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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE DOIS INFORMANTES (D2)
Inquérito 158
Tema: Meteorologia. Tempo cronológico. Terreno.
Duração: 1h 10min
Data do Registro: 15/05/73
Dados dos Informantes:
Locutor 1 (L1): sexo masculino, 27 anos, carioca, pais cariocas, formação universitária: Engenharia Mecânica, área residencial: Zona Suburbana.
Locutor 2 (L2): sexo masculino, 28 anos, carioca, pais cariocas, formação universitária: Engenharia Mecânica, área residencial: Zona Norte.


Clique aqui e ouça a narração do texto 


D: experiências pessoais basicamente... vivências... não é preciso que vocês não vão deixar nada teórico... quanto menos vocês colocarem em termos do que vocês sabem a respeito... mas colocarem em termos do que vocês viveram a respeito desse assunto... mais interessante...
L1: bom... como é que está o tempo?
L2: o tempo está feio... isto eu lhe garanto... né... agora... saindo do tempo pras viagens você disse que esteve em Recife... aonde você esteve?
L1: em Recife...
L2: bom... mas você viu em Olinda?
L1: não... fui somente a Recife...fui padrinho de casamento de um amigo meu em Maceió... eu fui de carro... minha mulher e minha filha foram de avião... então o vôo... pro Norte... e não tem escala em Maceió... em Salva/ é Rio... Salvador... Recife... vai até Belém... se não me engano... no retorno é que ele passa por Maceió... então fui até Recife pra trazer minha mulher e minha filha...
L2: isso em pouco tempo né?
L1: de volta a Maceió... fiquei dois dias em Recife...
L2: não mas há... quanto tempo atrás?
L1: isso tem... um ano e meio mais ou menos...
L2: então aquilo deve estar bem melhor... porque... eu fui há uns... quatro anos atrás ou cinco... tipo uma... tempo de férias... carnaval... né? lá é um... era bem diferente o modo de vida deles que do nosso... não sei se você notou a mesma coisa...
L1: é completamente diferente...
L2: completamente diferente...
L1: parece que não deve ter mudado muito em quatro anos...
L2: não?
L1: pra um ano e meio atrás...
L2: bom... naquele tempo...
L1: pela con/ pelas construções que tem lá... eu não vi muita... construção recente... são construções de pelo menos dois... três anos...
L2: mas a... as... as... indústrias devem ter crescido... porque naquela época eles estavam...
L1: [
tá... antes de chegar Recife...
L2: a SUDENE estava começando...
L1: não... mas isso é... já é... arrabalde de Recife não é dentro da cidade propriamente...
L2: [
ah certo...
L1: ainda na estrada você vê... tem um monte de complexos por ali... se não me engano de plástico... parece que já estão fabricando matérias primas...
L2: muito material químico... né?
L1: é
L2: indústrias químicas... tinha bastante lá... e tive passeando lá um... tempo de carnaval até achei um troço bem esquisito né? o pessoal se diverte jogando coisas fora... então eles têm... um corso... não sei se você já ouviu falar...
L1: [
ué?
L1: não... eu sei através desse amigo meu... que está em Maceió... que passa fim de semana em Recife... normalmente... e ele me contou que o carnaval de lá... pelo que ele fala... deve ser o antigo carnaval daqui...
L2: nossa... lá é bem mais... pesado... né?
L1: [
e... o "entrudo"... que eles chamavam... que o pessoal joga... como se fosse urina... vale tudo...
L2: [
joga tudo... não mas é...
L2: eles dispersam com café... açúcar e jogam tudo...
L1: eles jogam o que tiver na mão...
L2: [
guerra entre carros... o pessoal que está... tomando chopp no... aqueles barezinhos que têm ali na beira da praia... Boa Viagem... então saem jogando tudo que tiver na mão...
L2: e a agricultura... o que você viu por lá?
L1: não sou fã da agricultura ((risos)) gosto do campo pra dormir... descansar por lá... negócio de cultivar não é comigo...
D: mas você falou que você passava férias numa fazenda...
L1: eu gosto de andar a cavalo...
D: sim... mas você não pode descrever pelo menos pra ele... como é que é essa fazenda... e o que que tem lá e...
L1: São Paulo?
D: hã hã...
L1: fazenda que eu conheço é em São Paulo e no Estado do Rio... nessas eu ia... de São Paulo é essencialmente plantação de café... meu padrinho... faleceu... ele tinha plantação de café... eu acho bonito aquilo tudo assim como paisagem... mas não como meio de vida... eu não... não me adaptaria a isso... eu gosto de ficar em lugares isolados... por algum tempo... mas não por muito tempo...
L2: tem angústia né... se ficar isolado por muito tempo...
L1: não não é angústia... eu sinto falta de amigos... então você
L2: ( )
L1: tem dificuldade em... em grupar várias pessoas amigas... quando você está num lugar muito isolado...
L2: [
num mesmo canto...
L2: você não conseguiria fazer amizades facilmente?
L1: difícil...
L2: acha difícil...
L1: é... pelo modo de vida que você tem aqui... eu tive problemas no interior... devido a esse... sistema de vida... de cidade grande e o pessoal de cidade pequena... quando chega um cara da... do rio... era essa a fama... o cara é carioca é é... sem-vergonha por excelência... então era um tal de trancar garota em casa e levava surra do pai só por ter falado com o cara...
L2: [
interessante... é...
L2: eu tenho experiência ao contrário disso... também no interior... mas só que no Espírito Santo... eu de vez em quando... vou para a casa de uns colegas meus... lá em Mimoso do Sul... lá perto de Cachoeiro... então... dessa vez agora... nesse feriado eu fui para a fazenda deles... né e um dia eu fui pra cidade... e na cidade eu sou bem quisto... normalmente... bem é modo de dizer... todos aceitam normalmente...
L1: não... não é isso... eu era bem quisto lá porque eu era... o afilhado do doutor... meu padrinho era médico sanitarista na cidade... mas em compensação... quando tinha festa no clube... ninguém chegava perto...
L2: ((risos)) tinha medo de você?
L1: sei lá porquê... não... eu mudei muito... quando era garoto era meio... louco eu fui... dizem que amadurecendo... mas estou envelhecendo mesmo...eu estou mais calmo agora... mais quieto
L2: ( )
D: essas cidades todas... é... esses locais todos que vocês conheceram em termos de clima... por exemplo... comparando com o Rio de Janeiro...
L1: bom... eu acho que qualquer lugar é diferente daqui do Rio... do ponto de vista clima...
L2: qualquer ponto onde você andar por aí é diferente...
L1: aqui não se tem definição de coisa nenhuma...
L2: é...
D: como assim? explica mesmo pra ele...
L1: [
não... aqui não tem inverno nem verão... bom ele estão sentindo frio... eu não estou...
L2: não... não estou sentindo frio...
L1: estou sentindo uma umidade terrível... rapaz... e me dói o osso... mas frio eu não sinto...
L2: [
bom... sa/...
mas eu sinto frio... espera aí... sábado eu senti frio... mas frio mesmo...
L1: não...
L2: não é umidade... umidade é um troço que permanece... agora... frio... entra num frigorífico...
L1: [
não... sinto uma umidade...
L2: entra dentro de um frigorífico que você vai ver que é diferente...
L1: não... eu acho que é diferente... bom já peguei frio de menos três graus...
L2: nossa... eu já peguei de seis...
L1: mas... lá em Teresópolis... na... na Serra dos Órgãos...
L2: aonde?
L1: Serra dos Órgãos...
L2: eu peguei menos de seis em Itatiaia... lá na... Agulhas Negras...
L1: [
em Petrópolis...
L1: deve dar um... ( )
L2: [
no... sabe onde é que é?
L1: sei... é que eu gosto de acampar...
L2: também? também gosto...
L1: você acampa desde quando?
L2: uns três anos... três anos e meio...
L1: ainda é novato...
L2: é... ((risos))
D: bom... quais acampamentos aí vocês fizeram?
L1: bom... eu acampo desde os doze anos de idade... fui escoteiro...
L2: [
em clube...
hum-hum...
L1: mas fui escoteiro dos doze aos dezessete... dezessete pra dezoito anos... aí... com negócio de vestibular... isso e aquilo... começou a... escassear tempo...
L2: mas você faz por conta própria ou faz por um... um grupo?
L1

[de lá pra cá... por conta própria...
L2: bom... eu tenho feito em
L1: [
inclusive minha filha também já acampa comigo... minha mulher... tem um outro casal com filho e tal... bagunça de fim de semana...
L2: mas fica em camping ou em terreno?
L1: não... agora eu faço em camping por causa das crianças... não tenho condição de fazer aí por fora...
