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PROJETO NURC-RJ

AMOSTRA COMPLEMENTAR:
Inquérito 18 (masculino / 70 anos)
Tema: Transportes e viagens
Local/Data: Rio de Janeiro, 29 de junho de 1996
Tipo de Inquérito: Diálogo entre informante e Documentador
Documentador: A B


LOC. - meu nome completo é A.S.P... eu fiz setenta anos no dia três de maio passado e estou aposentado há quase seis anos e vivo da minha pensão do I.N.P.S... que é uma coisa ridícula e do trabalho que eu faço como revisor para editoras... atualmente trabalho na editora Francisco Alves e para a Nova Aguilar... e... eu tenho uma formação universitária... sou... me formei em Direito em mil novecentos e cinqüenta pela antiga Faculdade Nacional de Direito... hoje da... UE...UE...UFRJ... e fiz uma pós-graduação em direito comparado na Universidade de Nova Iorque em mil novecentos e cinqüenta e cinco cinqüenta e seis... sobre o ano de mil novecentos e cinqüenta e cinco... eu gostaria de... de mencionar três fatos interessantes... neste ano morreram Carmem Miranda... James Jim e estava começando a surgir o cantor Elvis Presley que tocava assim... cujo disco era tocado assim em rádios de vez em quando numa emissora como uma grande... uma... uma grande promessa para o futuro... então esse ano de cinqüenta e cinco foi um ano muito significativo pra mim e eu estive lá de cinqüenta e cinco a cinqüenta e seis... voltei... tive proposta pra ficar lá na... universidade... na...( )... fiz concurso... mas eu... como eu já tinha um compromisso com a (Esso)... da qual eu era advogado... eu voltei... não fiquei lá... e também porque minha mãe morava comigo(no Rio)...não queria que ela ficasse sozinha... depois eu... eu me formei na Cultura Inglesa e em mil novecentos e sessenta e oito eu resolvi jogar minha profissão de advogado fora porque eu realmente não gostava...e me tornei professor... acho que como professor não fui grande coisa... mas... eh...(dei)o meu recado em concurso e acabei me aposentando como professor-chefe (vamos dizer) diretor da Cultura Inglesa de Madureira... eh...quanto a minha família, eu devo dizer que... eh... meu pai é carioca... era carioca... nasceu na estação do Riachuelo... onde o avô dele tinha uma... uma pequena fazenda na estação do Riachuelo... no subúrbio da Central... e aí ele nasceu e foi criado... e deixou de morar lá quando quando foi vendido em mil novecentos e dezenove... era um sítio enorme com... cheios de àrvores frutíferas e meu pai tinha muito boas recordações daquilo lá... minha mãe nasceu na França por acaso... porque o pai dela era oficial de marinha e... naquele tempo... como ele era... trabalhava como comprador de... de material pra marinha... ele viajava muito... então... a mulher ia também... e dos cinco filhos que eles tiveram... três nasceram na Europa... eh... meu tio Carlos nasceu na Marcélia... mamãe nasceu em (?)... e minha tia Aurora... pra grande raiva dela... nasceu em Portugal... ela disse que foi rebaixada... os do... o mais moço e o mais velho nasceram no Brasil... mas mamãe Vi de lá muito pequena e foi criada no Rio de Janeiro a vida toda... com exceção quando ela ficou órfã foi pra Porto Alegre... mas um pouco tempo... (na verdade) a formação dos meus pais é toda no Rio de Janeiro... onde eu nasci também... graças a Deus... eu digo que eu não sou patriota... mas sou (?) pra chuchu... eu adoro o Rio de Janeiro... então eu... que mais que eu posso dizer? bem... eu... a origem da minha família da família do meu pai é portuguesa e alemã... a minha bisavó era alemã... alemã em Santa Catarina.. mas era alemã...e português lá (?)... meu pai se chamava F.B.B... essa origem da família B. é uma coisa muito... muito... muito estranha porque... eh... embora o nome seja de origem italiana... eh... originalmente era P.... é uma cidade perto de Nápolis... onde nasceu a Sofia Loren por sinal... e dizem que... o (São Jean Batista) eh... saiu da Áustria e por motivos religiosos... eh... se instalou nessa cidade da Itália donde se diz que a minha... a origem da minha família é judia o nome (?)... naturalmente vem desse Possolo... que está aportuguesado naturalmente... quanto à minha mãe... eh... era filha eh...de Henrique Sisson... que era brasileiro por acaso por que os pais deles... os pais deles ... eram franceses... meu bisavô... o S. S. era desenhista de (?) e cartunista e morreu em noventa e sete e veio pro Brasil e publicou uma obra muito bonita... mas infelizmente esquecida chamada "Galeria dos Brasileiros Ilustres"... e que ele retratava e (?) todas as perso/... grandes personagens do século dezenove... é uma obra muito bonita... com pouquíssimos exemplares hoje em dia e... mas ele é... absolutamente esquecido... fala-se muito naqueles franceses que vieram contratados... eh... pra trabalhar no Brasil... ele não... ele veio por conta própria e se instalou aqui no rio... na rua Joaquim Silva por sinal... ali na Lapa... e ali trabalhou viveu e trabalhou como editógrafo... eh... como de (cartunista)... trabalhou muito... e era francês... minha bisavó também era francesa... tiveram três filhos... dois homens e uma mulher... um deles era meu avô... aquele oficial de marinha ... o outro era oficial do exército... e minha tia nenem... minha tia-avó, era dona-de-casa... é dona-de-casa... e mamãe então é filha do Henrique com uma senhora espanhola... Angelita... essa Angelita era... os pais eram... espanhola de origem... mas foi criada em monte (?)