« MAPA «
PROJETO NURC-RJ

AMOSTRA COMPLEMENTAR:
Inquérito 01 (masculino / 32 anos)
Tema: Instituições, ensino e igreja
Local/Data: Rio de Janeiro, 28 de abril de 1992
Tipo de Inquérito: Diálogo entre informante e Documentador
Documentador: M A


Clique aqui e ouça a narração do texto 


DOC. - Bem, então, você podia, começar, falando pra mim, é ... Você se lembra quando você entrou pra escola seu primeiro dia de aula por exemplo.
LOC. - Não, não me lembro. Não me recordo.
DOC. - Bem, mas ...
LOC. - [Ah sim] tenho recordações do, do meu curso primário mas, primeiro dia. Não me lembro. Eu tenho poucas recordações da infância, não tenho muitas não, assim detalhes eu não tenho, tem alguma coisa assim que fica né, na nossa imagem assim memória, a gente guarda algumas coisas, mas o total mesmo tudo, detalhes assim muito, especificamente de, de ... de ... dado de detalhes assim, de algum acontecimento assim.
DOC. - Você poderia por exemplo descrever a sua escola?
LOC. - Ah, sim!
DOC. - A escola primária
LOC. - Ah, sim era uma escola antiga assim, prédio caindo aos pedaços (risos)
DOC. - Escola pública?
LOC. - Eu ... É, escola, fiz escola pública, primário foi todo na escola pública. Fiz cinco anos nessa escola e, no sexto ano primário, que antes tinha seis anos né, eu peguei ainda os, os seis anos, eu fui o último a ... a, quer dizer, foi a última turma que teve seis anos, foi na época que mudou né, (ininteligível) até o pessoal ficou até chateado, que quando terminou o sexto ano, a gente voltou pra o quinto, pra quinta série né (risos)
DOC. - Retrocedeu.
LOC. - foi, retrocedeu! (risos) Fez seis anos primário, então eu entrei com seis anos no primário, e aos doze anos eu terminei, a sexta série né. Foram cinco, as cinco primeiras séries num nesse colégio, na na sexta série já passamos pr’um colégio novo, na época, construíram o colégio então, minha turma foi a primeira a, a se formar entre aspas né, no primário, naquele colégio novo, mas, o colégio era muito velho, era uma casa muito antiga, era com forro de madeira, com piso, aquelas tábuas corridas né altíssimo o pé direito né, e ... Agora era um curso muito bom né, com professores ótimos excelentes, professoras né, era tudo professora.
DOC. - E como é que era assim, o professor dentro de sala de aula?
LOC. - Ah, era um, na época era ... foi, eu entrei pra escola em 66 né, então era no meio daquela, disciplina muito grande, aquele negócio de, amor à Pátria né, à Bandeira, aquele negócio todo que, a gente tinha que ter uma disciplina muito grande. As minhas professoras, em particular, tinham professoras no colégio que eram, assim temidas né, pela disciplina, pela rigidez né.
DOC. - Sempre tem
LOC. - sempre tem. Agora, no meu caso particular eu não peguei nenhum desses profes..., nenhuma dessas professoras, Eram, de certa maneira rígidas né, a disciplina era rígida mas não era, das piores né, as mais temidas eu não peguei, graças a Deus. Mas, tinha uma disciplina muito grande, você ter que abaixar cabeça, aquele negócio de, né, pra sair ter que ficar quietinho, pra sair antes, aqueles que tavam, fazendo bagunça saíam depois, abaixar a cabeça, ia mandando um a um, quem tivesse mais quietinho pra, sair né, na hora da saída. Então tem aquela disciplina muito grande, mas na época a gente não,
não se tocava muito com isso. Hoje em dia, quer dizer, quando a gente revê isso, a gente, relembra essas coisas, a gente vê que, realmente dá, dá uma certa, revolta né, pô você ter que ter passado pr’uma situação dessa né, mas ...
DOC. - E você acha que hoje em dia é diferente?
LOC. - Ah, hoje em dia é diferente, é diferente
DOC. - Na escola primária?