L2: tenho o costume de fazer sozi/... sozinho não... com um grupo... mas não em camping... em clube... né... excursão... lugares bons... em:... Correia... Petrópolis...
L1: [
não os últimos que eu fiz... conheço...
L2: fazenda...
L1: em Correias eu conheço porque papai tinha... casa lá...
L2: é... lá entra... na Fazenda Sampaio... não sei se você conhece... pertence ao Banco do Brasil...
L1: [
Sampaio...
L2: Fazenda Sampaio...
L1: não...
L2: mas ela é aberta... o público en/... ( )
L1: não porque não era... na minha época de Correias é quando eu tinha... meus... até uns oito anos de idade quer dizer... me recordo muito pouco de Correias... e mudou razoavelmente...
L2: bom... deve ter mudado...
L1: São vinte anos... ( )
D: e por exemplo... pra preparar uma excursão dessa... algum acampamento... que que vocês devem...
L1: pra preparar?... primeiro encontrar um feriado propício...
L2: é...
L1: que é a maior dificuldade...
L2: [
e disposição né?
L1: não... disposição eu tenho sim... falou em... me chamar pra acampar eu vou tranqüilo... eu tenho todo... o equipamento... é só jogar tudo dentro do carro... e vamos embora...
L2: tem facilidade
L1: tem... não hoje acampamento é muito mais tranqüilo que antigamente
L2: mas eu fazia antigamente...
L1: [
você vê as barracas que tem hoje... são tranqüilas... antigamente não... não tinha fundo... não tinha nada... quer dizer... lá na Serra dos Órgãos... pra gente dormir tinha que esquentar pedra na fogueira... e depois de:... esquentar bem... a gente jogava dentro da barraca...
L2: [
da barraca pra esquentar...
L1: e forrava com jornal... para aquecer a barraca... agora não... todas elas têm forração de nailon por dentro... toda fechada... vedadinha... você pode pegar um temporal tranqüilo... antigamente não começava a chover você saia cavando vala em volta... não podia dormir... agora não... está cheio: de... coisa de uns quatro anos pra cá é que começaram a incentivar... eh... camping...
L2: camping...
L1: então tem fábricas aí de equipamentos... tudo é... mais tranqüilo...
D: sim... você tem um dia propício e aí você tem que escolher o lugar?
L1: o lugar?
D: o que você leva em conta pra escolher o lugar?... ou já é um lugar fixo?
L1: não... normalmente é um lugar que eu não conheça ainda...
L2: depende do clima também... né?
L1: não... eu gosto do frio...
L2: bom... então você vai escolher um lugar... onde a temperatura seja baixa... você não iria então para a praia...
L1: [
escolheria sim sim... mas acontece que tem que ver... o resto do pessoal que vai também... então... normalmente se perdem dois fins de semana...
L2: pra programar...
L1: pra programar a coisa... programar aonde se vai... chegar a um acordo do local...
D: e aí... as discussões são em torno de quê?
L1: as... normalmente as mulheres discutem... e a gente fica tomando uísque... quando elas chegam a um acordo... então tá... em tal lugar... tá...
D: eu queria saber o que elas discutem... quais são os elementos que entram ( )
L1: não sei... porque a gente fica de fora tomando uísque... deixa elas soltas lá...
D: e em que medida o clima interfere?
L1: problema de clima eh... no meu caso particular... é o problema das... da criançada.,.. quando... nós não tínhamos filhos... a gente ia pra qualquer lugar... éramos casados com vida de solteiro... topávamos qualquer negócio... mas agora... com a garota não... quer dizer... tem que segurar um pouco...
D: que significa isso?
L1: diminuir os riscos...
L2: nem todo lugar é propício pra os três né?
L1: pois é...
L2: é pra dois e pra um não...
D: e você... como é que você faz a escolha?
L2: a minha escolha não é diferente... eu vou aonde tiver programado...
D: por quê?... explica exatamente como é que funciona isso em termos de... programação... quando você vai...
L2: [
normalmente a minha opção...
D: todo um... toda a sua excursão... como é que é? você podia descrever...
L2: não sei... normalmente... normalmente eu vou em função de um clube certo... do qual sou sócio... de excursão... então a gente entra em contato com a sede... para ver qual a programação dos fins de semana longos... quando há disponibilidade que é o caso de que nem todos os fins de semana eles têm disponível... aí... se o programa agrada... a gente vai... caso contrário faz por conta própria... já é mais difícil... agora... normalmente a gente não vai pra camping... a gente escolhe um lugar no meio do mato... ou um... uma escalada qualquer um troço assim diferente né?... e: vai... aí a programação começa... primeiro saber quem vai... o grupo que vai pra dividir o peso... porque normalmente a gente não vai de carro... vai levando é mochila mesmo... barraca nas costas... e vamos embora... e pegando condução... porque dividir a despesa... porque o carro já... tira um pouco da alegria da brincadeira... se bem que a gente tenha... mas a gente não gosta de levar...
L1: bom... fiz camping assim até quatro anos atrás...
L2: é... né...
L1: aí casei... já... mudou a filosofia da coisa...
L2: [
bom é... é interessante... as garotas que vão com a gente e tudo... topam tudo isso... mas no momento que casam já não quer mais... quer conforto... né? ((risos))
L1: não se trata de conforto...
L2: não... mas é... eu sei que lá pelo menos já tem isso... a gente vê... pessoal... o casal...((risos))
L1: você ainda não casou rapaz...
L2: ((risos)) não tem problema... então eu vejo lá o... os casais... o pessoal... vamos dizer... é... só... do... do... na turma... topa qualquer brincadeira... vai a qualquer lugar... mas no momento que casa... pronto já começa a desgrudar...
L1: não mas mesmo quem casa no próprio grupo... já fica diferente... é lógico...
L2: não sei em que isso influi não...
L1: casa pra ver...
L2: ((risos)) muito obrigado... não estou com vontade não... mas então a gente... arruma... divide a comida... porque não vai levar comida pra um batalhão... né?... le/... leva o necessário... toca em frente né... pro lugar onde que marcou... se é beira de praia... vai pra praia... já vai... leva um material diferente daquele que vai levar pro campo... se espera assim um frio... já leva uma roupa diferente... tudo isso é detalhado...
L1: às vezes pega um temporal no meio do caminho...
L2: por causa do temporal leva uma capa... né...
L1: eu tive que levantar acampamento... agora em novembro... então ponho a garotada toda pra acampar... em Cabo Frio... no dia seguinte desabafou um tremendo temporal... não teve jeito não recolher tudo e trazer a garotada de volta...
D: e aqui no Rio... eh:... durante a semana... como é a vida de vocês em termos de...
L2: bom... a minha é um corre-corre...
D: [
cronológico mesmo...
L2: a minha é um corre-corre... saio de casa... venho pro trabalho... do trabalho... vou pra escola... de noite quando chego em casa tá na hora de dormir... tá na rotina... continua sábado até cinco horas e estamos aí dentro né... trabalhando... depois das cinco aí começa as programações... se a gente tem alguma coisa pra fazer... faz... se está namorando... namora... se não está arranja alguma coisa pra fazer... ir a um teatro... a um cinema... ir a um baile... uma festa... ou então se preparar pra sair... no dia seguinte há um passeio... próximo ou longe não sei...
L1: meu horário já é diferente do dele... eu não trabalho aos sábados...
L2: é uma alegria né?
L1: de segunda a... de segunda a quinta eh:... é horrível o trabalho aos sábados... e eu detesto acordar cedo e tem que acordar... venho pra cá...
L2: você esqueceu a sexta...
L1: não... sexta-feira eu não tenho aula à noite...
L2: ah bom...
L1: e sexta-feira é um dia... então de segunda a quinta eu... saio de casa às sete horas e só chego às dez e meia da noite... aí vou brincar com:... minha filha e tudo... nunca deito antes de uma e meia da manhã... na sexta-feira eu fico com a minha mulher... aí sábado eu posso ficar tranqüilo até onze e meia meio dia... minha filha não acorda... minha filha acorda tarde também... a gente sai com ela... por aí...
D: aqui vocês têm horário rígido... determinado?
L1: teoricamente é rígido... como qualquer horário...
L2: mas na prática...
L1: mas aí a própria pessoa torna flexível até onde pode... por exemplo eu... sou obrigado a sair dez minutos mais cedo... meu horário seria até as cinco e trinta e seis da tarde... acontece que se eu sair às cinco e trinta e seis... eu perco parte da primeira aula que eu tenho... eu trabalho aqui em Vicente de Carvalho e estudo na Gávea... a primeira aula é às seis e meia... se eu sair daqui às cinco e trinta e seis... eu já perco dez minutos pra sair do estacionamento até a porta da fábrica... mais a viagem daqui... via avenida Brasil e túnel Rebouças... chego na aula... pelo menos quinze pras sete... então tenho saído normalmente cinco e vinte e cinco... cinco e vinte... pra dar tempo de fazer um lanche rápido... de lá pra casa...