... a mão tinha uma pensão lá.... gente humilde... era... tinha uma pensão eh... era uma pensão (?)... comida... e eu... meu avô... aquele oficial da marinha... conheceu minha avó na... no... no... Monte (?) e se apaixonou por ela porque ela era realmente muito bonita... trouxe pro Brasil e casaram-se... tiveram vários filhos... mas separaram-se porque tiveram a oposição tremenda da família dele... porque ela era uma pessoa humilde... realmente uma pessoa com pouca instrução e... então ela foi muito hostilizada aqui no Brasil... hoje eu tenho um profundo respeito à memória dela porque... coitada... ela sofreu o pão que o diabo amassou... porque essas famílias francesas antigamente eram terríveis... eu fui criado de maneira a não poder na mesa e... criança não fala nada na mesa e essas coisas todas né... (?) eh... que mais que eu posso dizer? bem... aí eu me formei em Direito né... e eu sempre odiei aquela ca... aquela carreira... eu tinha horror àquele troço... sabe... negócio de ler diário oficial todo dia... e andar no fórum... um calor danado aqui no Rio de Janeiro e a gente de paletó e gravata... suando em bicas... deixando o sapato marcado no asfalto... isso não... isso não... isso não é mentira não... às vezes fazia tanto calor que a gente ficava com o sapato marcado lá no asfalto... eh... então eu agüentei isso até mil novecentos e sessenta e oito... quando eu trabalhava pra (?) imobiliárias... eu era advogado de lá... aí eu joguei tudo pela... pela... pela lixeira... (?) de direito... e como eu era formado em inglês... pela Cultura Inglesa, resolvi ingressar na carreira e fui pra Barbacena na escola de cadetes de Barbacena... onde fiquei um ano... foi ali que eu conheci a minha carreira... em sessenta e oito... e em sessenta e nove... eu vim pro Rio e ingressei na Cultura Inglesa... primeiro na Tijuca... depois em Caxias e finalmente fui pra Madureira como professor-chefe... onde eu fiquei dezessete anos... foi uma influência muito boa... eu gostava demais de lá... e foi uma atividade que me agradava muito porque... eu era um.... graças a Deus muito estimado pelos meus colegas... e respeitado... e deixei um certo nome lá... modéstia à parte...e... que mais... quanto tempo falta?
DOC. - as suas viagens....
LOC. - ah... as minhas viagens... está muito bem... bom... minhas viagens foram as seguintes... em cinqüenta e cinco eu fui para os Estados Unidos por uma bolsa da coca-cola... e fui para a Universidade de Nova Iorque... onde eu estudei um ano de Direito...teRRível... direito americano né... porque você tinha que preparar os casos na véspera pra... pra estudar pra... relatar no dia seguinte né... então a gente tinha que passar três ou quatro horas na biblioteca, todo dia até onze horas da noite... depois... onze horas da noite você tinha que fazer o trabalho em casa até duas horas da manhã pra poder trabalhar... teRRÍvel...e ... ( ) ao mesmo tempo muito agradável porque realmente morar em Nova Iorque é um privilégio que é dado a poucos... e... então eu fiquei lá um ano, fiz concurso pra ( )... passei mas não fiquei porque... eu já disse né? depois eu fui mesmo... fui de carro atravessei os Estados Unidos todo de carro e conheci várias cidades... Los Angeles... Washington... e afinal fui parar em Los...ãh... foi... em Washington... Chicago... e fui... acabei parando em Los Angeles né...De Los Angeles eu voltei pra Nova Iorque e de Nova Iorque eu voltei pro Rio... pra o Rio de vez... e em mil novecentos e setenta e cinco pela Cultura Inglesa eu fui... passei um... um mês na Inglaterra... gostei muito... odiei o curso... por sinal uma porcaria... mas foram só dezessete dias... os outros quinze dias eu aproveitei bastante em Londres... que é uma cidade maravilhosa realmente... mas fora isso eu viajei muito... mas foi pra Argentina né... eu fiquei oito meses na Argentina porque eu tinha uma tia... aquela... aquela pseudo-portuguesa casou-se com um argentino e foi morar lá... e eu sempre ia... sempre ia lá na casa dela até ela morrer né... ( ) até ela morrer não... até o plano real né... porque realmente eu... a minha vida tornou-se caótica com esse plano real né... bendita inflação... estou doido que ela volte... se tiver algum economista me ouvindo vai me xingar.. vai me chamar de burro... eu não... eu... eu... continuo dizendo que eu era feliz e não sabia... hoje eu trabalho muito mais do que eu trabalhava e não tenho praticamente nada... não tenho regalia nenhuma e... e... o dinheiro não dá... é isso sabe... que mais que eu posso dizer?
