que todos os dias reserva uma hora pra leitura de jornal.
L
 Exato.
D
 O senhor costuma ler um jornal só ou mais de um?
L
 Não, um jornal só.
D
 E qual é esse jornal?
L
 Leio o Jornal do Brasil. Não ... Acho que no Rio de Janeiro é o melhor jornal. Da mesma maneira que o Estado de S. Paulo, no Brasil, é o melhor jornal. Não estou dizendo que ele seja perfeito. Longe disso. Ele é um jornal que sofre diversas influências. Eh, o próprio noticiário é, é, é influenciado. Mas depois que a gente conhece o jornal, já sabe quais são as influências e dá os descontos devidos.
D
 E essas influências, o senhor vê onde? Porque um jornal tem, eh, várias seções, não é verdade? O senhor, como leitor constante do Jornal do Brasil, praticamente o senhor já conhece (sup.)
L
 (sup.) Exato (sup.)
D
 (sup.) A própria disposição do jornal, né?
L
 É. Politicamente, o Jornal do Brasil (tosse) procura, eh, ah, seguir uma linha mais próxima da, da linha do governo, mas sempre com aquela política do nó de sogra. Por exemplo, o Jornal do Brasil perde diariamente duas colunas numa seção do Castelo, que ninguém lê, que é pessimamente escrita, mas que é só também pra agradar, ah, os políticos. Nada mais que isso (sup.)
D
 (sup.) A coluna política, né?
L
 A coluna política. E francamente tendenciosa. Francamente tendenciosa. Não vejo nenhum valor naquilo. Não sei como é que o jornal perde todo aquele espaço. Podia estar botando anúncio de cozinheira e tendo muito maior proveito.
D
 Agora, o senhor não poderia assim, já como lei... já que o senhor é leitor constante do Jornal do Brasil, contar quais as, como é que se, que se organiza um jornal, as seções que existem. A gente percebe que um jornal, ele tem, eh, parece que blocos separados, não é verdade?
L
 Exato (sup.)
D
 (sup.) Cada bloco desses vem com seções específicas e (sup.)
L
 (sup.) É. Isso, aliás, é uma das coisas boas do Jornal do Brasil, é a seção B. A seção B é muito bem feita porque tem bons colaboradores. E, e é útil também. Tem um noticiário de interesse direto, que eles chamam de (inint.) na penúltima página, nem me lembro como se chama mais a seção. Mas o que ele, em que ele dá notícias de cinemas, de teatro, de conferências, concertos, ah, 'shows' e tudo mais, que é muito útil, não há dúvida nenhuma. Tem um meia página ou às vezes até uma página de noticiário social, inteiramente fútil, mas de grande procura e colaboradores muito bons. Inclusive, alguns que estão surgindo novos, que eu acho, que eu considero muito bons, como por exemplo, uma que no início eu não gostava, que é a Marina Colassanti. E que hoje em dia está escrevendo admiravelmente bem. Em compensação, tem dona Clarice Lispector que escreve sempre a mesma coisa, o mesmo aborrecimento e que ninguém atura.
D
 Marina Colassanti, ela ... O que é especificamente o trabalho dela no jornal (sup.)
L
 (sup.) Ela, ela escreve crônicas ligeiras, coisas da vida. Coisas da vida dela também. Por exemplo, ah, um princípio de agosto, se não me engano, no dia seis de agosto, eu sei disso porque eu recortei essa crônica, era véspera do dia dos pais, ela escreveu uma, uma crônica muito interessante sobre o pai, que no caso é o marido dela, que ela estava esperando uma criança. Mas é muito, muito bem feito. Muito humano. Extraordinário. De uma poesia extraordinária.
D
 E os outros colaboradores, o senhor se lembra?
L
 Tem em primeiro lugar o Carlos Drummond de Andrade, que é um homem extraordinário. Tão extraordinário que não entra pra Academia. (risos) Tem um que, de vez em quando, é muito bom, que de vez em quando está bêbado demais pra escrever, mas o jornal publica, que é o Carlinhos de Oliveira. Também é bom. E a turma de pesquisa do próprio jornal é muito boa. Sempre a primeira página da seção dele é muito boa. Muito boa.
D
 E além dessa parte de pesquisa, eh, esses colaboradores, eh, praticamente, trabalham num nível de, não sei se assim podia falar, de ficção, não é, seria uma espécie de crônica literária?
