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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Casa"

Inquérito 0101

Locutor 116
Sexo feminino, 36 anos de idade, pais cariocas
Profissão: jornalista
Zona residencial: Sul e Norte

Data do registro: 21 de setembro de 1972

Duração: 43 minutos

Som Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 (inint.) não muito simples, porque tão ... Bem por onde você quer começar? O que que você está fazendo (inint.)
L
 Eu não ... Em primeiro lugar, nesse negócio de vocabulário, eu não sou uma pessoa muito falante, entende, eu gosto mais de escrever e de ler do que de falar. De modo que talvez não seja pessoa indicada pra, pra apresentar uma fluência e tal e coisa mas de qualquer forma, vamos tentar, né?
D
 Tudo é fala, né? O que você disser pra nós é bom. É, se você preferir também a gente vai perguntando assim alguma coisa, né?
L
 Não, eu não ... Claro, é bom. Agora eu ... A gente começa mais ou menos tensa e depois a gente descontrai (inint.)
D
 É claro (sup.) É um negócio sempre assim, uns cinco minutos ...
L
 (sup./inint.) constrange um pouco a pessoa. Bem, nesse negócio de ... Vamos começar falando de casa, né? Eu moro aqui há um ano e meio. E antes disso eu morava num apartamento em Copacabana. Acontece que eu ... A história da compra dessa casa foi muito engraçada porque eu tinha visto essa casa, mais ou menos há uns três anos atrás, ou quatro ... Quer dizer, agora já fazem quatro, quando, quando eu comprei fazia três anos. E logo gostei muito do lugar que é muito calmo, né? Uma porção de plantas e tudo ... E eu soube que a casa estava pra vender, então vim procurar a proprietária que não estava mais morando aqui e quando consegui localizá-la já tinha recebido um sinal e eu tentei oferecer um sinal maior a ela pra ela se descartar do outro candidato mas ela não pôde fazer isso. E então me conformei em continuar lá em Copacabana durante mais tempo e a... acontece que antes disso eu já tinha estado interessada na casa ao lado e eles desistiram de vender. Depois é que surgiu essa. Bem, mas aí não, não saiu a compra de nenhuma das duas e eu resolvi esperar mais um pouco. Mas sempre fiquei de olho, embora morando longe daqui, sempre fiquei mais ou menos observando a possibilidade de vir pra cá. E o tempo passou e os moradores daqui do lado ... Dois ... Um casal de velhos aqui do lado que morreram e, e eu deixei passar um, um tempinho.
D
 Hum.
L
 E imaginei que os herdeiros quisessem vender a casa e vim ... Ah, ficou morando na casa do lado uma senhora que era irmã da que morava antes, e eu vim sondar. E eles de fato estavam pensando em vender. Mas nesse dia eu soube que essa daqui, passado esse tempo todo, estava de novo à venda. E essa é bem melhor porque já tinha sido reformada e tal e, então, eu pude finalmente comprar. Já tinha vantagem porque a pessoa que comprou antes de mim fez as reformas todas que eu teria feito. Mas, eh, quer dizer, agora ela finalmente ficou tudo como eu queria. Agora um dos motivos que eu vim morar aqui foi porque eu tenho um filho, que está com nove anos, e eu queria que ele tivesse oportunidade de morar num lugar tranqüilo, que pudesse ir na rua sem perigo, ter contato assim mais com, com outras crianças que o apartamento não facilita tanto. De modo que foi essa a história da minha mudança pra cá.
D
 Há umas coisas que você podia nos contar logo agora, eh, que que foi reformado na casa, entre o que ela era antes e o que a pessoa que comprou fez ...
L
 Bom, eu não cheguei a ver quando ela estava à venda a primeira vez.
D
 Hum.
L
 Mas depois que o, que a pessoa que, que essa primeira pessoa comprou, eu com uma certa dor de cotovelo passei por aqui algumas vezes sempre pra ver o andamento das obras e tal, um olho comprido e vi mais ou menos o que eles fizeram, por exemplo, tinha uma por... Não se... não sei se você reparou que as outras casas quase todas têm uma porta só. Então ele diminuiu a sala, cortou uma fatia da sala, indo até a cozinha, e dividiu a ... Fez uma porta grande, metade dando pra esse corredorzinho que ficou, que é então a porta de serviço, e uma outra porta igual do lado formando conjunto (inint.) da sala. Depois aumentou a sala até o fundo, fez uma sala maior e esse banheiro aqui de cima eu acho que já, já tinha sido feito antes. E, vejamos, bossas de decoração e tal, portas, não sei o que mais. Agora, eu ainda encontrei muitos problemas aqui com encanamentos, tive que, logo que cheguei tive que gastar um bocado de dinheiro com isso e agora estou aumentando a cozinha que era pequena, muito desajeitada. E enfim é uma forma da gente gastar dinheiro, né?
D
 Que que você está fazendo na cozinha?
