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PROJETO NURC-RJ

AMOSTRA COMPLEMENTAR:
Inquérito 02 (feminino / 28 anos)
Tema: Cidade e comércio
Local/Data: Rio de Janeiro, 05 de maio de 1992
Tipo de Inquérito: Diálogo entre informante e documentador
Documentador: M A


Clique aqui e ouça a narração do texto 


DOC. - Bem, então, é, vamos começar, por exemplo, você podia começar descrevendo o seu bairro. Você sempre morou aqui na Tijuca?
LOC. - Eu sempre morei aqui na Tijuca. Eu moro, morei, quatro a cinco anos na, na altura do do Largo da Segunda-Feira, depois vim morar nessa casa que eu moro, morei aqui durante, dos meus seis, aos meus treze anos.
DOC. - Você morava aqui quando era solteiro?
LOC. - É, quando era solteiro, adolescente. Depois, fui morar em Brasília. Morei em Brasília, do de setenta e sete né, meus doze treze anos, a oitenta, aos quinze. Depois voltei pra cá de novo, de oitenta e cinco mais ou menos. Aí depois, morei, na Muda, e depois voltei pra cá depois que, isso há três anos, há mais ou menos dois três anos.
DOC. - E, você sente assim diferença da Tijuca, de quando você pequeno, quando você era garoto e agora? [ ? ]
LOC. - Sem dúvida, a, nível de super população, gente pa caramba hoje em dia a gente tem uma aglomeração de pessoas aqui na Tijuca, de carros, trânsito. Eu acho que o trânsito da Tijuca é um dos piores trânsitos do Rio de Janeiro, é, comércio também né, é uma, uma coisa até interessante que é um dos comércios que eu acho mais, versáteis aqui, você tem a possibilidade de, compra, de, de opção, é o lado positivo né, o lado negativo é essa super população, as pessoas e com isso as pessoas ficam mais agressivas, há mais assaltos, mais roubos, mais, enfim é mais, tumulto.
DOC. - E em comparação a outras localidades da cidade, você acha que a Tijuca tá melhor ou pior?
LOC. - Eu acho que tava num nível médio. Não é o que eu idealizo, a nível de uma, moradia ideal mas também não é um caos.
DOC. - E o que você idealiza [ ? ]
LOC. - O que eu idealizo é um lugar, um lugar que tenha uma praia perto ( risos ) um lugar que também tenha mais espaço, físico entre as pessoas. Eu gosto do Alto da Boa Vista, da Barra, o próprio Grajaú, eu prefiro Grajaú do que Tijuca.
DOC. - É mais calmo.
LOC. - É, mais tranqüilo, mas aí você corre o risco né, desses lugares muito, ermos, essa questão da da própria insegurança né, [ ? ] vai pegar o carro, eu morei, um ano no Grajaú antes de vir pra cá, esse apartamento tava em obras, e, a gente, depois de dez horas não tinha mais porteiro né, e era um breu. Então você chegar depois de dez horas era um, um medo só né. Você tinha que sair do carro abrir o portão deixar o portão aberto entrar no carro sair do carro fechar o portão, e isso tudo numa rua totalmente deserta, quer dizer, é difícil essa opção mas. A princípio seria um lugar mais, mais perto do litoral né. Esse acesso mais fácil à praia, a lugares de lazer também. Eu acho que a Tijuca é um pouco carente dessas opções de lazer, tem muito cinema mas você vai coisa de restaurante de, de, é, teatro, eu acho que ela fica um pouco aquém.
DOC. - E, bem, [ ? ] você, deixa eu ver o que que eu vou perguntar, você teria é sugestão, você, acha que tem solução, pra esses problemas de que você falou de super população da Tijuca, trânsito.
