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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE DOIS INFORMANTES (D2)
Inquérito 269
Tema: Cidade e comércio. Transportes e viagens.
Duração: 1h 20min
Data do Registro: 07/04/75
Dados dos Informantes:
Locutor 1 (L1): sexo feminino, 55 anos, carioca, pai baiano, mãe carioca, formação universitária: Belas Artes e Didática, área residencial: Centro e Zona Sul.
Locutor 2 (L2): sexo feminino, 36 anos, carioca, pai carioca, mãe petropolitana, formação universitária: Geografia, área residencial: Zona Sul.


Som Clique aqui e ouça a narração do texto


D: o que acham do Rio de Janeiro como cidade?
L1: a cidade é muito turbulenta... gostaria de morar numa cidade... mais calma... como Teresópolis... por exemplo...
L2: eu não sei... justamente apesar de toda essa turbulência esse movimento todo... eu gosto de passar no máximo assim um mês fora... umas férias... mas no fim eu já começo a ficar assim aflita já começo a ficar nervosa nervosa porque não tem aquele movimento assim ( )
L1: [
talvez... talvez o que aconteça comigo é já muita vivência já... eu já estou cansada do ambiente... você é bem mais jovem do que eu... agora eu já procuro paz... tranqüilidade... não é?
L2: não eu sinto falta disso... porque ainda mais a gente trabalhando... principalmente o dia inteiro... horário integral... essa coisa toda... né? e isso cansa... e eu com filhos pequenos... duas meninas pequenas... tem realmente...( )
L1: [
é tem problema também...
L2: mas de qualquer forma no máximo um mês eu já estou começando a ficar nervosa... pra vir pro movimento... que a calma já está me perturbando ((riso))
L1: eu já consegui tirar umas férias de dois meses... e não me senti assim... entediada... não... de estar em Teresópolis... gosto muito de jardinagem... gosto mais da vida simples e sol ( )
L2: [
sim... eu também... eu pra sair assim...
L1: ( ) não tenho muita necessidade de vida noturna... nunca tive ( )
L2: [
eu realmente também não tenho...
L1: só que eu gosto... de visitar as famílias... vizinhas próximas... ir até a cidade fazer compras... que a nossa casa é um pouco retirada do centro... então isso tudo me dá muito prazer sabe... eu prefiro assim...
L2: (e agora) eu realmente... pra sair do Rio em férias... então eu não gosto assim... de ir pra uma cidade propriamente... de ficar na cidade... então eu quero ir... pro: mato... pro: uma: interior... uma coisa assim...
L1: [
é...
L2: pra então fazer totalmente assim... uma higiene mental completa
L1: [
descontrair...
L2: né? talvez seja essa... a diferença muito grande... a coisa ali... né? que vai me... causar muita diferença
L1: [
é causar ( )
L2: eu saio daquela confusão toda pra ficar num lugar ( )...
L1: [
apesar disso... eu gosto ( ) apesar de ser muito inibida e: não ter oportunidade de viajar muito... eu gosto de conhecer pessoas... de lidar brincar com as pessoas... adoro a juventude... pra mim seria horrível viver só entre adulto... gosto muito também de... da infância... a prova é que eu tenho dois netos assim... que sou... completamente gamada por eles ( )...
L2: [
( ) ((risos))
L1: e eles parece que eles por mim também
L2: [
( )
L1: que a outra avó é muito austera... e eu não... me faço criança
L2: [
exatamente... é
L1: ( ) eles me adoram ( ) e isso eu digo com muita vaidade...
L2: eu tenho...
L1: mas gosto de (conhecer) as pessoas e gosto muito de estar perto de gente jovem... gosto de (usar) as gírias que eles usam... às vezes quando estou em sala de aula... eh... (eles dizem) "'e difícil saber onde é que a senhora está... que a senhora nunca está no seu lugar"... eu estou sempre lá na ( )
L2: [
( )
L1: e falando na gíria com eles também... "eu lhe ensinar esse macete"... eles acham muita graça ( )
D: [
sim... como é esta cidade para as crianças?
L1: eu acho... (como eu disse antes) a minha opinião é muito... muito turbulenta ( )
L2: [
( ) muito ingrata... (também)
L1: muito ingrata...
L2: ( ) muito ingrata... porque a criança vive muito tolhida... a criança aqui no Rio de Janeiro... na (sua maioria) vive dentro de uma apartamento... não é? ( ) a criança tem uma casa... tem um jardim... tem um quintal...
L1: (não sabe) ( )
L2: pra ela se expandir e tudo mais... não é... as férias que eu passo fora com as minhas filhas... durante o dia as minhas filhas ( )...
L1: [
( )
L2: não é? se expandem... eu só vejo na hora de banho... das refeições e de dormir... não é? agora dentro de casa... num apartamento... o tempo todo... "não faça isso... não faça aquilo"... não sei que mais ( )
L1: é como um passarinho numa gaiola... sabe?
L2: exatamente pra criança é... ( ) sem dúvida...
L1: [
mas... a primeira vez... ( ) quando todos os meus filhos já estavam mais ou menos crescidos... talvez assim na faixa de cinco... seis anos... foi a primeira vez que nós tivemos coragem de sair do Rio... pra (fazer) uma estação de águas em Lambari... então fomos eu... minha mãe... meu marido e as duas crianças... e o primeiro dia que nós fomos ao parque... o menino principalmente... ele corria sem direção
L2: [
aturdido... exatamente ( )
L1: corria sem direção assim ((ruído)) essas crianças parecem que saíram do apartamento muito apertadinho ( ) é exatamente o que se passa... né? e eles então... nesse... eh... foi a primeira oportunidade que eles tiveram assim de se expandir... e tudo mais... outra coisa muito interessante foi uma vez que nós passamos... estávamos passeando de carro pela Barra da Tijuca e vimos uma casa muito bonita com um jardim e as crianças... da família brincando ali... aí minha mãe perguntava ainda pro pra esse meu filho... "hein C. você gostaria de ter uma casa assim... com jardim?"
L2: [
claro ( )
L1: e a reação foi essa... "ah vovó... qual é a criança que não gosta de uma casa com jardim?"
L2: a minha... a minha vive me pedindo... "mamãe... quando é que você vai comprar uma casa que tenha um JARDIM na frente pra eu brincar com terra e com água?" aí eu brinco com ela... "vamos esperar a loteria esportiva ( ) do contrário não dá... tá bom? ((risos))
D: ( ) o bairro em que você mora?
L2: eu moro... eu moro até que num bairro... o recanto do bairro que eu moro é relativamente tranqüilo... eu moro nas Laranjeiras... no fim da rua General Glicério... então tem assim quase... é quase que uma praça... porque é um trecho muito arborizado com calçadas largas...
L1: [
eu conheço... é muito bom...
L2: não é? então umas calçadas no meio cheias de canteiros... e realmente ali embaixo fica muita criança sempre de manhã e tudo... mas então fica aquela coisa muito condicionada... é hora de descer pra ir lá pra baixo... então aquela horinha ali a criança vai brinca um pouquinho... já tá na hora de subir
L1: [
na hora de subir... é...
L2: não é? aí já vai pra dentro de casa a criança (tolhida) ali dentro... pra ter o que fazer... então desce né? ( ) os brinquedos todos dentro de casa... aquela coisa TOda no chão... acaba não brincando com coisa nenhuma... porque não é aquilo que quer
L1: [
não é... eles estão contrariados...
L2: não é? vem danado da vida de ter que ter subido ali naquela hora...
D: e a infância de vocês foi assim também?
L1: a minha...
L2: [
a minha não... não... a minha não... eu fui pra... pra apartamento com dezoito anos...