L
 Eu estou, bem, ela ia, ah, menos, mais ou menos, menos um, um metro e meio do que a parede, era um metro e meio antes da que é agora. Estendi, continuei até o fim mesmo do, não sei se se pode chamar de terreno porque eu não tenho terreno, lá atrás só tem uma área. Então eu tirei um tanque que tinha lá embaixo, banheiro de empregada e estendi a cozinha ocupando a área que era ocupada por essas peças. Bem, eu já tenho o tanque aqui em cima, logo que eu vim eu fiz um tanque aqui justamente pra não usar o de lá de baixo e o banheiro de empregada eu vou construir dentro do quarto de empregada que é acima do, da cozinha, tem uma escadinha que dá pra área de serviço (inint.) o quarto da empregada vou fazer o ... Vou diminuir um pouquinho o quarto de empregada botando um banheiro, lá dentro, pequeno . E com isso eu ganhei bastante espaço pra guardar coisas que eu não tinha armários e tal. E além disso tem outra vantagem é que era muito difícil de limpar lá embaixo porque ficava tudo de meandros entre tanque, banheiro de empregada por trás da cozinha e eu tenho dois gatos ainda, não sei se você viu ...
D
 Hum, hum.
L
 De modo que os gatos sujavam ali que era uma desgraça e aí dessa forma fica muito mais fácil de limpar porque é um quadrado sem nenhum, sem nenhum, esquina, né? De modo que acho que ficou simpática a obra mas é muita dor de cabeça, acho que não compensa muito não o trabalho que a gente tem, a sujeira toda que faz.
D
 Você tem quem trabalhando pra fazer essa obra?
L
 Eu aqui tenho ... Eu tratei um bombeiro, conhecido meu, que é muito competente e ele mais ou menos ficou como se tivesse empreitada na obra. Ele tem uma firma e nessa firma ele tem alguns profissionais, todos bem bons, ele botou o pedreiro e um ajudante de pedreiro trabalhando com ele, chamou o eletricista, me deu antes um orçamento da obra, orçamento esse que já está ultrapassado, né, naturalmente já ...
D
 (inint.)
L
 Quando chegou no meio do caminho ele, eh, fez um reajuste e tal, disse que não tinha calculado muito bem, mas eu fiz (inint.) e deve ficar pronto em uma semana.
D
 Hum, hum. Merece comemoração final.
L
 É, eu vou dar um jantar na cozinha quando ficar pronto.
D
 Já que você falou em cozinha, você podia dizer assim pra gente o que que uma cozinha precisa pra funcionar, que ela precisa ter e tal.
L
 Bem, eu outro dia quando eu estava começando essa obra, vi no jornaleiro uma revista da editora Abril chamada, acho que era Cozinha mesmo. Então, muito bem, me interessa, comprei e fui ler matérias embora como jornalista eu desconfie muito dos jornalistas e as minhas descon... desconfianças geralmente são bastante justificadas. E eles davam umas metragens que tem que ter não sei quanto e faziam uma espécie de, de pesquisa, perguntas. Quantas pias tem a sua cozinha? Quantos pontos de luz? Quantos não sei quê? E tudo assim num exagero, um absurdo, né, da gente ter pra funcionar no mínimo vinte metros quadrados, era uma coisa assim nessa base.
D
 Sei.
L
 E eu por exemplo tinha duas pias aqui, sendo que uma delas não era utilizada praticamente. Como não há, pra, pra ... O mármore da pia era muito pequeno, era praticamente ocupado pelas duas pias. E uma era utilizada sempre e a outra ficava com o escorredor de prato em cima que eu não tinha mais lugar pra botar. Então pra mim, eu cheguei à conclusão que bastava uma pia e um mármore grande, quer dizer, esse negócio de revista não funciona. A gente tem que ver pra gente, né, o que que funciona ali. Aliás eu, pra mim mesma, eu não precisaria nem de ter casa, nem de ter cozinhas grandes, nem nada. Eu acho que eu viveria muito bem em um lugar menor que desse menos trabalho, acho até que num hotel, eu acho que eu vivia melhor, sabe? Mas é que a gente tendo filho as coisas mudam muito de figura, né? Um casal sem filho não precisa de tantas obras e armários e coisas (inint.) é uma coisa que eu às vezes penso, se eu gostaria mesmo de morar num hotel (inint.) uma amiga minha e ela, ela acha que a pessoa que gosta de casa não se adapta nunca a um hotel porque não tem nada de seu. Eu digo justamente o, o bom disso é a gente não ter nada da gente, né? E a gente ter o mínimo de coisas possíveis, aquelas coisas que são essenciais, um, um móvel que a gente tenha apego afetivo, que tenha sido da avó, sei lá, ou uma peça mais bonita que você goste, você pode levar pra um hotel seus livros, seus discos, né, até receber os amigos você pode. Uma pessoa que mora num hotel tem direito a certos privilégios e não tem o resto das coisas que acabam atrapalhando a vida da gente, quer dizer, lençóis, toalhas de mesa, a gente fica preocupada com a empregada, botou água sanitária, não sei quê, essas preocupações todas que são muito chatas e que tiram um pouco da, do à vontade da gente na casa, né?
