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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE DOIS INFORMANTES (D2)
Inquérito 369
Tema: Meteorologia e tempo cronológico.
Duração: 1h 20min
Data do Registro: 11/01/78
Dados dos Informantes:
Locutor 1 (L1): sexo feminino, 56 anos, petropolitana (veio para o Rio com meses), pai de Quiçamé (RS) e mãe de Rio das Flores (RS), formação universitária: Comunicação, área residencial.
Locutor 2 (L2): sexo masculino, 56 anos, carioca, pais cariocas, formação universitária: Direito, área residencial.


Som Clique aqui e ouça a narração do texto


L1: tenho que começar dizendo... a primeira vez que nós fomos à Europa... você se lembra bem o clima como era?
L2: nós saímos daqui no verão... crentes que nós íamos pegar lá um... um verão intenso... mas? pegamos só em determinadas... calor mesmo só me lembro em Roma... porque o resto foi tudo diferente...
L1: Veneza também...
L2: foi em Veneza... em Veneza nós pegamos calor...
L1: estava muito quente...
L2: na Inglaterra então... pôxa...
L1: na Inglaterra era verão fazia nove graus...
L2: [
Londres
chuva... uma chuva danada... às vezes a gente chegava assim na porta do hotel... dava meia-volta... e entrava de novo... por causa daquela chuva fininha... fininha... fininha que desanimava inteiramente de sair... isso aconteceu inúmeras vezes...
L1: um clima horrível... eu tenho a impressão de que:... a Europa é exatamente... o inverso do Brasil... e que lá sempre faz calor... e de ve/ sempre faz frio... e de vez em quando faz calor... o Brasil sempre faz calor e de vez em quando faz frio... então essa diferença de tempe/ de... de... estação... que eles dizem que existe ( ) muito marcante... existe porque há neve... porque... né? você não acha? porque há neve... porque mas e no verão lá não há neve... mas... não que o verão faça calor... como nós temos ( ) ...
L2: o verão deles praticamente é o nosso inverno aqui...
L1: é... exatamente...
L2: [
essa é que é a verdade... agora ( )...
D: como é o nosso inverno?
L2: nosso inverno aqui?
D: ( )
L2: o nosso inverno aqui... são dias... faz frio... vamos dizer assim... quando chove... aí que a temperatura cai um pouco... fora daí...
L1: em junho e julho... às vezes...
L2: é um verão ameno... vamos dizer... sem calor...
L1: inverno... ( ) inverno não existe...
L2: ( )
L1: não... mas isso aqui no Rio... isso aqui no Rio...
L2: sim... eu tô me referindo aqui no Rio...
L1: [
mas se você vai à Petrópolis... se você vai a
Rio das Flores...
L2: [
aí é diferente...
L1: [
aí faz frio... Rio das Flores chega a fazer zero...
L2: falei no inverno aqui no: no ambiente... onde a gente vive... onde moramos...
L1: [
onde a gente mora... é...
L1: porque no sul...
L2: no sul não... aí você vai sentir como nós... sentimos...
L1: ( ) em março... nós fomos a: Canelas e Petrópolis... lá no Rio Grande do Sul e tudo... e tava fazendo um frio tava frio... chovia... o tempo estava horroroso... ( ) no entanto era pleno verão... né? era fim de fevereiro... março... começo de março... foi a época que nós fomos... e lá tava des/ desse modo... de modo que... (só) em Buenos Aires estava quente... em Buenos Aires estava bem quente... ( )...
L2: [
( ) (havia) uma mudança brusca quando chovia... quando chovia também... é o mesmo problema daqui... quando chove a temperatura...
L1: cai...
L2: cai... muda imediatamente...
L1: é...
L2: imediatamente... ( )...
D: mas essa... existe uma mitologia a respeito da Europa... em relaçao ao clima... às estações... do ano... todas as pessoas que vão à Europa se referem muito... que elas são bem marcadas... cada uma tem características próprias...
L1: as características próprias que eu ache/ que eu disse há... há pouco... que... no inverno neva... então faz um frio intenso... intensíssimo... agora pra nós... vamos no verão lá um... é como é mais frio que o nosso inverno... porque em Londres em pleno verão marcava nove graus... em Liverpool marcava sete graus... no verão... intenso deles... agora... pra eles era...
L2: [
em julho...
L1: porque: passa de... de zero graus... no inverno... então realmente é uma grande diferença pra eles... nós é que não sentimos entendeu? são podem ser muito marcadas prá eles nesse sentido... e no inverno em vez de chover... que no verão chove muito e esfria muito... pra nós... pra eles já não era aquele frio... tanto que eles botam roupa branca... eles têm roupa de... que eles consideram de verão... roupas claras e... no... no inverno... eles usam roupas escuras... até agora que eles estão quebrando... um pouco isso... de vez em quando... não é? os costureiros quebram e/ e/ essa... esse hábito deles... ah... tá se usando cor-de-rosa... e azul no inverno... esse ano na Europa... Cardin... lançou... não sei quê... por quê? ah... ah... era característica usar sempre roupas escuras... ah... sobretudo marrom... azul-marinho ou preto... então faz de fato... pra eles... uma diferença muito grande... mas... nós indo lá no verão vamos crentes que vamos encontrar alguma coisa de calor... e vamos encontrar um inverno muito mais rigoroso que o nosso... pra nós tá entendendo?
D: como é que vocês faziam pra se proteger?
L1: desse frio? ... usando agasalho... e comprando até agasalho lá... né? até ( )...
L2: bom... mas isso já foi mais em:...
L1: bom isso foi em setembro... ( )...
L2: [
do princípio... em setembro... já era o outono... aí ja começa a sentir... a mudança acentuada da temperatura mesmo tendente... com tendência a esfriar para o inverno...
L1: bom... em Amsterdam nós pegamos neve... pela primeira vez...
L2: [
pela primeira vez...
D: e: e a... a impressão ( )...
L1: ah... é de arrepiar... é a coisa mais linda ( )...
L2: a impressão que eu tive com a neve... ( ) que eu tive... foi a mesma em que... quando chegamos da primeira vez em Veneza... na Praça de... São Marco... e estavam aquelas quatro orquestras... tocando... uma em cada canto da praça... então... quando a neve sa/ ... começou a cair... eh... floquinhos muito pequenos... e tudo... mas foi aquela sensaçâo... não sei... ( ) é difícil descrever... ( ) uma emoção...
L1: pra nós emociona... é um negócio...
L2: [
nunca tinha visto na minha vida...
L1: também nevou em Liverpool... eh... em Liverpool não... em Amsterdam... era outubro ( )...
L2: [
( )...
L1: pois é... em outubro não foi?
L2: [
( ) primeira vez...
L1: foi em outubro...
L2: foi em ou/ ... foi ( ) setembro... princípio de outubro... mais ou menos...
L1: nós já tínhamos vindo da Alemanha... porque não... onde nós vimos um pouquinho...
L2: [
não não... Alemanha nós fomos depois...
L1: ah... foi?
L2: foi... Alemanha foi depois... na Alemanha vimos também...
L1: também... ( )...
L2: a neve naquela região toda da Floresta Negra...
L1: é... perto do lago Constanza
L2: é... nós fomos justamente encontrar o: G. ... filho... que estava... lá... tirando um curso... de dois anos... pela Simonsen lá em Munique... e: Munique sim... sentimos bastante frio...
L1: Munique faz um frio horrível...
L2: [
frio mesmo... da pessoa ter que se agasalhar... com SOBRETUDO ... GORRO na cabeça...
L1: é... ( ) dias frios... tá? o céu cinzento assim... e quando... nesse...
L2: [
muito vento...
L1: é... e nesse dia em Amsterdam que nevou... parecia sabe quando aqui ameaça temporal? ... que começa a ficar o céu escuro... cinzento e tudo? eu pensei que ia dar um temporal lá... de repente... temporal nada... desabou uma neve... mas foram duas horas de neve só... e eles disseram lá que há não sei quantos anos... não nevava em outubro... eu acho que foi um presente pra nós ((riso)) foi uma sensação extraordinária...
D: todo muito diz que o outono europeu é muito bonito... você verifica na rua?
L1: as folhas caindo... a mudança total de cor das folhas... as folhas... nós tínhamos estado... na primavera e no começo do verão... então... tinha flores... era lindo... né? era lindo... a primeira vez em sessenta e seis quando nós fomos... à Itália... na Espanha... como tinha flor nas sacadas dos edifícios... parecia tudo um jardim... sabe... agora que estão botando aqui nos edifícios... nas sacadas tá se usando muita flor... mas lá naquela época já tinha à beça... e quando nós fomos agora... a segunda vez... era exatamente o contrário... então a Floresta Negra... de Negra já não tinha mais nada...tava assim... toda marrom... as folhas eram todas castanhas... era uma coisa linda... mas linda mesmo sabe? ( ) nós sentimos uma diferença muito grande... por isso pra nós aqui... eh:... há essa essa disparidade... que nós não temos aqui né essa diferença tão grande... as folhas caem também e tudo... mas não há essa diferença eu acho que... nós não... temos uma impressão ( ) de que o verão deles é o inverno da gente...
D: não estiveram em... em... durante o verão... em: algum outro país... que não fosse frio... em que não fizesse frio durante o verão?
L1: não...
D: (na parte mais para o sul?)
L1: ah... não... só na Argentina...
L2: não... não... não...
D: na Europa...
L1: lá na Europa você tá falando?
L2: não... nem...
L1: ( ) pleno verão... quando o verão começou nós voltamos... nós voltamos em julho fim de julho o verão estava entrando no auge...
L2: [
( ) nessa época... no auge... porque nós chegamos aqui em maio...
L1: o verão começou... o verão no dia vinte e um não é? de junho que é o verão deles... e nós viemos dez dias depois... nós pegamos só dez dias de verão lá... e não pegamos esse calor de jeito nenhum...
D: eu pergunto pelo seguinte... porque durante o verão ah... a duração do dia parece ser...
L1: é enorme... é enorme...
L2: [
ah... bom... mas isso ( ) na Inglaterra nós pegamos...
L1: pegamos...
L2: dia claro... às vezes... até nove... dez horas da noite...
L1: nove horas... nove horas... dez horas nunca... dia claro não pegamos em lugar nenhum não... mas em Paris... nove e quinze da noite... no dia que nós chegamos em Paris... eram nove e quinze... e tava DIA... mas dia... eu tive a impressão até que era... mudança de horário que tinham feito aqui no Brasil durante uns anos... era impressão que se tinha... né? porque depois... eram quase dez horas quando nós chegamos no ( ) e de repente se iluminou... começou a escurecer... mas aí também escurece em cinco minutos... é impressionante como é que... às nove e quinze... nove e vinte é dia... claro... ainda tem um ar de sol... você ainda um pouco de sol... e de repente... em quinze minutos... é noite... é... é rapidíssimo o dia passar pra noite... tá? muito rápido... e aí iluminou-se o Arco do Triunfo... foi a coisa mais linda que eu vi... foi a outra emoção que eu tive... uma foi essa em sessenta e seis ( )...