((interrupção da gravação))
D: ( ) (falando) da infância...
L2: exato... eu fui morar num apartamento com dezoito anos... já moça... fazendo vestibular pra faculdade... de maneira que eu... pessoalmente... não senti muito isso não... eu... em criança... adorava brincar com minhoca ( )... não é tatuí não... é aquilo que dá embaixo de pedra...
L1: ah... sei... bolinha né?
L2: é a gente mexe ele faz uma bolinha ( )
L1: gongolo...
L2: é... então era aquilo ali... no... no galinheiro também... mexia com galinha eu... e EU pessoalmente não tenho assim nada que reclaMAR...
L1: eu também não tenho muito que reclamar da minha infância não...
L2: [
foi sempre em casa ( )
L1: eu... ( )
L2: era em Botafogo... grande parte... e na Tijuca... e eu estive: três anos em Bonsucesso... porque era... lugar próximo do trabalho da mamãe... os trê/ meus três primeiros três anos de vida... né? que mamãe na hora de almoço ia em casa ( ) que mamãe trabalhava fora e justamente também em casa... então tinha possibilidade de ter bichinho... ter galinha... ter pombinho... ter cachorrinho... essas coisas todas...
L1: árvores... né?
L2: né? que a criança... já as minhas tinham um gato em casa... mas o gato é uma bicho muito arisco... não é? ele tá sempre com aquela unhazinha querendo botar de fora quando a criança vai mexer... acabamos tendo que desfazer do gato... que o gato estava ficando meio furioso... então agora elas têm... dois periquitos... que que eu vou dar pra elas num apartamento? né? cachorro eu não quero ( ) cachorro...
L1: [
peixinho no aquário ((risos)) peixinho no aquário...
L2: peixinho no aquário elas querem pegar o peixinho...
L1: peixinho não dá certo...
L2: não dá que a tia delas tinha e elas queriam pegar o... peixinho na mão...
L1: [
a minha infância também foi muito descontraída... porque fui menina de subúrbio... eu morei todo tempo... em Olaria... porque... eu tenho... as minhas irmãs são bem mais velhas do que eu... então quando a minha irmã se formou... em mil novecentos e trinta... eu tinha dez anos... porque eu sou de mil novecentos e vinte... e meu pai achou melhor... nós já tínhamos uma casa em Olaria... (que estava alugada)... meu pai achou melhor nós mudarmos pra lá... pra ela começar a clínica... então toda a minha infância e a minha adolescência foi (quase)... suburbana mesmo... eh...
L2: é...
L1: eu achava ótimo...
L2: é?
L1: mocinha... meu pai me deu uma bicicleta... eu ganhava
L2: [
( )
L1: aquelas ruas com a bicicleta e pronto... e: não tinha assim primas da minha idade... todas elas eram bem mais velhas que eu bem mais moça... então minha... meus companheiros eram os primos que moravam por ali também... minhas brincadeiras eram de moleque... de rua... soltar pipa... subir em árvore... essas coisas assim... que dizer... fui uma menina descontraída... não devia assim adulta... ser tão inibida como eu sou... que eu faço um esforço tremendo pra não ser... mas eu... realmente... sou muito inibida sabe?
D: como é que vocês vêem a diferença entre zona norte do Rio de Janeiro... os subúrbios e a zona sul? que diferença existe aí?
L1: olha... eu não sei não... eu particularmente... quando mocinha... né eu achava grande diferença... entendeu?
L2: é...
L1: mas agora eu acho que não existe...
L2: eu acho que a diferença existe mais no pessoal querer... apenas dizer...
L1: ( ) é...
L2: que a menina é de zona sul e que a outra menina de zona norte... está entendendo? mas essas preocupação... porque no íntimo... no fundo... eu não acredito que haja assim... pode ser que aí a menina da zona sul... ela talvez tenha assim... mais oportunidade de outros tipos assim de programas... de passeios...
L1: [
progra:mas... é...
L2: não é? porque aqui na zona sul tem barezinhos... mais boatezinhas...
L1: mais inferninhos... ((risos))
L2: exatamente... inferninhos mesmo... né? então talvez... elas tenham assim esse tipo de oportunidade... mas eu acho que em essência é mais só preocupação
L1: [
( )
L2: de estabelecer diferença... porque no fundo... tanto a menina da zona sul como a da zona norte... como a suburbana... acredito que a essência delas seja mais ou menos a mesma...
L1: (são a mesma)... mesmo porque chega uma hora que eles freqüentam mais ou menos os mesmos ambientes ( ) é... ( ) faculdades
L2: [
( ) exatamente... principalmente chegando a nível assim de faculdade... a coisa ( )
L1: [
quando... quantas... eh... quantos adolescentes assim... pessoal jovem que mora na zona sul... que por... força das circunstâncias... tem que estudar numa faculdade lá em Deus me livre... na Piedade... né?
L2: exatamente é... é... porque foi aprovado ( )
L1: [
ou vice-versa também... o que mora na zona norte... vai estudar na PUC... né? quer dizer que eles mais ou menos ficam mesclados... não dá pra perceber...
D: e as condições de vida das pessoas? as pessoas têm vantagens?
L1: [
ah... não resta a menor dúvida de que quem mora na zona sul tem muito mais vantagens... né?
L2: [
zona sul... mais vantagens... porque talvez... porque tenha um poder aquisitivo maior...
L1: maior... talvez seja só por isso... talvez... sei lá ( )
L2: [
não ( ) exatamente é muito mais perto...
L1: condução melhor...
L2: quer dizer... muito mais perto em termos... porque quem mora também no Leblon (se vai) pro Centro da cidade (é uma boa caminhada)
L1: [
é... é...
L2: mas a condução... a condução é mais confortável... não é? o ambiente é mais agradável
L1: [
mais agradável...
L2: porque realmente... depois de um dia de trabalho... numa Avenida Brasil... não deve ser nada agradável... a pessoa já chega mais...
L1: [
atualmente que existem ônibus refrigerados...
L2: exatamente...
L1: [
agora me dou ao luxo de vim... ao fim da linha do ônibus do Leblon é é na esquina da minha casa... então a/... acho aquilo turismo né? eu tenho ( ) ar refrigerado tudo fechado... música... pela Avenida Atlântica... quer dizer
L2: [
( ) é...
L1: eu não venho ( ) condicionada... eu vou para o trabalho... estou em cima da hora... que trânsito horrível... cheio
L2: [
nada disso né? ( )
L1: já o pessoal da zona norte geralmente... tem que se...
L2: luta mais... sofre mais...
L1: é... sofre mais...
L2: sofre... agora isso eu acredito que seja em virtude mesmo do poder aquisitivo maior ou menor
L1: [
é... maior ou menor...
L2: né?
D: e na parte assim... de de serviços básicos... que a população tem... não haveria uma... um certo descaso em relação a zona norte e aos subúrbios?
L2: eu não acredito que haja descaso não porque o comércio também... daqueles... dos centros da da da da zona norte... dos subúrbios são muito bons...
L1: [
sei... eh... são muito bem (equipados)...
L2: bairros por exemplo como o Méier... têm comércio muito bom... Madureira... não é?
L1: [
( ) bem parecido com... eh...
L2: já com o centro da cidade ou até lojas melhores... porque a gente nota que no centro da cidade está havendo uma fuga total...
L1: [
é... total pros bairros ( )...
L2: não é? ( ) principalmente ( ) (exato) ou pra sul ou pra norte...
L1: [
ou pra norte...
L2: aquele comércio mais fino que se encontrava no centro da cidade... não se encontra praticamente mais... não é? de maneira que eu acho que... atende bem ali as populações ali dos bairros...