D
 Você podia contar assim pra gente um pouco como é a rotina do funcionamento da sua casa, né, quer dizer, quem trabalha pra você, eh, os dias da semana que você manda fazer certas coisas ... Enfim um dia, por exemplo, da sua casa normalmente como é que acontece e tal.
L
 Eu, ah, antigamente eu tinha uma rotina mais ou menos estrita de serviço doméstico. Tinha dia de lavar roupa, mais ou menos uns dois dias, era segunda-feira que eu lavava a roupa. Na quinta feira, eu acho, passava. Sexta sempre um dia de faxina geral ... Mais ou menos assim eu ainda tenho mas não, eu cheguei à conclusão de que não dá. Aqui em casa há certas coisas que na prática impedem isso. Uma delas é, é o fato de que eu não tenho um lugar pra pendurar roupa quando, quando chove, então eu tenho que obedecer mais ou menos ao, às condições meteorológicas porque o dia que chove se ele saiu na segunda-feira eu ... A roupa fica pra outro dia. Mas até que de vez em quando a gente tem sorte porque às segundas-feiras geralmente não, não tem chovido. E agora não dá pelo seguinte, porque eu por exemplo, quando num dia de segunda-feira quando é folga da minha empregada e ela chega, digamos, oito e meia por aí, eu já não gosto que ela pegue logo na, na roupa de manhã porque aí atrasa todo o funcionamento da casa, por isso já combinei com ela o seguinte: o dia que for folga dela ela deixa a roupa pro outro dia mesmo que esteja o maior sol ela deixa a roupa pro outro dia. Apenas no dia que ela, na segunda-feira que ela já amanhecer aqui em casa, então ela aí já pode adiantar a roupa de manhã. Porque o movimento da minha casa, não dá assim muito pra perceber, mas é na parte da manhã. Eu não sei, a pessoa que vem de fora não sente muito mas eu tenho mais ou menos uns horários que eu tenho de obedecer de todas as formas, né, o horário que (inint.) entra no colégio. Eu quando saio pra trabalhar deixo ele no colégio, então a coisa que tem mais urgência é a hora de refeição dele. A minha não porque eu levo marmita pro trabalho e tal, esquento lá e ... E meu marido também não almoça em casa, ele trabalha mais ou menos até tarde aqui mas não almoça em casa, ele agora nem está almoçando que está fazendo regime. Mas então tem que ser uma pessoa que, a minha empregada tem que ser uma pessoa com iniciativa pra de manhã funcionar com toda, com todo vapor, né, quando chega na parte da tarde ela realmente pode um dia fazer uma coisa, outro fazer outra e tal com mais tranqüilidade mas de manhã tem que ser tudo mais ou menos corrido, quer dizer, onze e meia eu tenho de estar saindo de casa. E eu de manhã fico aqui, aliás foi uma coisa que eu acho que conquistei, graças à minha perseverança, e também acho que lá no meu trabalho, por exemplo, acho que posso dizer isso, acho que eu faço meu trabalho bem. (voz chamando a locutora) Heim? Já vou atender. (interrupção) Bem, mas eu estava falando do meu trabalho. Então, eu quando fui trabalhar lá, eu tinha me comprometido a dar um horário maior do que eu dou atualmente. Acontece que mesmo o professor Houaiss me colocou isso, eu disse a ele das minhas dificuldades de dar horário maior e ele, ele disse: bem, no correr do tempo ... Porque eu acho que ele não sabia nem se eu ia ficar, como logo depois que eu entrei muitas pessoas saíram (inint.) foram, foram dispensadas. E então ele disse: bem, isso é no começo, isso vai ser essa, esse horário vai ser muito em função da produção. Como a minha produção é bem satisfatória, fica no nível dos outros que trabalham o dia inteiro, eu acho que, como eu estava dizendo, foi um pouco graças à minha ...
D
 Sim (sup.)
L
 Minha competência, ah, não é questão de modéstia, que eu acho uma coisa ridícula. Faço o meu trabalho direito e rap... e rápido, de modo que, com isso eu tive um certo ... Bom, eu tive uma vantagem de poder reduzir o meu horário, isso me traz uma série de problemas, quer dizer, eu sempre fico um pouco constrangida, n~ao é, não sou do tipo de entrar lá, e tal, no horário tranqüilo. Não consegui ainda me, me desligar muito desse tipo, acho um negócio meio neurótico, mas não quero trazer problemas pros meus chefes também. Puxa, M. entra mais tarde e tal. De modo que eu tenho muita aquela preocupação de dar a minha produção todo mês dentro do, do padrão dos outros. Quer dizer, a minha produção não tem o menor motivo pra ser menor que a dos outros, ela tem que ser mais ou menos igual a dos outros, né?
D
 Claro, claro.
L
 Quer dizer, eu não faço nenhum tipo de competição, que eu detesto isso mas é uma certa obrigação moral que eu tenho, né?