L2: ( ) essa não:...
L1: ah pra mim foi... pra mim eu tive a impressão que o ( ) tinha mandado iluminar o Arco pra mim... foi a coisa mais linda... eu até disse isso pra uma amiga minha...
D: vocês não estranhavam o fato... de se prolongar tanto assim o dia?
L2: bom... estranhava... estranhava de fato... porque isso aqui no Brasil... não é comum... aqui o máximo que... que o dia se prolonga é até a... até um quarto pras sete...sete horas... não é? na Europa... na EsPAnha... também nós pegamos... os dias chegando até quase nove horas da:...
L1: da noite...
L2: da noite... não é? tudo claro... e isso aí eu acho uma coisa adorável porque... dá a impressão de que... não sei como é que vou dizer...
L1: o que é que você quer dizer? ( )...
L2: [
essa sensação de sentir o dia... de sentir o dia assim maior e tudo... é uma coisa agradável porque...
L1: mas ao mesmo tempo...
D: em relação ao povo... por exemplo... na Espanha nessa época que vocês estiveram lá...
L1: que que tem? o po/ as ruas ficam cheíssimas... tem gente nas ruas na Espanha... é uma loucura... até nove horas da noite... mas já em Paris não... incrível... em Paris é sete horas da noite... o comércio fecha às seis e meia... quinze pras sete... então às sete horas da noite os restaurantes estão repletos... e às nove horas da noite as ruas estão vazias a não ser...
L2: mas esse fenômeno não é só em Paris que se nota... fenômeno é: da Europa em maneira geral...
L1: [
ah... mas em Paris foi onde nós notamos mais... porque a gente tinha a impressão ( )...
L2: [
poucas cidades do mundo... vê-se o movimento intenso a noite... como aqui no Rio de Janeiro... é... em pouquíssimas cidades do mundo...
L1: mas mesmo assim... mesmo sendo dia nove horas da noite...
L2: [
movimento de automóveis... e tudo é uma ( )...
L1: é... mas mesmo sendo dia nove horas da noite... você imaginaria... que estaria cheio de gente na rua... e o que você encontra é turista... na rua... mas o povo mesmo... não... não tem mais...
D: nem na Espanha?
L1: ah na Espanha tem... em: Madrid tem... em Madrid eles vão... mas aí... não pode ser... também quando nós fomos agora a segunda vez... que foi... outono...
L2: mas não era assim tão tarde também... em Madrid você vê o movimento na... ah... na rua... à noite...
L1: até as nove dez horas da noite...
L2: pois é... mas passou disso...
L1: ah bom...
L2: não se vê mais... não se vê mais...
L1: [
isso é verdade...
L2: eu acho que movimento... como aqui no Rio e em São Paulo... em pouquíssimas cidades do mundo...
L1: no inverno e no verão... tanto faz...
L2: no inverno e no verão...
L1: engraçado que... em Frankfurt... não... em Frankfurt não... em...
L2: ( )
L1: [
( ) ai meu Deus... quando nós estivemos na Suiça a primeira vez...
L2: foi em Zurich...
L1: em Zurich... não foi lá que nós... que que parecia... tava tudo morto...
L2: não em Zurich... é depois da meia-noite...
L1: meia-noite fecha...
L2: meia-noite...
L1: fecham todos os bares... são obrigados a fechar então fica ... parece até aqui... em Ouro Preto... meia hora você tem um movimento na rua intenso... a pessoa sai do bar vai pra casa... também é só meia hora de movimento... e pronto ( ) isso foi no verão...isso foi no verão era verão e tudo... mas os bares ficam cheios de gente... mas as ruas não... menos na Espanha... ( ) na Espanha não... em Madrid né? porque a Espanha na primeira vez nós só conhecemos Madrid... e agora essa segunda vez nós fomos a Madrid... e fomos a ( )...
L2: ( )
L1: não isso foi na primeira vez... ou agora... ( )...
L2: ( )
L1: é na Espanha é que tem mais movimento mesmo... mas fora isso não tem... fora isso nem sendo dia... fica vazio... me lembro que agora... dessa vez que nós fomos lá... ali perto da Notre Dame e tudo... lá tava uma tristeza uma coisa vazia... e não tinha mais quase ninguém nas ruas... de movimento de nada... ( ) em relação ao verão... era fora do normal... não tem nada disso...
L2: sim... porque lá as condições de vida são muito mais penosas... do que as nossas aqui... essa é a verdade... o povo lá tem que lutar muito mais... e...
L1: bom e... e... todo mundo corre é pro metrô né? e à noite então
( ) (descanso) tanto faz inverno ou verão... eles não mudam... aí é que tá... porque... eu... eu não vi isso... mudança de prolongar mais o comércio... porque fica dia até mais tarde... não acontece... podiam ( ) já que fica dia até tarde... que o comércio ficasse aberto até uma ou duas horas mais... como fica aqui em dezembro... nunca estive em dezembro na Europa... nunca estive... mas em todo caso... lá você... lá aquela hora normal fecha e aí fica dia e meio triste a cidade não é? centro da cidade... no centro da cidade não tem...
L2: bom aí... ( ) o que contribui muito pra esse sistema deles e tudo de todo mundo se retirar cedo é a dificuldade de condução... porque o táxi na Europa é uma coisa muito cara...
L1: ah mas ( ) que falar de... de...
D: ( )
L2: o táxi na Europa é uma coisa muito cara... e... depois de uma certa hora (também)...
L1: ( )
L2: não o táxi simples...
L1: [
ah bom... o táxi simples... o táxi aumenta ( )
L2: [
( )depois de uma certa hora aumenta... o seu preço... e... e o povo... o trabalhador de uma maneira geral é mais o comerciário também... que trabalha nas lojas comerciais e: nos escritórios e etc. ...
L1: ( )
L2: terminada aquela hora de trabalho... a aflição deles... é... se mandar diretamente para as suas residências... alguns ainda comem alguma coisa na cidade... vão ao cinema... mas os cinemas todos acabam sempre às onze horas...
L1: a ópera acaba às onze?
L2: é... a ópera também... porque... depois da meia-noite não roda mais nada... ah:...
L1: de de coletivo...
L2: de coletivo... não só de metrô... como também de ônibus... e etc. ... tudo fecha... então não há como chegar depois ( )... e tudo passa...
L1: ah mais o que eu acho engraçado é isso... é porque... já que fica dia até tarde... já que não escurece não é? eles não se preocupam co/ com com mudar o horário também acompanhando... e... e justamente é uma época onde o turismo é intenso... e na Espanha é o único lugar -- aliás é o turismo mais... mais organizado... bem organizado que eu achei... em toda a Europa... mesmo agora a segunda vez... não tanto quanto da primeira vez... né? já não estava tão bem organizado-- mas em todo caso eles não... eles não mudam... por causa do clima... por causa do do do dia... as noites... serem mais prolongadas e tudo mais... a vida deles não modifica...
L2: ( )
D: você se referiu a... a uma classe social... mas há outras classes sociais... que durante a noite não... não saem não... não pra ( )...
L2: [
( ) clubes fechados... mas é que o turista não tem acesso...
L1: é...
D: (não?)
L1: ah não...
L2: não porque precisa ser sócio...
L1: tem que ser sócio...
L2: tem que ser sócio pra ingressar em determinados clubes de lá... nos bons clubes...
L1: como privê... Régine's e tudo mais... que agora estão vindo pra cá... mas lá você não entra de modo algum a não ser que ( )...
L2: ( ) na Inglaterra ( ) toma conta...
L1: nos clubes fechados... ( )...
L2: nos clubes fechados não...
L1: Playboy por exemplo... muita gente ía e tudo mais porque tinha relações lá... pessoas que... diplomatas... então eles todos têm acesso a isso atra/ por intermédio deles eles entram... senão não... tem... essa a... a... sociedade lá freqüenta isso... e isso não é... não é para o turista... pro turista é tudo aquilo programado como aqui também é... ( )
L2: aqui no Rio de Janeiro... tem uma vida completamente diferente...
L1: da vida européia...
L2: da vida européia... e mesmo das outras cidades do Brasil... isso em função... da: da praia... da orla marítima ( )... não é?
L1: é eu acho que é...
L2: ( )
L1: [
sim... mas a orla marítima não faz tudo isso... porque` em Nice por exemplo... nós estivemos em Nice... e como não tinha (começado o verão ainda)
L2: [
mas estava fora da temporada ainda... fora da temporada... fora da temporada...
L1: [
fora da temporada por quê? ( ) imagina você... já fazia calor...
L2: [
mas Nice é uma cidade balneária... já fazia mas é uma cidade balneária... agora...
L1: [
então... então... já fazia calor... as noites...
L2: o Rio de Janeiro não é uma cidade de...
L1: mas você deve se lembrar... que nós saíamos pra jantar... ( ) disseram que às dez horas da noite nós íamos encontrar onde jantar... e nós ficamos ( ) desde... rodando por toda parte... os cassinos pouquíssimos estavam funcionando... e nenhum estava servindo... ali do lado de fora nas varandas... não tinha comida na área...
D: quando é a temporada... nessa cidade ( )?
L1: de julho em diante...
L2: julho e agosto...
L1: julho e agosto... ( )...
L2: o auge do verão ( )...
D: o que significa essa temporada? como é que se chama essa parte da França? tem um nome né?
L1: Côte dÁzur...
L2: [
Côte dÁzur...
L1: a Côte dÁzur é uma beleza... eu acho que tudo é bonito mas a gente tem o Rio de Janeiro tão bonito... o mar aqui é tão bonito... a praia é tão bonita... que: com certeza quando eu cheguei em Nice tive a maior decepção... da parte da praia... não da parte construída pelo homem... porque... é uma beleza...
D: a praia freqüentada lá não é do mesmo número como é freqüentada aqui... as pessoas vão à praia aqui da mesma maneira como vão lá?
L2: lá tudo é pago... lá tudo é pago... pra ir à praia você paga...
L1: mas nós não fomos à praia...
L2: não... nós não fomos porque nós estivemos lá três ou quatro dias e fora ainda da temporada... agora... é uma praia também que...
( )...
L1: ( )
L2: não parece nem areia...
L1: ( ) cascalho... toda ela de cascalho...
L2: cascalho... em Cannes é um pouquinho melhor...