L1: é... os grandes... os super/... supermercados ( )...
L2: [
exatamente... supermercados... as matérias de supermercados... a rede aí é muito bem distribuída... né?
L1: bem... muito bem é...
D: ( )
L2: eu não sei se chega a haver diferença de ruas mais mais bem tratadas na zona sul...
L1: é eu acho... eu acho isso...
L2: eu não sei porque também a gente vê... não sei porque eu também... é é a tal história eu não vou muito assim pra... pra... subúrbio...
L1: [
eu tenho tido a oportunidade ( )
L2: ( )
L1: porque... até uns três anos passados... mais ou menos na época em que eu mudei pro Leblon... eu lecionava... lá na Ilha do Governador... então tinha... as ruas são maltratadas...
L2: talvez essa parte ainda de mal calçada... essa coisa assim...
L1: [
( ) é ( ) o sistema de fossa ( ) de esgoto...
L2: talvez isso sim... agora propriamente assim... no serviço assim de limpeza pública... vamos dizer ( )
L1: [
não... não é ( ) não...
L2: ( ) a diferença porque também as ruas da zona sul são muito sujas...
L1: [
são muito sujas... é...
L2: não é? elas serão calçadas... tá... mais urbanização... vamos dizer ( )
L1: realmente... isso... é
L2: não é? agora mas em matéria mesmo de conservação...
D: ( ) como um comércio ( ) um comércio ( )?
L2: o comércio... mais exigente... maior preço...
L1: [
mais sofisticado...
L2: mais sofisticado... exatamente... né? porque agora... na zona... no centro mesmo da cidade... a gente vê um comerciozinho mais... com preço mais acessível... bem mais acessível...
L1: [
mais acessível... mais popular é...
L2: né? aquelas casas assim tipo... o quê? tipo imperial
L1: [
( ) é...
L2: tipo Sibéria... casa de alto luxo...
L1: [
CANADÁ: é
L2: que a gente só passava na porta... nem entrava...
L1: tinha medo de entrar...
L2: ia só ver vitrine e ir embora... correndo...
L1: é...
L2: não existe mais no centro da cidade... tem um outro tipo... outro PADRÃO...
L1: ( ) eu vejo com colegas nossos assim... quando elas têm preocupação de se vestir com mais apuro... ela diz assim... "bom eu vou dar uma volta lá na zona sul"...
L2: [
lá em Copacabana... Ipanema... principalmente Ipanema... ( ) esse tipo de comércio (está fugindo pra Ipanema)
L1: [
Ipanema... agora... Ipanema...
L2: Copacabana já está (pra) bem mais... popularizado...
L1: popularizado...
L2: tem uma casa ou outra... tem butiques finíssimas ainda... mas essa implantação né? instalação desse comércio... acho que tá fugindo mais pra Ipanema...
L1: por falar em Ipanema... Ipanema parece que se especializou em butiques... infantis...
L2: [
em butiques...
L1: [
infantis...
L2: exatamente... cada uma ( )...
L1: uma quantidade de butique pra criança...
L2: [
é... é... ( )
L1: com preços realmente muito caros...
L2: é (muito) caros ((risos)) ((superposição de vozes)) ( ) a Imperial não é uma loja
L1: é na Gonçalves Dias...
L2: uma na Ouvidor e uma na esquina da Gonçalves Dias...
L1: [
é Gonçalves Dias...
D: então o que ca/ que caracterizaria uma butique?
L2: a butique é um estabelecimento menor... não é? uma salinha menor ali... instalações menores...
L1: menores...
L2: mais apertadas...
L1: [
e ( ) variadas...
L2: mas com moda muito avançada... em geral
L1: [
é muito avançada...
L2: e muito variada
L2: variada com poucos exemplares... por exemplo... um de um determinado feitio... num determinado manequim... dois no máximo de um ( )... se a pessoa que aquele que não tem... (vai ver) só tem outro... e bastante caras... né?
L1: e vai desde a bijuteria... até: o...
L2: [
desde a bijuteria até o sapato...
L1: o sapato ( )...
L2: o enfeite do cabelo... roupa íntima...
D: e as pessoas que atendem re/ também são diferentes?
L2: são bastante sofisticadas... bastante sofisticadas...
L1: [
são bastante ( )
ah... existe até uma certa discriminação para atender a quem entra bem ou mal vestida...
L2: exatamente... até na maneira de entrar...
L1: de entrar... é...
L2: [
( ) porque geralmente... portas fechadas ( )
L1: é... é...
L2: então essa pessoa já fica mais tímida ali... abre não abre aquela porta... olha... porque as butiques não põem preço... né? então a pessoa só vai saber o preço lá dentro... depois que ( ) o artigo ((risos)) então fica naquela indecisão... se entra ou não entra... já existe realmente... ( )
L1: ( )
L2: uma prevenção da vendedora... já fica com mais má vontade em atender... já não quer... dar tanta importância... que acha que a freguesa nem vai comprar... ela vai se assustar com o preço da loja...
L1: [
comprar é... assustar com o preço...
D: ( ) vocês costumam comprar sempre na... nos mesmos locais... como fazem?
L2: mais ou menos... mais ou menos... eu...
L1: [
eu ( )
L2: eu tenho mais... vamos dizer... por época... há determinada época que eu me prendo numa determinada casa... por exemplo... há pouco tempo... eu comprava muito na São João Batista... em Copacabana... aí eu tinha crediário... era conhecida... chegava novidade a vendedora me chamava pelo telefone "chegou não sei quê... não sei quê"... aí vai indo... não sei se a gente cansa... ali porque a casa ( ) mantém uma mesma linha... qualquer coisa...
L1: é...
L2: e... ou determinadas qualidades de roupa ou de ( )
L1: e dependia muito
L2: então vai... sai pra outra... vai pra outra... vai pra Barbosa
( ) qualquer coisa assim...
L1: é..
L2: mas eu ( ) uma prima... aliás viúva de um primo meu... ela tem uma butique na Tijuca... na Praça Saens Peña... então eu estou indo lá... e estou comprando lá... completamente longe da minha casa... que eu moro nas Laranjeiras...
L1: ( ) é longe ( )
L2: então eu vou lá e compro lá o que quero...
L1: [
eu também me prendo muito tempo na Casa São João Batista (por causa) do meu tamanho né? é uma das poucas casas que tem tamanho pra elefante... então eu costumo... ((risos)) ( ) AGORA agora eu não sou elefante... mas vocês sabem que eu já fui... né... eu já tive mais vinte e sete quilos que tenho hoje... né? você me conheceu bem gorda... mas então... mas tinha o seguinte... era uma espécie de uniforme do casal carioca...
L2: exatamente
L1: então você via assim... cinco... seis pessoas... com a mesma roupa... então ( )
L2: [
você via ( )
L1: [
eu não sei também porque agora o meu poder aquisitivo é diferente agora ( ) é melhor
L2: [
( )
L1: eu me passei pra Levinson... ou entã/ ou... compro aqui na cidade ou ( ) em Copacabana...
L1: mas me levei muitos anos usando São João Batista... sabe... ((risos))...
L2: eu gostava muito da São João Batista ( )...
L1: agora... eu não sei porque: e/ eu ainda continuo criança em muitas coisas... por exemplo... essa satisfação imediata... de possuir as coisas... eu (continuo com ela)... eu não sei curtir... comprar uma fazenda hoje... procurar uma costureira amanhã... escolher o feitio
L2: [
não não não... também não...