D
 Perfeito.
L
 E, mas isso me facilita muito porque eu realmente não trabalharia mais o dia, o dia inteiro, sabe? Não sei também se porque eu fui habituada em trabalho de jornal que, embora a gente às vezes tivesse que trabalhar até muito tarde, nunca era dentro dum horário padrão de escritório. A única vez que eu trabalhei em horário padrão de escritório foi quando eu, eu trabalhava no Diário Carioca. E eles lá não pagavam, andavam com o pagamento atrasado, ficava meses sem receber dinheiro, e eu um dia me enchi daquela história, pedi demissão e fui pra Petrobrás. Trabalhei vários meses na Petrobrás até que não agüentei mais o ... Que era inteiramente diferente de tudo que eu tinha feito, né? Aquele trabalho burocrático ... Mesmo as pessoas, né, eram pessoas completamente diferentes das pessoas com que eu sempre tinha trabalhado, e aí eu pedi demissão também, por surpresa dos funcionários da Petrobrás que, acho que é um negócio que ninguém pede demissão, e voltei pro jornal, o Jornal do Brasil. E com essa história eu, eu me habituei muito a, a não ter um horário assim rígido e negócio de relógio de ponto e tal. Acho que é assim que deve ser mesmo, né, pelo menos o trabalho intelectual eu acho que a pessoa não pode ter os mesmos padrões dum trabalho de escritório. Por enquanto lá na enciclopédia assim tem, sempre tem algum problema e tal, é reunião, discute o problema de horário, eu fico meio preocupada, não preocupada propriamente por ser dispensada, mas preocupada em, em, né, na minha situação em frente aos outros, né? É claro que também eu trabalho mesmo num horário menor mas não ganho a mesma coisa que um redator que trabalha o dia inteiro, eu acho perfeitamente justo, né? E isso me facilita muito aqui na minha casa. Eu acho que a gente precisa ter um pouco de tempo pra gente também, né? Eu gosto muito do meu trabalho, gosto muito do ambiente de trabalho que eu tenho lá em termos assim de, de amizade mesmo, né? Mas eu gosto de cuidar das minhas plantas, de ler meus livros ... E a manhã eu realmente dedico a essas coisas e fico de olho também no resto que está se passando. Precisa de uma coisa, compras de casa sou eu que faço, vou ao mercado e agora facilitou muito isso aqui um mercado que tem aqui perto, que é o Humaitá, não tenho mais problema de feira de modo que eu vou com o carro lá, encho de coisa e de modo que a manhã eu ocupo com isso, né? Comigo, quando sobra tempo, e principalmente em atender as, as eventualidades aí que surgem.
D
 Deixa eu te perguntar uma coisa, quando você, ahn, montou casa pela primeira vez, você se lembra um pouco do que você comprou pra casa? De todo ponto de vista.
L
 Bem eu ... Já faz muito tempo isso, né?
D
 É . Mas assim do que você consegue ...
L
 Eu me lembro que eu, eu comprei ... Mais ou menos eu aproveitei muita coisa que eu tinha. Essa cama aqui é uma cama que eu tinha de solteira e eu acho que eu usava ela na sala como sofá, eu tenho impressão que eu usava como sofá, agora vou usar de novo como sofá. Comprei uma mesa e comprei um armariozinho pra sala, pequeno, mais decorativo do que propriamente prático e ... Que mais? Que mais que eu comprei?
D
 Pra refeições, que que você comprou?
L
 Sim, eu comprei só essa mesa. As cadeiras minha mãe tinha e eu peguei quatro cadeiras com ela. Acho que foi só isso que eu comprei. Eu comprei muito pouca coisa, o resto todo foi assim coisas que já se tinha. Agora, uma coisa que eu ... Isso já tem quanto tempo? Foi em sessenta e dois, já são dez anos, né? Agora, o que eu noto muita diferença é nos preços das coisas dessa época pra cá. Então eu, há dez anos atrás, eu com mil cruzeiros, mil cruzeiros atualmente ... Outro dia eu estava explicando isso pro meu filho: olha, o dinheiro que eu dou pra sua merenda quando você nasceu eu compra... eu fazia feira com esse dinheiro, ainda comprava jornal, comprava uma porção de coisa ... E eu tenho, acho que todo mundo, não