LOC. - Eu acho que é uma coisa difícil ver, que a tendência é só aumentar, aumenta, aumenta. Eu acho que a solução seria uma questão, [ parte ] ? , a nível de educação das pessoas sabe, de como, estar dentro dessas situações, de aglomeração. Eu acho que isso é inevitável. A sociedade tá aumentando, as pessoas tão aumentando em número, o espaço físico é o mesmo, mas isso em vez de, socializar mais as pessoas pelo contrário, tão deixando elas mais, agressivas. Então, se não for feito um trabalho a nível educacional, acho que, não tem solução. Eu acho que a, a, a seqüência disso será cada vez mais agressão, cada vez mais assalto, cada vez mais essas coisas que a gente vê né.
DOC. - E, em comparação aos outros lugares que você morou, até as outras cidades?
LOC. - Bom, eu morei, um ano nos EUA quando eu tinha cinco anos então a lembrança que eu tenho é muito, uma coisa muito longínqua, muito remota. Então não dá pra ter uma referência, mas, Brasília [ ? ] é uma cidade muito mais, organizada, é uma cidade muito mais, calma, é uma cidade que, pelo menos na minha época, não tinha engarrafamento, e pelo que eu sei isso não mudou muito não, porque é uma cidade mais planejada e tal. Eu acho que a nível, relacional, de relacionamento das pessoas, ela é um lugar melhor, né, eu acho.
DOC. - E ...
LOC. - Apesar né, que é uma coisa, também, que fica a perder, você ser tão organizado, nessas questões de tráfego, de localização das pessoas das quadras, você também restringe né, essa amplitude, de relação que você tem aqui. Querendo ou não você sai aqui na rua, eu posso, eu tô me cruzando, com um executivo como eu tô cruzando com um pivete. Lá não fica meio esses meios, aglomerados, então uma quadra só de militar, outra quadra do Banco do Brasil, esses contatos eles ficam meio restritos a esses pólos.
DOC. - Como é que é que funciona lá em Brasília, eu só passei lá uma vez não, quer dizer.
LOC. - Eu acho que é muita quadra.
DOC. - [ ? ] O que é que tem nessa quadras?
LOC. - Normalmente, porque eu acho que Brasília foi é, as pessoas foram, levadas pra lá né, então a princípio essas quadras, elas, elas são, de, pessoas específicas, então de bancos, militares, pessoas de um nível, porque é muito padrão, então numa quadra por exemplo, todos os prédios, todos os apartamentos são mais ou menos do mesmo nível, né, então querendo ou não você nivela também o nível sócio-econômico dessa pessoas né, então tem aqueles prédios mais fuleiros. Então as pessoas ficam, são mais inferiores a nível econômico. Então tem os prédios mais elitistas aonde tem as pessoas com mais pompa né, mais pose, então você querendo ou não você aglomera isso, em pontos. Eu acho que, com o próprio crescimento da cidade isso tá se diluindo um pouco mas é uma coisa muito concreta dentro da cidade, e tá se diluindo por quê? Você, hoje em dia, tem muitos muitos imóveis, vendidos que nem aqui no Rio, então você tem essa [ listagem] ? maior.
DOC. - ( ininteligível )
LOC. - É, e, o planejamento de, início de uma estrutura né, porque a princípio é uma coisa muito organizada mas muito organizada demais também enche o saco né, ao mesmo tempo que muito caótico demais também, [ ? ].
DOC. - O meio termo né.
DOC. - Mas o que que tem, é, você falou é, nas quadras, tem os apartamentos onde as pessoas moram.
LOC. - E área de lazer, tem quadra de futebol, quadra, parques né, parquinhos, esses parquinhos que tem pracinha aqui.
DOC. - Comércio tem?
LOC. - Comércio tem, toda, entre as quadras tem um comércio a nível de, coisas essenciais né, um mercadinho, uma padaria, né, tem uma quadra e outra quadra e no meio dessas duas quadras passa uma rua , é que eu não me lembro qual o nome que eles chamam, mas tem todo, um nome, então entre essas quadras tem um comércio, da quadra 209 210, entre essas duas quadras tem um comércio. Aí em algumas até tem bons comércios, pizzaria, restaurante, né, espaços culturais, galerias e tal, mas normalmente é, mercado, padaria, farmácia, questões básicas, né, e tem, nos centros comerciais, que aí são os grandes comércios, você vai pegar coisas mais, vestuário, alimentações mais, variadas, os grandes mercados.