L1: em Cannes já tem um pouco...
L2: já tem mais e tudo da areia e tudo... mas Nice mesmo...
L1: é só tinha cascalho... e é horrível... não dá nem vontade...
L2: agora... tudo é explorado pelo homem... tudo é explorado pelo homem ( ) ... tiram o máximo daquilo... coisa que aqui não se faz...
D: e a Itália?
L1: também...
D: vocês estiveram em Roma?
L1: não ( ) Florença... Roma... Veneza... e de: Roma a Veneza nós fomos de... de ônibus de modo que conhecemos aquelas cidades todas... de propósito pra... para conhecer...
D: e sentiram a diferença assim... de clima ( ) nessas regiões?
L2: não... não...
L1: não nessa época não... porque era verão... e a Itália é ainda o país que tem realmente mais o verão mais aproximado do nosso... ameno mas com dias bonitos... com céu azul... e com sol... então toda essa região que nós andamos de Roma até Veneza... nós não notamos diferença de clima nenhuma...
L2: [
não... ( ) da Europa ( ) um pouquinho calor...
L1: é...
L2: em junho quando nós lá estivemos ( ) mas foi mais... foi mais em maio... nós fomos...
L1: saímos daqui em junho... saímos daqui dia trinta e um de maio... foi em junho... passamos junho e julho na Europa... voltamos em trinta...
L2: chegamos aqui dia primeiro de agosto...
L1: primeiro de agosto... mas não há assim uma dife/ não... não houve nessas cidades onde nós andamos...não sentimos diferença de clima... agora Paris é engraçado... Paris faz um calor enorme... está um dia lindo... aí eu ia sair toda de sapato branco... tal... a mulher do hotel... "a senhora vai sair assim? vai chover... às duas horas vai chover... e a senhora vai estranhar muito... porque está toda desse modo e sapato branco vai"... e eu... "não vai chover nada... essa mulher tá maluca"... eram dez e meia... onze horas da manhã... um dia lindo... não tinha uma nuvem... não tinha nada... por que é que vai chover? e às duas horas... duas e pouco... desabou uma chuvarada... ( )...
L2: ( ) uma chuva rápida de verão...
L1: chuva de verão... mas deu uma chuva louca...
D: como é que ela sabia?
L1: porque quase todo dia chove às duas horas ((risos)) é como no norte ( ) aqui... não tem também?
L2: ( ) lá em Manaus tem muito disso também...
L1: pois é... lá todo dia chove... né? então lá também no verão... ela disse que duas entre duas e três horas dá aquela chuvarada louca... agora depois... a segunda parte do dia depois da chuvarada... o verão é superameno... você bota até um casaquinho nas costas... de noite quando... eu levei:... casacão... uma francesa amiga minha disse "você leve um casacão de primavera"... eu falei "como é esse negócio de casacão de primavera que eu não sei?" aí ela disse... "'e alegre... é claro... é branco... é vermelho"... e esse casacão vermelho eu levei o casacão vermelho... e esse casacão só não andou sozinho não sei por quê... porque eu usei TODOS os dias que eu estive na Europa... porque se não usei de dia em certos lugares... eu usei de noite... em Paris... todas as noites de verão...junho... eu saía de casacão de noite... porque eu sentia frio...
D: e o senhor... como é que saía?
L2: ( ) eu levei um ( ) um suéter e ( )... durante o dia não... durante o dia eu saía assim... de manga de camisa... mas à noitinha a gente sentia frio... ( ) bem frio...
L1: a temperatura mudava completamente sabe? esfriava... mas esfriava mesmo... de botar casacão...
D: ( ) de hospedagem ( ) também há uma ... uma... já há uma certa mitologia a respeito da Europa... nos hotéis... brasileiro estranha muito quando vai pra lá...
L1: com relação a quê... de preço você diz... não...
D: não... não de preço... de serviço do hotel... da ( )...
L1: bom o serviço de hotéis é ( ) serviço de um modo geral... aí sei que o que que tem isso a ver com o clima... mas o que eu achei foi o seguinte... certo ( )...
D: não... tem... tem a ver como clima porque há todo um... um... já uma história tradicional sobre os europeus... que os europeus não gostam de tomar banho...
L1: ah ((riso))
L2: [
ah...
L1: ah no inverno não tomam... não é só no inverno não... porque quando eu fui nessa época... que eu tô dizendo a você que nós fomos que foi na época da Copa do Mundo em sessenta e seis... em LONdres elas não tomavam banho e no ho/ nosso hotel nós éramos servidos por garçonetes... não eram garçons... eram moças que serviam... Virgem Maria... quando elas passavam o prato... você quase morria de bodum e depois elas andam com uns aventais brancos lindos... ( )
L2: [
( )
L1: ai que cheiro hoRRÍvel... nem queira saber... e elas não tomavam banho ( ) e não tomavam mesmo... bem de vez em quando... eu tenho uma prima que morou na Bélgica... e... e... dois anos... então ela teve inverno... verão... todas as estações né? e faziam a concessão dela tomar banho todo dia no verão... era uma concessão porque ela era brasileira... a família do marido dela que é belga... então ela podia tomar banho todo dia porque ela era brasileira mas eles tomavam banho de três em três dias... imagina... verão... de modo que... daí é um negócio que não dá nem pra nós entendermos... eu tenho um primo também... até já falecido... morreu lá em Paris mesmo... mas ele foi pra lá no verão... e no verão ele tomava... uma vez... catorze de julho ele disse que fez um caLOR... mas um calor terrível... e ele ( ) ele acordou tomou um banho e elas mudam a a toalha de banho cada vez que você usa ou então quando não seca você tem que pedir outra né? então ele tomou cinco banhos... aí ele ficou conhecido... o brasileiro que toma tantos banhos... ele pedia outro... outro... outra toalha de banho porque morria de calor e ficava indignado... conosco em Paris também aconteceu uma coisa muito engraçada... quando nós chegamos... tinha uma toalha... de banho não é... e uma toalha de rosto... aí eu pedi à mulher... aí ela perguntou... "mas vão tomar banho os dois?"... verão... eu disse "vamos... tomar banho sim... como que não vamos tomar banho?"... aí ela disse... "mas os dois vão tomar banho hoje?"... "mas é lógico... por favor traz porque nós vamos tomar banho"... aí eu ainda disse pra ela "nós somos brasileiros... temos tradição de tomar banho todo dia"... então ela trouxe uma toalha de banho... porque ela achou que ela trocando de toalha a cada dia... um tomava um dia... outro tomava outro dia... ( )...
D: e em relação à água do banho...
L1: ah não... lá... ( ) de pagar o banho não...
D: não... não de pagar... a água... eh... porque aqui no Brasil nós estamos acostumados a tomar um tipo de banho... né?
L1: banho de chuveiro?
D: da água da temperatura da água... etc. ... o: a:... o local onde se toma banho... a maneira como se toma banho... mas sobretudo a temperatura da água... porque foram no verão...
L1: foi...
D: mas no entanto fazia frio...
L1: é...
D: como era ( )?
L1: [
não... mas nós tomávamos banho quente...
L2: ( ) banho frio... ( )...
L1: [
( )...
D: mesmo sendo bra/ brasileiro quer dizer carioca pelo menos?
L1: não não ( ) não... eu acho que é sentimento inter/ eh geral que eles têm... porque você... abre a água quente... sai água quente... pelo menos nós sempre tomamos banho quente e frio quando quisemos... como quisemos... tivemos...
L2: [
não havia aquecedor ( ) banheiro... nada disso...
L1: nada... tinha torneira de água quente e torneira de água fria...
L2: [
( ) aquecedor ( ) sistema elétrico e tudo ( )...
L1: é... não sei como é... ( )...
D: e os quartos... dos hotéis?
L1: aquecimento ou então no verão não tem nada... é calor mesmo... mas aí não faz calor também...
D: mas uma... o... o (frio) como é?
L1: tem aquecimento... eles têm... o... aquele... aquele sistema de aquecimento... ah... interno... na Inglaterra tinha uma água quente... que circulava nos tubos dentro do banheiro... se lembra? eu até botava toalha ali... tava sempre quente aquilo... tinha sempre água quente... ( ) e... também no verão... e foi nessa época foi... verão... mais ( ) que se tinha no verão...
L1: no banheiro... e então botava a toalha ali e secava num minuto a toalha... até roupa minha mesmo... né? se lembra? eles tinham... você abria a torneira de água quente... esquentava tudo... até me lembro que uma vez também na Alemanha... que no... que choveu a beça e eu sequei o meu sapato no banheiro... num instante... pendurei na... botei meu sapato em cima do aquecedor... daqueles... daqueles tubos de aquecimento... num instante sequei o sapato... liguei a torneira... pronto a água esquentou... esquentava ali... e o sapato secou... se lembra?
D: chegaram a... a... a ver na Inglaterra... um fenômeno relativo a ( ) Londres principalmente...
L1: o "fog"... isso não... não vimos...
L2: não não vimos ( )...
L1: [
não... uma noite...
L2: a segunda vez...
L1: não a primeira vez... na segunda não... segunda não vimos "fog" nenhum... a primeira vez é que nós vimos um dia... estava chovendo... um dia que nós íamos sair de noite... à noite nós íamos sair pra jantar...
L2: não... mas não foi "fog" não...
L1: ( ) lógico...
L2: foi um nevoeiro muito fraquinho... como dá às vezes em Petrópolis e tudo ( )...
L1: é certo... aquele "fog" mesmo... não... ( )...
L2: aquele de parar mesmo a cidade... isso...
L1: é não vimos não... nem... nenhuma das duas vezes... que nós tivemos na Inglaterra... a primeira vez nós tivemos quinze dias na Inglaterra...
L2: foi...
L1: em sessenta e seis... agora na segunda vez nós estivemos oito dias... aí foi... em que mês que nós estivemos lá? julho?
L2: não foi em outubro... foi:...
L1: é... foi de lá nós viemos embora pra Nova York...
L2: foi... nós estivemos na Inglaterra...
L1: ah... em Nova York num dia nós pegamos um frio terrível... se lembra?
L2: foi uma mudança brusca de temperatura de um dia pro outro...
L1: sim... de uma hora pra outra...
L2: de um dia pro outro...
L1: é... tava um tempo normal... sem chuva nem nada...
L2: [
um calor... ( ) de andar de manga de camisa o tempo todo... inclusive à noite e de repente...
L1: a temperatura caiu...
L2: a temperatura caiu... mas acho que foi uns vinte graus...
L1: caiu ( ) ouvimos na televisão... zero grau... nós ficamos impressionados... zero grau naquele dia marcou em... em Nova York... e no entanto dois dias antes tava marcando vinte e sete... vinte e oito graus... uma loucura...