DOC. - eh... o plano... ( )
LOC. - não... eu não... eu não acredito que o plano esteja errado... pode ser até que o plano esteja certo... eh... mas... e... eu... acho que cresceu tudo muito e... porque a verdade é a seguinte... a ( ) no real... ora bolas o real é um dólar e um dólar nos Estados Unidos tem valor... aqui não... isso aqui você compra uma maçã ou sei lá... duas maçãs... um dólar... um real... bolas... Um real é dinheiro... porque é um dólar... agora... no Brasil não vale nada., compreendeu? um dólar nos Estados Unidos é dinheiro... é dinheiro... você compra e... eu comprava disco ( ) nos Estados Unidos por quatro dólares e meio... nunca comprei aqui um disco ( ) por quatro dólares e meio... nunca... hoje compra porque o ( ) está acabando né... mas... nun/ nunca custava isso... nunca custou isso... compreendeu? então eu acho que... que há uma desvalorização que próprios fizemos a... desvalorização do real... esse negócio de por aPEnas... os anúncios de televisão... por exemplo... ah... compre uma televisão por apenas quatrocentos e noventa.... puxa... quatrocentos e noventa reais é dinheiro à beça gente... são quatrocentos e noventa dólares... ...compreendeu? então eu... eu acho que o erro está aí... o erro está aí... compreendeu? eu... eu realmente eu ganho setecentos e... setecentos tantos reais do I.N.P.S e chego a fazer trezentos a quatrocentos reais por mês... quer dizer... eu tenho mil reais por mês e não tenho o direito de ir a lugar nenhum... eu não viajo... eu não vou a lugar nenhum porque o dinheiro não dá... quando eu ia viver em Curitiba eu... a... eu estava toda hora... Curitiba... de vez em quando eu ia... viajava... toda hora eu ia pra Friburgo... eu... eu fico em casa aqui sábado e domingo aqui dentro vendo... vendo Faustão... que é que eu vou fazer da minha vida? que que eu faço da minha vida? com os aPEnas... esses... esses apenas aí... é uma droga isso né... é isso que eu penso...
DOC. - o senhor tinha aplicações?
LOC. - tinha aplicações... compreendeu? eu tinha aplicações... eu tinha... eu tinha... eu tinha... caderneta de poupança... eu tinha... CDB... e fui gastando... fui gastando... fui gastando... Por exemplo.. em... em... eu trabalhei em agosto do ano passado... porque eu trabalhava co-revisão... houve... houve uma recessão terrível no ramo editorial que o... brasileiro deixou de comprar livro em agosto. Isso é... foi feito por... é estatístico isso... o brasileiro deixou de comprar livro em agosto... então eu... eu deixei de receber também em agosto... setembro... outubro... novembro... dezembro... em janeiro eu fui receber o que eu tinha... o trabalho que eu tinha feito até então... e trabalho que continuei fazendo... de graça... pra receber em janeiro... em pequenas parcelas... compreendeu? e... e é isso... então eu fui obrigado a gastar dinheiro da minha poupança... então de... de tantos mil que eu tinha... eu hoje eu tenho pouquíssimas centenas... e pouquíssimas centenas... de... de... na poupança... porque eu fui obrigado a gastar por causa da recessão que houve... e... no ramo editorial em agosto de noventa e cinco... e foi uma queda terrível... a classe média deixou de comprar livro... deixou de ler... simplesmente deixou de ler... ( ) as buscas... né... é isso sabe... o que mais?
DOC. - ( )
LOC. - não eu... eu... eu... eu não sou... eu não sou expert no assunto... compreendeu? eu... eu... o que eu falo é o que eu sinto na minha carne... compreendeu? eu não sei.... eu não vejo vantagem nenhuma nessa mudança... eu (falo) que eu não vi vantagem nenhuma nessa mudança... o povo está sem dinheiro... está todo mundo endividado... eu... eu chego nas empresas e falo... puxa... eu preciso ganhar dinheiro... eu estou endividado... ah... mas nós também tamos/estamos... aí dona Solange... eu estou devendo não sei quantos... eu também estou devendo não sei o quê... esse mês eu não paguei isso não paguei aquilo... compreendeu? está todo mundo assim ( )... que diabo de... que minoria é essa... que governa ( ) todo mundo sem dinheiro... que negócio é esse? ah... que o pobre está comendo mais... então parabéns pro pobre... mas a classe média acabou... parabéns pro pobre se ele está comendo mais... entendeu? parabéns... tomara que ele coma mais ainda... agoraa e nós da classe média? que... que classe... eu sou classe média coisa nenhuma... já deixei de ser classe média há muito tempo... já deixei de ser classe média há muito tempo... compreendeu? e é isso... quê mais?