D: e você?
L2: eu?... bom eu saio às cinco horas... normalmente dá tempo... certo... ainda vou em casa janto... aí... apanho o carro do velho né... porque ainda não tenho a minha condução própria...
L1: você consegue jantar a essa hora?
L2: janto seis horas estou jantando... tranqüilo... e:... é o costume normal... antigamente eu não jantava... no tempo que eu fazia pré-vestibular não eu saía da escola de manhã.. entrava... pra sala fazia um lanche... nem lanche muitas vezes... ia direto... fazia vestibular de noite chegava em casa onze horas pra jantar... agora não mudou ritmo de vida mudou tudo... no tempo de faculdade também almoçava e jantava em casa...
L1: eu não consigo jantar a essa hora não... eu agora só estou jantando sexta-feira...
L2: então... ((risos)) é o costume...
L1: por hábito... sábado e domingo eu não janto... eu meu dia começa muito tarde...
L2: [certo eu também... não nem sempre... tem sábado que eu janto... quando estou com fome eu janto...
L1: não não janto... porque desde a época em que eu era solteiro... lá em casa sábado e domingo... problema de fim de semana sabe... tumulto de fim de semana que é o normal... não se jantava fazia um lanche reforçado... e minha mulher também... por acaso... os hábitos dela eram semelhantes aos meus...então agora eu só estou jantando sexta-feira... no horário... de segunda a quinta não dá por causa do horário... eu não consigo jantar eh: às onze horas da noite... não sinto... eu me encharco de cafezinho... o dia todo...
L2: eu estou fazendo uma economia e tanto... né?
L1: não estou gastando muito menos...
L2: gasta mesmo...
L1: não porque então... eu não janto... mas em compensação como três sanduíches... à noite... gasto tanto como numa refeição normal...
D: bem... você falou num problema de:... sair daqui e ir até:... a Gávea... eh:... problema de transporte... de chegar até o túnel Rebouças etc... então vocês podiam: bater um papo assim... trocar idéias:... vocês dois:... os dois... participando... eh:... sobre o problema da... do terreno... da topografia... da cidade... do Rio... eh:... vincular isso a esses problemas todos... de trânsito de:...
L1: não sei...
D: de enchente... etc...
L1: sobre topografia... eu acho que a gente não pode falar muito... não dá pra se ver coisa nenhuma... com tanto prédio... não dá pra sentir topografia aqui...
L2: não... dá pra você sentir porque sobe e desce morro... né?
L1

[sabe que tem morro ali... não muito pouco... você pega daqui pra... pra Gávea... o único morro que você subiria...
L2: [
depende... hã
L1: seria aquele do Rebouças... que você contornava antigamente...
L2: então... antigamente... você saía daqui que a... passa pela Penha que tem um morro...
L1: mas isso aí...
L2: mas é... né... de um lado tem ( )
L1: cinqüenta metros de altura
L2: bom... que que é morro?... que que é morro?
L1: sei lá... eu ( )
L2: um montão de terra uma em cima da outra...
L1: mas cinqüenta metros eu acho que é pouca coisa...
L2: mas ali dá mais de cinqüenta metros...
L1: cinqüenta metros é um edifício de... cinqüenta por três...
L2: é:... ali é muito mais...
L1: quinze andares... dezesseis andares...
L2: [
é: ali é muito mais...
L1: não esse da Baush & Lomb?
L2: não... não estou falando daquele... eu estou falando lá... da Igreja da Penha...
L1: da Igreja da Penha... eu não vejo...
L2: [
porque Baush & Lomb você sobe aquele... você vai por aqui?
L1: não eu não vejo... da avenida Brasil eu não vejo a:... igreja da Penha...
L2: onde você sai?
L1: só quando estou vindo pela Rio-Petrópolis... que pela avenida Brasil mesmo... eu não vejo... os prédios te impedem a:... visão pelo menos a minha...
L2: [
se você saindo por aqui por trás pela:... por essa rua que tem aqui... a rua do Canal...
L1: avenida Meriti?
L2: Meriti... você chegando...
L1: eu desço a... Vicente de Carvalho... você não vê nada... é um bloco de prédios pro um lado e pro outro... só vê trânsito...
L2: é... eu acho que você sente né?
L1: eu já estou meio escaldado com o trânsito daqui...
L2: bom ou ruim?
L1: é horrível
D: mas vocês conhecem São Paulo não conhecem?
L2: ( )
L1: São Paulo é bem pior do que... é diferente o trânsito...
D: qual a diferença? eh... em que medida... por exemplo o o:... o relevo do... do terreno ... em que as duas cidades foram construídas... faz com que: seja diferente?
L1: é... o problema é esse...
D: o que a gente...
L1: você quando vive dentro de uma cidade... você perde a noção de relevo dela... por exemplo você quando vai a Minas... quando você vai a Belo Horizonte... você sente... que ela está dentro de um vale mesmo... ela está cercada... mas quando você está dentro de Belo Horizonte... vivendo na cidade... você perde a noção...
L2: ( )
L1: você tem aquele plano e acabou... que o desnível que você tem entre um plano e outro... você não percebe... mesma coisa Rio... São Paulo... Belo Horizonte que eu conheço... Salvador não... você já sente aquelas ladeiras antigas...
L2: bom... sentir é uma coisa... agora ver é outra... por exemplo... se você...
L1: mas você não vê... você está participando daquilo... você eh: é um módulo ali dentro...
L2: [
consegue... mas você... não sei até que ponto você olha a... natureza... mas você consegue ver...
L1: não sei... você... quer ver uma coisa... você tem grandes percursos aqui no Rio... eu acho... por exemplo... eu gasto por dia da Tijuca até aqui... daqui até a Gávea e voltar... pra casa... eu gasto em média setenta quilômetros... mas é tudo dentro de cidade...
L2: certo... mas está se falando de cidade... não da...
L1: não... o problema de relevo... eu não sinto diferença de relevo aqui...
L2: você quando vai pra Barra... você vai pelo Rebouças ou pro...
L1: Barra...
L2: você dá a volta?
L1: [
eu já acho fora do perímetro urbano...
L2: bom... mas a finalidade não é perímetro urbano... é tudo...
L1: está... pode ser... mas a...
L2: [
bom... você sobe... mas...
L1: minha vida é dentro da cidade...
L2: certo... mas você sobe...
L1: pra Barra você...
L2: você sobe o Alto da Boa Vista...
L1: pra Barra você depende... depende... se você vai pelo Leblon... você não sobe...
L2: correto... mas você pode subir...
L1: se for pelo Alto...
L2: então... você pode subir... pode ver o relevo lá de cima... você nota perfeitamente a altura...
L
mas aí... já é fora do teu cotidiano...
L2: é e não é... né?
L1: pra mim é...
L2: ( )
L1: no meu é...
L2: no meu não é...
L1: eu quando volto do Alto da Boa Vista... eu estou...
L2: [
pra mim isto está inteirado a um fim de semana qualquer...
L1: tá...
D: que você observa assim... dá dá uma ( )
L2: não sei por exemplo... eh... normalmente não... mas já fiz muitas vezes... ir ao Alto da Boa Vista e subir... ir lá pra cima:... Pico do Papagaio... Pico da Tijuca...
L1: é... mas esse lá pra cima é... trezentos metros acima...
L2: bom... mas já chega pra mim... lá de cima já vejo tudo cá de baixo... subir a Pedra da Gávea:... lá eu tenho um panorama... que eu vejo todo...
L1: eu fui lá ( )
L2: então... você vê toda aquela orla marítima... e do lado de cá você vê toda a constituição de morros... cadeias de morros e tudo...
L1: sim... mas você vê isso... uma vez por mês... ou uma vez por semana no máximo... digo o seguinte... você na tua rotina... diária você não percebe esse relevo...
L2: [
mas ninguém ( )... mas ninguém percebe assim na rotina...
L1: você quando fez um programa desses aí de fim de semana... de ir pro Alto da Boa Vista... pra mim é a mesma coisa que ir pra:... Piraí:... qualquer lugar... fora daqui do Rio...
L2: por quê?
L1: porque é uma fuga à sua rotina... um programa de fim de semana como um outro qualquer... um passeio... de fim de semana...
L2: não...
L1: entende o que é?... eu digo o seguinte... você no teu dia a dia... esse problema de:... contemplar o relevo... você não sente...
L2: bom... mas...
L1: problema de trânsito...
L2: não é contemplar o relevo... é você sentir o relevo né?
L1: é... mas você só contempla quando você vai a fim disso...