DOC. - E esses centros comerciais ficam localizados perto das quadras dos apartamentos?
LOC. - Mais ou menos, eu acho que, por exemplo, às vezes, entre uma quadra e outra você tem um grande comércio, mas, são pólos específicos, mas normalmente esse acesso é um acesso, que fica um pouco prejudicado, você, de carro é muito bom né, mas de ônibus, é , porque eu nem, nunca, acho que, pouquíssimas vezes eu andei de ônibus lá.
DOC. - Por que, usava carro?
LOC. - Não, porque eu era, [ ? ] minha escola era perto né, eu ia andando, é, minha mãe e meu pai tinham carro, então a gente se deslocava pro clube, né, o programa lá final de semana é muito clube. A gente vai aos clubes de carro, e eu, meio que adolescente ainda né, geralmente tinha algumas pessoas dentro da própria casa que tinham carro, então essa coisa de vir de ônibus era, quase não existia, então é muito carro carro carro.
DOC. - Então, é, você não saberia dizer assim como é, se os, se em Brasília, o serviço ... [ ? ]
LOC. - [ ? ] isso tem muito tempo né, isso tem dez anos.
DOC. - Até a cidade é diferente hoje em dia.
LOC. - É, eu não posso nem, falar como é que tá, tem uma idéia assim [ ? ] topográfica da cidade, sabe, que ficou meio gravado na minha, na minha memória né, mas as questões de situação atual da cidade, eu não tenho idéia. Mas um lugar que foi muito bom pra mim, eu não queria inclusive voltar pra cá.
DOC. - Ah é, você gostou mais de lá do que daqui?
LOC. - Eu gostei de lá, até porque, aqui né, tem, já existia, não com tanta força, mas esse medo de assalto, de tal tal tal, e lá não, era uma coisa muito solta eu podia voltar duas três horas da manhã, pra casa né, aqui não, aqui era coisa mais, contida, e lá não, então por isso que era uma coisa boa. Mas, com o tempo eu fui me adaptando de novo ao Rio.
DOC. - ( ininteligível )
LOC. - Cê acha isso
DOC. - Eu acho que todas as cidades cresceram e acabam com o mesmo tipo de problema.
LOC. - Eu por exemplo, esse final de semana agora, eu tive em Vitória, fazendo um trabalho lá, eu achei uma cidade assim, super agradável. Os prédios, não são tão aglomerados, sabe, um colado com o outro, tem uma coisa mais de espaço você tem uma visão mais, mais ampla, mais, mais longínqua das coisas você, tem uma visão mais, do espaço físico você não fica não, tão contido né quanto aqui, aqui você sai você vê muito concreto na tua frente, você esbarra com isso, lá você não tem uma visão de um litoral, você tem uma visão de um verde, de um, de uma coisa mais, distante e isso é, como se você pudesse até respirar melhor né. Eu sinto uma coisa assim.
DOC. - Você viaja muito?
LOC. - Não muito, não muito, agora que tá pintando umas viagens mas eu não viajo muito, o que eu viajo mais, é a nível de lazer aqui perto mesmo né, final de semana vou pra, Barra de Guaratiba, Saquarema, Região dos Lagos, Teresópolis, Petrópolis, as opções são mais essas assim perto, né.
DOC. - E, bem, voltando aqui, à Tijuca então, é, você falou e a gente vê né, que a Tijuca tem um, um comércio bem, bem marcante, é [ ? ]
LOC. - Variado.
DOC. - Você poderia descrever que tipo de comércio é esse que tem na Tijuca, se é um comércio específico?