DOC. - você viveu durante vários governos... qual que marcou mais?
LOC. - olha... eu... eu... eu... vivi a ditadura de Getúlio Vargas... até quarenta e cinco né... eh... depois o negócio... quer dizer... melhorou... melhorou...( ) mas acho a melhor fase que nós tivemos foi no governo de Juscelino... compreendeu? que foi uma inflação ( ) mas a gente... todo mundo era feliz... O fato era esse... você não via brasileiro triste no governo de Juscelino... essa foi a grande vantagem... todo mundo estava alegre... feliz... comprando suas máquinas de lavar roupa... até eu tive máquina de lavar roupa... até eu tive... comprei... máquina de lavar roupa... compreendeu? todo mundo comprava... todo mundo fazia tudo... tinha aparelhagem dentro de casa... de tudo... e o brasileiro era alegre naquela ocasião... era alegre... infelizmente aquele negócio não deu certo que o Brasil ia consumindo todo dinheiro que a gente tinha né... aliás... foi uma porcaria essa mudança pro... pra Brasília porque... acabou com o Rio de Janeiro... acabou não... ( ) porque o Rio de Janeiro não vai acabar nunca... mas caiu muito né... mas eu acho que... foi o governo de Juscelino que foi a melhor coisa que nós tivemos né... depois teve aquela porcaria daquela ditadura né... aquela militada safada né... na verdade eu não sei como eu não fui preso... porque dentro da sala de aula, de vez em quando eu metia o pau viu... dizia ( ) se eu fosse a Copacabana por aí... ainda vá lá né... mas no... Madureira ( ) mas de vez em quando eu metia o pau naquela... naquela porcaria daquela revolução... aquela ( ) safada e... e... é isso sabe... mas eu acho que o governo de Juscelino foi o que... pelo menos o que deu mais alegria ao povo... foi o que a gente... o governo que a gente era mais feliz... mais alegre... menos... menos preocupado... compreendeu? or isso é saudosa memória de Juscelino Kubischek... quê mais?
DOC. - e a era Collor?
LOC. - aquilo foi palhaçada... a era Collor né... aquilo... aquilo... foi brincadeira né... aquilo foi... foi recreio né... foi um recreio... aquilo foi um recreio... brincadeira... aquele homem idiota falando nhe... nhe... nhe... aqueles... aqueles auxiliares dele... tudo... tudo....improvisado... aquele... aquele eletricista... ministro do trabalho... ele... não... eletriciário né... eletriciário... aquele eletriciário... ministro... que palhaçada aquilo né... aquilo é uma palhaçada aquele governo... aquela... a (Madame Canapi) lançando moda... aquilo... terrível... terrível... aliás... esse governo que seria ( ) com Pedro Collor (?) é engraçadíssimo né... tem um negócio do ( ) a revolução do Majó ( ) essa... essa podia ser usada por primeiras damas... é uma coisa fabulosa a... quando a... Teresa Collor ganhou... comprou uma jóia em Paris muito bonita... mas a... a... a... Canapi... a Canappi não ficou... a Canapi é a Rosana... a madame ( ) foi pedir a Teresa pra devolver a jóia... porque aquela jóia só podia ser usada por primeiras damas... ora veja que preocupação dessa mulher... e sem contar com o livro de Pedro Collor que é engraçadíssimo... leiam... leiam que é muito engraçado... então a gente vê a imagem daquele... daquele tempo uma coisa terrível aquilo né... palhaçada... eu tenho... sabe... eu tinha vergonha... eu tenho vergonha de três coisas na minha... de olhar três coisas... o Caubi Peixoto... que eu tenho.... vergonha de olhar pra cara daquele sujeito... o... o Clodovil... que eu odeio... aquele esnobador né... horroroso... e aquela palhaçada do governo Collor... eu ficava envergonhado de ver aquilo... ( ) a... a madame Canapi lançando moda... andando de braço... de mão dada com ele... atrás do e o... Collor puxando ela... mas foi muito engraçado... mas foi... foi terrível... depois o dinheiro... o dinheiro da gente confiscado né... não sei pra quê né... foi terrível... eu tinha um dinheirinho naquela ocasião porque ( ) me esperando né... um negócio... até que foi bom depois sabe.... valeu a pena passar aquele ano... depois deu... deu um rendimento bonzinho e tal... na hora eu fiquei muito ( ) da vida... antes... foi isso sabe... quê mais?