sei, muita gente tem isso, né, sempre começa a anotar num caderninho as despesas. Eu anotei isso talvez durante uns dois meses mas sempre serve pra comparação. Então eu somava tudo da... dava mil cruzeiros, mil e sessenta cru... novecentos e não sei quanto ... Então era assim: pão, jornal, manteiga, leite condensado, cerveja ... Eh, feira ... Tudo incluído naquilo, né? Quer dizer em dez anos as coisas mudaram muito. Então eu procurei explicar pra ele, pro meu filho, como é que o dinheiro desvalorizava e é uma coisa difícil porque eu também não entendo muito bem mas eu procurei dizer uma coisa que ele ... Não fugisse muito à verdade, né, e que tivesse o nível dele. Então eu disse pra ele o seguinte, eu disse: olha, todo dinheiro, é o negócio do meio circulante, né, todo o dinheiro que, que existe nas mãos das pessoas, nos bancos e tal, em todo lugar, o dinheiro que circula corresponde a um, a uma quantidade de ouro que o, o governo tem, que o país tem. E, então, você tem uma quantidade de notas, de dinheiro, moeda, dinheiro que corresponde àquele ouro. Bem, você se começa... Lá a Casa da Moeda, a gente tem que dar uns nomes assim bem concretos pra criança entender, né, começa a fazer mais dinheiro sem aumentar o ouro é a mesma coisa que nas frações que você aprendeu no colégio, que ele já aprendeu, então aquele ouro continua o mesmo e, só aquelas notas que valiam aquele ouro vão ser divididas em mais notas, então cada uma dessas notas vai valer me... um pedacinho menor de ouro, vai ter um, vai conservar o mesmo escrito, a mesma coisa nela, mas ela vai valer menos um bocadinho de ouro. Então acho que deu pra ele entender um pouco, acho importante que se entenda isso, porque senão ele se perde, né, não entende como é, como com mil cruzeiros você comprava aquela quantidade de coisas todas que comprava antigamente. A criança tem que sentir isso também, né? E eu dou pra ele, do lanche, mil, dois mil cruzeiros por dia pra o colégio (inint.) mas depois que eu vim pra cá, eu, você estava perguntando negócio de comprar coisa, eu ganhei muitas coisas e ultimamente não tenho comprado mesmo nada pra casa não, sabe? Que eu tenho época nessa história de casa que eu, me dá assim uns faniquitos de fazer milhões de coisas aí depois vêm outros meses que eu me desligo completamente e, e esqueço assim que existe.
D
 Que que você ganhou pra essa casa?
L
 Ahn?
D
 Que que você ganhou?
L
 Que que eu ganhei? Eu ganhei um sofá, está na sala. Ganhei um lustre, que está no meu quarto e o outro que está na sala também. Ganhei uma cadeira de balanço. Que mais? Acho que não ganhei mais nada não. Acho que foi só isso. É, acho que foi só isso.
D
 Se você tivesse que descrever pra alguém que não estivesse aqui essa casa como é que você descreveria? Você está no estrangeiro e você quer (ruído de tosse) como é sua casa no Rio, desde a rua. Ah, olha, quando você chegar lá você vai entrar numa rua assim e tal, você vai descobrir a minha casa e ...
L
 Bem, vocês encontraram com facilidade aqui a rua?
D
 Não muita.
L
 Não muita.
D
 Mas enfim encontramos, perguntamos.
L
 Eu geralmente quando vou dizer aonde é que é eu digo que é perto do Rebouças que é a coisa que tem mais perto pra se localizar. Então, ela vindo do lado do Rebouças, vai seguindo rua à direita, transversal ao Jardim Botânico, tem um posto de gasolina na esquina e uma rua sem saída. Ela tem uma coisa engraçada, que ela tem três, três acessos aqui pra chegar na minha vila. Um é o acesso do endereço mesmo, né, o endereço Joaquim das Neves dezesseis. Agora tem, tem duas, não sei se vocês repararam que há uns cortes assim como, cortando a, o quarteirão uma espécie de fatia de queijo que vai de uma rua a outra. Então, tanto eu posso entrar por uma dessas, desses cortes da fatia de queijo, no canto do Jardim Botânico com Joaquim das Neves como a outra, outro atalho na rua anterior ...
D
 Eu acho que é essa que M.H. tinha falado ...