LOC. - Na escola primária é, acho que eu agora eu, tá um pouco invertido até, exagerado pelo outro lado né, acho que hoje o aluno manda completamente né, eu vejo mais ou menos assim. Eu, eu sou professor, então eu procuro, apesar de eu dar aula pra segundo grau e, teoricamente a gente espera que os alunos mais maduros né, você ainda pega muita, muita infantilidade, muita coisa que, você precisa ter, outro dia eu tive, tive que, expulsar um aluno de sala, realmente é, triste né, você ter que expulsar um aluno de sala [mas], chega uma certa hora que não tem condição né, ou você, você continua dando, você não prejudica os outros, né, pra não prejudicar os outros você tem que botar o cara pra fora, né, quer dizer, não é nenhum tipo de punição, não é tipo de punição, porque também, chega a ser ridículo né, um, rapaz com dezoito anos eu, botar pra fora de sala e, sei lá, pedir suspensão eu, pedi, eu só pedi pra ele se retirar pra, pra que eu pudesse dar aula né. Acho que é ... naquela época, acho que era exagerado a disciplina, e ainda pegando aquele finalzinho de, de um regime muito, autoritário, muito castrador.
DOC. - Você acha que, é, esse comportamento das pessoas em sala de aula era reflexo do, comportamento, da política da época?
LOC. - Ah, era, é, ah, era sim, sem dúvida nenhuma. Agora, também tinha um pouco do resquício do [ ? , sempre foi assim né, a Educação sempre foi muito, muito coisa, mas tinha um ... uma ... uma uma dose de, que vinha de fora eu acho, eu acho né, porque, essa questão de você ter que, hastear bandeira, e, ter uma série de, de nomes e coisas que você tinha que, seguir né, sem saber muito por quê, mas, seguir, você ... eu acho que, também era influência da política, externa né, você não podia, por exemplo, você, o professor de história, a história era contada daquele jeito né, muito, né, certinho. Eu no ginásio, quando eu entrei pr’o ginásio, eu fui, eu saí da escola pública, né, sexta série, fui pra quinta série, fui pra quinta série, colégio particular, que era o colégio S. José. Então a disciplina era tão, era maior até né. Então os professores eram muito mais, quer dizer, os professores não, os irmãos né, que eram, era, São José era, um colégio religioso, eram muito mais, duros né na disciplina. Os professores nem tanto né, mas os irmãos, os que tomavam conta mesmo do colégio né, eram muito rígidos na disciplina. Mas, eu já peguei professores de história, que, já davam uma outra visão da história assim, davam uma certa visão, e até professores que, tiveram problemas, até durante o meu curso, tiveram problemas, foram até, foram até afastados, tiveram afastados. É, é
DOC. - (ininteligível)
LOC. - não, foi depois, eles sumiram depois, porque eu, não eram meus professores na época, mas eles, tiveram um tempo afas ..., sumidos do colégio, por problemas de política mesmo, professor de, principalmente de história né, tinha um professor de história excelente, que era muito bom, que era um cara que, muito aberto, falava, ensinava história de uma maneira bastante diferente dos outros, que a gente vinha, vendo né, e isso né, até na época, eu fiquei muito animado a fazer história, a seguir a carreira de história, né. Depois eu mudei porque, não era minha área mesmo.
DOC. - Ia acabar sendo preso!