L2: e justamente nesse dia que caiu deu-se uma coisa interessante... porque... como nós íamos dois ou três dias antes... na véspera...
L1: não íamos uns dois ou três dias...
L2: ou depois... na véspera... dessa mudança brusca de temperatura... nós tínhamos que despachar todos os nossos agasalhos pra aqui para o Rio... aqui para o Rio...
L1: foi mesmo...
L2: de maneira que quando... no dia seguinte... não tínhamos praticamente agasalho nenhum e foi aquele frio tremendo... mas isso foram uns dois dias só porque depois
nós pegamos o avião
L1: [
o agasalho foi...
L2: e viemos embora...
L1: o agasalho foi interno... ((riso)) bebida...
L2: ah foi...
L1: era... tinha que ser whisky... e... depois tinha restaurante... se lembra o dia que nós almoçamos lá? um frio terrível... tinha um restaurante brasileiro bem em frente ao nosso hotel -- que nós ficamos na Broadway... bem no coração da Broadway... de noite era uma loucura... o que tinha de crioulo na rua não estava no gibi... uma loucura... depois de sete e meia da noite você não tinha coragem de ficar no restaurante... porque não ficava mais um branco... só tinha crioulo nos restaurantes... e eles ficavam ( ) te olhando... então você não tinha coragem mesmo não... você se mandava-- então... mas tinha um restaurante brasileiro bem em frente ao nosso hotel... hotel né? na rua Quarenta e Seis que nós ficamos... e nós... atravessamos... tomamos batida e comemos uma feijoada de noite... porque tava um frio de rachar... mas foi uma loucura sim... dois dias antes de nós irmos embora... eu me lembro ( )...
L2: [
( ) uma mudança brusca que eu nunca vi... ( )...
L1: [
aí eu ainda fiquei com mais frio ainda quando eu escutei a televisão dizendo que estava marcando zero grau... que tava frio... mas não tinha mesmo essa impressão não... quando ele disse... Deus me livre... que horror...
D: uma coisa que eu queria perguntar a senhora ( ) (Paris)... a mulher do hotel que avisou que ia chover às duas horas... eles têm informação meteorológica... lá nos Estados Unidos?
L1: têm... eles têm...
D: eu queria que você comparasse com, com, com o sistema brasileiro...
L1: não... eles... eles informam lá... a temperatura... a chuva... do mesmo... através da televisão e do rádio... do mesmo modo que nós informamos aqui... e às vezes erra também igualzinho a nós... erramos aqui... é ou não é? mesma coisa... você sabe? aliás eu vou dizer a você uma coisa... não me chama de senhora não... me chama de você também... ele me chama de você... u/ uma coisa que... fora de de: de: tempo de meteorologia... do que for... tudo que você encontra de bom e de ruim no Brasil... você encontra de bom e de ruim no resto do mundo... o chofer de táxi ficava zanzando com você... um dia em Paris... pela terceira vez eu vi ele passar pertinho da Madeleine não havia meio d'ele nos deixar na ( )... acabei dizendo pro chofer... "pera aí... você tá passando"... "não é uma questão de mão"... que mão que nada... ele tava rodando conosco... rodando... rodando... então tudo tem a mesma coisa... e um pouquinho alemão ( ) eu disse pra ele... não vamos mais falar português quando entrarmos dentro do táxi... que eu entrava no táxi... meu alemão dava pra dizer onde eu queria ir... quando nós começávamos a falar português ele começava a zanzar por toda parte... sabe? então essas coisas todas são iguais... garçon... reclamar de preço... em Paris... no ( ) se lembra? primeiro dia que nós entramos... nós andamos com uma grande amiga minha que vai a Paris com freqü^encia e ADORA a França e adora Paris... e ela disse a J. "dá não sei lá quanto de gorjeta... só... basta dar isso"... e J. deu ( ) a língua... ficou uma pulha... ficou mal-criadíssimo... não foi? mas ela não deixou o J. dar mais e ficou lá por isso mesmo... e ele ficou xingando lá... né? essas coisas acontecem em toda parte... mil coisas... ele teve a carteira dele batida na Inglaterra... eu me diverti muito...
D: é?
L1: é:... e quando foi... conte aí esse episódio...
L2: nesse episódio nós távamos...
L1: em Liverpool...
L2: em Liverpool... pra assistir o jogo do Brasil com...
L1: isso foi muito engraçado...
L2: com Portugal... foi com Portugal... não foi? e... já tinha saído daqui do Rio com todos os ingressos reservados... mas... também... a carteira...
L1: ( ) o dinheiro do dia...
L2: o dinheiro do dia... calculava mais ou menos... e colocava na carteira o dinheiro do dia... fomos pra Liverpool cedo...
L1: almoçamos...
L2: [
almoçamos calmamente... e tínhamos também condução... que nos iria apanhar em um determinado ponto pra levar ao estádio de futebol... mas ( ) já tinha acabado ( ) faltava muito tempo pra condução chegar... vinha um ÔNIBUS... em direção ao estádio... resolvemos todos... que era um grupo grande que nós estávamos... embarcar no ônibus... ( ) atrás de mim vinha... um inglês...estou vendo até hoje a figura dele com uma capa toda grossa, um chapéu, baixinho... atarracado... e vinha empurrando... vinha empurrando... mas eu tinha tirado a capa... eu tava com a carteira nesse bolso de trás... e tinha tirado o paletó ou a capa... mas nem tô pa/ pensando... no:... em alguma coisa... se va/
L1: fossem roubar...
L2: fossem roubar carteira e tudo... ( ) (avalanche) empurrando daqui... empurrando dali... ( ) dentro do ônibus... quando eu entro no ônibus... vou pegar a carteira aqui pra pagar o ônibus... cadê? ela já tinha desaparecido... eu ainda disse... "'o... quem me roubou foi esse indivíduo a/ olhei assim... ele já tinha se mandado...
L1: ( )
L2: aí uma inglesa... uma inglesa que estava ali ao lado...
L1: já saímos do ônibus...
L2: nós saímos do ônibus... sim... porque eu disse... nós estávamos com os ingressos de futebol... "como é que eu vou fazer pra entrar?"... o estádio já devia estar cheio aquela hora... não havia mais ingresso pra vender à venda... "como é que vamos fazer?"... aí uma inglesa que estava ali ao lado... disse... "não... mas isso é um desaforo"... (ficou indignada)...
L1: [
ficou indignada...
L2: "como é que... vão fazer isso com um estrangeiro... com... que impressão que eles vão ter aqui da nossa cidade? e tudo... faço questão de... de"...
L1: "chamar o guarda"...
L2: "de chamar o guarda"... então ela chamou um guarda... relatou o que tinha acontecido... e eu disse... "bom o que mais me aborrece é que eu estava com... os ingressos... as entradas do futebol... e também... a passagem de volta... de trem"... porque nós estávamos hospedados em Londres... e o jogo era em Liverpool... no trem especial ( ) retorno a Londres... aí o guarda disse... "tá tudo bom... quanto a isso não há o menor problema... os senhores... nós lhes colocaremos ( ) qual é a sua cadeira? nós vamos até os estádio... e lá lhe colocaremos"...
L1: e nos levaram na rádio-patrulha...
L2: e nos levaram na rádio-patrulha direitinho... e eu disse... "e pra voltar depois pra Londres? como é que vai ser?"... ( )... "não há problema também... às tantas horas... estaremos na estação... o senhor nos espera lá"...
L1: "( ) no trem"...
L2: "( ) no trem... falaremos com o chefe do trem"... e assim aconteceu...
L1: não... a volta não... aí nós encontramos uns amigos e voltamos num trem... num trem...
L2: ah... bom... tem razão...
L1: nós não voltamos no mesmo trem...
L2: é... nós voltamos num trem especial...
L1: ( ) então voltamos num trem ( )... então nós agradecemos a ele e tal... mas não quisemos ir com ele... mas roubaram... e quando nós paramos em Roma... ah... na Praça de... na Praça de São Pedro...
L2: [
São Marcos...
L1: São Marcos nada... São Pedro...
L2: São Pedro... é é...
L1: na Praça de São Pedro... nós vimos um alemão ficar alucinado... tinham acabado de bater a carteira dele também... e ele estava desesperado... só falava alemão... o guarda em inglês... ele não falava inglês... e ele só ( )... todo mundo entendeu que ele tinha sido roubado... mas esse coitado... não foi feito nós... (ainda mais) ( ) nós já tínhamos até almoçado... então o que ele levou de dinheiro foi porcaria...
L2: foi... levou dez libras...
L1: ( ) é uma droga... mas o... o alemão não... levou o dinheiro dele todo... tá bom... e ele ficou sem... a níquel... sem nada... então o... o... o guarda lá o... dali do Vaticano... disse que ele fosse não sei aonde... na delegacia que davam um dinheiro a ele... pra ele voltar pra Alemanha ((riso))... então você já viu que as coisas acontecem em toda parte... de vez em quando o J. me diz aí... "ah ( ) que vergonha... roubaram um... um... um turista ( )"... deixa de ser bobo... quem viaja sabe que isso acontece... no mundo inteiro essas coisas acontecem...
D: outro... episódio o policial disse que estariam... deviam estar na estação às tantas horas ( ) essa...
L2: e acredito... e acredito piamente que a essa hora...
L1: eles estivessem...
L2: eles estivessem...
L1: nós é que demos o bolo neles...
L2: nós é que demos o bolo... porque...
D: era isso que eu ia falar... sobre a tradicional observação dos ingleses aos horários...
L2: ( ) em compromisso... e também honestidade... também... vamos dizer assim...
L1: ah é... há muito...
L2: porquanto... tendo o Brasil sido eliminado... "o que que eu vou ficar fazendo aqui em Londres? não me interessa ver jogo mais nenhum"... que se viu? entreguei... fui a uma agência... entreguei as entradas que tinha... que estavam ainda ( ) da final e da semi-final e disse "aqui está... se vocês conseguirem vender isto... muito bem vendam... meu endereço no Brasil está aqui... é esse... um ou dois meses depois... eu estou aqui no Brasil... recebo... uma telefonema... da... uma agência de turismo aí qualquer que tem correspondentes lá em Londres... e diziam... me convidando a comparecer lá... porquanto... fui lá... ( ) e tinha uma notinha lá de vinte libras... a minha espera...
L1: eles venderam a mais...
L2: e venderam... a minha entrada final... que havia me custado... aqui no Brasil... naquela ocasião... três ou quatro libras... eles haviam vendido por vinte libras... então estavam me mandando aquela nota... e dizendo que pra semi-final não foi conseguida a venda da entrada... estavam me devolvendo também... a entrada da semi-final pra comprovar que não haviam vendido...