L
 Que é bem mais perto. É assim mais escondidinho também. Então você tem três entradas e, quer dizer, aí entra, essas, essas duas últimas entra pelo, por um portãozinho no fundo da vila que sai quase em frente da minha casa. Já entra direto, sai quase em frente da porta. E até minhas vizinhas aqui do lado estavam pensando em fechar esse portãozinho, mas se elas resolverem levar isso adiante eu vou botar minhas objeções, não vou deixar não. E, bem, então as casas são todas iguais, são seis casas, a minha é a penúltima, têm três andares e e... ela é estreita, né, a frente dela é estreita, parece uma, uma, uma, sei lá, uma espécie de casinha de boneca, não sei por quê, uma coisinha, um andarzinho em cima do outro. E embaixo tem a sala e a cozinha, uma, uma área atrás. Ah, no segundo andar eu tenho dois quartos, inicialmente eram três mas um foi ampliado, derrubaram uma parede e, e um banheiro. E aqui no terceiro andar que ... Isso aqui era um, era um sótão, né, teto rebaixado mais baixo. E, e não era ... Algu... acho que tem umas duas casas ainda que não reformaram esse sótão. Então é uma peça inteira, assim escura, sem essas aberturas, sem essas janelas que eu tenho. E, mas quase todos são (ruído de alguém espirrando) aqui eles são todos proprietários das casas, eles fizeram reforma e eu tenho dividi... a pessoa que morou nisso aqui dividiu esse espaço em dois quartos também e fez um banheirinho pequeno. No, no quarto da frente do terceiro andar, eu tenho uma espécie de escritório, eu tenho meus livros, e aqui atrás eu estou pensando em fazer um ... Arrumar isso depois que eu arrumar a cozinha, eu vou, isso vai ser bem mais simples. Quero montar um atelier aqui pra trabalhos manuais. E, agora aqui tem um problema que é muito quente esse terceiro andar, com o forro da casa assim baixo, esquenta muito no verão e eu tenho que dar um jeito, não sei, comprar um ar-condicionado, uma coisa assim. Mas nessa história de conforto eu, não sei, às vezes eu, às vezes eu não ligo muito pra isso não, sabe? Como eu disse a você, eu às vezes desligo dessa história de casa e a gente também se implicar com aquela obsessão de casa, de, de arrumar isso, arrumar aquilo. Tem que deixar as coisas mais ou menos à vontade, não só à vontade da gente, claro que tem, às vezes a gente não tem dinheiro pra fazer mas, mas tem que ser à vontade senão passa a ser um negócio obrigatório, desagradável, e não pode ser assim não, tem que ser quando a gente tem vontade e tal, aí começa e pára, se, se enche de fazer, então pára. Eu procuro deixar a coisa bem tranqüila, sabe?
D
 Olha, eu sei que você tem muitos amigos e por isso você deve receber pessoas em casa de vez em quando, em reuniões, você podia dizer pra gente como é que são as suas reuniões, o que que você prepara, como é que você usa a casa pra receber as pessoas ... São diferentes tipos de coisas, por exemplo, você pode fazer um aniversário pra seu filho ou então você pode receber seus amigos pra uma coisa ou outra, você podia comparar várias situações?
L
 Hum, hum.
D
 Em que local da casa em geral você faz a reunião?
L
 Hum, hum. Eu gostaria muito de receber a gente aqui em cima, aqui no escritório porque eu acho que é um lugar bem aconchegante assim um pouco diferente, principalmente a parte da frente que vocês não viram direito, tem o tetinho inclinado e, e, é bonitinho mesmo, é gostoso. Mas também foi uma coisa que até hoje ainda não consegui botar, ah, do meu jeito. Primeiro essa questão de, de calor, né, tenho que resolver isso. E segundo, porque foi ficando assim um depósito de coisas, jornais velhos e, eh, de modo que ainda não está cem por cento. Mas também é bom a gente ter sempre alguma coisa pra fazer e tal porque é uma novidade pra mais tarde. Mas eu geralmente recebo as pessoas lá embaixo mesmo, na sala, e não dá mais ... Eu já tive aqui, juntas, deze... acho que dezesseis pessoas. E acho que é o máximo que dá lá embaixo, sem se transformar num caos (inint.) e, mas nunca foi pra essa gente toda, foi pra jantar não porque aí ficava muita compl... complicação. É um negócio de reunir pra comer alguma coisa, um queijo, porque meu marido tinha ido à França e tinha trazido uns queijos franceses então trouxe uns amigos meus e dele, eram jornalistas quase todos e esse foi o dia assim de maior movimento aqui, exceto quando tem criança, né, festa de criança ... Meu filho já ... Logo que nós mudamos pra cá ... Não, nós mudamos pra cá em março, ele faz anos em fevereiro, mas no ano, esse ano agora, eu fiz o aniversário dele aq... Não, não foi aqui não, foi em Paquetá que a gente estava passando as férias lá em Paquetá e fiz lá, sabe? E, tinha muitos amigos lá, a criançada toda ...
D
 Você tem casa lá?