LOC. - Que? Não, não, não foi nem por isso não, que na época a gente não tinha muita noção disso, acho que na época a gente não, a gente, sumia e tal, mas a gente não, acreditava, a gente era muito novo, a gente não acreditava que acontecia, não se ligava no que acontecia realmente, sei lá. Hum , sumiu e tal. Mas aqui a gente nem comentava muito porque era meio proibido, esses assuntos eram meio proibidos, e, a gente também não atinava no que podia acontecer realmente. É, ele sumiu mas apareceu de novo, a gente nunca teve nenhum professor que tenha sumido e, sumido pra sempre, e mesmo que tivesse sumido pra sempre, é, a gente, dentro, da nossa cabeça, acho que a gente, arrumaria uma desculpa: Não, ele foi trabalhar em outro colégio, ou foi demitido, alguma coisa assim, que não deixava a gente perceber o que realmente aconteceu, foi uma coisa, foram coisas muito duras, mas que hoje a gente, sabe mas na época a gente era, eu era novo e, a gente não tinha informação nenhuma né. Por exemplo outro dia, até um, dar um exemplo, que eu não sei se tô fugindo um pouco do assunto, mas, por exemplo, outro dia, eu vejo, eu assisto muito o Jô Soares né, foi o, Caetano Veloso no Jô Soares e ele contou a história da prisão dele, e mostrou que é ..., várias coisas que ele contou, ninguém sabia, quer dizer, eu não sabia, eu, eu, de certa maneira, eu sou, gosto muito do Caetano Veloso, gosto e tal, eu não sabia e a maior parte do público que tava lá no, assistindo, e o próprio Jô Soares mostrou um desconhecimento total, da história, do que aconteceu com ele, quando ele foi preso e tal, por que que ele foi preso. Eles não sabiam nada e, isso mostra, a total desinformação que a gente tinha na época. Então quando aconteciam as coisas, as coisas eram ditas, e o real motivo, e o que realmente aconteceu, foi muito, omitido, foi muito escondido. Então eles foram muito, eu acho que os militares na época né, eles foram muito hábeis, em esconder as coisas, quer dizer, muito hábeis né, tiveram toda, tinha toda a força, do lado deles né, mas eles foram muito é, eles foram muito competentes nisso. Então realmente ninguém, sabe realmente o que aconteceu. Hoje em dia quando a gente levanta as coisas é que a gente vê, tudo o que aconteceu. Mas na época a gente não tinha essa, a gente não podia acreditar que alguém pudesse, ser morto né, fosse torturado. A gente ficava meio, a gente, não acreditava nisso, primeiro porque a gente era novo, a gente né, tinha aquela...
DOC. - Era novo e já não se ligava tanto!
LOC. - Já não se ligava tanto e a gente
DOC. - (ininteligível)
LOC. - tinha aquele, é, não corriam soltas e a gente realmente, não sei se por comodidade né, a gente não acreditava que isso pudesse acontecer, isso era um absurdo. Ninguém ia fazer um negócio, pegar uma pessoa e matar porque, falou isso ou falou aquilo né. Então, a gente não, não acreditava muito nisso. Mas o curso, o curso primário foi muito bom, muito bom acho que, excelente, a escola. A base da minha formação toda é o curso primário.
DOC. - Quando você falou que mudou, o curso primário era de seis anos depois...
LOC. - Passou pra cinco.
DOC. - Passou pra pra cinco.
LOC. - Não, passou pra quatro.
DOC. - Passou pra quatro , isso.
LOC. - Mais o C.A.
DOC. - [ ? ] e, mudou de nome o curso, antigamente se chamava primário.
LOC. - É primário e ginásio, depois passou a ser, o primeiro grau completo né.
DOC. - [ininteligível]
LOC. - quer dizer, a gente não terminava o primário, a gente não tem ...
DOC. - Embora, a gente ainda continue falando primário e ginásio.
LOC. - É, primário e ginásio, continua falando mas, hoje em dia é o primeiro grau né.
DOC. - É primeiro grau, tá!
LOC. - Você não tem mais aquela quebra.
DOC. - Aí você, fez, estudou no São José até que série?
LOC. - Eu fui até a oitava série, quer dizer, até o final do primeiro grau. Depois eu fiz concurso pra, Escola Técnica Federal. Aí passei, mas só que passei pro segundo semestre. Aí eu continuei a ... fiz meio ano de S.José porque eu não tava certo se eu ia querer realmente fazer escola técnica, ou se eu queria continuar fazendo Científico no S.José pra (mim) fazer o Vestibular né, então eu não tinha essa certeza, então continuei meio ano estudando, foi a maior asneira da minha vida. Devia ter aproveitado esses meses, ficado em casa, coçando.
DOC. - Por que que essa asneira?
LOC. - Não, porque eu fiquei estudando, à toa, né, quer dizer.
DOC. - (ininteligível)
LOC. - Mais ou menos, né, entre aspas, o que eu aprendi naqueles seis meses foi importante né porque, é, pro meu vestibular, porque, é, a escola técnica ela dava formação técnica muito boa então, Matemática, Física e, a parte técnica, é muito boa, mas a parte de, Biologia, a parte de História, isso tudo é muito fraco, Geografia tudo isso é quase nada, Química, mesmo Química que, parecia importante é muito fraco.