DOC. - ( )
LOC. - bom... o Congresso é uma piada... não é? uma piada... é um bando de vagabundos... seu ( ) seu Arnaldo ( ) tem total razão... embora ele...ele... ele restrinja a determinadas pessoas... eu acho aquele... um conjunto uma porcaria... eu acho que o congresso tem que existir... mas tem que ser reformulado... porque quando o Congresso era no Rio de Janeiro... não tinha esse negócio de pagar apartamento e não sei mais o quê de passagem... não tinha nada disso não... se era eleito lá no Acre... vinha morar aqui no Rio de Janeiro ( )... já ganhava dinheiro pra... já tinha o salário dele como advogado... como deputado ou senador.... agora... tem correio de graça... não sei quantas passagens... um apartamento de graça... que negócio é esse pra trabalhar dois dias na semana? que é realmente um dia... quarta-feira... o resto ele não trabalha... entendeu? eu acho o Congresso uma vergonha... uma vergonha nacional... compreendeu? agora... esse ( ) seu Fernando Henrique um bom viajante né... viaja à beça... o... o vice-presidente já... já o substituiu vinte vezes... sabe lá o que é isso? vinte vezes... vai Argentina né... Paraguai... sei lá onde...agora ele já está uma viagem marcada pra não sei onde em setembro e... é isso né... é isso... então a gente está... é o que eu disse aos meus amigos... eu estou esperando a ... os meus sete palmos no no Caju... onde está enterrada a família Bossol... ou no Souza Batista... aonde está enterrada a família S.... eu tenho escolha... antes de ir... eu não sei pra qual dos dois... isso depende de quem ficar por aí que decida... porque francamente... não tenho mais esperança de nada nessa vida... não tem melhora mais... não é pro meu tempo... se o Brasil melhorar não é pra mim....
DOC. - ( ) a sua experiência de viagem para a Argentina...
LOC. - não eu... eu... eu sou danadíssimo pela Argentina... eu estive oito vezes em Buenos Aires e fui muitíssimo bem tratado lá... e acho Buenos Aires belíssima cidade... lindíssima... culturalmente falando... muito boa e... e engraçado que quando eu estive em Londres... eu tive a impressão que estava em Buenos Aires... porque são cidades parecidíssimas... claro que tem influência da Argentina foi muito grande... hoje os argentinos têm horror a Inglaterra... por causa daquelas benditas ilhas Malvi... benditas ou malditas ilhas Malvinas... mas a influência britânica lá foi muito grande... então... quando você anda em Buenos Aires você pensa que está em Londres e vice-versa... mas a Argentina é um lugar lindíssimo... acho que todo mundo devia ir lá... nós somos magnificamente bem tratados... Brasil ( ) então é isso que você ouve dos argentinos... e dentre os que vieram já se falam os maiores elogios ao Brasil... o que estraga o Brasil e a Argen/... é sabe o quê? o jogo de futebol... é o maldito jogo de futebol... (que causa essa inimizade toda)... porque fora isso... eles são ótimos...
DOC. - ( )
LOC. - ah... lá o povo é... bem mais... eh... culturalmente falando... é mais equilibrado... mais... mais... homogêneo... compreendeu? aqui é uma diferença enorme né... você... pega gente... noutro dia uma moça bem vestida me perguntou aonde ficava a rua... eu falei mas a ( ) fica aqui.... mas eu não sei ler... eu fiquei bobo... eu olhei pra cara dela... não é possível... era uma senhora... uns trinta e cinco quarenta anos... quer dizer... isso eu não acredito que na Argentina haja uma coisa dessa na grande Buenos Aires não haveria uma coisa dessa... entendeu? e... culturalmente falando... eles são muito... muito bem... até não digo que seja melhor não sejam melhores que nós não... Mas... são bastante bons...
DOC. - ( )
LOC. - bom... eles têm uma... um sistema de vida totalmente diferente... o argentino acorda tarde e dorme de madrugada né.... até as ( ) horas da noite eles aproveitam... eles gostam demais da noite... e há sessões de cinema que começa uma hora da manhã o ( ) o ( ) que fica inteiramente cheio... as ruas inteiramente cheias... os bares inteiramente cheios... embora o argentino vive dizendo que... viva dizendo que está na miséria... mas todos indo ao cinema... todos indo ao teatro... todos nos centros ( )... todos... nunca entendi a miséria argentina... é um mistério pra mim... a miséria brasileira existe mesmo... no meu caso... eu nunca mais comi fora... num restaurante... coisa nenhuma... eles vão comer fora... eles tomam café... entram num bar pede café... leêm um livro inteiro com um cafezinho... é um hábito né... tem o tal do ( )... que é o café da tarde... o lanche da tarde né... eles entram num bar e vem aqueles... aqueles salgadinhos e tudo mais né... café com leite... que eles gostam muito... eles gostam muito... é... é muito agradável morar lá... muito agradável... ( ) excelente... de primeiríssima qualidade... quê mais?
DOC. - ( ) meio de transporte ( )...
LOC. - ah não... eu fui a Argentina três vezes de avião e cinco vezes de ônibus... a viagem é muito longa... são... são quarenta e oito horas no mínimo de viagem... a gente chega lá... e não tem pés... tem duas abóboras... né... os pés ficam inteiramente inchados... mas depois a gente chega lá... eu pelo menos chegava lá... tomava banho e ia pra rua... eu não perdia um dia em Buenos Aires.... Buenos Aires não é coisa que se perca... pelo menos pra andar na rua... até andar na rua é agradável lá... tem lojas muito bonitas... muita música... muita loja de música.... tudo tocando né... de madrugada... você está andando onze e meia da noite as lojas de música estão tocando música... é muito agradável... é um lugar que eu recomendo... se alguém estiver me ouvindo... se não for... vá...