L1: [
aquilo me deixa meio aflita então eu gosto... razão pela qual às vezes eu passo sacrifícios horríveis pra manter um peso que varie do manequim quarenta e oito ao cinqüenta estourando sabe ((risos)) ( )
L2: [
( )
L1: eu acho tão bom chegar... esco/ escolher bastante... usar assim... ( ) provar uns quatro ou cinco vestidos... né? e depois eu levo esse... do quê? COMPRA-se uma fazenda... gasta-se um dinheirão... e depois nem usa deixa pendurado no guarda-vestido... que não saiu nada daquilo que se... idealizou... né?
L2: [
é... costureira hoje em dia tá um problema sério né?
L1: é sério né?
L2: não sei se justamente por causa dessa tendência de todo mundo sair então comprando roupa pronta... tem MUITA facilidade... por causa de crediário... essas propostas mais interessantes seja o que for... eu sei que as costureiras parece que sumiram... né? ( ) viraram figuras de decoração
L1: [
é elas devem trabalhar pra essas casas...
L2: [
( ) caríssimas não é... de alta costura... ou então uma coisa assim... mais pra atender... aí essa média assim da gente assim...
L1: agora existe um tipo de costureira que eu acho formidável... a minha: minha filha até... ah de vez em quando conhe/ consegue essa moça... existem várias moças... que vai na casa...
L2: vai na casa... passa um dia ( ) ganha a diária
L1: [
é exatamente... ( ) às vezes essa que a minha filha conhece... às vezes... apronta dois vestidos... ( )...
L2: ( ) trabalho?
L1: ( ) aprimorado? dois vestidos por dia... ela às vezes reclama desse... dessa modalidade aí... ( ) costureira mesmo é difícil... ( ) muito cara né? ( ) mas geralmente...
L2: o maior problema de acertar o corte ( )...
L1: é... o corte ( )...
L2: é melhor o vestido pronto... que você chega numa cabine... experimenta... gostou... não gostou vem outro...
L1: outro... é...
L2: até que vai... encontra um que cai no seu gosto né?
D: a senhora sabe que existe uma loja recente especializada...
L1: A Cinta Elegante... ((risos)) mas são horríveis... verdadeiras marmotas... ((superposição de vozes)) ( ) como é gordo... diz assim "bom já é uma trouxa mesmo ( )" ((risos)) então ( ) pior né? porque eu sou gorda... mas uma cinta... tipo bermuda ((superposição de vozes)) ( ) não por vaidade minha... mas acho que a gente deve ter respeito aos que nos cercam... né? por questão de estética... então eu procuro me ajeitar um pouco... ( ) no momento eu acho que eu estou muito relaxada... eu devia ( ) ((risos)) tudo isso por uma questão de respeito ao próximo... eu acho isso muito importante...
L2: e que dá muita satisfação também ( )
L1: [
ah é ( ) quando eu começo um regime geralmente... começo por necessidade... porque quando eu tô muito gorda caio muito...
L2: é lógico...
L1: [
porque meus pés são relativamente pequenos pro meu corpo... mas depois já começa a vaidade... aí eu começo a não querer engordar porque (aí a vaidade é que está falando né?)
L2: [
( )
L1: aí eu fico com uma aparência de mais moça... tudo isso...
L2: ah é... a gente vai emagrecendo...
D: e o comércio masculino... o comércio pra homem... como é ( )?
L2: o comércio masculino ( ) como essas... ainda se encontram mais no centro da cidade... algumas lojas... boas né?
L1: [
é algumas lojas...
L2: esse tipo de comércio assim... né? agora também... Copacabana e Ipanema... eu acho que são assim... bom nível...
L1: [
é... é... bom nível ( )
L2: ( ) uma moda muito bonita... eu gosto da moda atual assim masculina...
L1: eu gosto...
L2: é uma moda mais gostosa... não é? o homem saiu daquela coisa... que era o terno...
L1: [
é... está menos austero...
L2: exatamente... do tradicional... aquela gravatinha assim... o máximo que ele tinha era uma gravata mais listrada... assim...
L1: eu acho também muito bacana ter cabeleireiro pra homem... eu acho que o homem deve se cuidar...
L2: [
também acho...
L1: eu não acho isso... não acho que isso torna o homem feminino ( )
...
L2: [
não ( ) absolutamente ( )...
L1: continua assim... bem masculino e tudo... eu acho que deve ser... acho que ele agrada mais à mulher assim... sei lá... gosto das roupas assim bem alegres pra homem... apesar de que ( ) é velho né? ele...
L2: (ainda?)
L1: não... ele aceita ( ) sei lá... acho que é por causa do tipo de trabalho dele... ele anda de segunda à sexta-feira metido num terno colarinho e gravata (...) agora também quando chega fim de semana não há quem faça eu gosto... sei lá eu acho que ele é um moço velho... mas quando chega fim de semana ele fica mais jovem... justamente por isso...
L2: ( ) ele remoça
L1: ( ) mas ele tem mais agora porque ele tem esses dois filhinhos que são umas graças ( ) mas então ( ) vai a praia com as crianças ( )
L2: é o pai de família...
L1: é o pai de família... ( ) às vezes eu fico com as crianças... pra dar uma colher de chá pra minha nora... não é? eles vão fazer assim um programa noturno... e tudo mais... (eles saem pra descontrair) ( ) e agora trabalha com uma pessoa ( ) ele é economista ele é muito sério muito sisudo... sei lá muito compenetrado ( ) com muita responsabilidade ( ) com medo que ele se perdesse... eu não tive irmãos... só tive irmãs... então eu achei uma grande responsabilidade ( ) um homem a minha filha achava que não era problema... ( ) a... ah ah por toda carga assim de chefe de família sobre ele entendeu? acho que essa coisa deu uma... um amadurecimento prematuro... ( ) já é um moço velho... mas também de outro lado eles têm outras vantagens... ele conseguiu a independência econômica que muitos rapazes da idade dele não têm... ouviu? ele já pensou em construir família mais cedo... então tudo corria... pra ele tudo (começou mais cedo)... eu acho que... de certa maneira até foi vantagem... eu não me sinto muito culpada não sabe?
D: o que ele gosta de fazer (pra se distrair)...
L1: eh muita coisa... ele adora natação né? ele gosta muito de música... ele tem aparelho de som... o mais sofisticado possível... tá sempre gravando... e as fitas prontas não servem pra ele quer sempre gravar uma fita diferente... só com as músicas de preferência dele... e tudo mais... ele diz que gosta muito de curtir som... né? até outro dia eu vi uma loja que me lembrei muito dele... Curtição... Curtisom... né?
L2: [
Curtisom...
L1: Curtisom... é...
D: vocês falaram em crediário... como é que se faz um crediário? o que é?
L2: olha o crediário... até que agora felizmente com o advento dos cartões de crédito
L1: [
cartão de crédito... é...
L2: (a gente quase tem que) deixar os crediários pra lá... porque ( )
L1: eu no momento só tenho o cartão da Mesbla e o Credicard...
L2: nacio/ eu tenho o Nacional e o da Mesbla... realmente a gente consegue fazer a festa da gente com isso... né? porque antes era aquela dependência e vai sindicar a vida da gente... e vai telefona pra (repartição) ... tem que ter uma pessoa conhecida pra indicar... ( )
L1: [
é: ( ) mercadoria...
L2: não consegue crédito na hora... não consegue levar a mercadoria pra casa
L1: [
é horrível...
L2: ( ) frustração porque você queria levar aquilo pra botar no dia seguinte... não pode levar... então felizmente surgiram os cartões de crédito que resolvem tudo na hora...
L1: principalmente o Mesbla... eu acho o Mesbla uns ah um atendimento extraordinário...