L2: contempla... sentir não... você sente o relevo quando você está numa ladeira bem inclinada... e tem que travar o carro... lá... que senão ele volta...
L1: é...
L2: não sei...
L1: [
escuta aqui...
L2: bom isso é relativo... tudo é relativo... não é?
L1: por falar em ladeira me lembrou um troço lá em Belo Horizonte... tem a... tal lade/... conhece Belo Horizonte?
L2: conheço...
L1: ladeira do Amendoim... já ouviu falar?
L2: ( )
L1: a única subida que cresce...
L2: ( ) é?
L1: ilusão de ótica sensacional...
L2: essa eu não conheço...
L1: tem uma subida... razoável... então... nessa ladeira... tem a tal ladeira do Amendoim... que é uma outra subida... mas se você jogar a água ali... e soltar o carro... parece que ele está descendo... uma ilusão de ótica fantástica... você tem a nítida impressão de que é uma subida mas não é... é uma descida... então quando você larga o carro... e começa a:... a subir...
L2: e vai afinando...
L1: não... é descida mesma... mas é tanta ladeirinha... você tem:... a impressão exata que onde você está é subida também... mas não é... é uma descida... bom... falando assim... não dá pra sentir... um mineiro é que me levou lá... ladeira do Amendoim... subida do Amendoim... um negócio assim...
D: e as cidades daqui... no Estado do Rio... todo mundo conhece... vocês subiriam de vez em quando... pra chegar até lá... Petrópolis... Teresópolis...
L2: você tem uma serra né pra subir né...
L1: tem... aí você sente o relevo...
L2: [
( )
L1: você tem que andar em terceira o tempo todo...
L2: não... mas eu sinto mesmo o relevo subindo o Alto... poxa
L1: não sei... é que:... pouca coisa... pra mim é... talvez por você já estar habituado a isso...
L2: certo... porque... por exemplo... se eu for por Jacarepaguá... eu dou uma volta e não, pego... ladeira nenhuma tudo plano... eu contornei todos aqueles morros... vou sair no mesmo lugar... então só vejo planície... todavia... se eu vou pelo Alto não pego uma ladeira... mais ou menos... não é mesmo... não é?
L1: todavia...
L2: todavia... o quê?... se vai pelo túnel né... você também pega... eh... Teresópolis e Petrópolis já é: uma... subidinha...
D: [
sim ( ) tem diferença?
L1: [
em que cidades?
L2: tem diferença em quê?... Petrópolis?
D: você sente né uma ( )
L2: você sente uma diferença de temperatura... logo que começa a subir... pelo menos eu sinto... ele pelo jeito não deve sentir né...
L1: não... eu sinto pouco...
L2: é...
L1: mas o que me chateia mais em Petrópolis é o tempo de lá...
L2: também tem chuva programada... né?
L1: raramente eu pego sol em Petrópolis...
L2: é... mas lá tem chuva programada...
L1: tem...
L2: me lembro que passei lá:... o primeiro ano da faculdade tive lá... fiquei lá durante uns três meses ou quatro...
L1: você foi a Petrópolis?
L2: fui... em setembro depois que me formei... aí... a gente: marcava:... a aula era de manhã e a tarde... tinha que ir pra:... assim... não tinha nada que fazer... a gente ia pra praça né?... não tem praça... lá é aquela rua... do canal... né não sei o nome daquela rua...
L1: avenida Quinze...
L2: avenida Quinze... tinha um bar ali japonês... que nego... a rapaziada ficava toda lá... naquele bar... então a gente ia pra lá né?... mas era tiro e queda chovia sempre na mesma hora... mais ou menos...
L1: [
porque pra mim... é horrível... Petrópolis é:... a chuva... que eu detesto chuva... não gosto de chuva...
D: e a vegetação?... da... do Rio até Petrópolis... até Teresópolis... no centro urbano não sente muito...
L2: ( ) não dá...
D: ( ) mas que vocês tiveram a experiência de viajar... pelo menos de São Paulo até Recife... vocês estão...( )
L1: [
mas você esquece de uma coisa... quando a gente está viajando...
D: não é possível que seja tudo igual?... é tudo igual?... vocês não ( )
L1: não...
L2: tem diferenças...
L1: não... tem um troço que eu achei impressionante... você indo pro Norte... pela Rio-Bahia... os terrenos
L2: [
( )
L1: que você tem à beira da estrada em Minas... são completamente diferentes dos da Bahia...
L2: [
justamente... e a plantação vai diminuindo né?
L1: em Minas é tudo cultivado... como?
L2: e a plantação vai diminuindo...
L1: não... vai rareando...
L2: é...
L1: em Minas todo terreno é cultivado... na Bahia não...
L2: é no Espírito Santo... também...
L1: mas é... você vê perfeitamente a divisão... e de São Paulo pra... pra Minas... você indo pelo oeste... então você também percebe... em São Paulo é muito mais cultivado... do que em Minas... você sente a diferença de vista... é impressionante... então a gente gozava até os mineiros e os paulistas que estavam com a gente... "ah... agora a gente sente o ar de Minas..."
é?
L1: é diferente o tipo de:... agricultura... digamos assim...
L2: sim... a gente fica muito mais na... terra...
L1: [
em terrenos vizinhos... às vezes...
L2: bom... é uma diferença muito grande em terra né?... na terra cultivada e... não sei... coloração... sei lá o tipo delas... se bem que eu não entendo muito disso não... mas a gente percebe que é uma...
L1: eu também não entendo nada disso...
L2: há uma diferença entre elas...
L1: [
não entendo...
L2: e vê também muita... como é que é? plantação rastejante... ela vem diminuindo... você já foi daqui para o Espírito Santo de trem?
L1: [
o problema quando você está...
L2: que você pega ( ) ?
L1: eu não gosto de viajar de trem...
L2: mas é gostoso principalmente quando ( )
L1: nas minhas viagens... noventa por cento delas... são de automóvel... um dos problemas do... da viagem de automóvel...
L2: é que você não presta atenção ( )
L1: que você não pode prestar atenção no que tem ao lado...
L2: é... mas na... nessas viagens de trem...
L1: então não dá pra observar muita coisa... a não ser quando você pára em algum lugar... aquele cafezinho...
L2: é... aí você não quer ver nada... mas se você viajar de trem daqui para o Espírito Santo... você vai pegar ali na:... pela Baixada Fluminense... em Campos... toda a plantação de... de açúcar... de cana-de-açúcar... mas é aquilo tudo... dependendo da época em que você vai você vê a:... o tamanho que está:... a plantação né?... e todas elas iguais no ( )
L1: a plantação de cana-de-açúcar linda...
L2: não é?
L1: ... que eu vi foi entre... Maceió e Recife... a estrada passando por dentro... do canavial... é lindo... o troço...
L2: é... eu já vi... já senti... já in/... indo de trem... de ônibus também você sente...
L1: ( )
L2: estrada pra frente...
L2: bom se for pela... ( )
L1: essa estrada eu só peguei até:... São Pedro da Aldeia...
L2: correto... dali pra diante eh...
L1: quando eu vou pra Cabo Frio... pra Campos é mais tranqüilo...
L2: [
mas é mesmo pra... se você for... se você subir pra Recife também é a mesma estrada... tem ( )
L1: não... se eu for pela Rio-Bahia...
L2: ah... você vai por dentro...
L1: porque eu... não é... porque... daqui a Recife são...
L2: eu me lembro de ter ido pela... pelo litoral...
L1: dois mil e:... dois mil e quatrocentos quilômetros... mais ou menos... eu tinha que programar as escalas... saí daqui... até Teófilo Otoni...
L2: é eu fui direto...
L1: são oitocentos e poucos quilômetros...
L2: eu fui de ônibus... eu fui direto...
L1: não... mas eu fui de carro... eu prefiro viajar de carro... já tive uma experiência muito chata num ônibus...
L2: ( ) de ônibus?... eu já tive de carro...
L1: a primeira vez que fui a Salvador... na época que eu era solteiro... então eu vendi um carro pra um cara lá em Salvador... tinha um Karmanguia... fui levar o Karmanguia até lá... e voltei de ônibus... acontece que a... minha estada em Salvador eu dormia na praia... né então ficava naquele Tabaris... fechou já... um:... clube noturno que tinha lá... então ficava no Tabaris até três e meia quatro horas... e ia dormir... em frente ao Farol... oito e meia eu tinha que levantar pra ver o sol... e o gari também limpando as:... praias...
L2: se não levavam você...
L1: [
eu tinha que sair fora... então em Salvador eu fiquei cinco dias praticamente sem dormir... vim dormir na viagem de volta... então eu perdi almoço... perdi jantar... perdi café... eu fica/... passei o dia todo... o dia... foram:... o ônibus furou o pneu em Jequié... foi um rolo dos diabos... resultado... não fiz refeição nenhuma... porque eu... porque eu dormi e ninguém me acordava... né... "deixa esse cara dormindo no banco"... eu fiquei vinte e sete horas a seco... de lá até aqui...