DOC. - ( ) você viajou muito pelo Brasil....
LOC. - bom... no Brasil eu morei em Minas Gerais né... conheço algumas cidades de Minas e eu gosto demais de Barbacena porque lá eu comecei a minha carreira de professor em Barbacena em mil novecentos e sessenta e... nove na escola de cadetes ( )... e saudosa memória e aliás voltou ( ) novamente e... passei um ano lá e não fiquei mais porque não tinha garantia nenhuma... não tinha carteira assinada... não tinha nada...e depois que eu saí ... cinco anos depois... o ( ) que foi pra lá reconheceu ( ) antigos professores ele assinou a carteira... mas eu já tinha ido embora... já tinha ido embora... já estava no Cultura Inglesa aqui eu me sentia bem... aí não voltei... mas eu vou sempre a Barbacena que é uma cidade que eu ( ) é a minha segunda cidade de eleição... mas conheço algumas cidades de Minas Gerais e gosto demais de Curitiba... Curitiba eu volto... voltaria sempre de bom grado.. sempre que pudesse... fui lá várias vezes... é uma cidade belíssima Curitiba... é uma coisa fora de série e... conheço umas cidades do Espírito Santo... conheço... Vila Velha eu conheço muito bem... ali aquela vizinha de (Vitória) muito bonita cidade... muito agradável e... e só...
DOC. - Nordeste...
LOC. - Nordeste? sim Aracaju... conheço Aracaju e Maceió... eu digo que Adão e Eva nasceram em Maceió... é tão bonito aquilo... compreendeu? que eu acho que aquilo ali... Adão e Eva nasceram ali... aliás... um dia desse eu disso a um... disse a um bando de alagoanos lá... mas não me agrediram não... mas foi horrível causei um... eu disse... vocês não merecem o estado que têm... porque só quem já foi a Maceió e aquelas cidades ali perto onde eu adoro... num beira mar ali no Nordeste... olha... eu acredito que ( ) essas coisas assim.... mas perto do nordeste... ( ) eu não conheço Natal... que é muito melhor do que aquilo ali... mas eu recomendo que se vá a... a Maceió... embora esteja cheio de alagoano lá... tudo pistoleiro se não é candidato lá... mas o lugar é maravilhoso... e Aracaju é uma gracinha de cidade... e tem uma cidade vizinha a São Cristóvão que é a antiga capital do estado que é a Ouro Preto de... do... do nordeste né... eu recomendo que se vá a São Cristóvão é uma beleza... Antiga capital do estado de Sergipe...
DOC. - ( )
LOC. - não.... foi um desastre né... foi um desastre porque houve... havia muita promessa de fazer-se isso pelo Rio de Janeiro... em compensação a... mudança das coisas pra Brasília... pôxa até a FUNARTE nos tiraram agora... até a FUNARTE foi embora... compreendeu? não tiraram a Biblioteca Nacional porque... acho que haveria uma revolução aqui no Rio de Janeiro né... mas até isso pensaram em mudar... em fazer... compreendeu? pra quê? pra ler? por que? deputado e senador lê? não pára lá... pra funcionário público ler? eles lá querem ler alguma coisa... que nada né... então... esse... grande cidade... né ( ) a cidade cultural... é... foi... foi... e ainda é apesar de tudo o Rio de Janeiro... né... e estão nos tirando tudo daqui né... mas ( )
DOC. - ( )
LOC. - bom.... bom... o Rio de Janeiro... quem não tem dinheiro e que tem tempo... tem uns espaços culturais... né... muita... muita coisa gratuita... muita exposição... tem até cinema de graça... teatro não né... muito baratinho... muito mais barato que os outros... mas tem coisas boas... tem o Centro Cultural Banco do Brasil... tem o Castelinho na... na... no Flamengo... que é uma graça... tem o Museu da República... que é uma beleza... dizem que ( ) está muito bonita também... eu não fui ainda e... muito... muita... muita coisa nova muito centro cultural novo lá no Rio de Janeiro... graças a Deus nós temos isso... né... nós temos... mas foi uma pena a FUNARTE... perdemos a FUNARTE né... ( ) A EMBRATUR perdemos também... não sei por quê né... o movimento que... o que pode fazer a ( ) brasileira em Brasília? isso é uma piada né... bom... é isso sabe... quê mais?
DOC. - se você fosse apresentar o Rio a alguém de fora... em que lugar você levaria?