L2: a Mesbla ( )
L1: com cartãozinho retira a mercadoria... tem defeito volta troca... ( ) troca por outra coisa...
L2: [
aceitam bem... trocam por outro artigo sem problema nenhum... e pra nós aqui convém muito... ( ) na hora do almoço
( ) aqui... a gente consegue quebrar um bom galho ali...
L1: é sim...
D: e esses mo/ ah... todos os anos... em determinadas épocas... acontece alguma coisa no comércio... não é? das cidades...
L1: ( ) aconteceu agora em maio não é? dia das mães ((risos))
D: sim... além disso...
L2: ( ) mês do lar na Mesbla agora... então baixa muito o preço... é isso? não sei...
D: não só isso...
L2: liqüidação...
L1: liqüidação... é...
D: [
sim... sim... as liqüidações... exatamente nas mudanças de estação né? tá então as casas aproveitam e tal pra queimar...
L1: eu particularmente não gosto de liqüidação... porque eu acho que enganam a dona de casa... geralmente a pessoa desavisada pensa que vai fazer um grande negócio comprarem liqüidação... eu acho que não... porque eles só põem à venda... ( )
L2: [
exatamente... o que encalhou por algum motivo não é... ( )
L1: [
motivo...
L2: ( ) não é? todo mundo ali querendo ser atendido ( )...
L1: você compra não porque tem necessidade mas porque é motivado... é...
L2: não... exatamente... num movimento de liqüidação...
L1: é motivação ( ) liqüidação...
L2: acaba levando até uma bobagem... uma coisa sem utilidade... uma coisa de má qualidade uma coisa defeituosa ( )
L1: [
às vezes... a pessoa não sabe nem porque... nem porque está comprando aquilo... né? não sabe nem porque está comprando...
L2: é... também liqüidação não me atrai muito não justamente ( )...
D: voltando ainda um pouco pro pro assunto cidade... como a/ como acham o Rio de Janeiro em termos de segurança pras pessoas?
L1: eu acho nenhuma...
L2: ah eu acho péssima... ((risos))
L1: hoje mesmo... eu eu eu vou... vou... como é? estar numa situação bem difícil porque a minha aula termina às dez e meia...
L2: ah exato...
L1: ah... lá no André Maurois e eu moro e eu moro e... em General Artigas... quase esquina de Dias Ferreira... e eu não tenho condução...
L2: não tem condução...
L1: não tem condução... e eu tenho que ir a pé...
L2: tem que ir a pé exatamente...
L1: então aquele pedaço eu vou por Bartolomeu Mitre... aquele pedaço da Bartolomeu Mitre do muro do quartel... aquilo me assusta demais... sabe?
L2: é... realmente... é perigoso à noite sim...
L1: é...
L2: eh... às vezes... saio... às vezes saio assim com meu marido... nós... no carro... voltando pra casa ( ) ou mesmo saindo quando se sai mais tarde... a ordem é não parar nos sinais...
L1: [
nos sinais... é ( )
L2: aí você olha bem... presta atenção se vem coisa no outro sentido... vem... não vem... você mete o pé e vai embora...
L1: é eu acho super perigoso...
D: realmente a situação em matéria de segurança ( )
L2: é... o Rio está... e depois é bobagem até a gente se prender a ser só à noite porque a qualquer hora do dia...
L1: dia... acontece isso... é...
L2: até hoje ainda me lembro... um crime estúpido que houve lá em frente do meu apartamento... na General ( ) na... na Martins Monteiro... na minha rua mesmo... um senhor ia chegando... meio-dia... ele era professor de natação qualquer coisa assim... ia chegando no Fluminense... no que ele para... ele é assaltado ali... não sei o quê... "cala a boca... me dá o carro"... ele que sempre dizia que se isso acontecesse... não ia reagir na hora...
L1: lógico... que não ia... lógico...
L2: inconscientemente reagiu... né? levou um tiro na cabeça... um só ficou ali... pronto... na porta... na... mulher na janela ali... foi chamada... olhou lá de cima... viu a cena... ia dar
meio-dia... quer dizer... não é questão de hora... de noite... nem de nada...
L1: ( )
L2: [
a gente é que ainda fica... realmente... vive impressionada que de noite é pior...
L1: é fica pensando que à noite é pior... o M. o meu chefe... ele estava contando que... a semana passada --ele mora ali no Catete-- então... assaltaram um salão de beleza... onde a senhora dele freqüenta... então... roubaram cabelereiro... roubaram...
L2: as freguesas...
L1: é... tiraram jóias... dinheiro e tudo mais... quer dizer... não há segurança em lugar nenhum...
L2: lugar nenhum...
L1: é só pedir a Deus que ajude e nada mais...
D: ( )
L2: absolutamente... aqui mesmo... nesse nosso ponto aqui... o que se vê de pivetes aqui nessa ( )
L1: é... tem... pivetes... eles... eles não andam sozinhos... eles andam em grupos... quatro... cinco...
L2: exatamente...
L1: até dez...
L2: ( ) correndo...
L1: correndo... é...
L2: foi em quê? foi no... uma pessoa aqui do quinto andar... há coisa de um ano talvez... ali na passarela... eles deram uma rodada assim...
L1: ( )
L2: vieram correndo... começaram a rodar assim em volta de um senhor... um homem foi... tonteou... não sei o quê... no que caiu no chão... passaram a mão na carteira e se mandaram...
L1: ( )
L2: durante o dia... chegando aqui... às nove horas da manhã... de manhã... de manhã cedo...
L1: ( ) foi de manhã cedo...
L2: eu não me estou lembrando... foi alguém do quinto andar se não me engano foi ( ) de carona... né?
L1: ( )
L2: ela deixa o carro no estacionamento lá longe... perto ( )... entrou no carro e tal... aí vem o camarada... a V. estava junto né?
L1: estava junto... é... sim...
L2: aí botou a cara na... na... na janela... disse... "'e uma assalto"... não sei o quê... "passa pra cá"...... então passaram jóia... passaram relógio... dinheiro... não sei o quê e tal... assim... dentro do estacionamento... aqui... principalmente nesse ponto aqui ( )
L1: do estacionamento...
L2: pro Aterro ( )...
L1: ( ) muito perigoso...
L2: e parece que já houve queixa na delegacia... mas o próprio comissário... delegado diz que não pode fazer nada... ( ) que esteve lá nessa época... e fez qualquer queixa lá... ele disse que tinha sempre aqui em guarda ( )...
L1: ( ) sabe que eu trabalho no departamento de informática que funciona lá em Mangueira... sabe?
L2: exatamente... lá em Mangueira... aquele menino que nos dava aula de estatística... o A.C. foi o A.C.( )...
L1: Mangueira... eh... eh... ah... não sabia... ah... foi o A.C.? mas... então... sabe o que eles fizeram... era assim próximo do carnaval... eles fizeram ah... se reuniram... cada um deu o que pôde e eles deram assim uma soma muito elevada pra escola de Samba da Mangueira... e se inscreveram como a... como...
L2: participantes da escola ( )
L1: como associados da escola de samba... e nós... temos um chaveiro... nós temos um chaveiro do IBGE... então... ele... ele ostenta... é um chaveiro... que tem uma placa desse tamanho... né? ( )...
L2: é ( )...
L1: aquele... aquele chaveiro em qualquer lugar... é assim no cós da calça ou aqui assim... aquilo é uma segurança pra eles andarem ali... então... outro dia... não sei se é esse que você conhece... outro dia... um um funcionário foi assaltado... parece que foi até baleado... né?
L2: [
foi ( ) foi com esse menino... A.C. foi uma hora da tarde...