DOC. - Seu curso técnico foi em quê?
LOC. - Foi em Eletrotécnica, Eletricidade.
DOC. - Quais as matérias que você tinha, vocês tinham todas as matérias?
LOC. - Tinham todas as matérias mas, é, o currículo de, por exemplo, Biologia era, era um semestre só que eu tinha de Biologia, ou dois semestres. Não tinha Biologia todos os anos. Ficavam três anos e, o último ano era só matéria técnica, e Português, só. E nos dois primeiros anos você tinha: Matemática, Português e, um ano de Biologia, um ano de Química, um ano de História, mas assim, muito pouco, entendeu. Então em três anos de curso Científico né, eu só tive um ano de História, e mesmo com carga horária mínima né. Não era carga horária grande, era carga horária pequena e só um ano. É, Biologia também, só um ano. Então só vi Genética por exemplo, então Biologia só vi Genética não vi, o resto todo.
DOC. - (ininteligível)
LOC. - é um saco
DOC. - O resto é só decoreba.
LOC. - Mas, nem tanto, não, nem tanto, nem tanto, não é bem assim, mas ... História também foi pouco Geografia [ ? ] Geografia acho que nem tive, nem me lembro mais. Era dado, um peso, muito, pouco né, então esses seis meses que eu fiz no S. José, tive uma, um início né de Biologia, um início de História que, me ajudou um pouco mas, eu acho que se eu ficasse em casa eu ganharia mais, teria aproveitado mais, descansado.
DOC. - Mas em termos de, de, em termos de disciplina, ou de aulas no, na Escola Técnica, qual a diferença ...
LOC. - Ah, diferença, diferença é total, porque a disciplina, era muito mais ... é por exemplo. O S. José é um colégio religioso né. Então existiam, aulas de religião, então, era uma disciplina mais ... mais rígida, eu acho que na Escola Técnica a disciplina era um pouco mais, menos. É, outra coisa bastante diferente é que, na escola técnica a turma era só de homens. Então isso mudou muito porque eu, eu sempre desde o primário sempre tinha turma mista né, turma só de homem é, é uma tristeza né. Então é muito mais é ... a turma muito mais agitada. Eu acho que
DOC. - Altera a disciplina.
LOC. - Ah, altera a disciplina. A disciplina já era mais mais frouxa né, é, e além de ser mais frouxa tinha essa questão também né, a turma só masculina, era uma zona total.
DOC. - O fato de ter só meninos, é, porque nenhuma menina queria ir ou, não podia entrar?
LOC. - Não, não, é porque, tinha poucas meninas, só tinha uma turma com menina.
DOC. - (ininteligível)
LOC. - Não, não, é só turma, só tinha uma turma de menina, eu fiquei na turma onde não tinha meninas. A turma A, tinha, botavam todas as garotas numa turma só. As turmas eram feitas por, por classificação, tá, mas como tinham muito poucas moças, apesar da classificação, todas as moças ficavam na turma A.
DOC. - A turma B ficava de castigo!
LOC. - A turma B ficava de castigo. Ah! Era uma zona, era, uma bagunça danada. Até eu fiquei muito mais, muito menos, quieto assim, fiquei mais agitado e tal, por causa da, quer dizer, assim, mudou o comportamento, em sala de aula né. Fui, fui quase suspenso, é, coisa que nunca aconteceu no S. José nem na ... Até aconteceu sim, aconteceu sim,
DOC. - (ininteligível)
LOC. - acho que não, não era, culpa das [ companhias ], a culpa era minha mesmo. E, mas, mas, mudou o início né, e, era o sistema de de crédito, né, mais ou menos entre aspas né, é um sistema mais parecido com com, a Universidade né, e era um sistema, onde, você, tinha, é ... onde você tava se preparando profissionalmente, então isso muda muito né. A escola, você, é como se tivesse, não é uma coisa que você, você não vê um fim né, pr’aquilo né, mas.
DOC. - Tem que tá lá porque tem que tá.