L2: mas por outro lado você economizou tempo... já imaginou se você tivesse que dormir pra descansar e tudo?
L1: não... eu prefiro fazer viagem de automóvel porque eu paro onde eu quero...
L2: eu não... não... eu prefiro o contrário...
L1: a vantagem que tem... em viagem de carro é essa... pra mim... se eu tomo uma estrada... eu vejo uma... seta indicando uma cidade que eu:... que eu não moro... ou que eu queira ir lá ver...
L2: [
não conhece ainda...
L1: para conferir... eu entro... no ônibus eu não tenho essa chance... você só vê placa e mais nada... vai em frente... se quer parar para tomar um café... o motorista não vai parar... ele só vai parar de duas em duas horas... só que ele não é o dono do meu organismo... então eu vou com carro... eu paro a hora que eu quero... onde eu bem entendo... então eu prefiro ir de carro... detesto viajar de trem... e tive que passar um ano e meio viajando de trem...
D: pra onde?
L1: São Paulo... Minas... Espírito Santo... fui até:... Uberaba de trem... tive uma viagem num trenzinho especial que o dono do trem era eu... saí de Campinas... trouxe o trem até Barra do Piraí... Belo Horizonte... voltei à Barra do Piraí... vim ao Rio... fui pra Campinas de novo... levei trinta dias... nesse troço... e eu detesto andar de trem... acho horrível... não simpatizo com trem...
D: e como você teve que ficar um mês... eh:... nessas viagens... assim?
L1: profissão...
D: hã:...
L1: uma das minhas funções era... fazer levantamento das... da via permanente ( )
D: que significa isso?
L1: esse trem era um:... eu estou chamando de trem... mas não é trem...
D: não... fazer levantamento de via permanente... que que é isso?
L1: via permanente são os trilhos... dormentes e ( ) por onde: o trem passa... então nós tínhamos um carro... carro de linha que a gente chama... que ele tem uns mecanismos que registram todas as situações dos trilhos... dava a bitola... superelevação... nivelamento... torção... flechas... as curvas... então... tive que fazer esse levantamento todo... era eu... um motorista... um mecânico... e um eletricista... tomei chá de trem naquele troço...
D: quais eram... as cidades? Campinas... eh... Uberaba...
L1: não... esse desse trem?
D: sim...
L1: esse carro era da companhia paulista... eu trabalhava na rede ferroviária nessa época... a rede ferroviária tinha comprado um ( ) ... esse equipamento é suíço... e não tinha chegado ainda... então nós alugamos esse da companhia paulista... então fui apanhar em Campinas... mas devido a... ao traçado da linha... tive que vir até Barra do Piraí... porque o trecho principal era a linha do centro... que vai de Barra do Piraí a Belo Horizonte... então tive que fazer esse trajeto todo num carro a cinco quilômetros por hora...
L2: por quê?
L1: pra não:... interferir no gráfico...
L2: hã:...
L1: você acima de... o carro é genial... hidramático... suspensão por molas helicoidais... o troço bem balanceado à beça... e acima de cinco quilômetros por hora você introduz vibração... que pode interferir nos estiletes... quebrar um... eram nove canetas se não me engano... traçando sobre o papel... então cada uma:... era uma variável...
L2: ( )
L1: dava inclusive a velocidade do carro... tinha uma canetinha só pra velocidade do carro... talvez pra fazer uma curva de correção que nós não tínhamos... os lugares que eu passei... com esse carro... eu achei genial... inclusive eu tive que ficar em um lugar que nem hotel tinha... nem restaurante... Geciabra... são duas estações antes de:... Congonhas do Campo... quer dizer... antes de quem vem do Belo Horizonte pra cá...
L2: ( )
L1: quer dizer eram seis e pouca da tarde "bom... vamos ficar por aqui mesmo"... eu sei que pra dormir eu tive que: alugar um quarto na casa de um casal... que a filha tinha casado há umas duas semanas... um troço assim... o lugar que tive mais medo de dormir... a casa toda de:... sapê... o telhado de sapê... o forro da casa com aquelas esteiras de malha... grossa... o chão de barro...
L2: [
sei qual é...
L1: a porta parecia porta de... mictório público... dois palmos abertos embaixo e dois em cima...
L2: [
quando chegava ( ) ((risos))
L1: troço horrível... e ali: já é sul de Minas... barbeiro ali deve ter assim... eu sei que eu dormi de casacos até aqui... só fiquei do lado com o nariz de fora... a noite mais horrível que tive que dormir... já vi muitos lugares na vida
D: vem cá e você... em termos assim de:... só vai nessas excursões em termos de fim de semana?
L2: normalmente sim...
D: e não tenho outro tipo de:... eh:... atividade: assim... pra... que não seja... o acampamento... a excursão...
L2: tenho... isso varia da maneira com:... que pedir... né?... de diversão ou... ou de passeio?
D: de diversão... de passeio... do que for em termos de...
L2: não... eu não sei até que ponto... porque eu... gosto muito de variar... eu não me prendo a esportes... eu... eu me dedico àquilo que eu gosto na hora... então não pratico nenhum esporte... não sou sócio de um clube em que eu vá nadar... nem nada... também não sou fanático pra ir à praia... se eu quero eu vou uma vez ou outra à praia e tal... mas eu não sou daqueles de: metodizar... que sempre faz a mesma coisa... eu sou um pouco noturno né?... eu gosto de ficar muito de noite na rua... então... normalmente os sábados...
L1: vagabundo?
L2: hã?
L1: vagabundo?
L2: não... pra uns se chama boêmio né... a outros vagabundo... depende do ponto de vista né... eu prefiro me considerar como um fiscal da natureza... né... é muito mais agradável... então... a gente sai num sábado... quer dizer do trabalho... cansado... se muitas vezes a gente tem companhia é interessante... se não tem a gente arranja né?... a gente telefona pra um... pra outro... sempre encontra alguém pra sair... e vai... começa a rodar... o programa pode começar com um simples cinema... um teatro... vai-se a uma boate ( ) não... faz-se algum tipo de programa qualquer... ou então vai pra um bar... um lugar... que eu gosto muito de beber... de cerveja eu gosto muito de:... sempre um chopinho gelado é gostoso... não sei... eu gosto... e: assim... passo muitas noites né?... antigamente jogava muito buraco... hoje em dia eu já não ligo muito pra isso... jogar futebol de vez em quando e passear bastante... vez por outra eu estou metido com excursão... gosto de sair gosto de passear... aqui... até agora nunca tive vontade de ir pra fora não... ou não tive condição... não sei...
D: pra fora... você diz do Brasil?
L2: pro exterior... é... pode ser que eu não tenha tido ainda condição financeira de ir pra fora...
D: que que você quer dizer com que você não é fana/... fanático pra ir de ir pra... pra praia?
L2: porque se eu for à praia uma vez: de três em três meses é muito...
D: por quê?
L2: não sei... eu... eu gosto de dormir até tarde... certo?... depois... mesmo que eu tenha um carro que eu possa sair e tudo que eu tenha condição de ir... não... não me agrada... eu prefiro mais ir pra uma montanha... aí eu vou... subo o morro... chego lá em cima cansado toda a vida... escaldado... aí eu durmo lá em cima... aquele ar fresquinho gostoso... desço... venho embora acabou... mais nada... é um agrado... fazer uma escalada... é mais interessante pra mim do que ir pra praia... pra praia eu me queimo todo... não sei porque eu não estou habituado... então toda vez que eu vou é aquilo... a gente quer beber tudo né?... a gente não se contém em beber um pouquinho... então a gente entra de manhã e sai de noite né... não é...
L1: eu não sou fã de praia também não...
L2: ( ) então...
L1: então o quê?
L2: o esporte é diferente pra mim... e sempre uma coisa diferente é melhor né?... e:... arranja sempre uma coisa pra fazer... nunca fica à toa... eu pelo menos não fico... não sou caseiro... se eu fosse caseiro eu ficava em casa... acomodado...
D: vocês já viajaram muito pro nordeste... e pro sul... pra:... além de São Paulo... pro sul vocês já foram alguma vez?
L1: não tive oportunidade...
L2: eu também não...
D: hum-hum...
L1: tenho é uma vontade louca de ir...
D: porque aí poderiam estabelecer uma comparação lá com o nordeste...
L1: não... só... até São Paulo... já dá pra sentir bastante diferença...
L2: [
( ) diferença né... mas pelo menos lá no norte né você vê bastante diferença...