L1: e tudo mais... a uma ho/ foi hospitalizado e tudo... e eles souberam... né? dois ou três dias depois... eles chegaram na portaria lá da... da informática... entregaram todos inclusive a carteira com o dinheiro os per/ os pertences dizendo que tinham achado... claro que todos eles não acharam...
L2: não acharam ( )...
L1: mas eles foram identificar... foi... identificar... viu que era do ( )...
L2: pessoal do IBGE e (como) tem ali aquela bandeira de paz ( ) não tem nada...
L1: houve engano e respeitam aquele engano...
L2: o negócio é você andar só com o chaveirinho à mostra ((risos))
L1: então agora nosso destino é Mangueira... né?
L2: nosso destino é Mangueira... vou mandar fazer do chaveiro uma broche...
L1: [
( )... fazer um broche aqui... uma condecoração...
L2: é... ((risos))
D: e o trânsito desta cidade?
L2: ah... isso então é uma maravilha... ((risos))
D: ( )
L1: não... honestamente... eu... lá lá na minha casa... quase todos são motorizados... eu... há bem pouco tempo... também era... enquanto trabalhei na Ilha... ainda tinha necessidade de carro... mas eu acho que é um negócio assim... que é um conforto que o carioca podia se privar... sabe... usar menos porque eu acho que é... é o congestionamento assim na hora de... da vinda do trabalho...
L2: é...
L1: da ida pra casa... é justamente... todo mundo é muito egoísta... quer muito seu conforto... então... se eu que tenho aquele ônibus... que é muito mais barato pagar quatro cruzeiros pra ir pra casa eu podia me servir dele e deixar o meu carro na garagem pro fim de semana... se todos assim tivessem esse pensamento... eu acho que... o centro da cidade não estaria tão congestionado assim... mas todo mundo preza muito o conforto pessoal... né?
L2: [
exato... você tem razão...
L1: então eu vejo... às vezes aquele ônibus... agora que eu tenho oportunidade de andar de ônibus posso prestar atenção no que se passa em volta... né? quando a gente dirige não pode...
L2: é... porque dirigindo você não vê nada mesmo...
L1: então eu sinto... às vezes vem o maior galax ( )
L2: [
( )
L1: aqueles mavericks enormes... opala... pelo menos se botasse um fusquinha ( ) era fusca... né? ( ) são aqueles carros enormes... quer dizer... ali na... na rua Jardim Botânico eu vejo isso diariamente... o trânsito interrompido... aquele negócio... se fossem menos carros ali no centro da cidade... o negócio seria bem melhor... né? porque é uma cidade... que cresce assim assustadoramente... e as vias de comunicação continuam na mesma... se faz assim um túnel Rebouças não tem escoamento lá... nem desse lado também não tem muito...
L2: não tem ( )
L1: então... não adianta... é... é... preci/ precisaria que o povo fosse educado nesse sentido... né?
L2: mas pra isso também seria necessário que tivesse ali mais condução... pra atender a esse pessoal... né?
L1: [
mais condução... é verdade... é esse pessoal todo...
L2: porque realmente... a gente não vem de carro... deixa o carro lá...
L1: [
agora...
L2: na hora de ir embora você tem já agora esse ônibus ( )...
L1: é ( )...
L2: ( ) o seu bairro...
L1: ( )
L2: eu por exemplo... né? hoje eu estou sem carro... meu carro está na oficina... então... à noite... eu vou ter que ficar na Presidente Wilson... esperando um Laranjeiras...
L1: um Laranjeiras...
L2: pra mim só serve Laranjeiras e só serve ( )
L1: [
que não é fácil... só passam superlotados...
L2: então o Laranjeiras vem da Penha... quando ele chega aqui... ele vem que não entra nem pensamento...
L1: é...
L2: né? então a gente vai ali ou então espera até sete e meia da noite... que é a hora então que a coisa já tá: ma:is suave um pouco
L1: [
é mais...
L2: pra conseguir entrar...
L1: é tempo perdido...
L2: realmente é um problema sério esse... você tem razão... né? que...
L1: agora tenho sentido que essa questão de dar ô/ ônibus mais caros assim... mas mais confortáveis... já tem de certa maneira aliviado um pouco...
L2: já tem resolvido... eu... que eu conheço várias pessoas...
L1: é... eu conheço eh... pessoas que moram ali... vizinhos meus
L2: [
ônibus
L1: que andavam de... de carro e agora por ques/ questão de economia... comodidade... já vem no ônibus comigo...
D: ( )
L2: não tenho...
L1: eu isso... isso eu não só tenho tido assim de...
L2: [
aí realmente... ( )
L1: não vivo ( )
L2: nem sequer aula assim ( ) professora ( )
L1: não tenho eh nunca dei aula pra lá...
L2: eu também... nunca... lecionei... não tive assim oportunidade mesmo... que moradia pra mim só... ( ) que a gente vê noticiário...
L1: noticiário é... esse negócio de pingente ( ) sei lá o quê...
L2: [
é mais uma coisa de vivência ( )... uma coisa violentíssima... né? ( )
L1: eu assim que entrei pro Estado eu... eu lecionei um ano lá onde:... Judas perdeu as botas lá em... no Matadouro... além de Santa Cruz... mas eu nunca... eu só usei... eu me lembro...
L2: você ( ) aquele trem dos militares... né?
L1: não eu só ( ) das professoras...
L2: das professoras... é...
L1: fui uma vez... no trem das professoras... mas achei TÃO inconveniente... e o M. já tinha dito que a... que a irmã dele tinha sido assaltada... que eles arrancam o relógio na hora que o trem para na estação... não sei o quê... eu fiquei tão... fiquei tão assustada que eu só fui uma vez... mas por coincidência foi no ano que inauguraram uma linha... pra... Santa Cruz e outra pra Campo Grande que saía lá da Praça Mauá... eu ia sempre de ônibus...
L2: de ônibus...
L1: que era lugar marcado... e tudo...
L2: exatamente...
L1: a gente reservava lugar e chegava em Santa Cruz...
L2: ( ) (dava) pro mês todo... é... quando chegava em Santa Cruz eu pegava ...
L2: comprava no...
L1: comprava um... passagem pro mês inteiro... e quando chegava em Santa Cruz... então... eu ... eu... eu... tomava um ônibus... chamavam jardineira... né? onibusinho assim...
L2: jardineira porquê?
L1: é esse ônibus pequenininho chama jardineira... não sabia não é? é...
L2: aquele tipo lotaçãozinha? ( )
L1: lotaçãozinha... é...é... eles chamam jardineira... lá em cima eles chamam jardineira...
D: e esse trem dos militares o que que tem de especial?
L1: é que a hora que o militar entra no ( )... e na... Vila Militar... e tem o dia dos professores...
L2: [
( ) que eles tomam lá na Vila Militar na... na Vila Militar... não é... então vai praticamente cheio só de oficiais e... e pessoal lá...
D: deu muito casamento ( )
L2: deu muito casamento...
L1: [
é... de professora com militar...
L2: das professoras com os militares... exatamente...
D: esses ônibus de luxo são... fazem parte de uma evolução dos transportes coletivos...
L1: é...
L2: ( ) pra trás...
L1: pra trás?
D: como era antigamente?
L2: antigamente ( ) eram uns ônibus...
L1: eram uns ônibus comuns de carreira... é isso? eh... essas companhias já superadas com ( ) horrorosos...
L2: são horríveis...
L1: jamantas... são verdadeiras jamantas... né? são horríveis...
D: ( )
L1: bondes... né?
D: é poético...
L2: mas um bonde (é uma) época... totalmente diferente... assim como disse... um bonde que vai andar a cem quilômetros por hora (não entra na minha cabeça)...