LOC. - Tem lá porque tem que tá e tal, se bem que eu sempre gostei muito de, de ir à escola, eu acho eu quando tava no final das férias eu ficava louco pra voltar porque.
DOC. - Ah, é o primeiro que eu conheço.
LOC. - Ah não, mas eu ficava, não, tem tem muitos que ficam sim, porque não admitem isso, é porque é bom você ir pra escola, porque você tem a hora do recreio, você brinca, você conversa e tal.
DOC. - Depende das relações que você tem na escola.
LOC. - É, depende, é depende da escola né, eu gostava muito da escola, do S. José eu gostava muito. Até foi um “baque” quando eu entrei pra escola Técnica porque foi uma mudança muito grande assim né, me tornei um pouco mais independente porque, é, depois tive que estudar à noite, então existem algumas coisas que mudaram né, quer dizer, também já tava, já era burro velho né, então.
DOC. - Bem, e depois pra ir pra faculdade, você, fez algum curso depois que concluiu o técnico?
LOC. - Fiz, fiz o curso. Eu, eu terminei o técnico no, eu, como entrei no meio do ano, eu acabei no meio do ano. E então, tinha seis meses pra, me preparar pro vestibular, mas eu, antes de terminar o curso técnico, como eu tava estudando à noite, eu de manhã, comecei a fazer um curso pré-vestibular, ao mesmo tempo. Então fiquei seis meses fazendo vestibular e o último período de, do curso técnico, e depois fiquei só seis meses só fazendo o curso, pré-vestibular, e ... porque, exatamente faltava base em, História, em Geografia, em Química. Se bem que eu não sei se foi muito por aí. Eu acho que a base mesmo foi, foi o , foi mais do primário, e do ginásio, o pré-vestibular te dá algumas dicas e tal, mas eu acho que se, mesmo se eu não tivesse o pré-vestibular eu acho que eu passaria, por causa da base que eu tinha do, do primário e ginásio que eu acho que é fundamental né, porque você chega no, eu acho que é uma deficiência, não sei se vale a pena falar mas eu acho que, uma grande deficiência, que você vê nos cursos pré-vestibulares né, você vê o pessoal, dando matéria, dando matéria, mas o básico, que é por exemplo, em Matemática fazer uma conta, a pessoa chega no vestibular sem saber fazer conta com vírgula, divisão, né.
DOC. - Eu sou péssima em conta de dividir.
LOC. - Pois é, exatamente, então, quer dizer, não, quer dizer, até pra tua área não é tão importante mas por exemplo, quem quer fazer Engenharia, quem quer fazer Física, quem quer fazer Matemática, tem que saber isso, isso é fundamental né, e você via no curso pré-vestibular, colegas, que tavam ali, quer dizer, podiam até aprender a matéria do pré-vestibular mas, a base que era fazer uma conta não sabia, então, sabia fazer logarítimo mas na hora de fazer, de ver se o, logarítimo, se tava certo ou se tava errado, não tinha a mínima noção da conta, da, entendeu. Então a base faltava, então, eu acho que a base é fundamental, se você não tiver uma base boa, sólida, de, de ginásio e, primário, eu acho que você, é tudo. Então, quer dizer, por isso que eu digo , não adianta você fazer o pré-vestibular se você não tiver a base. Então por isso que eu acho que, mesmo que se eu não tivesse feito pré-vestibular, eu acho que eu passaria no vestibular, por causa da base, né, acho que agora, o pré-vestibular ajudou porque, me deu mais conhecimento, principalmente nessa área onde eu não, não tinha uma base boa por causa, quer dizer, não tinha base boa não, não tinha é, o conhecimento, de segundo grau necessário, né, mas eu acho que, o fundamental eu tinha pra passar, que era o, a base de segundo grau, é, eu acho que isso que me fez passar. Agora, de qualquer jeito eu fiz o pré-vestibular, até não levei a sério, mas, mesmo porque eu confiava muito, né.
DOC. - Um jovem confiante!
LOC. - Tava muito confiante na minha base. Até quando chegou perto do vestibular eu fiquei com medo, né, fiquei, tremi assim. Pô, levei na flauta! E minha mãe cobrava né.