L1: é isso aí é uma coisa que eles são rigorosos ( ) e depois são organizados né? isso é organização... além da honestidade...
L2: dei o endereço a eles... "se conseguirem vender me mandem lá pro Rio"... e mandaram...
D: ( ) horário ( ) ingleses...
L2: ah sim... ( )...
L1: não sei ( )...
D: pra refeições... pra divertimento... pra trabalho...
L2: os jogos... por exemplo... começavam rigorosamente na hora marcada...
L1: sim... mas essa segunda vez agora que nós fomos... eu... o... ah... em... na Espanha nós já não tivemos mais o mesmo rigor... nem a mesma... eficiência em questão de ônibus de turismo... e tudo mais... ( )...
L2: bom isso caiu muito...
L1: caiu fantasticamente... de sessenta e seis pra cá...
L2: [
em nove anos ( )...
L1: a mudança que houve ((interrupção)) ... a primeira vez... você nem queira saber... nós tomamos um táxi porque o ônibus não podia ir ao nosso hotel... isso por causa de trânsito e etc. ... então nós tomamos um táxi lá... por ordem deles... e quando nós chegamos na... no ponto onde o ônibus estava... tinha um homem nos esperando né? esperando todas as pessoas que chegavam e pagava o táxi... nós não pagamos NADA... absolutamente... e aquilo tudo certinho... na hora exata e tudo... nessa segunda vez a coisa já foi outra totalmente diferente...
D: qual era o horário normal de refeições ( ) nos diversos países?
L1: é cedo... em relação a nós é cedo... sete horas da noite... eu estava dizendo a você... eles saem do comércio... vão todos comer... tá me entendendo? porque você sente não é? em Paris... nas cidades ah... você sente que eles não comem em casa... eles saem do trabalho... vão comer...
L2: [
comem qualquer coisa...
L1: tá entendendo? e depois vão embora pra casa... então foi aquilo que eu disse a você... que sete horas da noite você não consegue encontrar um restaurante... aqueles de... de... que tem varanda como eles chamam... ali do lado de fora ( ) não tá tudo cheio também... uma hora depois acabou... então eles comem cedo...
D: e o almoço também é assim?
L1: almoço não reparei muito não...
L2: [
o almoço ( ) é...
L1: o almoço não deu muito pra reparar...
L2: porque muitas vezes... a maioria das vezes nós nem almoçávamos...
L1: porque você toma um café reforçado...
L2: [
( ) comia uma coisa mais forte... e aí saía pra fazer passeio... fazer compras... uma coisa e outra... ( ) era quatro... cinco horas da tarde e tudo...
L1: é... tomava um chá um lanche e aí e depois... jantava tarde...
L2: é... nós jantávamos sempre tarde...
L1: é...
D: tarde ( )?
L1: ah... nove e meia... dez horas...
L2: [
nove e meia... dez horas... não é? porque já sabia que depois de meia noite também não tinha condição nenhuma...
L1: ( ) num dia que nós nos distraímos... saímos às dez e cinco... o chofer rodou procurando... um: restaurante onde ele pude/... que ele conhecia... onde podiam nos atender... e nós fomos atendidos no restaurante... uns dez minutos depois ele fechou a porta... chegou um grupo de americanos... tinha lugar o restaurante estava vazio... mas eles NÃO atenderam... disseram que não... que se atendessem a eles ia atrasar... o expediente do restaurante... não atenderam... nós fomos atendidos... quer dizer depois de dez horas da noite...
D: vocês não fizeram passeios... eh... à noite?
L1: aqueles tradicionais... aquelas coisas... fizemos... fizemos... entramos em quase todos aqueles... porque nós viajamos por nossa conta... só na época do futebol é que em Londres nós... de um certo modo tínhamos uma programação... tá me entendendo? Por causa dos jogos e...

L2: e pra conseguir...
L1: pra conseguir lugar lá...
L2: ( ) aqui no Brasil... então nós tivemos que nos filiar... a uma...
L1: é a uma programação lá...
L2: [
a uma programação...
L1: é uma espécie de... vamos dizer... de uma... de u/ de uma... como e? excursão... mas fora isso não... nós vamos... fomos às outras... pela Europa inteira antes do futebol sozinhos... e depois também... da segunda vez também... mesma coisa... mas... você perguntou o quê?
D: a respeito do... de:... divertimentos que são tradicionais...
L1: ah sim... fizemos tudo... aqueles "sightseeing" você tem que fazer... porque é o: jeito que você tem de conhecer as cidades não é? eles levam... mostram... tal... você conhece tudo que tem de tradicional... e de noite também...
D: [
quanto tempo dura esse passeio?
L1: ah esse passeio às vezes dura um dia... dependendo... da cidade... você dura um dia... meio dia não é? em geral é a parte da manhã ou a parte da tarde... só se você quiser ir a arredores... aí então é um dia como... como nós fomos ao Vale dos Caídos etc.... na Espanha... mas senão é... é uma parte do dia...
L2: [
em relação também ao... ao
L1: [
Estoril...
L2: não... na Inglaterra... nós fomos a...
L1: [
ah bom... na Inglaterra nós fomos a Stratford-upon-Avon fomos à Casa de Shakespeare e aí também foi uma passeio de um dia inteiro tá entendendo
L2: esse excepcionalmente foi um dos dias mais bonitos que nós pegamos em Londres...
L1: [
foi mesmo... em Londres...
L2: um dia de céu azul...
L1: é... foi uma beleza... um dia lindo... a segunda vez não... nós pegamos tempo bom na Inglaterra... por acaso agora... essa última vez... que nós fomos ( )...
L2: não ( ) em Londres nós fomos bem na... no outono...
L1: fomos... mas não... mas o tempo estava muito melhor do que quando nós fomos em sessenta e seis...
porque em sessenta e seis chovia uma barbaridade...
L2: [
sim... sim sem chuva mas aqueles dias todos já cinza...
L1: ah é...
L2: dia de céu azul... essa segunda vez nós não tivemos nenhum... choveu menos...
L1: é... não choveu quase mas o tempo era diferente... a atmosfera era diferente...
L2: uma atmosfera... lonDRIna mesmo... londrina...
L1: é... mas isso também na Alemanha...
também na Alemanha... tudo cinza... sabe?
D: [
como é...
como é que eles se vestem? eles têm uma maneira ( ) nesses dias? ( )...
L1: roupa escura... só...
D: e outros adereços... eles usam...outros?
L2: ah usam...
L1: bom ( ) não sei...
L2: [
sobretudo... ( )...
L1: casaco... capa... bota... mas não:... porque eles a não ser no frio mesmo... eles não sentem frio não... nós é que sentimos aqueles invernos... aquele verão deles... pra eles é verão mesmo... pra nós é que é... que é inverno...
D: e como se protegem da chuva? só com... com:
L1: com guarda-chuva...
L2: [
com guarda-chuva...
L1: [
muitas mulheres usam muito aqueles... aquele plastiquinhos que elas... levam na bolsa... tanto que a gente lá usa a beça... aqui no Brasil... você usa... olha... bota aquilo... eu uso... eu tenho aqui... fica todo mundo olhando pra mim... me dá uma raiva... eu já nem amarro debaixo do queixo... porque eu acho... que com... o negócio amarrado debaixo do queixo fica ridículo... então eu amarro pra trás ( )... mas na Europa você vê... velhas... velhinhas... tudo debaixo do queixo e a gente usa também... não liga a mínima... mas aqui não... fica todo mundo olhando... parece que a gente é maria caxuxa... então ( ) pra trás... o negócio e eu amarro pra trás... mas eu tenho... mas eu ( ) aqui sistematicamente... porque se chove ( ) muito bom e inteligente... mas aqui não pode... nem vendem... você não encontra pra comprar... o meu ainda é unzinho que tá restando... que eu tô fazendo prolongar...
L2: ( )...
L1: hein?
D: ( ) pra chuva também usava isso... não?
L2: não... não...
L1: [
não... homem não... os homens não... não sei... eles usam boné...
L2: [
( ) não usava nada...
L1: nada... não...
L2: ( ) a capa... minha capa...
L1: [
a gente ficava debaixo da marquise... ( )...
L2: guarda-chuva também não usava porque eu detesto guarda-chuva... detesto guarda-chuva de maneira que... punha a capa ( )...
L1: [
comprei um
guarda-chuvinha pequenininho que não adiantou nada...
L2: ( )...
L1: ficava dentro da mala...
L2: ficava dentro da mala... chapéu também nunca usei na minha vida... de maneira que ( )...
L1: [
só usou gorro em Munique... em Munique usou gorro...
L2: ( ) foi devido ao frio ( ) frio... havia necessidade...
L1: é...
L2: um gorro protegendo até as orelhas...
L1: é... um frio...
L2: [
ficava só essa parte assim do rosto de fora e olhe lá...
D: vocês estiveram em Portugal?
L1: agora não... na primeira vez...
L2: [
agora não...
L1: da primeira vez... foi bom... o tempo foi bom... os dias bonitos... também só ficamos quatro dias... os dias bonitos... o tempo muito bom... Portugal é uma gracinha... limpíssimo... tanto que agora ( ) eu tenho uma amiga... que tinha ido uns meses antes de nós... e tinha ido naquela ocasião também que nós fomos ela tinha ido... e ela me disse... "se você quiser morrer de decepção e de tristeza... vá a Lisboa agora"... então nós não fomos... porque estava tudo imundo... as cidades... os muros pichados... foi aquela época... tudo de foice e martelo... e enfim... um horror que...
L2: [
é... e Portugal antigamente também ( )...
L1: [
o brasileiro era muito bem aceito... agora não...
L2: [
( ) da primeira vez que nós fomos... pois é...
L1: agora não... a primeira vez que nós fomos um dia nós távamos sentados... tomando um chá... e che/ e... quando percebeu que nós éramos brasileiros...
L2: [
foi um jornalista até...
L1: o jornalista veio pra nossa mesa... conversou... indagou milhões... nesse tempo Juscelino era presidente não era? ou não? tinha acabado... tinha acabado... tinha saído sessenta e cinco Juscelino saiu... né? não... sessenta e seis o Juscelino não era mais...
L2: não... sessenta e seis já era o Jango...
L1: não...
L2: o... o... Jânio...
L1: Jânio...
L2: quer dizer... quando nós paramos em Nice... veio a notícia que o Ademar de Barros...
L1: tinha sido cassado...
L2: tinha sido cassado...
L1: então sessenta e seis...
L2: era o Jânio que tava ainda... era o Jânio...