L
 Exato, exato. Não é noticiosa (sup.)
D
 (sup.) Sim, mas existem (sup.)
L
 (sup.) É de ficção (sup.)
D
 (sup.) Outros aspectos também que são muito mais na base de informação do público, não é?
L
 É. Isso o jornal (sup.)
D
 (sup.) em termos artísticos, por exemplo.
L
 Exato. E, e além do ma... além de tudo, o noticiário policial do Jornal do Brasil é um noticiário bem policiado. Ele não é, não é sujo. Ele é resumido e se restringe às notícias em si, sem comentários, sem explorações, sem fotografias, o que é uma boa coisa. Ah, deixa-me ver, o que mais?
D
 O senhor já falou da, o noticiário político, comercial, artístico. (tosse)
L
 Junta-se a isso as seções especiais que o jornal publica de vez em quando. Seções, ah, de automóvel, seção de turismo e seção de livros, que essa, por exemplo, podia até ser publicada ma... com mais freqüência, que é muito boa. Tem bons críticos literários, muito, muito boa a seção de livros. Não há dúvida alguma. Junta se a isso também, esporadicamente, seções econômicas, mas que são mais com finalidade de, de, de, comercial para o jornal do que meio de divulgação econômica.
D
 E também (sup)
L
 (sup.) Agora, o jornal em si, já que eu disse que tinha restrições, eu vou mostrar quais são. Por exemplo, o jornal é escandalosamente semita.
D
 (risos) Por que o senhor diz isso?
L
 Eh, nota-se pelo noticiário. O noticiário é toda ele, inteiramente, ah, favorável, de uma maneira, eh, exagerada, de uma maneira às vezes até desonesta a Israel. Tudo que Israel apresente ou deixe de apresentar, não apresentando o outro lado da notícia, que seria, eh, o lado árabe da briga. Árabe ou americano, como queiram. Mas, mas, isso não há a menor dúvida. E nota-se, tanto mais que esse semitismo começou a aparecer, violentamente, depois que o diretor do Jornal do Brasil fez uma visita a Israel (sup.)
D
 (sup./risos)
L
 (sup.) Ele não ficou entusiasmado com Israel não. Ficou com outras coisas.
D
 Além do Jornal do Brasil, eventualmente, o senhor já falou n'O Estado de S. Paulo. O Estado de S. Paulo tem a mesma estrutura do Jornal do Brasil ou o senhor acha que tem mais coisas? Como é?
L
 Não, o Estado, o Estado de S. Paulo me parece, primeiro, um jornal de mais coragem que o Jornal do Brasil. Ele, o jornal o Estado de S. Paulo, que é um jornal de situação, não há dúvida nenhuma, mas tem coragem de apresentar crítica ao governo quando vê, eh, razão pra isso. Já o Jornal do Brasil não teria coragem. Ah, de vez em quando eu gosto de ler outros jornais, exatamente, pra ter opinião formada. Inclusive jornais que eu não gosto de forma nenhuma. Por exemplo, a Última Hora. De vez em quando, eu leio a Última Hora. Em a Útima Hora a única coisa muito boa e divertida é a seção do Daniel Más. E o resto é só pra gente ver que não deve ler. (risos) Mas o Daniel Más é muito inteligente. Não há dúvida nenhuma.
D
 De um certo tempo para cá parece que houve uma proliferação de jornais (inint.) né? Não têm uma orientação informativa do Jornal do Brasil, desses jornais tradicionais, mas que são, têm um outro tipo de informação, né?
L
 É. Há uma série de jornais que ninguém sabe como é que se mantêm. Ninguém sabe publicamente como é que se mantêm. Não há dúvida nenhuma que são jornais de pequenos grupos, de defesa de certas idéias muito reduzidas.
D
 O senhor, por acaso, alguma vez já leu algum, conhece algum que queira falar à respeito?
L
 Não, de vez em quando eu passo os olhos em diferentes jornais. Por exemplo, o Pasquim que é divertido. Tam... Mas já cansou. O Pasquim era muito divertido. Já não, não é mais. O que existe também uma proliferação tremenda é de revistas. Revistas noticiosas, revistas, eh, especializadas, técnicas em todos os campos, e isso é uma coisa fantástica. Eu acho que há mais revistas no Brasil do que no resto mundo inteiro.
D
 Por exemplo, essas revistas que a gente poderia chamar de informativas, como o senhor disse, noticiosas, o senhor costuma ler alguma em especial?