LOC. - Não, eu acho que ele não é específico, eu acho que ele é bem abrangente, também acho que se você quiser, você tem "n" opções, mas se você quiser um alfinete você vai arrumar, como se você quiser um, pão, de alho você também arruma, né, não tem essa, acho que, aqui opção de roupa, todas as boas lojas que você tem, é, nos grandes bairros né, Ipanema, Leblon, Botafogo, você tem também na Tijuca né, eu sinto a Tijuca como um bairro elitista da zona Norte, né, assim porque, é um grande, é um grande, circulador, de dinheiro, eu acho que tem muita gente com grana aqui né, tanto é que, digamos, o Bob's, né, o Bob's monopolizou a Tijuca né, ele tem três Bob's aqui na Tijuca, que, vendem pa caramba, né, a própria Academia de Ginástica Corpore, ela abriu uma, senhora academia, aqui, né, por que aqui? Eles iam investir à toa aqui, depois de instalarem em Ipanema, São Conrado? Não porque aqui, é um grande foco né. Eu acho que aqui tem muito essa miscigenação, essa mistura , mas se você for fuçando ali por dentro, você vai ver ótimos apartamentos, ótimas casas, e que, pra morar nesses lugares, são pessoas com nível de renda alta, né, e muita classe média. Aqui querendo ou não, tá sempre, é, circulando essa, matéria que é o dinheiro.
DOC. - ( ininteligível )
LOC. - Então, é eu acho que é um grande foco, de comércio, então por isso você tem essa, grande possibilidade de, de comprar tudo né.
DOC. - E sempre foi assim?
LOC. - Eu acho que de um tempo pra cá essa coisa cresceu muito mais, né. [ telefone tocando].
DOC. - Bem, então eu tinha te perguntado se, o comércio aqui na Tijuca sempre foi, assim.
LOC. - Não, eu acho que é toda uma questão, também, do aumento do número de pessoas né. Então, aumentou o número de pessoas, aumentou a necessidade dessas pessoas, e o comércio, acho que ele é sábio né, esses comerciantes, eles tem uma um olho clínico aí pra ver o que que as pessoas tão precisando, a hora que elas tão precisando, vem diretamente proporcional, [ ? ]: Pô, a Tijuca não tem, uma boa pizzaria! Aí de repente você vê: E, abriu aqui, outra ali. Não tem uma boa refeição de salada, abriu outra aqui, se bem que eu acho que essa questão de alimentação é carente.
DOC. - Cê acha?
LOC. - Eu acho. Eu acho que falta uma, um bom lugar de, porque a minha alimentação é natural, né, então, os restaurantes naturais, eles, que eu conheço, conheço inclusive as donas, são dois, bons restaurantes, que inclusive não abrem final de semana, né, só abrem dia de semana pra atender mais essa classe, trabalhadora de dia-a-dia, né, e a gente que usa mais o restaurante no final de semana, ele, que a gente não tem empregada, né, no final de semana, ele não, não atende porque ele fecha sábado e domingo, entendeu, então, digamos você vai no Leblon, numa Ipanema, em Botafogo, você vê um restaurante natural, um e, ou vários restaurante naturais, inclusive o próprio Sabor e Saúde, o Natural, enfim, outros né, funcionando, final de semana. Então a gente tem que se deslocar, é uma coisa até que a gente já pensou, assim: Pô, como seria.
DOC. - ( ininteligível )
LOC. - É abrir um restaurante natural na Tijuca, com, aproveitando até a moda, da alimentação natural.
DOC. - Mas será que ia vingar?
LOC. - Eu acho que se for bem feito, sabe, bem divulgado eu acho que pega, a nível de mercado, mercado-restaurante, [ entreposto] - restaurante, uma boa qualidade, de alimentação, porque alimentação natural não é essas coisas, não é, fantasmagórica, assim, de ruim, que as pessoas ficam pensando. Eu acho que tem altas opções pra você, administrar essa, essa cozinha natural né, então, o Sabor e Saúde, é um restaurante inclusive que faz isso, abriu no Centro da Cidade, tá todo o dia lotado, você.
DOC. - No Centro da Cidade tem, aonde?
LOC. - Abriu, na Sete de Setembro.
DOC. - Bom saber!
LOC. - Pois é, e tá sempre cheio e, é comida natural né, então, não é esse bicho todo né. Eu acho que a Tijuca ainda tá, muito, crua nesse sentido.