L
 Não, nós alugamos um apartamento, eu e minha mãe, um apartamento pequeno, porque ela gosta muito de lá e o meu filho gosta também. Então alugamos, mas como nós íamos alugar pro verão e ficava muito caro, nós chegamos à conclusão que alugar pelo ano inteiro ficava assim muito mais barato, ficava praticamente o preço de meses de verão e assim nós fizemos, quer dizer, tem aquele lugar sempre, às vezes as pessoas amigas nossas podem dispor também e a gente sempre tem um canto pra ir, né? E de modo que o aniversário dele foi lá. Agora eu, no meu aniversário ano passado, caiu num Corpus Christi uma quinta-feira, eu não trabalhei e ele não teve aula, aí eu fiquei imaginando o que que eu vou fazer de dia, né, porque com criança em casa eu fazer programa de aniversário de adulto, ia ser um negócio muito chato e ele gosta que eu faça, faz anos e tal tenha bolo ... E eu então convidei uns amigos dele, em vez de fazer aniversário, mesmo de gente grande eu chamei os colegas dele pra cá, fiz um bolo realmente, com vela de soprar e tal, sorvete, cachorro-quente e eles passaram uma tarde aí correndo, soltaram fogos na, no tal caminhozinho que tem aqui pra casa, e foi um aniversário bem agradável, deu um bocado de trabalho, mas foi bem agradável. Eles corriam essa escada toda aí de cima e pra baixo e, mas eu acho que não vou repetir isso não (risos). Foi experiência única. Eu geralmente em anivers'ario de criança, acho que é bom a gente fazer fora, uma vez eu fiz no parque Lage, um lanche ... Também comprei pouquíssima coisa, fiz só um bolo, acho que a única coisa que eu levei pra lá foi um bolo, que eu mesma fiz, botei um campo de futebol em cima com jogadores, e lá chamei uma carrocinha de cachorro-quente que não pôde entrar no Parque Lage mas ficou ali junto do, do muro e na hora de comer cachorro-quente eu chamei a criançada toda, eles subiram lá pelo muro, pegaram os cachorros-quentes e tal, e contratei o rapaz que vende refrigerante pra levar lá no lugar onde nós nos, onde nós acampamos. Enfeitei com umas bolas, uma amiga minha me ajudou e foi uma farra bem boa pra eles, sabe, não precisou de mais nada. Eu gosto muito de receber mas acontece que ... Não sei, hoje em dia é difícil, né, as pessoas todas têm horário e durante a semana a gente sempre trabalha no dia seguinte, é, é muito cansativo mesmo, a maioria dos meus amigos que vêm aqui em casa são jornalistas, têm o horário também todo trocado, né, saem do jornal dez horas da noite, onze horas da noite, de modo que a gente não conseguiu ainda fazer disso uma rotina, sabe, de, de receber. É uma coisa meio chata mas ... (riso) Eu, eu gosto muito de ter gente em casa mas eu, eu gosto muito de ficar sozinha também, à noite principalemte, é tão raro a gente poder ficar sozinha, eh, depois de um dia de trabalho, né, relaxar um pouco ... Às vezes você recebe muita gente também e fica, em vez de ser um negócio agradável passa a ser um tormento, vai ter que atender todo mundo. Principalmente quando é gente que a gente não tem intimidade, né? Eu acho que eu sou meio bicho-do-mato pra essas coisas, pra receber gente eu não funciono muito bem nisso não. Agora em compensação eu gosto muito de ter hóspedes aqui. Eu já, já tive em algumas ocasiões ... Uma vez foram uns amigos meus, de Belém, ficaram hospedados aqui no terceiro andar, um casal com um filho. Acho que, o garoto acho que tem, tinha dois anos mais ou menos, ficaram hospedados aqui em cima. E uma amiga minha também de, agora está morando em Brasília, também já esteve aqui em casa. É melhor, né, conviver mais tempo com as pessoas assim ... Essa minha amiga uma vez eu fui a Montevidéu só pra passar um fim de semana com ela. Antes de eu começar a trabalhar na enciclopédia eu peguei um avião resolvi ir assim correndo, ela tinha tido, o pai dela tinha morrido, e eu soube disso só um mês depois então eu fiquei achando que ela podia estar precisando de mim, ela é filha única, né, três filhos e o pai estava morando com ela já há alguns anos. Então ela já de mudança pra Brasília, e eu achei que eu indo lá talvez pudesse ajudar. Trazer as crianças antes, qualquer coisa assim ... Então eu arranjei uma passagem de avião, até Porto Alegre, que eu não tinha passaporte, porque tinha de parar em Porto Alegre e seguir por terra, e, fui numa sexta-feira, correndo assim, afobadíssima que o avião era pra aquela hora, eu consegui o avião, me avisaram em cima da hora que eu ia sair o avião às duas horas da tarde, e eu fiquei lá, cheguei lá no sábado de manhã e saí numa segunda-feira tarde da noite. Isso eu gosto de fazer, gosto muito de viajar.
D
 M., você podia contar um pouco pra gente como é que foi a casa onde você nasceu, ou apartamento, como é que era a casa da sua infância?
L
 Eu não me lembro bem, da casa onde eu nasci eu não me lembro absolutamente nada. Tem assim uns fantasmas que passam, sabe, eu não, não me lembro que morei lá por muito pouco tempo, eu acho que eu tinha dois anos quando saí de lá. Agora eu morei muito tempo na zona norte, no Maracanã, ali perto do, do colégio Militar e perto também, de onde é o Maracanã, do estádio do Maracanã ...
D
 Hum, hum.
L
 E ali realmente eu considero que foi o bairro da minha infância, sabe?
D
 Hum, hum.