L1: é... é... por hora é... não entrou também não... e ( ) conforme a necessidade de cada bairro...
L2: exatamente... não vai ser absolutamente naquele... naquele... naquele estilo do... dos nossos antigos bondes... ( ) gostosas...
L1: [
dos nossos é...
D: pois é como as pessoas que trabalhavam nesse bonde? pois é como eram esses...
L2: o... motorneiro e o... condutor...
L1: não... as pesso/ motorneiro... condutor... os passageiros eh... não se sentiam assim muito frustradas não... porque eles não saíam da linha... tinha de dar a passagem porque senão não andava a coisa... não andava nada... né? mas os... os que tinham carro ficavam aborrecidos... né? e era uma confusão mesmo... né?
L2: ficava naquele trilhozinho
L1: ( ) pra ultrapassar um bonde era uma dificuldade enorme... porque geralmente o bonde tinha um... talvez até dois reboques...
D: e as pessoas penduravam muito...
L1: ah... na raça né? ((risos))
L2: ah... penduravam realmente nos estribos... né? na... no... seguros ali... naqueles balaústres... cinco sentados e cinco em pé...
L1: é... em pé... ( )
L2: exatamente...
L1: ficavam no estribo... né?
D: ( )
L2: os ônibus elétricos... eh... aqueles que realmente não... não aprovaram não porque também outros ( )...
L1: é... ( ) é horrível...
L2: agora andam por aí com diesel... não é?
L1: é tiraram... ( ) é...
L2: hoje mesmo eu vinha... pro... pra deixar na oficina o carro... atrás de um que eu não aguentava mais... (que o ônibus) não saía da frente... não me dava a vez de cortar...
L1: atraso tremendo...
L2: atraso tremendamente... anda muito lentamente... não resolve nada... só piorou...
D: você sabe como é que o povo chamou esses ônibus quando ele passou a ser usado ( )?
L1: os ônibus ( ) muito depreciativo... né? chifrudo... ((risos))
L2: ( ) você sabe o nome também ( ) ar refrigerado ( )...
L1: ((risos)) ( ) é frescão... ((risos))
L2: ((risos)) ( ) os ônibus de luxo... ( ) ar refrigerado...
D: e uma possibilidade nova de transporte no Rio de Janeiro que está tumultuando a cidade toda?
L1: não... eu você está se referindo ao metrô? não...
L2: [
você tá?
L1: eu não sei não... olha eu s/ eu... eu tenho conhecimento de causa porque meu filho fez parte dessa comissão... ah... da viabilidade do metrô e ele era... foi um dos que... mas e/ e/ eles... eles tinham a seguinte coisa em meta... fosse qual fosse o resultado... todos assinariam e ficariam calados ah... com a sua opinião... né particular... mas ele acha... principalmente aqui no Rio não dá...
L2: não aprova mesmo... né...
D: por que ele acha?
L1: não aprova porque ele disse... quando o metrô começar a funcionar... já tá obsoleto... primeiro ( ) é logo esse ponto de partida... entendeu? e depois é muito... muito dinheiro empregado... muita mão-de-obra empregada... pra... vencer um percurso muito pequeno... certo? mesmo a manutenção... não compensa... porque se fossem distâncias muito grandes... mas é percurso relativamente pequeno... e outra coisa... ficou muito dispendioso por quê? aí a geógrafa pode falar melhor do que eu... porque está muito perto eh... a... a constituição... do terreno...
L2: [
questão do terreno... não é essa parte de constituição... exatamente...
L1: é muito pa/ perto do nível do mar...
L2: do nível do mar e grande parte do aterro...
L1: é...
L2: não é? essa parte toda de Glória aqui
L1: é... exatamente...
L2: de Cinelândia... essa parte toda foi aterrada... então...
L1: depois... imagine que virão com isso... porque quantas... quantas... coisas não foram derrubadas... não foram...
L2: exatamente... desapropriadas... quarteirões imensos... inteiros
L1: [
desapropriadas... saiu um... preço enorme...
L2: aquela... aquele Catete ali acabou ( )...
L1: [
acabou...
L2: ( ) Catete ali do lado esquerdo de quem sobe ela praticamente acabou...
L1: o... a... a rua da bom mas aí não... não é por força do metrô... que a Rua da Carioca é outra rua que acabou também... Largo da Carioca... né? mas aí já era... já é outro plano... né?... mas... eu acho que a conversa tá morrendo... ((risos))
D: mas qual seria a... (se não fosse) se o metrô não é uma boa solução... que solução haveria para uma cidade como o Rio de Janeiro em termos de transporte de massa?
L1: em termos de transportes... todos dizem que o que seria ideal... todo mundo fala... mas a maioria das pessoas não aceitam ou aceitam ( ) e na hora de dar a sua participação... é não congestionar o centro com carros particulares... deixar só para coletivos e carros... e táxis... quer dizer... começar a estacionar o carro próximo da cidade mas não dentro ( )...
L2: mas não dentro do centro da cidade... né? e ônibus ali... coletivos... que descem pra dar vazão aí a essa demanda de passageiros...
L1: é...é... a única... eu digo isso de uma maneira assim muito privilegiada porque ainda tão ( ) desagradável... né? estou tornando a falar... sempre torno a falar do meu filho... ele fez curso de economia do transporte... sabe? estudou dois anos na Universidade Americana na Inglaterra... então... ele sabe muito bem... que não é possível... a única coisa que deve acontecer é isso... em Londres já não acontece mais isso...
L2: não é...
L1: [
é...
L2: nas grandes cidades... nas grandes capitais aí do mundo... não tem mais esse... essa... esse movimento de... esse afluxo de carros particulares no centro da cidade...
L1: por exemplo... ah... muitas muitos edifícios... muitas lojas comerciais... até aqui centro... eles colocam aquela jardineira na calçada para impossibilitar o estacionamento
L2: [
o estacionamento...
L1: agora... agora... eu acho que é um problema
L2: [
é porque aí já é outro problema... que você não tem onde andar...
L1: não tem onde andar... como?
L2: não tem onde andar porque enchem a calçada com aquelas jardineiras... agora vão retirar ( ) estacionamento...
L1: a jardineira... vão retirar ( )...
L2: então o pedestre não vai poder andar na calçada...
L1: continua o pedre/ o pedestre continua sempre... na pior... né?
D: eles aqui tentaram ( ) uma solução que andaram até alguns caindo... infelizmente...
L2: sim... os viadutos... né? e... isso... também é outra coisa que eu não sei se chega... a menos que fossem todas as vias... aí as grandes vias de acesso recobertas...
L1: é ( ) é...
L2: ( ) resolveu né ( )
L1: tem que pre/ ser previsto... inclusive essa coisa toda para o escoamento do viaduto e aí são obras ali muito mais complexas... ali... muito mais ( )
L1: ( )
D: essa possibilidade de transportes marítimo?
L2: sim... é... inclusive há agora um plano aí do novo secretário... né? de transportes... um plano aqui de sair uma linha aqui do Mourisco se não me engano... Botafogo...
L1: é? nunca ouvi... Botafogo...
L2: ali na Enseada de Botafogo... né? lá para o... para onde... meu Deus? para o Fundão... não... não me disseram que ( )...
L1: pode ser para o Fundão... pode ser também... Ramos...
L2: para o Fundão...
L1: tem aquele porto... tem aquele porto lá em ( ) onde tem aquela escola... Escola de Marinha Mercante...
L2: exatamente... é... ali... também...
L1: é... ali já tem um cais...
L2: pois é... agora... há qualquer coisa... eu li no jornal qualquer coisa... aliás... só li esse dia... depois nem li mais nada a respeito que mais seria um cais ali...