L1: sabe?... eu já tenho uma divisão... minha até Minas é uma coisa... subiu... Bahia em diante já é completamente diferente...
L2: diferente...
D: e o que que é diferente?
L1: Minas é:... tudo até o ar...
D: pois é: e... essas coisas todas eu queria que... que vocês sentem de... de diferente...
L2: por exemplo linguajar do:... eu senti isso... não sei se você sentiu... mas em Recife e em Olinda... são o quê?... assim... ela... vai... já a diferença entre eles já é grande... ao modo deles falarem... gírias... que nós usamos aqui... pra eles lá são coisas pornográficas ou feias... e pra nós não é...
L1: [
e vice-versa...
L2: e vice-versa né?... eles têm um:... são coisas assim... corriqueiras pra nós ou pra eles... que pra nós não é não é... no início é que eu encontrei uma: diferença... estou habituado... não me lembro mais qual era a palavra... mas tinha uma palavra que pra nós era normal falar... e pra eles não era... certo?... então aquilo já era uma ofensa... e não hoje em dia... que hoje em dia todo esse negócio de ofensa já... caiu muito do que era há uns... cinco anos atrás... mais ou menos quando eu fui... quatro... não mais cinco anos atrás... então naquele tempo eu encontrei uma diferença naquilo... no modo de conversar com eles... eles dizem que não... mas parece que eles falam cantando... né? ou somos nós que can/..
L1: eles dizem que nós é que cantamos...
L2: é... é... eles dizem isso... mas eu sinto eles... está tudo ao contrário... ((ruído))
D: sim... que mais?... outros aspectos de diferença?
L2: existe uma lá pra mim... né... eu a/... achei muito assim... uma pobreza muito grande entre eles... uma miséria... no lugar que eu fui... eu senti...
L1: não... eu acho que lá o problema é distribuição de renda be/... bem
L2: ( )
L1: diferente da nossa...
L2: certo... mas então de/...
L1: mas ( ) você tem todas a faixas... lá não tem...
L2: passa por uma discrepância...
L1: lá ou o cara é pobre mesmo... ou é bem rico... não tem meio termo...
L2: [
... esse... esse lance foi que me chamou atenção também... porque aqui... no carnaval ... na rua... você via o pessoal... fazer umas extravagâncias... por exemplo cortar... pra fazer o corso... eles cortavam o carro... naquela época um carro normal era o Simca... certo?... eles cortavam o carro... a capota e tiravam fora pra deixar ele aberto... fazer um carro... aberto... e isso era quem tive/... quem tinha posse né?... que pra fazer esse troço soldar... aí ia gastar nota... então via-se uma:... classe alta ali... ou assim... um pouco acima da média... e gastando... jogando fora a comida e tudo o que outras pessoas... naquele mesmo momento... estavam precisando né?... e não se preocupavam com isso não... normal...
D: você falou em comida... em relação à alimentação... o que vocês tenham ouvido falar no nordeste... sobretudo em... em...
L2: [
eu não...
D: relação a frutas... por exemplo... não sentiram diferenças?
L2: sentia...
L1: mangaba...
L2: mangaba... tem o:... espera aí eh:... eh:... tem uma frutinha... tem uma frutinha... que tem uma música... pitomba... conhece?
L1: eu não sou fã de fruta...
L2: não?... eu também não sou... bom... eu tenho as minhas fãs... eu gosto das minhas frutas sim...
L1: fruta pra mim só em salada de fruta...
L2: não...
L1: pegar uma fruta pra comer assim...
L2: é... não gosta?
L1: dá muito trabalho...
L2: principalmente romã...
D: vocês não tinham curiosidade de provar:... os pratos que comiam?
L1: não isso eu provo...
L2: eu... eu não sou assim fanático por isso...
L1: uma das manias... se eu tenho é... prato típico...
L2: comer de tudo né?
L1: eu tenho estômago de tubarão... então... qualquer troço desce... tranqüilo...
L2: ah eu como também... e a pessoa oferecer uma comida... na hora eu acabo com/... procuran/... não tenho interesse... em saber como é que é um...
L1: essa... nessa viagem que eu fiz com a minha mulher nós fomos comer um sururu naquela lagoa negra...
L2: ah... do Abaeté...
L1: eu não sou fã de peixe... mas lá eu comi... poxa... a minha mulher teve uma baita infecção... e eu tranqüilo não me deu nada nada nada... até sopa de pedra se me der... depende do tempero...
L2: do tempero...
D: aonde isso?
L1: isso lá em Maceió...
D: em Maceió... né...
L1: foi... eu como tudo...
D: de Maceió pro Recife por exemplo a alimentação é diferente?
L1: olha... a alimentação assim doméstica... eu acho que não tem muita diferença não...
L2: caseira... né...
L1: é... o problema é que... você quando vai pra um lugar desses assim... normalmente você não tem chance de:... ir pra casa de alguém então você vai pra um restaurante... eu gosto de restaurante bom... então quando você vai pra um restaurante bom é: a tal da cozinha internacional... você vai pra Bahia você come massa como come aqui... a diferença é o tempero... eles carregam na pimenta-do-reino... foi a primeira vez que eu comi macarronada napolitana com pimenta-do-reino... em Salvador... e eu gosto de co/... o bife lá em Salvador... pra mim é genial... eles carregam na pimenta-do-reino mesmo... e eu gosto de comida... picante... muito quente...
D: em Salvador... por exemplo... tem aspectos muito parecidos com o Rio... do ponto de vista da... situação da cidade... você acha que isso é normal ter no Rio ( ) em Salvador você não acha que não é... por quê?
L1: não eh... Salvador... Salvador... Salvador me lembra muito aquela região ali de Santo Cristo...
D: hum...
L1: onde tem aquela igreja de Santa Edwiges... um negócio assim...
L2: Edwiges...
L1: é... me lembra...
D: por quê?
L1: pelo tipo de construção... que existe né? porque é mais ou menos da mesma época... ali em Santo Cristo é da época colonial... como é Salvador... de um modo geral... aquelas ruelazinhas de: dois metros de largura... calçada de meio metro... lá em Salvador eu andei em ruas que eu não podia virar de uma esquina pra outra sem manobrar o carro...
L2: é... muito estreita...
L1: não dá... eu gosto de Salvador... tem um cheiro insuportável a cidade às vezes...
L2: eu não notei esse lance não...
L1: ali na na área do comer/ não notou?... onde tem o comércio... lá perto do Pelourinho... não tem rede de esgoto ali... e ali é o troço mais interessante que eu já vi... onde tem o comércio... funciona até as seis... depois das seis... tem "trottoir" por ali normal... tranqüilamente... então fecham as lojinhas embaixo e nos sobrados... são casas de encontro... então é:... o troço mais horroroso:... eu tinha acabado de jantar e fui pra lá... pra ver... uma... né... uma das...
L2: [
você não perde nada né?
L1: não... uma das diversões também... eu andei muito pelo interior... uma das diversões você conhece a cidade pelo... ( ) ((risos)) conhece a cidade pela zona que ela tem... então em Salvador eu achava completamente diferente... porque era o comércio normal... até às seis da tarde... então tinha... eu me lembro... barbearia... bares... sapatarias... assim... comércio... como se fosse do subúrbio aqui... aquelas lojinhas pequenas bazar que vende tudo... então... então fechava às seis horas em ponto... fechava o comércio e abriam as portas dos sobrados... então tinha os encontros lá em cima... a:... a mulher fazia a higiene dela numa bacia e jogava pro lado de fora... então fica na sarjeta... então fica um mal cheiro terrível... e aquilo funcionava até quatro... cinco horas da manhã... e às seis horas começava o comércio de novo ((risos)) então não tinha ninguém pra limpar aquilo... não você tem um choque terrível... você quando entra em Salvador... é impressionante... você sente cheiro de:... de lixo... é impressionante... não sei se alguém aqui é de lá... ((risos))
L2: ( )
L1: você é de lá?
D: ela é...
L1: não... honestamente... não é... eu gosto de Salvador honestamente eu gosto de lá... mas é uma coisa que eu sinto... percebo o ar de lá é diferente:... você sente o cheiro... é completamente diferente... já em Minas eu acho uma cidade limpa... o Rio... é tão
L2: [
( )
L1: poluído o troço que:... é sujo o Rio... não tem por onde... em Salvador eu achei impressionante... logo na entrada tem aquele comércio e:... tem muito negócio de tecido logo quando está entrando na cidade... não sei por que talvez eu ( ) tenha ido normalmente em época próxima de chuva... então fica tudo enlameado ( ) aquele paralelepípedo... que dá uma má impressão... mas a cidade em si eu acho genial... eu gosto de ( ) coisas antigas... e Salvador eu acho uma coisa bem antiga... tinha o hotel Bahia
L2: você conhece Aratu?