L1: não... que Jânio nada... já tinha sido a Revolução e tudo... a Revolução foi em sessenta e quatro J. ...
L2: foi em sessenta e quatro a Revolução...
L1: a Revolução foi em sessenta e quatro... ( ) aí... é... ( ) em Nice ( ) chofer... coisa mais engraçada sabe... que o chofer veio nos buscar... que nós tínhamos transporte né? então o chofer veio nos buscar... e disse... "vocês são brasileiros?" ... "somos" aí ele disse... "cassaram hoje o presidente do Brasil"... aí nós... "presidente do Brasil? mas como é que pode?" ( ) perguntar pra ele... "mas como é que foi? quem é? quem não é? mas que presidente é esse que cassaram?" aí ele disse... "é um paulista"... eu disse " ai... isso tá me cheirando a Ademar de Barros"... eu disse ao J. "isso é o Ademar de Barros"... eu disse ao J. "isso é o Ademar de Barros"... eu perguntei pra ele... "em que jornal o senhor viu isso?"... "no Nice Soir"... tá bom...aí nós entramos... no avião... (pra nos transportar)... vem ( ) "quer jornal?" "quero Nice Soir "... olha que eu suei pra encontrar a notícia... era pequenininha... num cantinho... notícias internacionais... notas internacionais... tava lá... que tinha sido cassado... tal... governador Ademar de Barros... de São Paulo... a revolução tinha cassado a ele... uma coisinha mínima... insignificante... eu não sei... aquele devia ... acompanhar o mundo então ele viu... e veio nos contar... mas se não fosse aquilo nós passávamos... nós chegávamos no Brasil com essa surpresa... porque... não... não dava pra ver nada...
D: em Lisboa... eh... perceberam diferença em relação a... a horários e... e à própria vida... nessa época que estiveram lá...
L1: naquela época?
D: é...
L2: não... não vimos não...
D: durante a noite... ( ) comparando com outras cidades européias...
L1: ah... sim... mas era a mesma coisa... nós jantamos lá tarde... em Lisboa nós jantamos até...sempre se comia tarde... não era a mesma coisa... como nos outros países do mundo... você deve se lembrar que nós comemos com a M. e a A. e a L. ...
L2: mas não era assim tão tarde...
L1: ah não... dez horas da noite... saímos pra jantar tranqüilamente... em Londres nessa época mesmo... dez horas da noite você caçava um restaurante...havia diferença... sempre na Espanha e nessa época em Lisboa... nós não nos demos conta disso porque nós começamos a viagem pela Espanha e Portugal... então... isso aí pra nós não chamou atenção... porque depois é que nós vimos que o resto do mundo era diferente de lá... mas quando nós estivemos lá... pra nós isso não importou... não é? porque... mais ou menos era igual a gente aqui... que nós quando saímos pra comer fora aqui no Brasil... a gente sempre sai nove e meia... dez horas da noite... em casa não se come essa hora... mas no restaurante você só come essa hora né? porque essa hora é que os restaurantes estão cheios... se você for jantar oito e meia nove horas da noite aqui não tem ninguém... então essa hora é que você encontra...os restaurantes cheios ( ) os restaurantes bons... você vai encontrar... se você quer se divertir... badalar... você vai encontrar gente essa hora da noite... né? então nós não achamos nada demais... depois... é que nós vimos... aí que nós fomos sentindo a diferença do resto né? porque até pra ir ao Lido... nós saímos do Lido às nove e meia da noite... não foi?
D: mas...
L1: [
e não fomos de metrô nem nada... não tinha nada com isso não... mas o show acabava tarde... mas tinha um show mais tarde...
L2: sim... mas a cada ( ) em virtude dos garçons... dos artistas de tudo... ( ) e pegar o último ( )...
L1: [
mas quando chega a época de verão mesmo de turismo... aí tem um show mais tarde... aí eles têm...( )...
L2: [
não sei se tem não... não sei não...
L1: [
tem sim... no Lido tem...
L2: eu acho que não tem não...
L1: eu garanto que tem...
L2: eu acho que não tem não...
L1: eu garanto que tem...
L2: [
são dois espetáculos... um às sete e pouco... e um às nove e pouco...
L1: não eu garanto a você que tem porque num... num cursinho que eu fiz aí de... ah... daqueles cursinhos... não sei se vocês se lembram disquinhos que a Bloch Editora andou fazendo de inglês e de francês... então eu li isso...que quando... que o Lido quando chega na época de temporada de turismo... tem um show uma hora da manhã... mas é só pra turismo... só pra turista... quer dizer... mas tem...
D: aqui no Rio vocês costumam eh... sair à noite?
L1: saímos... sexta e sábado em geral nós saímos...
L2: é... porque durante a semana não dá pé... durante a semana a gente chega cansado não é? ( )...
L1: então não dá...
L2: [
( ) quer saber de descansar...
L1: ficar em casa...
L2: [
ver um pouco de televisão... ler um pouco de jornal... e pronto... no dia seguinte começa a (função) cedo... mas
sexta-feira pra mim é o melhor dia...
L1: ( ) dia que você fica com toda corda... ( )...
L2: [
sábado... sábado não se faz nada... gosto mais da sexta-feira à noite que do sábado...
L1: e ninguém gosta de domingo né? ((riso)) que depois vem a segunda-feira...
D: como é o seu dia normalmente em termos de horário?
L2: em termos de horário?
D: é...
L2: chego no escritório dez horas... mais ou menos... dez dez e meia... meu horário... até seis e meia por aí...
L1: porque ele só trabalha no escritório dele mesmo... quer dizer... então não tem horário de trabalho... a não ser o que ele se determina no escritório está entendendo... o que ELES se determinam... porque é um grupo...
D: mas o senhor costuma acordar que horas?
L2: ah... sete e meia... às vezes depende muito sabe?
L1: mas entre... nunca... nunca depois de oito horas a não ser assim se vai dormir muito tarde... duas... duas e meia três horas da manhã... então excepcionalmente às vezes a gente acorda nove horas é um escândalo... porque nós acordamos cedo...eu desde mocinha... podia ir a baile... podia ir ao que fosse... mais tarde que eu acordava era nove horas da ... manhã... não não tenho hábito de dormir até tarde... já é da minha natureza... e ele também... de modo que nós acordamos cedo... em geral sete e meia nós levantamos... tomamos café quinze pras oito... e a manhã corre...
L2: ouvimos geralmente o jornal de sete horas ainda deitado... na cama...
L1: na cama... ouço rádio de sete a oito horas da manhã... sete horas eu ouço a Rádio Globo... sete e meia a Rádio Jornal do Brasil... quinze dez pras oito ouço a Dinah Silveira de Queiroz... oito horas eu ouço a Rádio... Rádio Nacional ( ) mas essa hora é sagrada...
D: e horários de refeições... vocês têm horários...
L1: normal...
D: ( ) qual é o horário?
L1: de um modo geral nós temos... sábado e domingo uma uma e meia da tarde... em pleno verão não tem hora né? esse dois dias porque vai-se pra praia... manda a empregada sair... nem se preocupar com a gente pra nós não nos preocupando com ela também... e não se janta... sábado e domingo é lanche e tal... não tem jantar... mas nor/ fora isso não... fora isso eu almoço meio dia uma hora... ele não que ele almoça na cidade... mas eu almoço a uma hora da... e nós jantamos às sete... porque a empregada vai pro MOBRAL... ela estuda... então sete horas religiosamente nós jantamos e oi/ dez pras oito quinze pras oito ela sai pra estudar... então... como eu acho que ela... quando ela veio pra aqui ela pediu... eu acho muito justo que ela queira aprender e estudar etc. ... então faz-se isso... janta-se às sete horas da noite ( )...
D: vocês costumam ir à praia ?
L2: agora há um ano praticamente não vamos...
L1: é mesmo... eu tô branca... você não está vendo como eu estou branca feito uma perereca...
L2: [
é um ano praticamente...
L1: que eu tive doente... não sei um problema... ainda hoje eu fui ao médico... um problema sabe? de... de... de de... um exame que dá sempre alterado... eles dizem que eu tenho alguma infecção mas não descobrem qual é nem o que é nem nada... então me aconselharam a ficar uns tempos sem ir à praia... não adiantou porcaria nenhuma eu vou começar a ir à praia outra vez... porque que que lhe adianta você ficar de castigo não ir à praia né e continuar... hoje eu fiz um exame agora... há um ano atrás o exame era exatamente a mesma coisa ... ( ) "você devia ter trazido pra comparar"... aí eu comparei em casa com os outros mesma coisa... há um ano... então...
D: vocês gostam de praia?
L1: eu gosto... adoro... eu gosto de praia e de cair n'água... com medo do mar ((risos)) mas não me contento em ir à praia sem me molhar... inverno ou verão... não interessa ( )... agora durante o inverno geralmente nós vamos à praia sábado e domingo... esse ano é que nós não fomos por causa disso...
D: e costumam ir em que horário?
L1: ah...
L2: [
ah... no pior horário...
L1: é...
L2: onze e meia...
L1: o mais contra-indicado...
L2: onze e meia... meio-dia é a hora que geralmente nós vamos pra praia...
D: por que contra-indicado?
L1: contra-indicado porque o... raios ( )...
L2: [
o sol...
L1: não são os mais indicados... já saindo... (como é?) já saindo do infra-vermelho pro ultra-violeta ou vice-versa... eu nunca sei direito esse negócio...enfim... ah... o... no verão quando eu começo a ir à praia eu começo a ir cedo... mas daqui a pouco já é uma amiga que telefona encontro uma amiga na... "ah não amanhã você vem mais tarde pra gente bater um papo" no fim passa do horário de onze pra uma ( )
D: e ficam até que horas?
L1: até uma e meia... no verão ( )...
L2: [
umas duas horas...
L1: não... é... isso sábado e domingo... eu não... eu em geral eu venho mais cedo... ( )...
L2: não gosto de ficar muito tempo ( ) não... duas horas pra mim é o máximo...
L1: é... eu também... me caceteia muito sabe? eu acho muito enjoado ficar muito tempo... eu gosto de ir à praia... andar... cair n'água... e vir-me embora... mas às vezes a gente encontra um grupo grande bom tal... então... aí ficamos conversando né? e esquece do sol... do tempo... de tudo...
D: cai n'água e faz o quê na água?
L1: não nado nada... mergulho ((riso)) e saio e... mergulho e saio e nada de nadar...
D: porque há todo um vocabulário a respeito da... né? da...
L1: de quê?
D: da água ( )...
L1: [
jacaré... essa coisa toda não... não faço... não faço jacaré... não... não sei lá eu tenho medo... ( )...
L2: [
toma banho de areia mesmo...