DOC. - E em termos de serviços, quer dizer, os serviços é.
LOC. - Médicos?
DOC. - Também.
LOC. - Eu acho que isso aí é, eu acho que isso aí tem, tem um bom clínico, né, acho que isso aí tem bastante nesses shoppings, você tem, bons médicos de homeopatia, de, é, plano de saúde, convênio, acho que isso aí tem bastante.
DOC. - ( ininteligível )
LOC. - É, pois é, isso aí também tá meio monopolizado por esses grandes planos né, então você pega o teu catálogo e vai, procura uma pessoa dentro desse, nessa linha e tem, psicólogos mesmo, terapias, você encontra aqui na Tijuca bons.
DOC. - Em termos, é, que eu tava pensando então, era, em termos de serviços públicos, quer dizer, os serviços que o Estado. ...
LOC. - Correio?
DOC. - Município tudo, como é que é isso?
LOC. - Eu tenho meio trauma viu, de correio né, que as poucas vezes que eu fui, tavam filas enormes, horríveis, horríveis, horríveis. Então, eu detesto isso né, correio, que mais, área de serviço público assim, bancos né, se bem que o meu banco é um banco que não é bem cheio né.
DOC. - Tem hospital público aqui?
LOC. - Não assim, nessa, nesse contexto Tijuca, na Saens Pena, mas tem, o hospital do Andaraí, né, um pouco mais longe, mas eu nunca usei. Nunca tive a oportunidade de usar. Então não posso te responder né.
DOC. - E outros serviços, de transporte como é que é?
LOC. - O ônibus, eu acho que o ônibus peca, né, por esse sistema caótico que tá esse trânsito aqui, todo dia tem engarrafamento na Tijuca, independente de: Ah, horário de escola! Não, agora eu saí, quando eu voltei, eu peguei engarrafamento, né, então, não tem essa. Um sinal quebra, dançou, né.
DOC. - Não há manutenção.
LOC. - É, aí, fica trânsito, isso é [ ? ] desgastante né, pra quem tá dentro de um ônibus, muitos assaltos né, outro dia, volta e meia a gente vê, mortes, atropelamentos também, mas mais mortes por causa de assalto, tem as famosas linhas, de ônibus que, são sempre assaltadas né, tipo, 426.
DOC. - Quais são elas?
LOC. - 422, eu nunca fui assaltado nela né, mas as pessoas falam que, e, 226, essas linhas são sempre assaltadas. Acho que essa questão do assalto vai, de encontro à questão da, da aglomeração, dessa, dessa insatisfação, você bate de frente com pessoas ricas, com pessoas pobres, isso já leva a uma certa, revolta e por aí vai né.
DOC. - ( ininteligível)
LOC. - Fica difícil de você administrar isso mas existe, né, existe pra caramba, graças a Deus eu nunca fui assaltado, assim né, em ônibus e tal, inclusive outro dia, outro dia não, tem um bom tempo, mas eu tava, indo pra faculdade, eu pegava o 426, quando eu ia pra faculdade, estudava na, na Praia Vermelha, aí eu tava até de relógio, e o cara atrás, tinha acabado de ser assaltado roubaram o relógio dele. O meu não roubaram, mas isso foi uma experiência assim mais perto, que eu vi do assalto.
DOC. - Assaltado mesmo, você nunca foi?
LOC. - Não, já, já fui mas, de carro. Me roubaram dois carros aqui na Tijuca, inclusive. Um na Haddock Lobo, inclusive eu tava com minha atual esposa, me seqüestraram. Eu andei com os assaltantes junto, andei o que, da Haddock Lobo até a Leopoldina.
DOC. - Te deixaram lá.
LOC. - Me deixaram lá.
DOC. - Ainda te deixaram num lugar bom né.
LOC. - [ ? ] É, graças a Deus, a segunda vez foi ali na rua Uruguai, eu deixei o carro, quando eu tô saltando vieram três caras me renderam, e também me levaram, e me deixaram na Andrade Neves, também me deixaram bem né, porque...