L1: passei por lá...
D: você também conhece Salvador?... sem ser Aratu tudo?
L2: não... Aratu eu tenho vontade... tenho uma loucura de ir pra lá...
D: por quê?
L2: profissional... pra mim aqui eu acho que não tem futuro... lá eu tenho... não sei...
L1: não tem não...
D: ( ) que que você... qual é a idéia que se tem a...
L2: [
lá é muito... porque lá tem:... está criando-se um centro muito grande de indústrias certo?... e muito mais fácil é você se locomover de uma indústria pra outra... principalmente no... no meu ponto de vista... eu não pretendo ficar trinta e cinco anos na mesma indústria não... pretendo sair de uma pra outra até cada vez... onde tiver mais a gente vai...
D: mas em que medida essa in/ indústria está se criando lá... você tem no/ notícia de estar sendo pela injunção... de características... da área... na região...
L2: não... não tenho não... as notícias que eu tenho de lá são do:... do Centro Industrial de Aratu... que tem sede aqui também... tem sede não... tem... filial... escritório...
L1: Escritório Comercial...
L2: Escritório Comercial... então ( ) sempre me interessei desde o tempo de... de: faculdade... então eu ia lá... apanhava um prospecto que me interessava e tentava ter algum contato com eles... saber das indústrias que estavam lá... os tipos e a... condição básica pra você ir pra lá... né trabalhar... em que ponto aquilo traria mais lucro pra você ou não... era mais ou menos como eu estava informada... depois parei de pensar porque eu me formei... que eu arranjei emprego aqui porque eu ia pra lá... e agora está em... assim em suspenso né?... mas a idéia ainda continua de ir pra lá...
L1: você tem amigos trabalhando fora daqui do Rio?... que você tenha contato com eles?
L2: se me lembro... sério sério nove... não sei onde estão todos os meus colegas... mas alguns estão fora do Rio sim...
L1: não sei... eu não tenho vontade de ir pra fora daqui não...
L2: eu tenho... bicho...
L1: porque profissionalmente é a mesma coisa...
L2: mas profissionalmente vo/... aqui você...
L1: agora... financeiramente pode ser um pouco diferente... você se fecha muito quando você vai pra um lugar estranho... suas despesas aumentam consideravelmente...
L2: com a renda acredito que não... mas depende da maneira como você vive...
L1: [
então você vai ganhando mais... mas em compensação você gasta muito mais...
L2: a maneira como... depende da maneira como você vive né?
L1: não... tem um troço que você nunca vai deixar de procurar que é diversão...
L2: não porque isso eu tenho aqui... eu tenho lá... né?
L1: ainda mais quando você está num lugar... não aqui é muito mais barato diversão... que o dia que você está duro... e quer se divertir você vai bater um papo com um amigo na casa dele... lá você vai como um estranho... você vai levar um ano... pelo menos... pra se ambientar com meia dúzia de caretas...
L2: pode ser... pra mim eu não estou achando difícil...
L1: olha... eu tenho um mundo de colegas que trabalham fora daqui... e a despesa deles é:... esse de Maceió por exemplo... fim de semana dele... ele vai pra Recife... são duzentos e cinqüenta quilômetros só de Maceió ( )
D: ele vai de carro todo fim de semana pra Recife?
L1: vai... ele casou lá... um dos inconvenientes do ((risos)) casou por lá então vai todo fim de semana... ele chama de "incursões turísticas"... então sábado ele larga do trabalho e pega o carro... sai ele e a mulher... saía agora a mulher dele está grávida... está aqui no Rio... então aumenta a despesa... você começa a procurar troço pra fazer... qualquer troço que você queira fazer você tem que gastar... tem muita gente que sai
L2: [
sem ( )
L1: daqui e:... pra trabalhar fora... "ah... vou estão (tá) ganhando mais de... cinqüenta por cento"... você vai gastar mais de cem por cento... não é vantajoso... se é que você vá lá pra Transamazônica e não tem onde gastar mesmo...
L2: aí é interessante...
L1: você não vai fretar avião pra passar fim de semana em Manaus...
L2: não deixa de ser interessante né?... deve ser melhor né?
L1: [
é...
L1: profissionalmente eu acho tão válido quanto você trabalhar aqui na Standard...
L2: é e não é... aqui você... pelo menos pra mim ( ) até que ponto você vai chegar aqui...
L1: [
você pode... aqui na Standard eu não sei... mas no Rio eu pretendo fazer muita coisa...
L2: ah... era um meio... pra mim no Rio... eu já estou achando difícil fora daqui acho mais fácil...
L1: bom você pode montar um negócio seu?
L2: não tenho essa idéia... não sei o que eu quero...
L1: pois eu tenho... desde que eu me formei... ainda não tive chance... pra mim falta o capital...
L2: [
a gente tem essa idéia... mas já vi que não dá... principalmente que existe agora aqui... cada vez mais diminuindo as indústrias pequenas...
L1: [
não acho que não... mas você considera a Standard pequena?
L2: [
não dá mesmo... não... a Standard é grande nesse ponto... você fala em criar uma... você vai criar uma...
L1: [
você... daqui a vinte anos... só vai ter indústria grande...
L2: então então você não terá condições de criar a sua... vai ser muito mais difícil ainda...
L1: por que não?... não... tudo... eu não quero indústria aí é que está o teu engano... o meu negócio não é indústria... eu estou tomando chá de indústria... chega de operário...
L2: chega de operário?
L1: ( ) por mais alto que seja o seu nível... trabalhando dentro de uma indústria... você não passa de uma simples operário... o cara entra às sete está desligado do mundo até às cinco e meia... depõem o presidente você só sabe às oito horas da noite...é impressionante... você não sabe de nada aí... só os fatos que acontecem aqui dentro... desaba o viaduto aqui do lado... você só sabe no momento da saída...
L2: não sei... lá dentro eu fiquei sabendo... depois que... o viaduto... caiu não era meio-dia... ou antes até...
L1: talvez alguém que estivesse voando... por lá...
L2: mas tem sempre alguém voando...
L1: bom... eu sinto isso... o... ca/
L2: não você sente que é uma prisão...
L1: eu... eu não gosto de horário rígido... um dos maiores inconvenientes da MInha vida é ter um horário rígido para alguma coisa... eu não gosto não está em mim... sou obrigado a ter... porque eu dependo disso aí... você fica desligado de tudo...
D: e o horário de vocês é controlado aí por uma maneira...
L1: não...
D: ou... mecânica concreta...
L1: está o problema de horário aí é o seguinte... tem...
D: entrada e saída...
L1: dependendo do nível... digamos assim... do pessoal... tem várias faixas... então:... até digamos assim no nível do escriturário... ele tem o controle de ponto... através de um relógio de ponto... e o resto do pessoal... a nível de chefe de seção...
L2: até menos né?... no órgão de supervisor ainda é...
L1: supervisor corresponde a um chefe de seção...
L2: não mas o supervisor ainda... marca ponto ainda...
L1: não...
L2: marca...
L1: na manutenção... porque lá na linha...
L2: não não aí... na linha...
L1: na linha não tem cartão não...
L2: só se é agora... a fabricação toda lá tem ponto...
L1: mas... de montagem não tem... eu tenho certeza...
L2: eu não tenho certeza... eu sei que tem porque eles têm o serão...
L1: estão... engenheiro normalmente não tem... chefe de seção... gerente... esse pessoal não tem marcação de ponto...
L2: secretária...
L1: agora eles controlam eh:... o horário... por meios indiretos... quando a firma fornece condução... então tem um ônibus... que leva o pessoal de determinada área... mora ali... então tem um ônibus que passa por ali... traz o pessoal... chega aqui às quinze pras oito da manhã... e sai daqui às quinze pras seis...
L2: pras seis...
L1: então é:...
L2: [
chega primeiro e sai depois...
L1: um controle indireto de presença... porque você tem que utilizar o ônibus... porque é anti-econômico você vir de carro todo dia... a não ser casos especiais... eu por exemplo... eu gostaria muito de vir de ônibus... que eu venho e volto dormindo... eu não posso dormir... tenho que sair daqui correndo pra ir lá pro outro lado... não posso depender de condução da fábrica... então isso... a condução da fábrica é um controle... de presença...
L2: se você perder... já viu...
L1: se perder todo mundo sabe... você vai chegar às nove horas da manhã... e todo mundo vê...
L2: todo... ((risos))
L1: e todo mundo fala ((risos))... ( )
L2: mas não é controlado não... entendeu...
L1: não não é controlado diretamente... mas indiretamente é...
L2: não é porque os outros vão falar que você vai ficar chateado e não vai chegar atrasado não... você chega atrasado...
L1: por que chegar atrasado ( ) ((risos))?