DOC. - Mas passou na primeira?
LOC. - Passei. Mas minha mãe me cobrava muito, né, porque ela viu que, no último ano que era o ano do vestibular, quer dizer, ela achava que era importantíssimo né, foi o ano que eu, que eu levei mais na flauta né. Saía de noite, voltava tarde, de madrugada, não estudava, e ... minha mãe começou a cobrar: tá vendo, último ano, você tinha que tá estudando, agora não tá estudando, não sei o que! E, depois, [ aí ] eu comecei a ficar com medo: Pô, já pensou se eu, realmente não posso. Aí minha mãe vai, cair de pau em cima né! Então eu, realmente fiquei com medo mas, deu pra passar.
DOC. - E a faculdade, é, em termos de ... aquela mesma história né, em termos de comparação: como eram as aulas na faculdade, qual é a diferença...
LOC. - Faculdade, a grande diferença da faculdade pra, principalmente no Básico né, você tem, na Engenharia, cê tem o curso básico, dois anos, depois você vai pro profissional. O curso básico, o que, norteou o curso básico é a, péssima qualidade dos professores. Os professores são horrorosos, quer dizer, não tem professor. Então você tem que se virar sozinho, e mais uma vez, o que me valeu foi a base, mas não a base do primário e ginásio, quer dizer, que valeu pra o curso de seguindo grau. Foi a base de segundo grau, que era uma base técnica já. Então isso, me valeu, é, conseguir passar mesmo com o fraquíssimo nível dos professores. Os professores são péssimos, com raras exceções, é como se você não tivesse nada, né. Você vai ali pra assistir uma aula mas o professor não, não ensina nada, e quando vai, né, porque falta muito e, aquele negócio né, deixa você meio, meio solto. E, pra completar eu, quando eu entrei pra, pra, pra fazer o, o curso, eu tinha acabado a escola técnica e, pintou um trabalho, na, numa multinacional, na IBM, e, eu quis fazer o estágio, porque eu precisava fazer o estágio pra ter o diploma de técnico né, e pintou esse estágio na IBM, eu, fiz o concurso, passei. e aí eu fiz durante esse ano todo que eu, primeiro ano da faculdade, eu, fiz trabalhando, eu fiz trabalhando. Só que eu trabalhava oito horas por dia, e o curso era no mesmo horário do trabalho. Então, é, eu ia ao trabalho, não ia nem ao curso. Eu ia só fazer as provas. Pedi a licença pra vir só fazer as provas. Então, levei pau, óbvio né, levei pau porque, apesar dos professores serem ruins, você precisa ter contato, diário, com a matéria, e com os colegas e, até com o professor, embora seja, sejam muito ruins, depois eu vi isso quando comecei a assistir aula, vi que não fazia muita diferença, em relação aos professores, mas em relação a, a você tá em contato com a matéria todo dia é importante né, é, levei pau, fiquei com CR baixíssimo, foi um horror. Agora, é foi basicamente isso. Então, foi, foi uma experiência até, bastante dura né. depois quando eu voltei a, a cursar, quer dizer, aí eu, larguei a multinacional porque eu vi que não tava, não dava pra concluir as duas coisas né, eu tinha de escolher: ou, ou ficar na multinacional ou, na IBM, ou vim fazer o curso né, e optei por fazer o curso né, feliz ou infelizmente não sei, até hoje eu não sei direito, se eu hoje tivesse na IBM eu taria ganhando muito muito mais né, mas, é ... quando eu vim fazer o curso aí que eu vi a diferença né, aí que eu notei essa, deficiência, completa dos professores. Os professores tavam bastante realmente, não tavam, não se preocupavam realmente em ensinar, realmente muito ruim. Agora já no profissional não, cê tem, vários professores, vários professores excelentes, professores bons, que dão aula, e que se interessam, que se interessavam né, continuam se interessando porque eu, basicamente mantenho contato com eles ainda, eu sei como é que é o jeito, e, o curso profissional foi muito melhor, muito melhor mesmo, inclusive minhas, minhas notas foram muito mais altas no curso profissional do que no básico.
DOC. - O fato desse esquema de, de créditos da Universidade, não te, não te dava opção de você escolher os professores que você ...