DOC. - É normalmente [ ? ] tinha deixado na Dutra.
LOC. - É, graças a Deus eu tive sorte com isso mas já fui assaltado duas vezes, já tentaram arrombar meu carro, e já arrombaram, tentaram levar mas não levaram.
DOC. - ( ininteligível )
LOC. - É, fusca, esses carros meio, Volkswagen eles tentam levar né, mas, ainda tô aqui né.
DOC. - Agora fiquei com medo que eu tô de fusquinha aí fora!
LOC. - É, fusca é um carro muito visado né, mas acho que assim nesses tumultos eles não, de repente, deixam um lugar, um lugar que tem...
DOC. - Lugar muito ermo.
LOC. - É, aí eles, parece que eles tão, na escuta disso né, isso acontece bastante.
DOC. - E aquele, é, tempos atrás a gente ouvia, acho foi até perto do Natal.
LOC. - Arrastão?
DOC. - Um arrastão, como é que é isso?
LOC. - Eu não sei, eu ouvi falar.
DOC. - ( ininteligível )
LOC. - É, ouvi falar mas, eu sei lá, eu acho que esses boatos, eu acho que tem todo um...
DOC. - Você acha que foi boato, você acha que não ocorreu nada assim?
LOC. - Não, deve ter ocorrido né, mas, sei lá, eu acho que se a pessoa vai fazer um grande assalto ela não, vai divulgar assim não, eu acho isso daí relativo, não sei até que ponto tem um interesse aí, meio, não sei, eu não.
DOC. - Deve ter milhões de interesses, envolve política, envolve pessoal de morro ...
LOC. - É, pois é, pois é, tirar camelô, botar camelô, é, fechar as lojas, deixar os camelôs sabe, eu não sei quem coordena esses camelôs todos aí, você vê pessoas humildes mesmo pobres, com uma, baita de uma barraca, de aparelhos eletrônicos todos importados, de onde vêm, que, qual foi o acesso dessa pessoa, que é isso? que camelô é esse? Sabe, é então não dá pra você, com seus olhos avaliar isso, eu acho. Tem que se prevenir né, não se expor eu acho [ ? ] mas que é estranho é.
DOC. - Dá pra desconfiar, é, bem, você falou, no caso do Rio, que cresce muito, e essa super-população que torna a vida caótica e tal. Bem, quais são os, vamos falar um pouco então da Administração, quer dizer, Administração Pública né, da cidade, do Estado, talvez até, o pessoal vive tanto é, faz tanta questão de diferenciar que que pertence ao estado, o que que é função do Estado, o que que é função do Município, essas coisas todas, mas, você poderia, é, dizer, é saberia dizer o que, é em que funções o Estado, seja ele qual for, é, não está atuando, que ele poderia atuar para a vida na cidade ser melhor?
LOC. - Eu acho que...
DOC. - O que que falta?
LOC. - A nível de melhores qualidades de vida, eu penso, numa questão de base né, que seria questão de base, educação saúde, alimentação. Eu acho que um trabalho, ele teria que começar por aí, né. Mas, eu acho que isso envolve "n" estruturas, mas a nível de Estado, eu acho que apesar de, digamos né, a gente vai ter esse ano aqui isso Rio-92. Tudo bem que, todos esses projetos, obras, né, melhorias, cê vê, estão asfaltando, "n" ruas do Rio, principalmente as de acesso à Barra da Tijuca, né. A Tijuca tá sendo beneficiada por aí, ruim com isso pior sem isso.
DOC. - ( ininteligível )
LOC. - Eu acho, asfalto sabe, a Conde de Bonfim, vindo pro Alto da Boa Vista era um caos de buraco, ela tá um tapete, aí eu sou beneficiado né, ruim, e como eu falei né, ruim dessa forma, pois se tivesse continuado esburacado, sabe, a, a própria obra Rio-orla, de repente: a Barra era melhor assim? É, mas eles tão mexendo sabe, melhor do que ficar só parado. A Linha Vermelha, vai melhorar né, eu acho que...