L1: é... ali... é...
L2: na Enseada de Botafogo para o Fundão...
D: e seria uma solução boa?
L1: seria ( ) talvez fosse a...
L2: talvez fosse deveria ser... porque o que há de... de gente demandando para o Fundão... não é? nessas horas de maior...
L1: maior movimento...
L2: movimento mesmo ( ) era tipo aerobarco... né?
L1: [
( ) aerobarco... é...
D: ( )...
L1: barca?
L2: mas também aerobarco transporta pouca gente...
L1: mas tem... tem facilidade de ser...
L2: mais rápido...
L1: mais rápido...
L2: e é mais caro também...
L1: é... é bem mais caro...
D: alguma vez viajou para outras cidades ( ) do Brasil por terra?
L2: pro sul eu viajo muito... eu viajo muito ( ) meu trabalho... eu faço... geralmente... viagens para o sul... nunca me mandaram para outro lugar... né? ( )...
L1: é... é...
L2: então eu já fui para São Paulo... já fui para ( ) no Rio de Grande do Sul ( )... né? geralmente veraneio...
L1: é... é...
L2: e a gente sai ( ) justamente das estradas pavimentadas ( ) de terra...
L1: de terra... é...
L2: ( ) masoquista... gosta de sofrer... né?
L1: é...
L2: então... estrada de asfalto não resolve o que a gente quer... a gente vai se embrenhar naquelas ( ) todas... naquelas... ( ) todas... para então descobrir lá ( )... mas então a gente procura ... claro... pernoitar... a gente está cansado e tal... muito sacrificado ali naquele trabalho todo... procura uma cidadezinha melhor...
L1: melhor... é... realmente...
L2: de maneira que a gente vê tem... mais ou menos... uma idéia assim sucinta das cidades que a gente encontra por aí... né? agora que realmente as capitais a gente vai notar um disparate bem grande né? com diferença bem grande com relação a elas um desnível em relação a ela às outras cidades assim... mesmo melhorezinhas nos estados mas aí as capitais sempre fazem bastante diferença...
D: você diz... você disse que vocês têm que pernoitar... etc...
L1: é...
D: e como faz nessas cidadezinhas assim nas capitais onde ficam?
L2: ah... aí a gente fica em hotel... não é? a gente... há cidades em que a gente não tem escolha... é aquele... tem que ser aquele... não é... como nessa área toda de interior aí... das áreas das regiões coloniais do sul do Brasil... que a gente fica naqueles hoteizinhos de madeira... né? que tem mais frestas nas paredes do que outra coisa... você acaba pendurando sua roupa toda aí em preguinhos... para poder mudar sua roupa mais à vontade e nas capitais
L1: [
( )
L2: a gente tem sempre mais escolha... né? você vê aí de acordo com as diárias aqui que você recebe que...
L1: é...
L2: paga aqui por diária... você escolhe um hotelzinho melhor para dar mais conforto... uma alimentação mais sadia...
L1: adequada...
L2: mais adequada ali...
D: quando não tem hotel tem o quê?
L2: quando não tem... bom... eu só uma ocasião é que eu fiquei num dormitório o dormitório então era assim uma
L1: [
( )
L2: coisa imensa... um salão imenso... né? de cimento... chão de cimento com aquelas paredes de meia... assim de madeira... até a metade... né? uns tabiques...
L1: sei...
L2: umas coisas assim... e com uns... tudo divididinho... assim com umas portinhas... duas camas em cada um... né?
L1: ( ) é... sempre fazem uma... diferença... fazem...
L2: agora... o teto ali aquilo... daquele vão ( )
L1: ( )
L2: você ouvia até... pensamento... né? ((risos))
L1: coisa desagradável...
L2: isso foi no interior do Paraná foi aonde? foi Umuarama... mas isso porque nós chegamos muito tarde... pegamos um atoleiro horrível... na estrada... época de chuva...
L1: sim
L2: ficamos detidos no meio da estrada... dentro da lama até uma hora da manhã... quando chegamos na cidade... nunca tínhamos... ido lá... o motorista não conhecia nem nós... ficamos rodando na mesma praça... não saíamos do lugar... né? era (aí da) entradinha porque Umuarama é uma cidade bem razoável lá... do Paraná... né? de maneira que no dia seguinte quando a gente acordou... de manhã... que a gente andou mais um pouquinho viu que aí é que era o centro da cidade... que a gente tinha conseguido pelo menos uma pensãozinha melhor e tudo...
L1: ah... bom... melhor... é sim...
L2: mas... geralmente... assim... a gente ia pra esses lugares assim mais ( ) menores... mais rústicos... a gente tem que... ficar aí mesmo até nesses... essas pousos de ( ) coisas assim...
L1: é bem desagradável...
L2: bem desagradável... porque aí eles não entendem a posição da gente... né o que porque aqui na geografia só tem mulher ( )
L1: é... é... sim...
L2: um mulherio que é uma coisa...
L1: tudo fanático é ( ) tudo fanático... alucinado ( ) é isso é a pior coisa...
L2: impressionante... tudo fanático... tudo alucinado por geografia tudo tarado pela geografia se alguém disser que a geografia é feio... apanha... né? não... então ele se embrenha por esse mato afora...
L1: até na hora de casar... eles escolhem ( )
L2: pra casar com outro geógrafo...
L1: eu acho que é pra comer e dormir só falando em geografia...
L2: ( ) só falando em geografia... é uma coisa...
L1: olha agora... foi nesse simpósio que nós fomos ( ) no INEP... quem foi o nosso coordenador foi o W. ... só que ele dava verdadeiras aulas no ônibus... conhece o W.?
L2: não... não... mas eu acho que é o profissional que tem maior deformação profissional... acho que é o geógrafo... o geógrafo não consegue olhar por uma janela sem deixar de fazer uma observação...
L1: olha... ele sen/ ele sentou...
L2: "ah... porque é isso"...
L1: exatamente o que aconteceu... exatamente o que aconteceu...
L2: "porque não sei o quê" ( ) "a nuvem não sei o quê" ... é um inferno esses geógrafos... eu não sei não...
L1: ele sentou num banco na minha frente e ia com uma colega geógrafa...
L2: não... é do IBGE também mas não é geógrafo ele é técnico em aerofotografia mas é da casa...
L1: ah... é da casa... eh... profissão ( ) da geografia ( )
L2: é da casa... exatamente então cheguei lá pra falar do mapa... que faço interpretação ( )...
L1: então... ele estava com uma geógrafa do lado... a I. ... falou... falou com a I. até a I. dormir... que é outra taradinha também viu?
L2: mas ele cansou...
L1: cansou a I. ... então ele virava-se para mim... "olha Z. ... olha aquelas montanhas... o que você está vendo lá?" falei "'o estou vendo montanha né? ah eu estou vendo montanha" ... mas olha olha a forma da montanha... ó... a montanha não é assim... ela é arredondada... é típica da região... não sei o quê"... e ele tem assim um timbre de voz bacana... você conhece... né? então ele deu uma verdadeira aula de geografia... não foi pra mim não... pra... pro ônibus inteiro... inteirinho...
L2: ah mas ônibus de linha comum? ah que vergonha... (risos)
L1: ( ) ônibus de linha Rio-São Paulo... eu tenho a impressão que os outros estavam gostando... né porque ele é muito eloqüente ( ) eu tive a impressão ( ) eu tinha que dar atenção pra ele né todo mundo querendo dormir e esse homem não para de falar
( )...
L2: eu vejo pelos meus colegas... eu procuro me policiar... muito porque é muito chato... mas eu vejo pelos meus colegas... é uma deformação profissional completa...