LOC. - Não.
DOC. - Não tinha opção?
LOC. - Não, não tinha opção, porque primeiro tinham algumas matérias que não tinham opção, ou você tinha o ruim ou você tinha o outro que era ruim também. Você escolhia o menos ruim. Agora, por exemplo, Física I e cálculo, era, terrível né, impossível pegar alguém bom, e outras matérias que não tinham nada a ver com o curso.
DOC. - Mas por que os, professores que eram ruins ficam concentrados no Básico? Os bons não querem dar aula no Básico? [ ? ]
LOC. - Não, mas é, até o seguinte: no Básico quem dá aula, são, os professores, não da Escola de Engenharia, do Instituto de Física e Instituto de Matemática, então o Instituto de Física, ele manda pra dar aula na Engenharia, os piores professores; os melhores professores dão aula no curso de Física. Então, dar aula no curso de Engenharia é o, degredo né, então degredar um professor, então, manda lá pra Engenharia! É ruim, manda lá pra Engenharia! Então o professor quando vem pra dar aula na Engenharia, já vem no esquema de, ele é o degredado, tá, sei lá, pê da vida ... né, e vem.
DOC. - ( ininteligível )
LOC. - Já não quer ir e tá dando aula lá, entendeu, como se desse por favor, então era assim. Em Matemática também, o Instituto de Matemática manda pra dar aula de Cálculo, os piores professores, na Engenharia. Os melhores, eles dão aula no curso de Matemática, entendeu. Então é uma questão política.
DOC. - É uma comitiva de: Bem vindo à faculdade!
LOC. - É, é, horrível, quer dizer, o Básico é, um terror. Então, se você conseguir passar pelo Básico, aí conseguir chegar ao Profissional, aí é tranqüilo, porque aí você entrou dentro da área que você quer, e você tem os professores, você conversa, você tem um contato diário com o professor, não é, você sabe onde o professor tá, entendeu, você pode procurá-lo, tirar dúvida, ah, Física era uma loucura, você não sabia onde os professores tavam, você não, entendeu, de Cálculo também, você não sabia se, ela tava lá só na hora, da aula, se ele fosse dar aula né. Então é complicado, só quando entra pro profissional não, já é mais direcionado, é um negócio melhor. A idéia do curso de Engenharia, aí, quer dizer, que a gente depende, que eu até dependo também, e o professor de, o diretor atual, depende é, separar os cursos já na no vestibular. Então você já faz no vestibular, o curso, é, concurso pra Engenharia Eletrônica, então você entraria, e o curso já seria dado, por professores da Escola de Engenharia, já voltados para, por exemplo, e Eletrônica, então, o curso de cálculo, já é um curso de cálculo, próprio pra Eletrônica porque, tem certas peculiaridades, por exemplo, o curso de cálculo, como ele é dado, ele é voltado pra, pra, formar engenheiro civil, porque era o normal, né, era o que existia antigamente, então a formação que é dada no, no curso Básico é voltada para dar, pra formar engenheiro civil e mecânico. Então uma pessoa que tá querendo fazer Eletrônica, vai ter Cálculo, vai ter parte de Desenho, por exemplo, que ele nunca, vai usar na vida. Quer dizer, [ ? ] a gente fez cursos que a gente, aprendia a projetar uma viga, aprendia a projetar uma, uma laje.
DOC. - Pra Civil né?
LOC. - Isso é pra Civil, quer dizer, você fazia desenho de, de laje, quer dizer, tudo bem você aprender como, como calcula, ou ter uma aula de noções disso, tudo bem até, não tem muito a ver, mas tudo bem. Agora você ter que desenhar uma laje, saber como é que representa uma laje, agora pra que um engenheiro eletrônico quer saber isso?! E sai no nosso, diploma que a gente tem condições de assinar uma planta até de dois andares, tem um negócio assim, quer dizer, eu posso chegar e [ ? ] assinar uma planta, um projeto de, uma casa de dois andares, sendo engenheiro eletrônico, entendendo [ xongas ] daquilo, então é um absurdo, são esses absurdos que acontecem, mas então, se o curso for direcionado dessa forma, você vai ter, por outro lado, você, não tem algumas matérias, por exemplo, de Cálculo, de Matemática, que você precisa na Eletrônica, e aí você vai ter que dar no Profissional, então você, faz Cálculo 1, 2, 3 e 4. Aí quando chega no Profissional você [ pensa] : Ah, acabou o Cálculo! Não, tem que fazer mais Cálculo, muda o nome, não é Cálculo mas é, Cálculo 5 e 6, porque o Calculo que tinha que ser dado no Básico, que, mas não é dado, porque é dado um Cálculo voltado pra Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, entendeu.