DOC. - O que dá raiva né, é pensar que eles só pensam em fazer isso quando alguém vem pra cá!! Esses projetos né, projetos de CIAC, educação ambiental. É pra inglês ver?
LOC. - É, mas será que também já não é o início de um, de um trabalho né, será que...
DOC. - ( ininteligível )
LOC. - É, pois é, eles tão fazendo, ali no, no Borel, o, Ciep de lá, tava parado há uns três anos, era habitação, de pobre, pô, em dois três meses o Ciep tá um brinco, sabe, quando eles querem, eles fazem.
DOC. - Quando eles querem eles acham dinheiro, né.
LOC. - É, então, sabe, isso vai gerar alimentação, vai gerar educação, vai gerar emprego, né, de alguma forma isso é positivo, né, eu não quero nem entrar na questão política da história, porque se eu entrar eu vou achar tudo uma porcaria, mas a nível, pra comunidade, pras pessoas, eu acho que tem lances positivos aí, coisas boas, e, mobilizando sabe, as pessoas, profissionais, pra fazer um bom trabalho, pra apresentar esse trabalho pro mundo, né, eu acho que isso pode ser muito positivo, né, a nível de circulação também de capital. O que eles vão fazer depois é outra história né, mas que tá sendo feito, tá, né, Brizola tá fazendo coisa pra caramba, a gente tá vendo que ele tá fazendo.
DOC. - Pra inglês ver, né?
LOC. - Pra inglês ver mas, é melhor, dessa forma né.
DOC. - Ao menos dessa forma a gente vê alguma coisa né.
LOC. - É, nossa, é, e a gente tá vendo coisas que, tava há séculos né, parado, coisas que tavam paradas, né, eu acho que tem que mobilizar essas pessoas mesmo sabe, nós, que temos um trabalho, a nível, a nível da educação das pessoas, né, a nível de contato com, essas pessoas, pra mobilizar isso, pra lutar por um ideal de vida melhor, né, eu só vou melhorar a, essa questão social se eu melhorar a minha né, e por aí vai.
DOC. - E, bem, você falou aí, do, que eles asfaltaram a, subida do Alto da Boa Vista. Tem alguma outra, obra que foi feita por aqui?
LOC. - O Grajáu ...
DOC. - O Grajaú, o que que teve lá?
LOC. - O Grajaú. Eles tão, asfaltando, melhorando também. Tem outro, a própria, aquela rua, Teodoro da Silva né, eles tão recapeando também. A Avenida das Américas, eles tão recapeando ela toda, né.
DOC. - É só aonde eles vão andar né?
LOC. - É, que mais que eu vi também...
DOC. - O Centro da Cidade!
LOC. - O Centro da Cidade né, foi todo modificado né, pois é, eu acho que tem coisas boas né, eu concordo plenamente sabe, isso me revolta inclusive essa questão, "pra inglês ver", né, pros outros verem, mas, se é por aí que a gente pode, mexer com a, eu acho que, o povo, brasileiro ele tem uma, grave doença que é a inércia sabe, ah, o lance do, não fede mas também não cheira, né, fica meio no meio desse jogo aí.
DOC. - ( ininteligível )
LOC. - Então né, como é que a gente vai querer ser, poder criticar alguma coisa, se você não tá fazendo nada, nem por você nem pelo social, tá parado no teu lugar, né, até que ponto você não tá sendo instrumento, reprodutor desse sistema político ultrapassado aí, né, e nem se percebe, só sabe parar e criticar, criticar e não faz nada pra mudar. Então eu acho que também não é por aí. Então é perceber o que tá acontecendo e tentar interferir dentro disso de alguma forma, mas não ficar nesse joguete, né, só pichando, pichando, pichando, eu acho que virar anarquista, liberal e não mudar nada, só criticar, também não adianta porcaria nenhuma. De repente é melhor até ficar enquadrado do que ser só mais um pentelho, ficar perturbando aí. Eu penso assim.