L1: não eu não... você sim... ((riso)) o meu banho é muito menos de areia do que o teu... ( ) mergulha...
L2: ( )
L1: não ( ) mas eu mergulho... mergulho ( )...
L2: [
ele lá e eu cá...
D: se não mergulha como é que faz então?
L1: ah ele se abaixa... molha e tal... toma um banho de senhora ((riso))...
L2: não quando... o mar tá calmo e tudo aí( )...
L1: aí ele mergulha... e não mergulha... ele tem aflição de mergulhar... eu não... eu mergulho...
D: vocês fala/ falaram em mar calmo... ( ) no Rio de Janeiro não está calmo...
L1: não...
D: se lembram de... de alguma época ( )...
L1: ( ) depois que mudaram Copacabana a ressaca melhorou... porque no começo esteve muito forte ainda mas depois que houve o afastamento do mar... não sei se... foi coincidência ou o que foi... mas a ressaca melhorou você não acha? não tem essa impressão? você mora aqui no Rio há muito tempo?
D: moro... vinte e quatro anos...
L1: ah então você ( )...
D: como é que vocês... que vocês descreveriam a ressaca... o que é?
L1: as ondas enormes... estourando... puxando corrente de... de... de mar... não sei outra coisa que eu podia dizer...só isso...
D: porque será que tem esse nome hein?
L1: ressaca? eu sei lá... você sabe?
L2: eu também não sei não... nunca perguntei...
L1: eu não tenho nem idéia de por que é que é que é ressaca...
L2: ( )...
L1: e também não sei por que que quando se tem pileque se tem ressaca... eu acho que é porque enjoa... porque quando você viaja de mar... o... o se o mar tá bravo ah você enjoa tal... bota ( ) então por isso... eu tenho a impressão que é por isso que se tem ressaca... só pode ser né? porque... não entendo por que quando se bebe demais se tem ressaca no dia seguinte e porque que o mar tá de ressaca também não sei...
D: e vocês conhecem o movimento do da das águas do mar ( ) há toda uma modificação
L1: [
eu não ( )...
D: durante o dia...
L1: baixa maré... maré alta... maré baixa...
L2: [
( )
L1: eu também não conheço nada disso... meu filho é que conhece ( ) Colégio Naval... de modo que ele sabe tudo... sabe a corrente... sabe se tem buraco... "ali tem um buraco... não entra... tem uma boca"... ah ele sabe essas coisas todas mas ele diz...
D: a boca... o que é?
L1: boca é um buraco... é um lugar onde você entra e te puxa... sabe? esses lugares que você entra e que... e que não consegue sair dali... então eles chamam de boca... mas isso é terminologia lá do Colégio Naval... então ele não... "cuidado... não entra aí... não mergulha que você cai aí... num buraco... e entra numa boca"... não é?
D: vocês têm contato com algum surfista?
L1: não... não...
D: [
não tem nenhum surfista na família?
L1: não... nenhum...
D: eu ia perguntar sobre o vocabulário dos surfistas... tem toda uma...
L1: eles têm mas eu não conheço... eu tenho... um um primo que é mergulhador... que faz pesca submarina... mas eu não tenho muito contato com ele...
D: [
mas ele não é surfista também...
L1: não... surfista não... mergulhador... ( ) mas ele não ... pois é... isso que eu ia dizer... e depois ele já é de mais de trinta anos... de modo que não está muito enquadrado na terminologia da juventude... a juventude dele já está um pouco mais...
D: e a respeito da lua?
L1: que que tem?
D: fases da lua... também há toda uma tradição sobre a lua ( )...
L1: eu tenho a impressão que influ/ eu tenho a impressão... que influencia muito na maré... né? você... sempre quando o mar tá muito calmo... é... está em cheia... sempre... é raríssimo você ver ressaca... cheia... sempre o mar tá bom... tanto que às vezes... nem sei que lua nós estamos nem coisa nenhuma... mas o mar está muito bom... devemos estar na cheia... ou saindo ou entrando na cheia... ( ) mas eu não... não conheço muito...
D: não corta cabelo de acordo com a lua...
L1: ah... isso corto... lógico... evidente... gosto de cortar cabelo na lua cheia... nem na minguante... nem na crescente... sempre na lua cheia... porque...
L2: esse negócio de cortar cabelo em determinadas fases da lua...
L1: [
mas você pensa que isso não é verdade?
L2: mas isso surgiu muito recentemente...
L1: não senhor... não senhor... não senhor...
L2: há coisa de quatro ou cinco anos atrás ninguém falava nisso...
L1: [
não senhor... bem... não...
L2: eu nunca ouvi ninguém falar disso... antes...
L1: [
você pode nunca ter ouvido... mas eu desde garota que sei que a gente não cortava o cabelo na... na...
L2: primeira vez que eu (ouvi) isso foi há quatro ou cinco anos atrás que começou...
L1: pra você... NÃO... isso aí foi quando começaram a inventar... de que cortando o cabelo... sistematicamente um método de um camarada aí... um médico... se lembra... que inventou... se você cortar sempre o cabelo numa determinada lua que o cabelo... quem tava perdendo cabelo... ficando careca... que o cabelo nascia... isso que foi de cinco anos mais ou menos pra cá... mas esse negócio de cortar cabelo e... mulher sempre teve isso... eu desde que me entendo... desde que corto cabelo... cortava cabelo antigamente que eu tinha cabelo... enorme crescia a beça na minguante ( ) "Deus me livre que cresça mais"... que corta e cresce... corta e cresce... então a gente cortava sempre na minguante... mas agora... depois que a gente vai ficando mais velha... o cabelo já não é tão... não tem tanta tanta força... ( ) não tenho muito cabelo não... tô ficando careca... em relação ao que eu tinha então eu corto na lua cheia... pra ver se enche...
D: conhece outras histórias relativas à lua?
L1: não...
D: a lua é uma ... há mil histórias populares...
L1: [
bom ( )...
D: ( )
L1: ah tem... tem em questão de gestação... em questão de... de... a lua tem influência... em partos e tudo mais... mas eu não conheço ( )...
D: ( )...
L1: você tem que responder... você sabe ( )?
L2: não... te confesso que...
L1: cabeça ( ) ((risos)) ( )...
D: ( ) houve uma ( ) pessoa que tinha sido roubada em Londres ( ) foram apanhar a carteira...
L1: [
ah é ((risos))...
D: quando nós fomos analisar descobrir onde é o ( )...
((superposição de vozes)) ( ) ((risos))
L1: ( ) exatamente... naquela hora eu não prestei atenção mas agora que ele... fez afirmativo com a cabeça eu digo "não serve... tem que falar"... não (grava) o resto não (grava)...
D: vocês costumam passar o fim de semana fora do Rio? nunca passa:ram... num lugar mais afastado?
L1: [
não muito raro...
D: porque... no Rio não se vê a lua ( ) não se vê né?
L2: é muito raro nós passarmos o fim de semana fora do Rio... às vezes nós vamos... uma vez por... não uma vez por mês geralmente nós vamos... a minha sogra tem um sítio em Rio das Flores... então nós vamos lá... e lá a lua é uma beleza... ah... noite de luar... ou então céu de estrela também... é uma coisa inesquecível...
L1: você... olha ( )
L2: [
e é um silêncio...
L1: ( ) não é? não (acha a mesma coisa?)... porque... onde não há claridade... das cidades... você sente uma intensidade das... das estrelas no céu... é uma coisa mais linda né? aquelas nebulosas ( ) é lindo... eu acho uma beleza...
D: vocês conhecem estrelas... nomes... sabem reconhecer por acaso?
L1: ( ) mamãe conhece todos... eu conheço Júpiter... conheço Vênus... conheço a o também se não conhecesse o Cruzeiro do Sul... as Três Marias...
L2: essas aí essas são...
L1: é... e ( )...
L2: essas são por demais conhecidas...
L1: ( ) que faz parte de uma constelação... se não me engano... ( ) não é... é... mamãe que conhece bem... gosta imensamente... de modo que... ela sabe... e na fazenda está sempre nos mostrando... no verão Vênus nasce linda em frente à... à à varanda da fazenda... sabe... da nossa casa lá... mas ela nasce tão eh... ela nasce não... ela DEITA-se... ao contrário... ela deita cedo... entendeu? ela já está se deitando quando está escurecendo... e a... e a luz dela é tão intensa que dá um sombreado na va/ na varanda... com/ quase como a lua... é um pequeno luar... é lindo... uma beleza... agora nas noites que não tem lua ( ) (o sol) ... o céu é lindo...
D: alguma vez viram fenômenos relativos à lua? ( )...
L1: [
( ) estrela cadente só que eu vi ah estrela cadente ( )...
D: e como é ( )?
L1: ah é uma coisa linda... você de repente ( ) caiu corre... é uma beleza né?
D: existem tradições também ( )...
L1: [
( )é... que você faz um pedido... os seus pedidos... cada vez que cai uma estrela... mas eu pedi muita coisa... nunca consegui nada... ((riso))
D: mas outros fenômenos relativos à lua e ao sol...
L1: ah sim eclipse... mas eclipses já vi vários... na fazenda então vê-se... né... inúmeras vezes vi eclipse total do sol... vi eclipse da lua... ( ) uma coisa linda... vi muitas vezes... desde criança... que eu via eclipse... via... às vezes ficava até acordada até às tantas pra ver o eclipse... pra ver um fenômeno desses... agora nunca vi foi cometa nenhum... isso eu nunca vi... porque há uns anos atrás... há poucos anos atrás teve um né?
L2: ficou uma... durante uma porção de tempo...
L1: eu não consegui ver...
L2: eu também não...
L1: que eu tava aqui no Rio e aqui no Rio não se vê nada...
D: vocês usaram aparelhos especiais?
L2: não... não...
L1: pra ver o quê? eclipse ( ) ou não?
L2: [
não... especiais... não não... cometa...
L1: cometa que você diz? não... não... também...
L2: ( ) nós nunca saímos de casa...
L1: pra ver nada...
L2: pra ver nada... a gente chegava na janela daqui e procurava ver... não estava vendo desse ângulo... () e acabava... pronto...
L1: mas eu vi eclipse aqui desta janela...
L2: ah bom...
L1: [
por incrível que pareça eu vi... eclipse aqui da minha janela... houve... há uns dois anos... houve eclipse total... e nós vimos daqui... até a minha empregada ficou tão impressionada... ( ) "ih... tá parecendo um queijo preto" ((riso)) ela ficou impressionadíssima...
D: na fazenda existem aparelhos?
L1: não... não... eu tinha um tio... irmão do meu avô... que tinha verdadeira agonia... então ele tinha... ah... luneta... e:... como é? ai não me lembro o nome do... daquele outro aparelho... que você vê... não é luneta... além da luneta tem...