LOC. - bom... eu acho que o Rio de Janeiro deve ser visto não só em um de seus lugares belíssimos... como também nas suas... nos seus lugares pobres e pelo menos a favela da Rocinha tem que ser visitada... compreendeu? e eu... eu tenho uma coisa... eu tenho um grande respeito por favela porque... um dos meus melhores amigos nas... foi nascido e criado... eh... na Rocinha... de pais analfabetos filhos de ... paraíba... e este rapaz hoje ele mora nos Estados Unidos... casou-se e fala ( ) línguas.... foi nascido e criado na Rocinha... eu acho que... eu acho que a gente não devia discriminar tanto as favelas porque há gente muito boa lá... e quanto a isso... os lugares tradicionais... Pão-de-açúcar... Corcovado... Floresta da Tijuca... né... e (?) Chinesa... essas coisas... mas eu acho também que todos os lugares pobres devem ser visitados porque nem tudo é beleza... a zona Norte ainda é muito pobre...ainda é muito pobre... ainda é muito pobre... mas eu conheço bastante porque eu já morei inclusive na zona Norte... eu morei em Guadalupe... um lugar bastante humilde e tenho amizade lá... tenho amizade em ( ) em Bangu... eu acho... que não só no lado bom o Rio de Janeiro deve ser visitado... mas o lado pobre também tem que ser... aliás... a mulher desse meu amigo que mora nos Estados Unidos... ele casou-se mora nos Estados Unidos... eles se... eles se conheceram durante aquela exposição que teve aqui no Rio ( ) se conheceram aqui e ela visitou tudo... visitou Rocinha... inclusive a família dele mora lá até hoje e... e ela vai lá tranqüilamente... mas é isso... quê mais?
DOC. - (Madureira)...
LOC. - ah... eu tenho uma recordação fabulosa de Madureira e eu acho que... não só porque eu trabalhei lá dezessete anos... mas eu acho Madureira um pólo cultural muito bom... muito bom Madureira... embora o único teatro que tinha ali no centro foi comprado pela igreja... dessas evangélicas... mas ainda há muita coisa lá... muita coisa boa... e agora com aquele Norte Shopping lá... não é Norte Shopping lá em Madureira? Madureira Norte Shopping... eh... tem cinemas... Madureira... eu acho Madureira um lugar espetacular... tenho um profundo respeito por aquilo... por aquele comércio... por aquele movimento ( ) um turbilhão de gente todo dia ali... fabuloso... eu acho Madureira ótimo... e nós tivemos muito sucesso na Cultura Inglesa... fez muito sucesso... ( ) no ano de setenta e nove... nós tivemos mil e setecentos alunos lá... não de Madureira porque muito pouca gente mora em Madureira... mas às vezes é ( ) redondeza né... redondeza... Jacarepaguá... naquele tempo não havia ainda ( ) Jacarepaguá de Marechal Hermes e... Jardim América... muita gente daquela zona ali e tudo... e (tivemos) excelentes alunos... vários são professores hoje... vários professores da Cultura e em Madureira tivemos uma coisa fabulosa... os meus professores... todos os concursos que entravam tiravam o primeiro lugar... e é uma filial respeitada dentro das... no meu tempo havia dezesseis... hoje parece que é vinte e poucas... mas era uma filial respeitada pelo nível cultural... pelo nível de aproveitamento não só de alunos... como também de professores... e isso é uma coisa que me orgulha muito eu ter deixado... não foi um mérito meu... mas foi mérito ter recebido gente boa lá e que eu procurei conservar... e gente inclusive que já saiu de ( )... gente da direção da Cultura que me diz... o ( ) me disse que era um prazer ( ) vir a Madureira... porque lá se via que todos os professores trabalhavam com uma boa vontade terrível... tremenda.... todos se ajudavam muito e todos faziam os cursos que eram exigidos sem reclamar... e era um ambiente realmente maravilhoso.... hoje eu não sei ( ) empresa... no meu tempo... era sociedade sem fins lucrativos.. .hoje é empresa... completamente... completamente... até a biblioteca ( ) acabaram né... esse bendito... como é que se chama essa coisa aí ( )... eu me esqueci o nome... eu tenho tanto horror a esse troço que até me esqueço... eh... ( ) esse negócio de Da... Data Control... como é o nome desse troço? computador... então porque tem computador hoje sabe... acabaram com as bibliotecas... eu não sei... eu não sei como é que eles conseguiram acabar com as bibliotecas... e não tem biblioteca mais... tem biblioteca... mas no computador... eu não sei pra quê... deram os livros todos... jogaram (aquilo) fora... mandaram (rasgar... desaparecer) puseram uma pilha de livros no corredor mandaram os alunos apanhar e escolher...
DOC. - ( )
LOC. - não sei... não sei.... ( ) pelo amor de Deus hein.... eu não quero ser... ( ) caguetar ( )... e nem é despeito meu não... é tristeza...
DOC. - faz recontato com as pessoas?
LOC. - eu tenho contato com as pessoas lá... me dou muito bem... todo ano... eles me telefonam pra aniversário... me convidam pra passar... pra fazer festa de fim de ano... muito bom ( )... um bom relacionamento com as pessoas de lá graças a Deus... quase todos ( )...
DOC. - você ia daqui pra lá de ônibus... trem... e como era?