L
 Costumo passar a vista na Manchete e no Cruzeiro.
D
 Sim.
L
 Não de ler detalhadamente.
D
 Como é que o senhor descreveria ou caracteriza... caracterizaria essas duas revistas?
L
 A, a Manchete é uma revista muito bem feita. Uma revista de exploração comercial assombrosa. Ela sabe explorar comercialmente. Mas é muito bem impressa. Tem uma maquinária moderna muito boa e todo assunto que ela aborda ela apresenta muito bem. Evidentemente, oitenta por cento da Manchete é matéria paga. Não só anúncios como notícias. Mas o que ela faz, faz muito bem feito. Muito bem feito.
D
 O senhor diz bem feito em termos gráficos? É isso?
L
 Em termos gráficos. É . Já o Cruzeiro (inint.) ah, não tem progredido muito. Como tudo que é dirigido por, por uma comissão, ele não tem capacidade de, de se modernizar, continua a mesma coisa que sempre foi. Não progride de forma nenhuma. Já tem um, evidentemente, uma, uma, pelo tempo que ele é distribuído, já tem um público quase que cativo muito grande. Mas fora disso não é uma grande revista.
D
 E a revista Veja, por exemplo, o senhor nunca lê?
L
 Leio, leio. A, a Veja é uma revista, por exemplo, corajosa. De vez em quando tem bons, boas reportagens, bons artigos. Uma revista boa de análise. Uma boa revista econômica também. É uma excelente revista a Veja (sup.)
D
 (sup.) E qual seria assim a diferença que o senhor veria entre uma revista como Veja, por exemplo, e uma revista como Manchete, Fatos e Fotos, assim?
L
 A Manchete é mais uma revista só de, de fotografia. É daquele famoso, famoso princípio: quem não sabe ler, vê figura. (risos) Já a Veja, não. Veja é uma revista pra ser lida.
D
 E, agora, ainda falando de revistas, existem outros tipos de publicação assim em feitio de revista. Por exemplo, a editora Abril, o que a gente percebe é que a editora Abril tem uma certa preocupação cultural. Então eles têm várias publicações de (sup.)
L
 É, a, a editora Abril é uma organização comercial fabulosa. A preocupação cultural dela, porque cultural hoje em dia está vendendo. De maneira que ela explora a cultura de todas as maneiras, o que em parte é muito bom, porque ela divulga bastante e torna a cultura acessível. Ela tem bons, boas fontes de, de, de redação, muito boas. Lança sempre, ah, revistas e folhetins especializados muito bem feitos, muito atuais. É um grupo muito bom, muito forte. Como o grupo da Manchete também, de vez em quando, lança uma série de revistas. Mas a Manchete sempre com a preocupação de exploração visual só. A matéria escrita da Manchete não é o assunto principal.
D
 Inclusive é um negócio visível. É uma coisa visível. A gente percebe que de um certo tempo pra cá as bancas de jornais de ... A gente chama de banca de jornal, mas que vende outras coisas (sup.)
L
 (sup.) Certo (sup.)
D
 (sup.) Parece que se tornaram maiores, mais coisas. Não sei.
L
 É. E não há dúvida nenhuma que se tornaram. Têm mais coisas, mais revistas e menos jornais, de fato.
D
 Mas, sobre uma espécie de, de, de dispersão de publicações, por exemplo, a editora Abril está com um tipo, um tipo de publicação, hoje em dia, nas bancas, vendendo em bancas de jornal, que antigamente era um negócio muito reduzido, né, uma tendência de desenvolver um certo, uma certa curiosidade, eh, científica (sup.)
L
 (sup.) É (sup.)
D
 (sup.) Dos adolescentes. O senhor conhece essa publicação deles, agora, cientistas, parece, cientistas ...
L
 Eu só conheço de ver nas bancas. É, como tiveram músicos, cientistas e tudo mais. E aí, e a Manchete lançou animais.
D
 E como é, como é que o senhor vê esse tipo de coisa. Essas, eh, essas atividades culturais, afinal de contas são colocadas em bancas de jornal que, que até um certo tempo eram privativas de bibliotecas, livrarias.