DOC. - E no esquema aqui, agora, de, entendeu, o, a pessoa quando faz não escolhe qual a área que ele vai seguir.
LOC. - Não.
DOC. - E, quando ele termina o Básico, é tem vagas limitadas pra cada ...
LOC. - É, esse é outro problema. Aí você faz um outro vestibular. Quando você termina o Básico, você faz outro vestibular, mas não é um vestibular, né, vai pelo CR, classifica pelo CR, é, o, curso que você quer. Então cursos procurados como Eletrônica, Produção, tem gente que fica de fora, por causa do CR, entendeu, e isso é um outro problema, porque você, se você fizer no Básico não, entrou, você já tá garantido no profissional.
DOC. - E tem como o cara, vamo supor, ele terminou o básico e ... daqui a um tempo não tem curso ele tentar entrar de novo?
LOC. - Tem, mais aí o que que ele vai fazer? Ele já fez todas as matérias. Ele não pode fazer de novo. Então tem algumas matérias do profissional que ele pode fazer. Ele pode puxar as matérias. Mas são poucas. Então se mesmo com essas matérias ele não tirar nota suficiente, ele vai ficar com CR baixo, ele não entra. Aí fica: terminou todos os créditos. Só que tem o CR de 5 por exemplo. Então não pode entrar porque o CR dele é baixo. Então todas as vezes que ele entra na disputa ele perde. Então isso pode acontecer. E esse é o grande problema. Quer dizer, isso tem acontecido. Aí a pessoa tem que desistir. tem que fazer outro curso que não tem procura. E o que acontece? Outra coisa mais grave que isso ocasiona é o seguinte: quando você ... tem cursos que não têm aluno. Então tem cursos que você tem mais professor do que aluno. Então o curso de elétrica, por exemplo, você tem 50 professores e o curso todo, todos os anos somados não têm 50. Civil é muito pior. Civil às vezes é o dobro. Tem dois professores para cada aluno. Ah, mas tudo bem, porque o professor pode orientar, o professor pode dar o curso melhor, mas tem professor que não dá curso nenhum. Por que que ainda existe esse sistema? Por que que não fazem no vestibular? Se fizer no vestibular, o o que acontece? Você vai oferecer um mínimo de vagas suficiente, por exemplo Civil: vai ter 50 vagas. Então aquela turma garante que tem uma turma de 50, ou turma de 100. Então garante que os professores vão, quer dizer, o departamento lá, o curso vai tar preenchido completamente. Hoje o que acontece é que você tem o curso de Civil com pouca procura, curso de Naval, com pouca procura, curso de Elétrica com pouca procura e o curso de Eletrônica, com 90 alunos por ano entrando no curso de eletrônica e no curso de Elétrica 5, 10. Entendeu? E aí professor que não dá aula. Aí você pra mudar isso, fazer mudar, o que que acontece? Aqueles professores que não dão aula não querem, óbvio né? Ah, não pode ser assim, porque o aluno quando vem pro vestibular não sabe exatamente o que quer. Isso é um absurdo porque o cara quando vai fazer Engenharia ele sabe exatamente o que ele vai ... Eu quando entrei eu sabia que eu queria fazer eletrônica. Todo mundo que entra, pode perguntar, 90% sabe o que quer fazer. e os outros 10% você resolve internamente com transferência. Transfere. Terminou o básico, tenta uma transferência, faz algum tipo de seleção pra você não tornar o negócio injusto. É, pra entrar. Eu acho que tem que resolver, agora do jeito que tá é um absurdo, né? [...] É outros não trabalham nada. Fica ocioso.