D: ele vem de carro... como é que você vem?
L2: eu venho de ônibus... ( )
D: você vem nesse ônibus?
L2: horário marcado...
L1: não tenho o horário controlado...
L2: [
não tenho condição... não sei quantos ônibus são... eu pego um deles eu pego o ônibus de sete e quinze...
L1: quando eu mesmo... quando não estava fazendo esse curso eu estava vindo direto... porque eu perdia o ônibus... eu conseguia pegar o ônibus no máximo... uma vez por semana...
L2: é eu pego ele sim... pra mim é...
L1: não consigo acordar...
L2: o que você fala... "quantas vezes venho dormindo"... voltar não porque o ônibus sai às cinco e trinta e seis... eu saio às cinco né... aí eu...
L1: você pode vir né...
L2: aí eu volto... pego o ônibus...
L1: não normalmente... eu venho e volto dormindo...
L2: o ônibus é interessante esse da Companhia... ele... normalmente pelo menos comigo normalmente leva o quê? uns quarenta e cinco minutos ou mais... o ônibus normal de carreira leva quinze até minha casa...
L1: não... mas ele sai num pinga-pinga aí...
L2: ele não sai no pinga não...
L1: dá a volta...
L2: não sei se você conhece um pouco de Rio de Janeiro né... então eu moro no Méier... então ele vai do Méier... volta a:... Del Castilho... Maria da Graça vai... Del Castilho pega a Suburbana volta... vai a Cascadura... passa pro lado de lá... volta... vem até:... eh:... Tomás Coelho... né? pra vim pra cá...
L1: o meu também dá uma volta estúpida... e agora que impediram aquela passagem ali...
L2: Tomás Coelho?... então ( ) vai ter que dar uma volta por ele...
L1: [
você tem que dar uma... uma volta ( )
D: agora me diz uma coisa... vocês tiveram algumas... vivências assim daquele período de:... chuva... aqui no Rio uma série de...
L2: enchentes... foi... em sessenta e quatro...
D: hã hã...
L1: não eu estava aqui no Rio mas...
L2: eu estava e...
L1: diretamente não me afetou...
D: não?... mas você ouviu falar... que que ele...
L1: ouvi...
L2: ( )
D: você também não afetou nada?
L2: não pessoalmente não... mas tive muito mais ligado porque naquela época... não sei... o grupo onde eu estava ( ) nós nos movimentamos muito perto de casa... por causa daquilo... uma parte assim de:... fornecer ajuda...
D: por que... que ( )
L2: não não nós vivíamos num grupo em que a rapaziada... o: Gildo... o meu irmão meus primos... a gente achou que tinha que fazer alguma coisa... então saía e ia fazendo... depois tinha programado... nós morávamos ao lado duma fábrica... onde meu pai trabalhava e a fábrica foi inundada... nós vivíamos ao lado da fábrica... tudo isso fez com que a gente se transpusesse...
L1: em sessenta e quatro... eu estou querendo me lembrar... porque teve uma há pouco tempo... ano... retrasado... teve o...
L2: não... era violenta... aquela que teve desabamento e tudo...
L1: [
( ) desabamento...
L2: foi dali pra trás... dali pra frente... eles começaram a pensar mais em limpar os esgotos... esses troços todos...
L1: eu não tenho...
L2: mas daquele... aquele eu me lembro bem:... me lembro de uma fábrica:... de papel... me lembro da... lá no Alto da Boa Vista... ficou toda soterrada...
D: por quê? a que que eles... costumam atribuir esses problemas e o que que isso significa?
L2: não porque eu ouvi falar eh... eh... desmata/... como é que? eh...
L1: desmatamento...
L2: desmatamento né?... sei lá... eu sei que acabaram com as matas... terminando com:... com o alicerce... que seria as raízes da:... das plantas...
L1: pra evitar a erosão...
L2: é... então com o tempo e:... ficando mais...
L1: [
mas não foi só isso... não mas o índice pluviométrico naquela época foi violento... também...
L2: naquela faixa... todavia deve/... deveria diminuir o estrago que houve... se não houvesse:... a grande... o grande desmatamento nessa época...
D: e como é que o Rio seria assim tão... eh:... vulnerável a um índice pluviométrico maior...
L1: não sei...
L2: o quê?
D: ( )
L2: ah... não tem explicação... até que nós somos sortudos à beça... porque:... os outros países principalmente na Europa... América do Norte... lá eh:... eles não param de sofrer tormentas e:... e outros bichos e aqui quando vem... é um friozinho um pouco maior ou uma chuva forte...
D: mas eh:... que outras coisas que tem fora e aqui não tem ( )
L2: geadas... e:...
L1: mas geada você tem em São Paulo...
L2: bom... que a... a geada daqui é:... sabe como é que é...
L1: o cara perde uma produção...
L2: [
furacão e esses troços todos... sabe como é que é...
L1: furacão ainda bem que não tem...
L2: não tem... é interessante já faz tempo isso... eu li um livro que: comentava as vantagens que existe de ocorrer esses fenômenos... essas ca/... catástrofe que:... o homem se prepara mais... para aquilo... né?... então é o que acontece com o grande desenvolvimento existente na Europa e:... na América do Norte em relação ao desenvolvimento da América Latina... que aqui a gente não precisa se preocupar muito com: a variação... meteorológica... né?... quase sempre é a mesma coisa... não só no Brasil... mas também nos outros países por aí ...sempre mexe lá uns terremotos... aqui ( ) não tem nem isso dizem que as pessoas mexem eu não sei... então Chile ( ) muita constância... ( ) na Amé/...
D: e você está sabendo que um satélite que:... está por aí fotografando...
L2: é que tem vários né?
D: sim... um desses eh:... inclusive... mais ou menos estava prevendo a enchente do Mississipi... ele pode prever todos esses:... esses transtornos da...
L2: não não estou a par de todo esse troço não... sei que existem: satélites preparados para observar...
D: [
porque você falou que o homem pode se preparar mais então...
L2: é é o fato... o fato ( ) ... o problema é o seguinte... por eles terem sempre um... uma briga... uma guerra contra a natureza... então eles se preparam cada vez mais para aquilo... né?... então eles começam a ver determinados fatos... como: usar certas tecnologias... para aquela função... que é o caso dos satélites... e como existem outras com... no caso: de... não sei on/... na Holanda onde fazem-se diques... deixar a terra é muito... muito cheia de água... né?... então em outros países por aí tem muitas outras coisas... cada vez se preparam mais né?
L1: a Holanda é abaixo do nível do mar...
L2: certo... então eles fazem diques lá pra poder conter a:... a água... tudo isso mostra aí... o quanto eh... que aqui não né?... aqui nós precisamos muitas vezes... em determinados lugares por aí... eu achei interessante isso... diz que usamos recursos naturais sem se preocupando com o dia de amanhã né?... nessa fazenda que eu fui... o cara há cinco anos tinha: deixado de viver na fazenda para ir viver na cidade... esse pai de um colega meu... então a casa dele... bem... assim:... montadinha né... toda ela de madeira e barro... o tijolo é feito com o próprio barro apanha o barro monta o tijolo então ele consegue tudo... uma pequena queda d'água ele montou lá uma...
L1: um moinho?
L2: não não um:... um moinho e junto do moinho botou um gerador não tinha energia elétrica certo?... um jato de água forte... puxou demais acima do rio... devido à... variação do... do terreno puxou mais acima... uma ponta de água... fez a caixa d'água... tinha água encanada em casa... puxou da casa uma ( ) elevação pra jogar mais avante do rio... o esgoto... certo?... então ele tinha um conforto dentro de casa... a casa estava caindo aos pedaços então ele precisava reconstruir... ele não ia na cidade comprar nada... ele a:... ele alugou porque não tinha ( ) né ele alugou... eles têm um nome lá não sei o nome que dá... eu fui até com um cara... nós fomos lá pra cima pra mata... cortar madeira... que de fato já estava cortado... as toras né a madeira toda... as toras de madeira de um metro e... por cinco metros de ( ) por cinco metros ou ( ) meio?... então já não tinha mais nada pra cortar a gente foi abrir caminho pro boi trazer a madeira... pra ele levar pra serraria pra cortar madeira... pra recondicionar a casa dele... então é aquela... né?... ele necessitou de alguma coisa... ele vai lá e apanha... agora se ele precisasse de: uma casa mais resistente... ele já não iria procurar aquela madeira... já iria procurar pedra... ou alguma coisa nesse sentido... e no normal acontece com o nosso colono... não havendo necessidade disso né?... ele pode dormir ( ) quantos quantos casebres aí que... não tem te/... nem telha muitas vezes... tem lugares por aí que não tem:... ( ) aí...
L1: está na hora...
D: chega...