L
 Eu, eu acho basicamente muito bom porque já não é mais uma meia cultura. Sempre foi o grande mal do Brasil. A meia cultura sempre foi o pasto ideal para os políticos. De maneira que hoje em dia o público, já está muito mais, e já ganhou um nível muito mais elevado. E há mesmo mais interesse, eh, de aprender porque ao mesmo tempo há maior oportunidade pra quem está devidamente habilitado. Antigamente não havia. Antigamente um médico ou um engenheiro ou um advogado fazia carreira política e ia trabalhar em assuntos inteiramente diferentes, eh, porque a profissão nunca, nunca dava uma oportunidade plena pro seu trabalho. Já hoje em dia não. Hoje em dia já há possibilidade.
D
 Ainda nessa área de revistas, jornais e periódicos, existem certas revistas que são, em princípio, são dirigidas a um público infantil. São muito características.
L
 É, isso eu, o dirigido ao público infantil, eh, não é, ah, bem real porque essas revistas infantis são lidas até por adultos. (sup.)
D
 (sup.) Sim. E o senhor conhece (inint./sup.)
L
 (sup.) Muito lidas por adultos. É. Exato. É, é, ah, ah, uma extensão dessa tendência da visualização, porque não há mais muito, parece um contra-senso com o que eu disse antes, não há mais muito interesse, muita capacidade pra leitura. Há muito maior pra ver figuras. E, e isso se estende inclusive a adultos. Há muito adulto que não lê, que só vê figura.
D
 O senhor conhece alguma, alguma dessas revistas? Já leu alguma vez? Já teve oportunidade?
L
 Eu já tive oporunidade de ler porque eu tenho filhos que hoje são grandes e que já le... já leram estas revistas. De maneira que já tive oportunidade de lê-las também.
D
 O senhor se lembra de alguma? Poderia contar? (risos)
L
 Não, não lembro. Não lembro porque não, nunca me dediquei bastante a elas. Eu, ah, lia mais por, por curiosidade, pra, ah, poder dizer que já vi e formar opinião. Mas não que tivesse me viciado na revista.
D
 Mas o senhor, passando agora pra outro tipo de leitura, o senhor gosta de ler, né?
L
 Eu leio muito. Eu leio sempre. Eu, pelo menos, leio to... toda semana uma revista noticiosa americana que é Newsweek. E estou sempre lendo literatura ou em inglês ou em francês, permanentemente, permanentemente. Tem sempre, até erradamente eu estou sempre lendo três ou quatro livros ao mesmo tempo. Conforme a disposição, a gente lê um ou outro.
D
 O senhor tem algum tipo especial de leitura que o senhor prefira?
L
 Não, isso eu tenho evoluído. Eu, quando eu era mais moço, eu lia muito em francês e havia um autor por quem eu tinha predileção, que era Georges Duhamel. É um homem que escrevia um francês muito puro e escrevia de uma forma muito delicada. Abordava os ... Um romancista, mas, eh, um sujeito que eu sempre considerei um homem extraordinário. Já ultimamente li muito C. S. Esse eu já li todo. Quase todo C. S. Tenho todos os livros dele, inclusive cartas e biografias e tudo mais. Acho também um homem genial, extraordinário. (telefone/interrupção) Ah, gosto muito de Mark Twain, até hoje releio o Mark Twain. Houve um tempo de moço também que eu lia muito John dos Passos. Mas depois o próprio John dos Passos, eh, se modificou completamente. E, e outros autores, ah, americanos muito bons, como C. e, deixa eu ver quem mais. Steinbeck é outro que eu gosto muito, muito. É um sujeito muito fino. Muita gente acha que ele não merecia o prêmio Nobel. Eu acho que ele mereceu muito. Muito humano. E eu leio muito, também, ah, esses livros de, de pura distração, policiais e etc. Leio muito também.
D
 Bom, até agora nós estamos praticamente falando, nós falamos muito mais de, de meios que seriam mais de difusão que propriamente de comunicação (sup.)
L
 (sup.) Comunicação (sup.)
D
 (sup.) Agora, existem certas possibilidades de comunicação que as pessoas têm, que são coletivas, mas também são individuais, né?
L
 Quais são elas?
D
 Exato.
L
 (sup.) Eu, eu sou um ininimigo da comunicação. Veja bem, não há nada (sup.)
D
 (sup.) O senhor utiliza mais na sua vida cotidiana (sup.)
L
 (sup.) Não há nada que devesse ser mais útil à comunicação, que o telefone. No entretanto o telefone é o maior empecilho à comunicação que existe. Não há nada pior. Porque nunca se consegue falar, ah, toda transmissão é cheia de defeitos. É um verdadeiro desastre. E uma fonte de irritação.