LOC. - eu andava muito de trem... bom... no início era terrível ( ) as portas não fechavam... de maneira que a gente era roubado... roubavam os relógios da gente... eu fui roubado três vezes dentro do trem... mas depois que o trem melhorou... fechou a porta e tal... melhorou.... e eu gostava sabe... pra mim era bom... eu ia de... quando... quando eu era muito caxias... eu ia sete horas da manhã no trem ( )... ( ) porque ele ia cheia e era melhor ( )... e era muito divertido e tal... aqueles... aqueles profetas evangélicos gritando... vociferando... o inferno... nome de Jesus e o diabo a quatro... era divertido aquilo sabe... e um dia eu expulsei um de lá... estava falando do inferno às sete horas da manhã... botei pra correr.... inferno é AIDS... meu filho... inferno é câncer... é AIDS... coisa de bíblia não....
DOC. - ( )
LOC. - botei pra correr... botei pra fora do vagão... ( ) botei ele pra correr... e uma vez um outro chegou perto de mim e disse assim... Jesus te AMA... eu falei... porquê? você jantou com ele ontem? ele te disse isso? o cara ficou muito espantado sabe... Jesus te ama... quem foi que disse pra ele que Jesus me amava? ele disse? ãh? aqueles evangélicos me divertiam sabe... depois... quando eles vinham distribuir aqueles ( )... “não sou católico não sou religioso... não sou católico... sou macumbeiro...” ih... eles ficavam horrorizados né... mas era divertido.... depois não... depois ( ) pegou catarata sabe... era um diabo sair de manhã com aquela luminosidade de manhã nos olhos do portador de catarata é terrível... sabe... é terrível... ( ) mais ou menos às onze horas da manhã ( ) ou já tinha acostumado mais agora. ( ) mas eu fiquei quase cego né... no fim... não via mais quase nada.... ( ) minha empregada tinha que me botar no ônibus... mas é isso sabe... eu operei um olho... mas ainda tem que operar um outro... ( ) um já dá pra... um já dá pro gasto... muito bom... muito bem...
DOC. - foi tranqüila a operação?
LOC. - a operação foi maravilhosa.... a operação foi... recomendo os centros... centros oftamológicos de Botafogo ( ) quem tem... quem tem Amil... que vá lá... que mais que eu posso dizer?
DOC. - gostaria de falar sobre a sua adequação na transferência para professor?
LOC. - olha... eu acho que não era um bom professor... mas... tive uma coisa que... surpreendente... em mil novecentos e setenta e nove... eu tinha uma turma de quinto ano... naquele tempo era primeiro... segun/... hoje inventaram uns nomes enormes... sabe... uns nomes assim lindos... ( ) bonitos nomes... mas que eu (não gosto de nenhum)... mas no meu tempo era quinto ano... era o ano em que se fazia o ( )... que depois passou pra ser ( )... mas naquele tempo era ( ) mesmo... então eu tinha uma turma de... de doze alunos... aula de oito às onze... olha... pra dar aula de oito às onze... era... era uma guerra... tinha que dividir a aula em três... três períodos... num... nós corrigíamos redação... no outro nós fazíamos gramática... e no terceiro... uma... uma conversação... então... eu tive muito sucesso com essa turma... e naquele tempo se recomenda.... recomendava-se aluno pra fazer prova... “o aluno tal recomenda-se... outro não se recomenda...” então eu tinha dos doze alunos eu recomendei dez... e pra grande surpresa minha...e tremenda satisfação... os dez passaram... esse fato é inédito na Cultura Inglesa... eu duvido que exista um caso semelhante.... e... apesar de eu ter assim... não ser muito conceituado na diretoria... porque nunca fui estimado por uma senhora... e esse sucesso eu tive... comprovado... nos... nos... nos... eh... inclusive uma das moças é professora hoje lá em Madureira... Teresa Madu... Teresa Madureira.... Teresa Madu... Madureira é o nome dela mesmo... é professora de lá... linda de morrer... uma pretinha linda... professora lá de Madureira... foi uma das... das doze... vai falar mal dela pra mim... vai falar mal de mim pra ela... com... vai falar mal de mim com alguém pra ver o que a Teresa faz... pois é isso... quê mais?
DOC. - (encerrou...) muito obrigado...
LOC. - de nada...
DOC. - eu só queria agora... eu só queria ouvir de você o seguinte... você acha que... o que nos espera?
LOC. - Hein?
DOC. - ( o que nos espera?)
LOC. - eu não espero nada... eu não espero mais nada... eu não espero mais nada... quem viver verá... eu não quero... não tenho mais... não tenho mais esperança de coisa alguma... eu vou trabalhar enquanto eu puder... o dia que eu não puder... não trabalho mais... vendo esse apartamento aqui e vou morar num quarto ou numa casa de velho... numa ( ) qualquer né... porque... eu não tenho esperança mais de coisa alguma... não tenho mais expectativa de...aliás eu não tenho expectativa de nada... compreendeu? a não ser que quando...( ) “ah por que ano que vem eu vou fazer uma excursão... eu vou tocar piano não sei onde... na Nova Zelândia... com noventa e três anos se fazia (atlântico) aquela velha era terrível aquela velha... mas eu acho que é um caso excepcional... eu vi na televisão ela com noventa e três anos se fazer planos para o futuro...