L
 De vez em quando eu passo por lá, e, me lembro muito, tenho assim muita, eu não, não digo saudade não, uma nostalgia assim da, daquelas ruas que estão hoje em dia tão diferentes. Eu me lembro que, antes de eu começar no colégio, nós íamos eu e minha mãe íamos muito à, à Quinta da Boa Vista e íamos a um lugar que nós chamávamos de Pecuária, e era um lugar muito estranho porque não tinha muita gente não, era uma, era um órgão qualquer do ministério da Agricultura. Na frente tinha o, o instituto de Veterinária e atrás tinha um terreno enorme que eu acho que foi pra uma exposição qualquer, em mil novecentos e vinte e dois, no Rio, que foi arrumado. E, e tinha umas coisas muito, muito bonitas nesse lugar, muito poéticas. Tinha um vitral, eu não sei, até tenho vontade de voltar lá pra ver se existe ainda. É um, um negócio assim como se fosse uma arquibancada enorme, de cimento, toda fechada atrás por um vitral enorme azul com uma porção de carneiros, mas era uma coisa assim linda, enorme, monumental mesmo, pelo menos pra mim que era menina, pode ser que hoje em dia se eu fosse lá eu achasse uma coisa inteiramente insignificante mas eu achava lindo e, a gente continuando, nós percorríamos, andávamos um bocado por lá, e tinha aquários, tinha uma porção de meandros de buracos, assim cercado de planta e tinha um tanque, dentro desse tanque tinha aquário, um aquário elevado, o pessoal podia dar uma volta inteira no aquário que tinha milhões de peixinhos e tinha um lago com uma porção de peixes elétricos. Não sei se é enguias ou se é ênguias, né, acho que é enguias, né? Preta. E, uma torre, perto tinha uma torre também. Era tudo verdinho com aquela torre alta no meio, devia ser um negócio de água mas pra mim aquilo era um, uma torre com uma bruxa (inint.) é ali atrás que é onde é hoje o museu do Índio. Agora, esse negócio todo foi cortado, quando fizeram o Maracanã e abriram aquelas ruas, de modo que se existir ainda hoje existe muito pouco. Mas mesmo assim eu tenho muita vontade de voltar lá porque era um negócio tão diferente aquilo, sabe, a mim me parece que eu fui lá muitas vezes, não sei, pode ser que a minha mãe tenha me levado lá duas ou três vezes mas, na minha cabeça, eu fui lá assim uma porção de vezes. E, e tinha também uma estrada de ferro pequenininha que eu não consigo ... Pensando hoje em dia eu não consigo localizar aonde é que é. Era uma estra... uma estradinha de ferro pequena onde tinha uma porção de cubículos do lado com, tinha porcos e, e uma vez eu entrei num deles e tinha um, um aquário com um peixe azul, desses peixes de rabo grande, assim de aquário. E era um lugar muito estranho mesmo, muito bonito. Agora remodelaram tudo lá, né, eu quando passo às vezes até me engano de caminho porque abriram rua novas, enormes, construíram o estádio, né?
D
 Hum.
L
 Ali antigamente se chamava Derby Clube. Aquele lugar onde é o Maracanã se chamava Derby Clube, eu acho que é porque tinha corrida de cavalo lá, devia ser, mas eu não, não tenho a menor idéia disso não, só pode ser, né? E, e eu me lembro que era perto do Maracanã ...
D
 (inint.)
L
 Do colégio Militar, nos dias de parada de Sete de Setembro era um acontecimento. Engraçado que lá eu morava numa vila também, agora não era uma vila bonitinha quanto essa não. Então era um acontecimento o negócio de Sete de Setembro, os bondes que levavam os garotos do colégio Militar e os, e os dos aspirantes também, que vinham, né, lá da escola Militar que vinham, se aquartelavam lá no colégio Militar pra sair dali. Então os bondes estacionavam bem na minha rua, em frente a minha casa praticamente e enchia daqueles garotos, né, e era uma coisa, a gente (inint.) ouvia o barulho e já ia pra porta pra, pra ver a saída dos garotos. Carneirinho, tem um carneirinho de mascote e tal, era uma farra, né? Depois de tarde as meninas passeavam por ali, os aspirantes passeavam também por perto. Era uma, uma época em que esse negócio de farda tinha uma outra, outras conotações (risos).
D
 Exato.
L
 E era, era um lugar agradável que eu me lembro que era.
D
 Era casa?
L
 Tinha uma padaria ... Não, era, era, uma vila. Era uma vila com quatro casas. Tinha uma padaria em frente e ... Onde eu comecei a andar de bicicleta, eu rodava aquelas ruas todas por ali. Na minha, na, no finzinho da vila tinha uma mangueira. Grande, manga-rosa e, e do lado a casa dava pra uma casa antiga muito bonita, casa da dona M., mas eu não me lembro não. E, e foi demolida enquanto eu morava lá. E eu de vez em quando tive acesso a essa casa.
D
 (inint.)
L
 E agora não é mais essa casa ... Construíram o edifício da companhia telefônica. Mas é muito feio lá agora, sabe, não é mais a vila, é muito feia a casa, agora a idéia que eu guardo é ...
D
 É bonita.
L
 É muito bonita.
D
 Tá, M., nossa ...
L
 Eu espero que tenha fa... esse negócio de vocabulário é que eu não sei se ...
D
 (sup.) Não, foi ótimo.
L
 O vocabulário rendeu aí ...
D
 Foi muito bom.
L

  Mas vale a intenção.