D
 O senhor diz que nunca se consegue falar, por quê? Existem algumas diferenças?
L
 Dificuldade de comunicação. Dificuldade de comunicação. Sempre. Hoje em dia, por exemplo, apesar de todo o progresso na comunicação, nós já estamos voltando ao, ao, ao estágio em que estivemos há uns quinze ou vinte anos atrás de ser mais fácil ir a São Paulo do que falar com São Paulo. Eu, quando trabalhei em aviação, diversas vezes eu fui à São Paulo, quando não conseguia falar com São Paulo. Mas está se voltando já pra essa época.
D
 O que o senhor, eh, além do, quer dizer, o telefone que seria um serviço fundamental pra coletividade, o senhor acha que é precário, não é?
L
 É, é precário. É um prejuízo tremendo pra todo mundo, ao comércio, à indústria, à vida particular. O telefone, como é atualmente, é um verdadeiro desastre.
D
 E outros meios, por exemplo? Em vez de o senhor ir, ir a São Paulo ou de telefonar pra São Paulo, o senhor tem outras possibilidades, não é, de se comunicar com São Paulo?
L
 Esses estão melhorando. É que a senhora se refere a correios (sup.)
D
 (sup.) Sim (sup.)
L
 (sup.) O correio está melhorando, não há dúvida nenhuma. É preciso se fazer justiça. Ho... hoje em dia já se manda uma carta e ela chega. E chega com rapidez. Isso, isso já melhorou.
D
 Imagine, por exemplo uma pes... Se o senhor quer se comunicar com alguém por carta, o senhor deve, eh, tem modalidades, há, há opções da própria empresa de correios, né?
L
 É. Não há dúvidas. Ah, se bem que a tendência seja para uma uniformização, porque o, os correios mais adiantados já não fazem mais diferença entre o transporte terrestre e o transporte aéreo. O transporte agora é feito pelo meio mais rápido e mais à mão. Já não é mais, eh, selecionado. Ah, e acima de tudo eu ainda acho que o meio de comunicação mais eficiente ainda é o transporte. Esse sim, esse está progredindo. Não há dúvida nenhuma.
D
 O senhor costuma usar muito o correio?
L
 Uso muito. Eu não só escrevia pra amigos no Brasil como escrevo sempre pra amigos no estrangeiro. Uso bastante o correio. Não tenho muita queixa (sup.)
D
 (sup.) E agora uma pergunta que é muito boba, mas é muito importante para nós em termos de saber a mecânica do correio, como é, a gente vai lá pra botar uma carta (sup.)
L
 (sup.) É sobre a mecânica do correio (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 (sup.) Não. A mecânica do correio eu conheço um pouco, com um pouco mais de detalhe por causa de minha experiência em aviação. Ah, ah, em princípio, ah, o correio funcionava do momento que a carta é colocada no correio, há internamente uma seleção por destino das cartas. Depois de feita a seleção, elas são colecionadas e embaladas dentro de malas e distribuídas aos diversos meios de transporte. No destino, a transportadora entrega de novo ao correio, que, por sua vez, faz a seleção por zonas de distribuição, e, o, o, há finalmente a entrega. Atualmente, por exemplo, uma carta que a rigor em transportes leva dos Estados Unidos ao, ao, ao Brasil nove horas, elas são entregue em quatro a cinco dias. O grande atraso aí é na distribbuição, na entrega domiciliar, porque ela sai por aí em geral vai por um correio, o de bairro. No correio de bairro, então, ela é redistribuida aos carteiros por zona e tudo isso toma dois, três dias. Essa que é a grande dificuldade. Naturalmente, agora, o correio, por exemplo, já pra São Paulo, já mediante sobretaxas, ele está fazendo entregas rápidas. Entregas rápidas que seriam o que deveria acontecer com qualquer carta. Nesse ponto é interessante de ver que o correio, como eu também sou, eu fui filatelista, como as cartas no tempo do império, no fim do império, vinham mais rapidamente de São Paulo ao Rio de, de, de, até o destinatário do que atualmente. E antigamente vinham de, de carruagem e tudo mais. (sup.)
D
 (sup.) E como é que o senhor explica (sup.)
L
 (sup.) Porque, exatamente isso, porque a distribuição era feita imediatamente. E atualmente na ditribuição é que ela perde todo o tempo. É muito interessante a gente ver pelos carimbos do correio em, em cartas antigas. Cartas que saíam de São Paulo e, por via terrestre, e que no máximo em dois dias estavam no destino. Hoje em dia, por via terrestre, ela leva quatro dias (inint.)