L2: telescópio?
L1: telescópio? não... não é telescópio... é?
L2: ( )
L1: acho que não é telescópio não... mas ele tinha um... não me lembro agora... sei lá... há tanto tempo que eu não (digo) certas coisas que eu não me lembro mais...
D: e alguma vez a senhora chegou a ver?
L2: chegamos sim...
D: a usar esses aparelhos?
L1: a u/ eu fiz... menina ainda... ele morava em Santa Teresa aqui no Rio... e: uma vez nós fomos lá e ele nos mostrou... ai é tão bonito... mas é lindo... e você tem a impressão que tá tudo perto... não é? através da luneta... eu vi pela luneta... muito bonito...
D: o senhor viu alguma vez?
L2: não... nunca... sempre o que eu vi foi a olho nu...
L1: não... eu vi... estrelas ele mostrou... inclusive uma vez que... que... que ele disse que era o quê? uma nebulosa...você a olho nu não via nada... e botava a luneta e você via... aquela poeira de estrelas...
D: acompanharam na... na... ah... ( )?
L1: a descida na lua acompanhamos... acompanhamos e aqui em casa aconteceu a coisa mais interessante do mundo... nós vendo... assistindo... todos assistimos aqui a hora que o homem desceu na lua... e eu chamei minha empregada e a filha dela... que tinha nessa época... eu acho que uns quinze ou dezesseis anos... sei lá... não me lembro... e ela veio e olhou e ficou... e eu dizendo a ela... "olha ( ) fantástico" porque aqui da janela nós víamos a lua... e nós chegamos na janela e víamos a... olhávamos a lua... então eu dizia "é incrível o que a gente tá vendo "... até hoje eu me arrepio com isso... "que a gente tá vendo a lua ali... e na televisão tá vendo o homem descendo nela né?" ela olhava e dizia assim... "eu não acredito... isso é mentira eu não acredito... não havia ninguém que fizesse ela acreditar"...
L2: ( )...
L1: "isso é mentira... isso é mentira... eu não acredito"... não houve jeito... não acreditou e até hoje não acredita... que o homem tivesse descido na lua... que ela estivesse vendo aqui na televisão... a menina... a mãe não... a mãe aceitou... achou ela burríssima... ficou furiosa... mas ela não aceitou...
D: e que impressão o senhor teve? se lembra desse dia?
L2: ah lembro perfeitamente...
L1: ah impressionante... eu também... uma coisa indescritível né?
L2: [
depois da primeira vez... não se liga mais...
L1: é
L2: é o mal... vê-se a primeira vez... despertou aquele interesse... hoje em dia...
L1: [
a segunda vez já não... não...
L2: já se acha a coisa mais normal o homem descer à lua... chegar na lua e tudo...
D: mas essa primeira vez... como foi?
L2: ah bom... essa primeira vez... foi a/ aquela expectativa... de:...
L1: [
de que vai encontrar alguma coisa na lua...
L2: [
de que vai encontrar alguma coisa lá ou não... se vai depois também conseguir voltar... aquele negócio todo... não é? tudo isso...
L1: eu nunca acreditei que houvesse... vida igual à vida humana... porque o homem só imagina tudo em função de si próprio... então...
L2: eu pensei que houvesse alguma coisa ... alguma vida lá na lua...
L1: [
eu não... eu nunca acreditei... como... bom alguma vida
pode haver...
D: [
alguma vida como? de que maneira? (o que significa isso... alguma vida?)
L2: sim algum...
L1: qualquer demonstração de ser vivo... (o homem) se vê planta... ou água... ou qualquer coisa que propiciasse a vida né? mas... bom isso é o que ( ) mas nunca que você fosse encontrar alGUÉM como... marcianos e lunáticos ou... e... ou... qualquer coisa...
( )
L2: que em outros planetas...
L1: tenha vida? mas nunca... o homem só imagina... só sabe imaginar uma coisa semelhante a si... pode haver mas podem haver monstros... podem haver...
L2: [
monstros pra nós... pra eles não... pra eles nós também somos monstros...
L1: [
evidente que nós podemos ser monstros... mas
L2: [
pra eles...
L1: sempre que se... que imagina... que o homem faz qualquer ficção científica ele bota um homem anãozinho ou um gigante mas sempre em formato de homem... é contra isso que eu me bato... porque eu acho que... por quê? por que essa
obrigação de ter que ser espécies humanas?
L2: [
e se esse Universo é uma coisa tão grande... ( ) será o único planeta...
L1: habitado?
L2: habitado...
L1: por gente?
L2: é...
L1: fomos nós que chamamos de gente... demos esse nome...
L1: eu acho... eu pra mim acho...
L2: ( )...
D: [
o senhor acredita que haja o quê exatamente?
L2: eu acho que... há um sistema de vida... organizado... pode haver perfeitamente...
L1: mas até hoje ninguém descobriu nada... e quando foi na...
L2: [
mas não se conhece
L1: [
e quando foi na... mas quando foi na lua...
L2: mas não se conhece nada... a LUA... em relação aos outros planetas está pertíssimo aqui do Rio... aqui do Rio... aqui da Terra... ((risos)) está pertíssimo... agora o russo ou americano não disparou um foguete que vai caminhar durante anos e anos e anos pra chegar lá...
L1: isso já é bobagem porque quando voltar não tem mais ninguém vivo
( ) ((riso))
L2: [
a uma velocidade ( )...
L1: então que que adianta isso?
L2: isso é o que eu digo... esse Universo é uma coisa enorme...
L1: ah eu sei... um... uns dias antes sabe? do homem descer na lua... nós fomos num grupo à Lagoa... você deve se lembrar... e foi uma discussão louca... todo mundo... "( ) sua cética... não acredita... não sei o quê... porque tem... vão encontrar seres humanos... vão encontrar seres... criaturas não sei o quê"...
( ) eu disse... "du-vi-do"... mas eu tava tão tranq"uila que eu não tive nem susto de que o homem descendo na lua não encontrasse nada... e não encontrou mesmo... e no entanto estavam todos fazendo romance lá... de que ia encontrar... eu acho que é romance... ( )
D: e esses objetos... que volta e meia aparecem na imprensa?
L1: pra mim isso é tudo isso na mi/ no meu entender... fraco entender... tudo isso é experiência... que os russos e os americanos fazem... se eles mandam um homem à lua... num dirigível... que aqui da Terra... numa mesa eles estão controlando... e se comunicando... por que é que eles não podem estar mandando pra sondar... pra experiências... pra... conhecimento de mil coisas...
L2: [
é... isso também acho...
L1: esses... outros dirigíveis... é a coisa mais simples do mundo... não acreditar em disco voador... acredito mas... perfeitamente como uma coisa... uma experiência do ho/ científica do homem... tá entendendo? ou russo... ou americano... que são os dois que dominam... e dividiram o mundo entre eles... e que (fazem) as coisas... estão adiantadas a esse ponto... não tem... pra mim não tem a menor dúvida... jamais esperaria... que visse um disco voador... uma coisa qualquer pra pousar ali e que fosse acreditar que ía sair um marciano ou qualquer coisa esquisita lá de dentro... não tinha o menor susto eu não agora intensidade de luz tudo isso é possível... porque eles... lógico eles fazem o que eles quiserem... inclusive até pra espantar... pra assustar... pra mil coisas... e uns aos outros... eles entre eles... porque... a guerrinha deles é boa... de modo que eles fazem... é ou não é? mas não acredito em... em coisas extra-terrenas... não...
D: já... já devem ter lido na... na imprensa... que ( ) os cientistas estão observando que há uma modificação cada vez maior no clima... da terra em geral...
L1: a gente ( ) científico né? mas lê ( ) você repara que no Bra/ agora mesmo em dezembro nós tivemos frio né?
L2: no nosso tempo de colégio... que eu me lembro... dia ( ) de setembro... ( ) tava um calor horroroso... no verão... já estava em pleno verão...
L1: [
em geral... sete de setembro também... desmaia:va... o pessoal que desfilava... eu me lembro que meu irmão teve uma parada de sete de setembro... nós fomos assistir
L2: [
dezembro... dezembro era um mês quentíssimo...
L1: é... quanta gente... ( ) com uma roupa... com calor... com aquele sol e tudo mais... mudou completamente... acho que o sol tá esfriando... tenho essa impressão...
D: como é que explicariam isso ( )?
L1: ah não sei...
L2: o fim do mundo vai ser...
L1: ah isso agora também... são outros romances que eu não sei...
L2: haverá o completo esfriamento...
L1: da Terra...
L2: da Terra né? ( ) presunção ( ) cada dia que passa é menos um dia na existência...
L1: ah bom isso é lógico... na nossa...
L2: e do mundo também...
L1: mas do mundo... a gente não sabe da existência do mundo...
que que ( )...
L2: [
( ) mas que há uma diminuição há...
D: não haveria uma explicação científica... e lógica... dessa modificação do clima da... terrestre... em função dessas experiências todas que estão sendo feitas?
L1: ah n~~ao... eu tenho a impressão que não... inclusive... há pouco eu falei no telefone com a... uma pessoa... uma parente...
L2: [
porque eu acho que essas experiências que estão sendo feitas... isso em relação ao mundo não representa nada...
L1: [
é nada...
L2: ( ) nada... eu acho... (estouro) de bomba atômica... essas coisas todas...
D: o senhor acha que não al/ não altera nada?
L2: ( )... em relação ao mundo...
L1: não... estouro de bomba atômica eu acho que ah... o... lógico que... o... o mar... onde eles estão estourando... isso tudo... eles são... ah...
L2: [
sim... sim... mas isso... sim... que que tem?
L1: eles estão contaminando... que que há?
L2: eu sei... eu sei...
L1: existe... mas eu acredito...
L2: mas eu acho que em relação ao Universo...
L1: sim mas acredito perfeitamente...
L2: [
isso é uma migalha...
L1: não mas pera aí... pode... pode... eu li um artigo... aliás muito interessante no Jornal do Brasil... dizendo isso... que o homem está se autodestruindo... porque... ele está... radioativando a atmosfera... e as águas e etc... então ele está matando os peixes... e ele está trazendo às vezes... peixe contaminado pro homem comer e etc... então tudo isso tem influência... agora... mas não que vá modificar o sei lá... pode modificar... apressar o fim do mundo... eu li um artigo muito interessante... de um cientista americano sobre isso... dizendo isso... e eu achei... muito lógico... porque... ( ) são os mais danados né? são eles os primeiros que ( ) estão aí num ( ) toda hora a estourar bombas e não estão ligando a mínima... pro que pode acontecer...
D: tá bom...