D
 O senhor disse que também é filatelista. O senhor não está sentindo uma certa apreensão, uma tristeza. Parece que está havendo um, uma procura muito mais de certos tipos de mecanismos dentro do correio? (risos)
L
 É, isso é lamentável. É, o, o, pouco a pouco, o, o selo está sendo abandonado, como, como meio de pagamento do transporte por correspondência. As máquinas estão ganhando o terreno e os selos desaparecendo. Isso basicamente porque os governos também não vêem a grande utilidade do selo como elemento de divulgação e como renda, porque os colecionadores do mundo inteiro são milhões. E há países por exemplo que vivem inclusive só de renda postal, como praticamente San Marino, Lischenstein e tudo mais, que têm um bom serviço de, de, de correio e vendem mais selos pra, pra colecionadores do que qualquer outra coisa. Ah, a renda de, de, por exemplo de venda de selos pra finalidade filatélica dos Estados Unidos por exemplo é enorme. E o Brasil até hoje ainda não notou isso. Ou por outra, muita gente notou, mas havia grandes empecilhos. Em primeiro lugar, a impressão do selo brasileiro era uma vergonha. Agora ele está melhorando muito. Mas era uma coisa vergonhosa mesmo. Os próprios colecionadores abandonaram a idéia de colecionar selos no Brasil porque praticamente não havia, de uma emissão não havia dois selos iguais. De maneira que tudo era raridade. Não era possível a pessoa ter uma coleção e comparar com outra porque cada um continha mais raridades. Mas atualmente o correio está, inclusive sem comprar máquinas novas, já está usando as máquinas que tinha com eficiência e imprimindo bons selos. Muito bons selos atualmente. Mas isso há uma procura enorme. Eu vejo porque com as minhas relações com filatelistas de outros países, o número de pedidos de selos que eu tenho, que me pedem selos do Brasil. E é uma receita extraordinária porque sem dar praticamente trabalho nenhum, senão o de impressão do selo, a venda do selo é um lucro quase que integral.
D
 Agora, ainda nessa área de correios, além de cartas o senhor não utiliza os serviços do correio?
L
 Não, eu uso muito pouco, por exemplo, o telegrama. Muito pouco. Só a carta mesmo. Só a carta.
D
 E o senhor usa pouco, por quê (inint.)
L
 Porque eu sei, por exemplo, que os telegramas são enviados juntos com as cartas. (risos) Portanto não adianta.
D
 Quer dizer que a, essa história de uma modalidade de telegrama, há outra diferente que é mais cara (sup.)
L
 (sup.) Não, depende. Depende só de sorte e da pessoa que transmite.
D
 Não adianta nada o senhor colocar um tipo de telegrama mais barato e outro mais caro porque (risos)
L
 Não, praticamente, não. Há uma melhoria grande, não há dúvida nenhuma, mas ainda não há um serviço perfeito.
D
 É, por exemplo, se a gente pensa, eh, que se comunicar com Manaus hoje, a gente pode se comunicar com telefonema direto, né, essa discagem direta e falar na mesma hora com a pessoa. Evidentemente é muito mais caro, mas fala muito mais rápido. Na mesma hora se resolve qualquer problema do que passar um telegrama, mandar uma carta.
L
 É. A propósito de Manaus, quando eu fui a Manaus, em mil novecentos e trinta e sete, quando eu cheguei, eu mandei um telegrama avisando que eu tinha chegado. Mandei pela Western e o telegrama chegou aqui uma meia hora depois que eu passei em Manaus. Quando eu voltei, eu passei um telegrama pelo nacional, avisando que ia chegar dois dias depois ou três dias depois. Naquele tempo, o avião levava dois ou três dias. De mil novecentos e trinta e sete pra cá. E eu cheguei antes do telegrama. O telegrama chegou no dia seguinte. Eu tive o prazer de recebê-lo pessoalmente.
D
 Isso também acontece (inint.) mas isso, de vez em quando. Até hoje inclusive acontece. O que eles dizem, parece que (inint.) tem que ir pra Belém. É diferente. Não sei exatamente.
L
 Mas naquele tempo veio o Western com uma rapidez enorme, enorme. Não há dúvida nenhuma.
D

  É verdade.